O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Estudo doutrinário de: Nilza Teresa Rotter Pelá (veja os outros estudos dessa autora sobre A Gênese e O Livro dos Médiuns)
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Autor: Allan Kardec Editora: FEB Data da 1ª edição: 1864 |
É prática costumeira e frequente, entre os espíritas, abrir “ao acaso” o Evangelho quando em situações difíceis ou mesmo durante o Evangelho no Lar. Não se cogita de mudar essa prática, pois acredito que em muitas ocasiões recebemos a mensagem que necessitamos naquele momento. O que se pretende é que o estudo do evangelho não se deve limitar a ela. Porquanto o estudo da composição¹ de O Evangelho segundo o Espiritismo, sugere que havia uma intencionalidade de Kardec, na terceira edição do livro, em apresentar a sequência dos capítulos conforme mostra a tabela abaixo:
O que queremos, de onde viemos: objetivo da obra; autoridade da doutrina espírita; universalidade; notícias históricas; Sócrates e Platão
Premissas: progresso; espiritualidade; pluralidade dos mundos habitados; reencarnação.
Como nós estamos: bem aventurados os aflitos
Como podemos sair: o cristo consolador
Ideal a atingir: bem-aventurados os pobres de espírito; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amar o próximo como a si mesmo; amai os vossos inimigos; não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita.
As nossas dificuldades: muitos os chamados, poucos os escolhidos; a fé transporta montanhas; os trabalhadores da última hora; haverá falsos cristos e falsos profetas; não separeis o que deus juntou; estranha moral; não ponhais a candeia debaixo do alqueire.
A nossa diretriz: buscai e achareis; dai gratuitamente o que gratuitamente recebestes; pedi e obtereis.
Como se pode ver, vale a pena.
¹PELÁ, N.T.R., O Evangelho Segundo o Espiritismo: Análise de sua constituição. Reformador. ano 131, nº 2211, junho de 2013.
Os tempos são chegados
Assim pode-se denominar o prefácio de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, pois aí se encontrara uma mensagem de “O Espírito De Verdade” anunciando que espíritos altamente evoluídos estavam se espalhando por toda a Terra como se fosse um grande exército obedecendo a um comando superior.
Esse exército tinha uma luta diferenciada, pois diferentemente dos exércitos militares da Terra não objetivava a conquista de poder usando força bruta e cruel, mas buscava alcançar corações e mentes para que efetivamente se agregassem à lei de amor que havia sido trazida por Jesus.
Os olhos humanos não podiam enxerga-los, pois como estrelas cadentes fariam sua entrada na psicosfera da Terra para a grande missão de anunciar que os tempos são chegados, que as falsas interpretações das lições e ensinamentos de Jesus, deturpados ao longo de dois milênios, precisavam ser reescritas, que a razão deveria nortear essa compreensão e que a nova fé seria aquela que encarasse a razão face a face em todas as épocas da humanidade.
Concita o “Espírito de Verdade” que todos poderiam e deveriam engrossar esse coro de espíritos superiores para que a sinfonia fosse ouvida em todos os recantos do planeta de maneira a tocar tanto os sábios como os ignorantes, os ricos e os pobres, os ateus e os cristãos, os sofredores e os felizes, os sãos e os doentes. Enfim, toda a humanidade que ao compreender o motivo de sua vida na Terra pudessem entender o real objetivo da reencarnação, qual seja a evolução e o progresso moral e intelectual do espírito imortal.
Termina a mensagem com a assertiva que esses seres luminares permaneceriam junto de nós e que cumpria a cada um a atitude de amor e fraternidade de uns para com os outros, uma vez que o reino de Deus só seria implantado quando entendêssemos e praticássemos a lei de amor a qual já tinha sido ensinada e exemplificada por Jesus quando encarnado entre nós.
Anota Kardec, em nota de rodapé, que a mensagem está colocada no início de “O Evangelho segundo o Espiritismo” por apresentar o verdadeiro caráter e objetivo do Espiritismo.
Objetivo desta obra 1
Na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo encontramos o subtítulo “OBJETIVO DESTA OBRA”, onde Kardec faz uma série de explicações necessárias ao entendimento da mesma. Nesta presente matéria nos ateremos ao primeiro parágrafo de fundamental importância para o entendimento da proposta de análise da Doutrina de Jesus à luz dos princípios básicos da Doutrina Espírita muito bem apresentados em O Livro dos Espíritos.
Argumenta Kardec que os relatos dos Evangelistas contêm cinco pontos, a saber: atos comuns à vida de Jesus; os milagres; as profecias; palavras de Jesus nas quais se apoiaram as religiões para estabelecer seus dogmas e os ensinamentos morais. Com relação aos quatros primeiros pontos têm havido controvérsias e desentendimentos entre as diferentes religiões e seitas, entretanto os ensinos morais de Jesus são comuns a todas elas, por isso esse aspecto é o apresentado na obra.
Aqui vamos analisar o sentido da palavra dogma, para que melhor possamos entender seu uso na obra de Kardec.
É muito comum sermos questionados que a Doutrina Espírita não se baseia em dogmas, mas em fatos, entretanto algumas vezes Kardec usa essa terminologia como, por exemplo, na questão 171 de o Livro dos Espíritos onde Kardec pergunta: “Sobre o que está baseado o dogma da reencarnação? ” Estará Kardec se contradizendo? Obvio que não para aquele que foi considerado o “bom senso encarnado”. Entendamos então.
Entre os filósofos pré-socráticos da Grécia antiga havia duas correntes antagônicas os céticos e os dogmáticos, sendo que os primeiros consideravam que a Verdade nunca seria conhecida e os segundos afirmavam que havia “verdades fundantes” que há um tempo seriam melhores compreendidas. Este é o dogma filosófico a que Kardec se refere na questão 171 de O Livro dos Espíritos.
Nesse primeiro parágrafo da Introdução o termo é usado no sentido religioso, oriundo da idade média quando o catolicismo instituiu o uso do termo com o sentido de pontos fundamentais e indiscutíveis de uma crença religiosa. Pontos inquestionáveis, uma verdade absoluta que deve ser ensinada com autoridade. É esse dogma que a Doutrina Espírita rejeita.
Fundamentalmente a mensagem desse primeiro parágrafo é: o Evangelho é um código de bem proceder que deve pautar nossa vida pública e privada e o princípio de todas as relações sociais.
Objetivo desta obra 2
Nessa parte da Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, além das considerações feitas no tópico anterior, nos 7 últimos parágrafos Kardec discorre sobre a compreensão dos textos evangélicos, que são lidos como se fosse um ritual. Admirando as máximas evangélicas, entretanto poucos buscam compreende-las e deduzir a consequência de seus atos quando analisados a luz dos ensinamentos de Jesus.
Pelo fato dos relatos evangélicos serem escritos de forma alegórica a compreensão dos mesmos foram analisados para atender objetivos pessoais e interesseiros de grupos, por isso alguns textos sofreram distorções interpretativas.
Por comodidade, pessoas se atêm apenas no que do “Evangelho” foi falado sem que se detenham na leitura e meditação do mesmo. Desse modo não é resultado de análise e aprofundamento pessoais e se fica apenas na crença que outros lhes transmitiram. Muitas explicações que são dadas de passagens evangélicas fogem da coerência do fundamento básico da doutrina de Jesus que é: o amor no seu mais puro sentido.
Afirma Kardec que a matéria reunida na obra nos remete para uma moral universal que independe de cultos e crenças, portanto o livro é para uso de todos que estão interessados na moral do Cristo.
Menciona o autor nessa parte de “O Evangelho segundo o Espiritismo” o respeito à tradução da Bíblia feita por SACY. A quem ele se refere?
“Louis-Isaac Lemaistre de Sacy (29 de março de 1613 – 4 de janeiro de 1684), um sacerdote de Port-Royal, foi um teólogo jansenista e humanista francês, mais conhecido por sua tradução da Bíblia, a Bíblia de Port-Royal, que se tornou a mais difundida tradução francesa do século XVIII.” (Wikipédia)
Por essa explicação vemos porque Kardec faz referência à tradução por ele usada nas citações evangélicas no corpo da obra. Era a mais utilizada e aceita na Europa naquele século.
Hoje já temos outras traduções dos evangelhos e recentemente fomos agraciados com a tradução dos quatro evangelhos e do Ato dos apóstolos feitas por Haroldo Dutra Dias na qual encontramos muitas notas explicativas que facilitam em muito nossa compreensão.
Controle universal do ensinamento dos espíritos
Neste tópico da introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” há que se destacar dois pontos importantes: o número de médiuns através dos quais Kardec recebia as informações do plano espiritual, número acima de 1000 – pois eram oriundas de 1000 centros espíritas já existentes na época.
O segundo ponto diz respeito a análise de matéria, recebida por via mediúnica. As quais, Kardec, recomenda cuidadosa análise; pois podem ser, apenas opiniões pessoais que o tempo se encarregará de mostrar que carecem de fundamentos.
É importante que um ensinamento oriundo do plano espiritual seja procedente de diferentes lugares e de diferentes médiuns que não se conheçam o que assegurará a universalidade dos ensinamentos.
Cautela se deve ter quando, de um mesmo médium, origina-se várias mensagens do mesmo teor assinadas por diferentes nomes uma vez que há na espiritualidade espíritos pseudo-sábios e enganadores que não se furtam de usar nomes famosos e respeitados para assinar aquilo que querem divulgar, e que fascinam os médiuns que não aceitam quaisquer advertências nesse sentido.
Quanto à publicação de todas as mensagens recebidas Kardec publica em a “Revista Espírita” de 1859 um artigo intitulado “Devemos publicar tudo quanto os espíritos dizem? ”, bastante esclarecedor.
Afirma o Codificador: “publicar sem exame, ou sem correção, tudo que vem dessa fonte [mediúnica] seria, em nossa opinião, dar prova de pouco discernimento”.
Em 1863, também em a Revista Espírita, publica outro interessante artigo intitulado “Exame das comunicações mediúnicas que nos enviam”, onde se encontra a análise de 3600 matérias das quais 3000 são de moralidade irreprochável e excelentes quanto ao fundo, 300 são boas para publicação e 100 de mérito inconteste.
Conclui Kardec:
No mundo invisível não faltam escritores, mas os bons são raros. Todas as precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.
Notícias históricas (primeira parte)
Para bem compreender algumas passagens dos evangelhos, necessário se faz conhecer o valor de muitas palavras neles, frequentemente, empregadas e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia naquela época. Já não tendo para nós o mesmo sentido, essas palavras foram com frequência mal interpretadas, causando uma espécie de incerteza. A compreensão do significado delas explica o verdadeiro sentido de certas máximas que, à primeira vista, parecem singulares.
Assim, pode-se supor que Kardec tenha incluído esse item na introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” para: descrever as características dos personagens que Jesus usou em suas parábolas e ensinos; identificar o perfil psicológico deles; detectar seus caracteres em nosso psiquismo.
A Sinagoga é o supremo tribunal do judaísmo. Sendo constituído por 71 sacerdotes, escribas e leigos proeminentes.
“No tempo de Jesus havia sinagogas em qualquer vila. Em Jerusalém, existiam, aproximadamente, 480”. Nele havia as homilias livres e como Jesus frequentava, assiduamente, as sinagogas em Israel (Matheus 4.23; 9.35; Lucas 4.16-30; 13.10; João 6.59; 18.20, entre outros) utilizava desses espaços para colocar seus ensinamentos.
Nesse item Kardec discorre sobre os: samaritanos, nazarenos, publicanos, portageiros, fariseus, escribas, saduceus, essênios ou esseus, terapeutas.
A análise desse item nos permite arrolar algumas das características das personalidades.
Negativas: falam-se espiritualista, mas vivem de forma materialista; longas polêmicas a respeito de crenças e mitos; hipocrisia; orgulho e vaidade; inveja; preconceito de classe e de crença; sensualidade; desrespeito com o semelhante; rigor.
No próximo mês falaremos sobre a característica positivas e daremos maiores esclarecimentos sobre os essênios.
Notícias históricas – os Essênios ou Esseus (segunda parte)
Fundada há 150 anos antes da vinda de Jesus, os essênios viviam uma vida de muita simplicidade e trabalho, formando uma comunidade onde havia rígidos princípios morais e de austeridade. Viviam em celibato, condenavam a escravidão e a guerra, punham em comunhão os seus bens e se entregavam à agricultura. Ensinavam o amor a Deus e ao próximo, a imortalidade da alma e acreditavam na reencarnação.
Corre a notícia de que Jesus passou um período de sua vida entre eles para aprender a sua doutrina, mas em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Kardec faz uma nota explicativa se referindo ao livro “A morte de Jesus”, que defende essa ideia, onde destaca que: “supostamente escrita por um essênio, é obra inteiramente apócrifa, cujo único fim foi servir de apoio a uma opinião. Ela traz em si mesma a prova de sua origem moderna”.
Temos amplo esclarecimento dessa questão no livro “A grande espera” de autoria de Eurípedes Barsanulfo, psicografia de Corina Novelino, onde há esclarecimento de que Jesus realmente esteve entre os essênios, mas não para aprender com eles; mas para ensiná-los.
Os essênios sabiam que o Messias viria, portanto viviam na “grande espera”, quando um ancião da comunidade, sentindo que o Messias já havia chegado, enviou um emissário a sua procura. Este, voltou notificando que o mesmo vivia com seus pais “além do Grande Mar” e haviam se instalado “na antiga propriedade do respeitável descendente de Davi.” Era Jesus então um adolescente descrito por Eurípedes da seguinte maneira:
[…] um Jovem ser humano, igual a tantos outros. Mas, sua beleza radiosa caracterizava lhe singularmente a luz íntima. O semblante lembrava algo que procedia dos Céus e que somente nas Alturas poderia ser comparado. Cabelos dourados caíam-lhe aos ombros delicados. Os olhos claros escondiam centelhas divinas. E a voz possuía estranhas vibrações e parecia canalizar as forças do Universo, produzindo a mais fantástica das envolvências inexplicáveis… Assumia Ele a roupagem humana para melhor servir aos homens.
Assim O louvavam os essênios:
Hosanas aos Céus!Graças ao Criador!Pela MisericórdiaQue faz baixarSobre a terra impura,Enviando Seu AnjoMais puro e perfeito,Nas asas do Amor,Para caminharCom os homens, pisandoEstradas de DorE dar-lhes a rotaSublime da Paz,As alegrias apontando!Glória ao Bom PaiDe infinito Amor!Glória ao FilhoDe Suprema luz!
Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e espiritismo (primeira parte)
Faremos uma parte introdutória sobre esses dois filósofos.
Sócrates (Σωκράτης) nasceu em Atenas 469 a.C. ou 470 a.C e faleceu em 399 a.C. (70 anos) era filósofo, filho de um escultor e uma parteira.
Conta-se que um dia Sócrates foi levado junto à sua mãe para ajudar em um parto complicado. Vendo sua mãe realizar o trabalho, Sócrates logo “filosofou”: Minha mãe não irá criar o bebê, apenas ajudá-lo-á a nascer e tentará diminuir a dor do parto. Ao mesmo tempo, se ela não tirar o bebê, logo ele irá morrer, e igualmente a mãe morrerá!
Sócrates concluiu então que, de certa forma, ele também era um parteiro. O conhecimento está dentro das pessoas (que são capazes de aprender por si mesmas). Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento. Concluiu ele. Por isso, até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por maiêutica (que significa parteira em grego). (BIOGRAFIA E IDEIAS DE SÓCRATES)
Maiêutica, o método usado por Sócrates, consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto. Tal filósofo nada deixou escrito quem o fez foram seus discípulos, inclusive Platão.
Platão (427 a.C. – 347 a.C.), nasceu em Atenas e desde jovem se tornou discípulo de Sócrates. Em 387 a.C, fundou a “Academia”, uma escola de filosofia com o propósito de recuperar e desenvolver as ideias e pensamentos socráticos. Convidado pelo rei Dionísio, passa um bom tempo em Siracusa, ensinando filosofia na corte.
Platão valorizava os métodos de debate e conversação como formas de alcançar o conhecimento. De acordo com Platão, os alunos deveriam descobrir as coisas superando os problemas impostos pela vida. A educação deveria funcionar como forma de desenvolver o homem moral. A educação deveria dedicar esforços para o desenvolvimento intelectual e físico dos alunos.
Frases de Platão:
O belo é o esplendor da verdade.O que mais vale não é viver, mas viver bem.Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias.Praticar injustiças é pior que sofrê-las.A harmonia se consegue através da virtude.
Referências:
BIOGRAFIA E IDEIAS DE SÓCRATES. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/socrates/>
BIOGRAFIA DE PLATÃO. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/platao/>
Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão I
Nesta parte do capítulo da Introdução, Kardec arrola 21 itens das ideias de Sócrates e Platão seguidas de sua análise evidenciando que, aproximadamente 500 anos antes de Cristo, já possuíam concepções relativas à reencarnação, à existência do plano espiritual e de espíritos de diferentes graus evolutivos tanto encarnados como desencarnados. Ora, nada mais claro, pois esses espíritos aqui estavam encarnados em missão de ajuda ao desenvolvimento moral e intelectual de nosso planeta, portanto, já eram evoluídos a ponto de Jesus, o governador de nosso orbe, enviá-los como precursores. Nesta matéria discutiremos os itens de 1 a 4
I) As almas pré existem e sobrevivem ao corpo, estabelecem ciclos de existência no mundo material e no mundo espiritual, corpo e espírito são entidades distintas, fundamentam a doutrina dos anjos decaídos.
II) Apresentam a ilusão que tem o homem de que sua vida material é tudo, pois encarnado é como se estivesse tendo uma vertigem, bem como tem dificuldade de ver a sua existência do ponto de vista espiritual, faz-se então necessário entender essa distinção para adquirir sabedoria.
III) A busca da verdade é o real objetivo de nossa evolução, mas quando encarnado o ser sofre a influência de seus órgãos e a alma fica obscurecida. Os sábios sempre souberam que a morte física não é o fim, e reencarnar seria a única maneira de continuar o processo evolutivo.
IV) Traz a ideia que ao desencarnar a alma mantém alguma coisa de forma material, aborda também o entendimento de que reencarnar somente é necessário às almas que ainda são impuras. Quando está na espiritualidade as almas podem adquirir conhecimentos e tomar boas resoluções e isso lhes faculta ter ideias intuitivas quando encarnadas. Quando os filósofos dizem que ao desencarnar a alma retém algo de sua forma material, parece-nos que fica implícita a noção que tinham do períspirito, embora essa terminologia ainda não existisse e que esse períspirito ainda estaria impregnado de matéria densa e que, portanto poderiam ser visíveis.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão II
Nos itens V e VI é tratado da figura do Daimon, cuja denominação nos causa estranheza por sabermos que essa palavra deu origem a expressão “demônio”, figura maléfica de alguns cultos cristãos.
Em sua origem, na Grécia antiga, não era esse o significado de Daimon, mas sim: guia de almas; protetores de homens e lugares. Sócrates, nos escritos de Platão se referia sempre ao seu Daimon.
A atuação desses “Daimon”, inteiramente benéfica, evita que determinadas situações ocorram e que outras sejam viabilizadas. Sócrates também entendia que, em certas ocasiões, seu Daimon se calasse, porque assim se fazia necessário.
Era responsabilidade de o Daimon levar seu protegido até Hades1 para ser julgado e lá ficaria esperando até ser reconduzido para nova existência.
Hades, deus do mundo subterrâneo, dominava o reino dos mortos, um lugar onde só imperava a tristeza. Era um deus quieto e seu nome quase nunca era pronunciado, pois tinham medo, para isso usavam outros nomes como o de Plutão. Um deus muito temido, pois no seu mundo sempre havia espaço para as almas.
O Daimon servia de intermediário entre os deuses e os humanos sejam durante a vigília ou durante o sono.
A análise que Kardec faz desses seres os identifica com a doutrina dos anjos da guarda e espíritos protetores, bem como da reencarnação após um tempo de espera na espiritualidade.
Na questão 495 de “O Livro dos Espíritos” Kardec transcreve uma belíssima mensagem assinada por São Luís e Santo Agostinho onde fica clara a disposição desses seres em nos ajudar e nos proteger; informa que esses anjos tutelares podem de nós se afastar quando somos indiferentes às suas orientações e quando seus tutelados escolhem ficar com espíritos inferiores.
Por serem os precursores das ideias cristãs e espíritas, nada mais lógico que esses dois filósofos processem essa ideia de maneira que pudesse ser entendida pelas pessoas daquela época.
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Notas:
1Na mitologia grega, Hades é o deus do submundo. Filho de Cronos e Reia, irmão de Zeus, Héstia, Demeter, Hera e Poseidon. Casado com Perséfone. Ficou responsável pelo submundo, ou reino dos mortos. Seu mundo era dividido em duas partes: Érebo (onde as almas ficavam para serem jugadas e receberem seus castigos ou suas recompensas) e Tártaro (uma região mais profunda onde eram aprisionados os Titãs, com os quais lutou para ter domínio de seu reino).
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Referências:
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA. Disponível em: <http://sites.google.com/site/sbgdicionariodefilosofia/daimon>
COSTA, V. P. O "Daimon" de Sócrates: conselho divino ou reflexão. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/14-valcicleia.pdf>
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão III
Os itens VII e VIII apresentam as concepções de Sócrates e Platão sobre a vida espiritual a qual denominavam como sendo a verdadeira vida. Para esses filósofos a vida material é apenas um segundo frente à eternidade. Essa concepção também é um dos fundamentos do cristianismo e de outras crenças que aceitam a imortalidade da alma.
Acreditavam e ensinavam que a transitoriedade da vida material era necessária para que a alma alcançasse sua iluminação, portanto aceitavam que existem espíritos nos mais diferentes estados de desenvolvimento intelectual e moral e essa concepção é a mesma que a doutrina espírita apresenta para explicar a diversidade de caráter dos indivíduos.
Interessante notar que a argumentação dos filósofos se apoiava na compreensão que alma se desmaterializa à medida que evolui.
Aponta Kardec:
O que eles diziam, por intuição, o Espiritismo o prova com os inúmeros exemplos que nos põe sob as vistas.
Intuição é faculdade ou ato de perceber, discernir ou pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise.
É quando chegamos a uma conclusão de um problema complexo sem ter raciocinado. Popularmente, essa intuição se refere aos clichês “Como não pensei nisso antes?” e “Eureca!”. Quando pessoas passam por esse fenômeno, elas não sabem explicar como elas chegaram ao resultado final, simplesmente falam que a resposta apareceu na mente deles1
Dentro da visão Kardecista, a intuição envolve conhecimento e experiência acumulado de outras vidas, e já tendo passado por situações similares no passado, o indivíduo toma decisões importantes que poderão alterar o curso de sua jornada, ou ainda, que poderão salvar-lhe de uma situação de risco.
Referências
1 SUPER INTERESSANTE. O que é intuição? Revista on-line. Seção: comportamento. 31 de outubro de 2016. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/o-que-e-intuicao/> Acesso em: 10 de novembro de 2016.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão IV
Os itens IX e X apresentam as concepções dos filósofos a respeito daquilo que levamos para o mundo espiritual depois de termos cumprido nossa trajetória reencarnatória.
É conveniente acreditar no “nada” após a morte do corpo físico para aqueles que levam uma vida dissoluta. Sendo o “nada”, nada tem que se responsabilizar e, portanto lhes é tranquilizador assim acreditar. Podem continuar no seu estilo de vida irresponsável
Em oposição os que têm uma visão espiritualista se esforçam para adornar suas almas com atributos morais o que lhes asseguraria um retorno tranquilo e enobrecedor, quando de sua volta ao plano espiritual.
Essas colocações são corroboradas pela moral cristã e pelo ensino dos espíritos da Codificação. Embora, antigos, tais ensinamentos, ainda hoje, não fazem eco para aqueles que querem viver o aqui e o agora!
No item X é apresentado um trecho “Colóquios de Sócrates com seus discípulos”, na prisão. Sabemos que Sócrates foi condenado, injustamente, a beber cicuta, um poderoso veneno por ser acusado de corromper a juventude por levar seus discípulos a pensarem livremente.
Os discípulos estavam inconformados pela condenação, mas o mestre, de forma tranquila, lhes ensina que nada havia a temer uma vez que voltava à espiritualidade, carregado de virtudes, mesmo tendo os poderosos o acusado injustamente. Tece então um paralelo entre o homem cheio de vícios e o homem virtuoso.
Ainda ensina que é melhor sofrer que fazer injustiças, pois enquanto a primeira adorna o espirito que retorna a vida espiritual, a injustiça praticada é, pois:
[…] a maior desgraça que pode acontecer ao homem é ir para o outro mundo carregado de crimes.
Mais uma vez, vemos o acerto de Kardec ao nomear esses dois filósofos como sendo os precursores do Cristianismo e do Espiritismo.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão V
No tópico XI é apresentada uma fala de Sócrates aos seus juízes.
Recordando: Sócrates foi condenado a beber cicuta, pois se considerou que ele estava corrompendo a juventude pelo seu método do livre pensar. |
Tendo, um de seus discípulos se revoltado com a injustiça, e, declarando-se ao mestre, este lhe respondeu: “Queria que fosse justiça?”
Inicia seu pronunciamento anotando que os homens são de dois tipos em relação à morte. Uns acreditam que nada ocorrerá, será uma noite eterna sem consciência, destruição absoluta; outros consideram que a morte é simplesmente a passagem para outro lugar. Vemos ai embutida a ideia do plano espiritual, desdobrada nos ensinamentos de Jesus, clarificada pela Doutrina Espírita que nos explica que a qualidade da vida pós-morte é determinada pelos nossos princípios morais e não por títulos e honrarias que ajuntamos na vida material.
Aborda nessa fala, aos seus juízes, sua convicção na imortalidade da alma e do encontro que ocorreria depois da morte com outras almas. Afirma seu desejo de conhecer essa vida pós-morte e ver que como seria diferente essa vivência entre “aqueles que são sábios e aqueles que creem sê-los e não são”.
Conclui, afirmando, que é chegada a hora de conhecer essa vida e que eles continuariam na vida presente.
Novamente, Kardec comenta que espíritos da categoria de Sócrates e Platão já trouxeram para a presente encarnação esses conhecimentos que estão concordantes com os ensinamentos de Jesus e dos Espíritos da Codificação.
Nada mais lógico uma vez que há mais de 500 anos de sua encarnação, entre nós, Jesus já preparava a humanidade para receber o que viria ensinar.
Destaca ainda Kardec que esses Espíritos faziam parte da falange que o assessoraria na obra da Codificação Espírita. Podemos constatar que dentre os Espíritos que assinaram os “prolegômenos” de “O Livro dos Espíritos”, lá estão eles.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão – VI
Os itens XII e XIII tratam de questões referentes ao comportamento humano, sobretudo sobre a questão da justiça e da injustiça e dos frutos de nossas emoções, sentimentos e ações.
Sobre a justiça, lembram os filósofos que não é necessário retribuir a injustiça pela injustiça, entretanto lembram que nem todas as pessoas assim entendem o que resulta em divisões que culminam com o desprezo.
Aponta Kardec que esse preceito é implícito na ideia de caridade apresentada por Jesus e ratificada pelos Espíritos da codificação quando dizem que caridade é benevolência, indulgência e perdão. Ora, quem perdoa não retribui injustiça com injustiça; sabe o espírita que ao seu tempo haverá um despertar da consciência dos vingativos e que então buscarão reparar seu erro.
O rancor daquele que retribui injustiça com injustiça porta no seu coração a mágoa e conforme nos ensina Joanna de Ângelis: “Quem guarda rancor, coleciona lixo moral, e, consequentemente termina enfermado.”
No item XIII Sócrates e Platão trazem a figura da árvore que pode produzir bons ou maus frutos, figura essa também frequente nos ensinamentos de Jesus.
Sabemos que nossas ações são frutos de nossas emoções e sentimentos e é através das ações que exteriorizamos nosso estado psicológico. As maldades como a bondade moram dentro daquele que as pratica, é seiva que nutre o fruto símbolo de nosso agir. Como o fruto será bom se foi nutrido com sentimentos aversivos em relação ao nosso próximo? Lembremos a assertiva contida em Matheus 7-20: “uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons.”.
Ao enviar Sócrates e Platão á Grécia antiga para serem seus precursores, Jesus objetivava legar, por antecipação, o código de conduta moral que viria trazer mais tarde. No seio deste povo ainda politeísta, mas sede de grande cultura era possível aceitar esses princípios com mais naturalidade que outros povos ainda com pouco desenvolvimento intelectual.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão VII
No item XIV, encontra-se a explicação que Sócrates e Platão deram à questão da riqueza. Para eles, seria um grande perigo, pois seus possuidores correm o risco de dar mais valor as suas posses materiais que a sua essência: a alma.
Explicam que esse apego excessivo aos bens materiais o leva a um desamor por si mesmo, ocupando-se mais do externo do que do seu interno.
Os Espíritos da Codificação disseram que a riqueza, como a pobreza, são provas às quais todos são submetidos e ambas as provas têm suas dificuldades que testam nossas virtudes.
No capítulo XVI de “O Evangelho segundo o Espiritismo” – “Não se pode servir a Deus e a Mamon”- encontramos a seguinte explicação:
[…] a pobreza para uns é prova de paciência e da resignação; a riqueza é para outros prova de caridade e abnegação.
Nesse mesmo capítulo encontramos que deste mundo só se leva a inteligência, os conhecimentos, qualidades morais. A questão central, como colocaram Sócrates e Platão, é: “somos ricos de qualidades morais?”
André Luiz no livro “Obreiros da vida eterna” descreve a situação em que, acompanhando o sepultamento do corpo de Dimas, obtém permissão de seu instrutor para caminhar pelo cemitério. Para sua surpresa, encontra o espirito de um homem cujo corpo estava lá enterrado. Aquele permanecia ainda ligado ao corpo pelo cordão prateado. André pergunta ao zelador espiritual porque não se fazer o desligamento ao que lhe é explicado que aquele homem estava mentalmente ligado às suas posses materiais e se desprendido voltaria a sua casa e atormentaria seus herdeiros.
Encerramos essa reflexão citando a questão 922 de O Livro dos Espíritos:
A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens? “Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.”
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão VIII
O item XV trata da visão que os filósofos tinham do ato de orar.
Estavam na Grécia antiga onde imperava o politeísmo e, eles mesmos sempre se referiam aos deuses e aos espíritos protetores, que intitulavam de Daimon, evidenciando a crença na espiritualidade ou como se referia Platão “ao mundo das ideias” onde tudo é permanente diferentemente ao mundo material onde tudo é impermanente.
Dialogar com as divindades era preconizado a todos os cidadãos e isso se fazia através do ato de orar.
Como em todos os tempos e até hoje, há muitos que acreditam que serão ouvidos por muito falar ou por dizer palavras bonitas ou poéticas como se fosse possível enganar aqueles que estão na espiritualidade que vêm mais nossos sentimentos e ações que nosso palavreado.
Nesse trecho da fala de Sócrates, encontramos a clara explicação que nossas orações chegam até a espiritualidade superior quando são acompanhadas de sentimentos de humildade e de atos morais do nosso proceder.
Apontam que ser virtuoso é mais importante que se sacrificar e dizer belas palavras, pois é, na manifestação das virtudes, que se conhece o real caráter da alma.
Aqui nos lembramos da parábola do fariseu e do publicano que oravam no templo, o primeiro, orgulhoso, arrolava para Deus seus feitos materiais como se isso não fosse sua obrigação cotidiana dentro da lei judaica, por isso sentia-se superior ao publicano que humildemente colocava o reconhecimento de suas faltas e pedia ajuda a Jeová. Jesus então aponta que a verdadeira oração era do publicano e não do fariseu.
No capítulo “Pedi e Obtereis” de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, fala-se da qualidade da prece e da sua eficiência que necessariamente estão na dependência da humildade, da fé, da melhoria moral, da Paternidade generosa de Deus, no amor de Jesus e dos Bons Espíritos e não na sua duração, nas suas belas palavras, na tentativa de se mostrar bom e servil quando na realidade não o é.
Alerta Sócrates que “Seria uma coisa grave se os deuses tivessem mais consideração pelas nossas oferendas que pela nossa alma.”.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão IX
O item XVI aborda a questão do amor, um dos pilares da filosofia de Sócrates e Platão, que segundo eles podia ser encontrado em todas as partes desde o movimento dos astros até nas manifestações da natureza e a única forma de dar paz aos homens.
Considera-se o homem que só ama o corpo como sendo “homem vicioso” e pode-se considerar assim porque esse amor reflete o materialismo contido na essência desse sentimento. É o ser que vive na busca das sensações e não dos sentimentos. Na Grécia antiga era costume louvar o semideus EROS que simbolizava esse tipo de amor que se manifestava em orgias que geralmente ocorria durante os banquetes.
Neste item Kardec ressalta a importância do amor fraterno como sendo o único que pode unir os homens por ser uma lei universal e não transitória como é o amor erótico, que visa o aqui e o agora.
O Cristianismo vem a seu tempo demostrar a vivência do amor fraterno universal na exemplificação de Jesus ao longo de suas pregações e atuações, não era meramente um discurso, mas sim um princípio básico de conduta moral.
Em seguida do item XVI Kardec apresenta a questão da virtude no item XVII.
Como os filósofos colocam a virtude como sendo um dom de Deus, Kardec contesta essa colocação por considerar que ela se assemelha a doutrina da graça.
Graça é um conceito teológico fortemente enraizado no Judaísmo e no Cristianismo, definido como um dom gratuito e sobrenatural dado por Deus para conceder à humanidade todos os bens necessários à sua existência e à sua salvação. Esta dádiva é motivada unicamente pela misericórdia e amor de Deus à humanidade, logo, movida por Sua iniciativa própria, ainda que seja em resposta a algum pedido a Ele dirigido. E também por esta razão, a Graça é um favor imerecido pelo Homem, mas sim fruto da misericórdia e amor divinos.
Dependendo das correntes teológicas cristãs, existem aqueles que defendem que a graça é irresistível; outros que a graça é somente para algumas pessoas escolhidas e totalmente predestinadas por Deus; e há ainda aqueles que acreditam que a graça é universal (ou seja, predestinada para toda a humanidade), mas que pode ser recusada livremente pelo Homem. (Wikipedia)
A contestação de Kardec é a seguinte: “O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força que Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar o bem.”.
Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão X
Item XVIII
É disposição natural, em todos nós, a de nos apercebermos muito menos dos nossos defeitos, do que dos de outrem. Diz o Evangelho: “Vedes a palha que está no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso”.
Os filósofos, com outras palavras dizem exatamente o que o Cristo viria confirmar muitos séculos depois, usando a alegoria da palha¹/cisco e argueiro/trave².
Esse olhar que vê sempre o defeito do outro e não o seu próprio, alardeia a suas virtudes e não constata a virtude do outro é a manifestação do orgulho e da vaidade que ainda habita em nós.
G. Jung, psicanalista, discípulo de Freud e depois dissidente, trabalhava com o conceito de “sombra”³ que todos carregamos, mas negamos que elas existam em nós, então não podemos aceita-las e tentarmos eliminá-las.
Joanna de Ângelis na construção da “Psicologia Espírita” lança mão desse conceito para incentivar em nós a procura dessas sombras, a fim de reconhecê-las, e assim, poder trabalhar com ela na busca de nosso aperfeiçoamento moral.
Encontramos uma lenda indiana4 muito interessante relativa a essa passagem:
Cada homem caminha na face da terra carregando duas sacolas, uma na frente e outra atrás, na primeira coloca suas virtudes e na de trás os seus defeitos, assim sempre olham para suas virtudes e ignoram os seus defeitos, mas o que vem atrás olha os defeitos do antecessor e vêm apenas suas virtudes.
Santo Agostinho na questão 919 de “O livro dos Espíritos” nos indica um importante trabalho de análise e reflexão diária a respeito de nossos acertos e enganos de cada dia, só assim poderemos olhar nossa sacola de trás e identificar o que de defeito existe em nós e que necessita de corrigenda.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão XI
Item XIX
Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem a alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem.
Muitas enfermidades têm origem no temperamento desajustado, nas emoções em desalinho, em influências espirituais negativas. A ansiedade, o medo, o pessimismo, a ira, o ciúme e o ódio são responsáveis por males que ainda não se encontram catalogados, prejudicando a saúde física, emocional e mental. Esforça-te por permanecer em paz, cultivando os pensamentos bons, que te propiciarão inestimáveis benefícios. Conforme preferires mentalmente, assim te será a existência.
Comparando as duas assertivas, a de Sócrates e a de Joanna de Ângelis constata-se que o filósofo 500 anos antes de Cristo já falava da influência dos sentimentos e emoções sobre a saúde física e mental; criticava a medicina que olha os doentes apenas como corpos físicos e aponta a necessidade do tratamento integral do Ser.
A Doutrina Espírita ensina que somos Espíritos imortais revestidos de perispírito e quando encarnado possuímos o corpo físico. O corpo físico é transitório e se desgasta com o passar do tempo e então perece. O perispírito não.
“Quando o Espírito se une ao corpo, nele existe com seu perispírito, que serve de laço entre o Espírito propriamente dito e a matéria corpórea; é o intermediário das sensações percebidas pelo Espírito.” (Rev. Esp, dez. 1862)
“O períspirito, sendo um dos elementos constitutivos do homem, representa um papel importante em todos os fenômenos psicológicos e, até um certo ponto, nos fenômenos fisiológicos e patológicos.”( Morel Lavallée. As três causas principais das doenças. Rev. Esp. Fev, 1867. Allan Kardec. Atmosfera espiritual, Rev. Esp. Maio, 1867)
Morel Lavallée afirma:
Se a perturbação vier do perispírito, se for uma modificação do princípio fluídico que o compõe, que se ache alterado, será preciso uma medicação em relação com a natureza do órgão perturbado, para que as funções possam retomar seu estado normal. Se a doença proceder do Espírito, não se poderá empregar, para a combater, outra coisa senão uma medicação espiritual.
Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão XII
Item XX
Todos os homens, a partir da infância, muito mais fazem de mal do que de bem. Essa sentença de Sócrates fere a grave questão da predominância do mal na Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos mundos e da destinação do planeta terreno, habitado apenas por uma fração mínima da Humanidade. Somente o Espiritismo resolve essa questão, que se encontra explanado aqui adiante, nos capítulos (II, III e IV).
Não sabemos quantos planetas habitados existem no Universo, mas Joanna de Ângelis no livro “No limiar do infinito”, no capítulo “Ante o Cosmos” nos informa que na Via Láctea existem cem bilhões de estrelas e que no universo existem dez bilhões de galáxias, portanto a possibilidade de existir mundos com características semelhantes a da Terra e albergar seres semelhantes a nós e algo a ser considerado.
Na escala dos mundos, apresentada em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, que consta de 5 posições o nosso planeta encontra-se no número 2 tendo mais 3 tipos de mundo acima dessa posição, portanto há que se considerar que a longa jornada que nós habitantes desse planeta ainda termos de caminhar para possuirmos condições de habitar o tipo de mundo mais evoluído que são os mundos celestes ou divinos.
Em “Obras Póstumas”, Kardec, na dissertação “O egoísmo e o orgulho” lembra:
É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem origem no egoísmo dos homens. […] O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho […] O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito inútil. Ele não criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude do seu livre-arbítrio. Contido em justos limites, aquele sentimento é bom em si mesmo. A exageração é o que o torna mal e pernicioso.
A doutrina espírita vem assim clarificar a predominância do mal na Terra e também nos mostrar que essa situação é transitória, uma vez que nós, seus habitantes, estamos tendo múltiplas oportunidades para, através de nossa evolução e progresso, mudar essa situação quando substituirmos o egoísmo e o orgulho por procedimentos de fraternidade e benevolência, indulgência e perdão, ou seja, exercermos a caridade como ensinada por Jesus.
Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão XIII
Item XXI
Ajuizado serás, não supondo que sabes o que ignoras.
Essa assertiva dos filósofos inserida em O Evangelho segundo o Espiritismo é um importante alerta para todo aquele que busca conhecer a Doutrina Espírita no seu real sentido. Aquele que busca o conhecimento sabe que sempre há algo a aprender e que, por sermos Almas que ainda vivem em um mundo de provas e expiação, nosso conhecimento esta em processo e nosso progresso intelectual carece de longa jornada para se concretizar.
O conhecimento das obras básicas do Espiritismo se faz necessário uma vez que ele será a referência de análise para todo leitura de obras subsidiárias, de material da internet, de palestras ou conversas que versem sobre a Doutrina Espírita.
Por que necessitamos dessa referência? Porque é muito frequente nos depararmos com fontes que se dizem espírita, mas uma análise mais profunda evidencia que ao lado de conceitos corretos podemos encontrar mescladas opiniões pessoais que divergem do conteúdo doutrinário.
Recebemos, pelo celular, mensagens denominadas com de autoria de Espíritos respeitáveis ou médiuns conhecidos cujo conteúdo evidencia que falsidades que se escondem atrás desses nomes respeitáveis.
Kardec em “O Livro dos Médiuns” dedica uma parte as comunicações apócrifas assinadas por nomes famosos e respeitados e afirma:
Muitas comunicações há, de tal modo absurdas, que, embora assinadas com os mais respeitáveis nomes, o senso comum basta para lhes tornar patente a falsidade. Outras, porém, há, em que o erro, dissimulado entre coisas aproveitáveis, chega a iludir, impedindo às vezes se possa apreendê-lo à primeira vista. Essas comunicações, no entanto, não resistem a um exame sério.
Assim como no mundo espiritual há os espíritos pseudo-sábios, encarnado também os encontramos, não são necessariamente ignorantes, mas creem saber mais do que realmente sabem. São guiados pela presunção e orgulho.
Reconhecer que nem tudo se sabe e que sempre temos o que aprender é virtude que nos disponibiliza acessar novos conhecimentos colocando-nos no processo de contínuo aprendizado.
“Examinai tudo. Retende o bem.” (1 Tessalonicenses 5:21) ensinou Paulo de Tarso e essa deve ser nossa postura frente aquilo que deparamos nos diferentes meios de comunicação.
As premissas
Se nos reportarmos às matérias contidas neste estudo, logo no início, encontraremos um quadro sinótico sobre “A Estrutura Didática de O Evangelho segundo o Espiritismo”, onde um dos itens diz respeito aos quatro primeiros capítulos que denominamos ‘As Premissas’.
Entendemos por premissas fato ou princípio que serve de base à conclusão de um raciocínio. São elas: não vim destruir a lei, meu reino não é deste mundo, há muitas moradas na casa de meu pai, ninguém poderá ver o reino de deus se não nascer de novo.
Considerando que o “Evangelho Segundo o Espiritismo”
[…] constitui código, uma regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundamentam na mais rigorosa justiça
Kardec, antes de colocar as regras de bem proceder, apresenta as premissas na quais assentam; pois as compreendendo a nossa fé será raciocinada e não dogmática.
Essas premissas nos remetem à compreensão do que deve fundamentar nosso comportamento cristão: progresso, espiritualidade, o entendimento sobre a pluralidade dos mundos habitados e a reencarnação.
Não vim destruir a lei
Nesse capítulo é apresentada a evolução do pensamento religioso através das três revelações, onde fica evidente o processo evolutivo do homem se relacionar com Deus, com seu semelhante e consigo mesmo.
Meu reino não é deste mundo
Destaca a questão da vida espiritual como a verdadeira destinação dos homens.
Há muitas moradas na casa de meu pai
A pluralidade dos mundos habitados e suas características.
Ninguém poderá ver o reino de deus se não nascer de novo
Reencarnação como essencial ao processo evolutivo.
Assim, o entendimento dessas premissas nos ajuda a escolher o caminho, verificar a direção e diante de dúvidas e dificuldades responder a questão: o que o cristo faria em idênticas condições?
Bem aventurado os aflitos
Após as premissas Kardec nos apresenta o diagnóstico das aflições que vivemos por habitarmos um planeta de expiação e provas.
Esse é o capítulo mais longo de O Evangelho segundo o Espiritismo, evidenciando que é longa a lista de nossas aflições a espera de nosso desenvolvimento intelectual e moral para delas nos livrarmos.
A visão espirita da dor e do sofrimento nos apresenta esses acontecimentos como possibilidade de transformação; pois o sofrimento só nos será útil se dele tirarmos o aprendizado para não nos perpetuarmos no erro e haurirmos coragem para continuar no nosso processo de modificação de comportamentos.
Elencaremos a seguir as aflições arroladas neste capítulo: Causas Atuais e Anteriores das Aflições, Esquecimento do Passado, Suicídio e Loucura, Perda de Pessoas Amadas, Mortes Prematuras, A Melancolia, Aborto, Eutanásia, Ignorar as Provas do Próximo, Provas Voluntárias.
Consta ainda desse capítulo orientações sobre: a felicidade não é deste mundo, justiça das aflições, a infelicidade real, o verdadeiro cilício, sacrifício da própria vida, proveito do sofrimento para outrem.
O capítulo apresenta ainda um ponto muito importante que é motivo de resignação, mostrando que quando ocorre o aprendizado e a modificação de comportamento aquele sofrimento cumpriu a sua função, portanto ele não se repetirá na nossa trajetória evolutiva.
Muitos ainda pensam que resignação é uma atitude passiva frente à dor e o sofrimento, entretanto isso não é realidade. Uma vez que resignação nos faz aceitar as aflições, mas também indica a direção para envidar esforços a fim de resolver as causas que as geram.
Joanna de Ângelis em seu livro “Autodescobrimento: uma busca interior” afirma que:
Inadvertidamente ou por comodidade, a maioria das pessoas aceita e submete-se ao que poderia mudar a benefício próprio, autopunindo-se e, acreditando merecer o sofrimento e a infelicidade com que se vê a braços, quando o propósito da Divindade para com suas criaturas é a plenitude, é a perfeição.
Capítulo VI
O Cristo Consolador: Advento do Espírito de Verdade
Aproxima-se o Natal e sabemos nós que, antes das comemorações, é importante refletirmos sobre o que JESUS significa para nós e nosso planeta; é comum ouvirmos que ele é Governador de nosso planeta, mas o que significa isso?
Para a maioria das pessoas o símbolo do Natal é o presépio com o menino Jesus e seus pais, Maria e José, como se Jesus só a partir desse momento tenha participado de nosso planeta.
Advento significa vinda ou chegada. A palavra advento também pode significar fundação ou criação de alguma coisa.
Considerar que a chegada de Jesus nesse planeta fixa-se no seu nascimento entre nos é esquecermo-nos dos 4,5 bilhões de anos que ele cuida e governa a Terra.
Em “A caminho da luz” Emmanuel nos esclarece que Jesus esta conosco desde o momento que a terra se desprendeu do Sol e ele “organizou o cenário da vida, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres no porvir”.
Jesus faz parte de uma comunidade de Espíritos Puros que dirige nosso sistema solar e essa comunidade reuniu-se por duas vezes: quando ao planeta se desprendeu do sol e Jesus assumiu sua direção e novamente quando Jesus devia reencarnar entre nós.
Lembremo-nos que Espíritos Puros não têm mais necessidade de reencarnação e quando a ela se submete é para cumprir uma missão e a de Jesus foi trazer as leis morais de Deus através de seus ensinamentos e vivência.
Outra importante missão de Jesus foi coordenar a equipe espiritual que trabalhou junto a Kardec na codificação da DOUTRINA ESPÍRITA. Ficou conhecido entre nós como O Espirito Verdade.
No Capítulo VI de O evangelho segundo o Espiritismo – O Cristo Consolador: Advento do Espírito de Verdade há uma mensagem assinada pelo Espirito Verdade, mas em O livro dos Médiuns essa mesma mensagem esta inserida, então assinado por Jesus.
São 4,5 bilhões de anos que Jesus esta construindo nossa morada planetária e cuidando de nós, portanto seu AMOR por nós pode ser avaliado pelo seu tempo de dedicação.
Bem aventurados os aflitos
Anteriormente foi abordada a composição do capítulo mais extenso de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e as diferentes aflições que vivemos por estarmos em um mundo de expiação e provas.
Neste momento, vamos tecer algumas considerações sobre a dor e o sofrimento sobre a ótica da psicologia espírita de Joanna de Ângelis em seu livro “Plenitude” por ser um importante subsídio para a compreensão dessas ocorrências em nossa vida.
Destacaremos algumas frases que nos darão subsídios para compreendermos o sofrimento não como karma, mas como elemento propiciatório da evolução do espírito imortal.
Bem aventurados os aflitos II
Traçando o perfil da situação de nosso planeta, Kardec apresenta, nesse capítulo, todas as dificuldades que ainda faceamos por estarmos habitando um mundo de expiação e provas.
A palavra aflição pode ser entendida como a gama de sentimentos que um doloroso evento ou fato despertam no ser humano.1
Pode-se também entender aflição como sendo tristeza, amargura.2
Pessoas há que mesmo sofrendo atribulações mantem-se em uma atitude interna positiva, enquanto outras se alimentam interiormente de pessimismo e revolta. As primeiras têm a consciência reta e sincera e seu interior é calmo e feliz embora “externamente aconteçam coisas que o entristeçam.” As segundas, que pela ausência de harmonia espiritual, têm necessidade de alegrias externas geralmente ruidosas e violentas.
“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João, 17:15), são palavras de Jesus quando preparava os discípulos para seu regresso a pátria espiritual, evidenciando que tribulações aconteceriam, mas era necessário que eles não deixassem se abater por elas.
O Ser que não tem harmonia interna “não tolera a solidão que lhe traz consciência mais nítida da sua vacuidade ou desarmonia interior”, busca pessoas para não estar a sós consigo e, quando isso não é possível, busca o ruído da rua, do rádio, da televisão, da internet, do celular e, quando isso não lhe basta, procura o recurso das drogas e entorpecentes para camuflarem por algum tempo a sensação da sua triste solidão. Se isso não lhe basta apela para o suicídio.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14:27) afirma Jesus recomendando que sua paz não se encontra no mundo exterior , mas interiormente no Ser que a encontra na sua espiritualidade, pois as alegrias externas tem sobre o Ser o efeito da água do mar, que quanto mas se bebe mais sede se tem.
Referências
1O NOVO TESTAMENTO. Tradução de Haroldo Dutra Dias. FEB., 2013.
2ROHDEN, H. O sermão do monte. Ed. Martin Claret, São Paulo, inverno de 2002.
Bem-aventurados os aflitos III
Kardec inicia esse capítulo com três passagens evangélicas: uma de Matheus (cap.5: 4, 6,10) e duas de Lucas (cap.5: 20, 21, 24,25) onde os evangelistas abordam o trecho do Sermão do Monte, quando Jesus fala das bem-aventuranças e as consequências para aqueles que vivem de forma displicente e irresponsável.
Nessas passagens há duas conotações a serem assinaladas: aflições que geram tranquilidade e tranquilidade que geram aflições. Asseverou Jesus que os que sofrem e sabem sofrer estão em processo de quitação com as leis divinas e aqueles que vivem de forma dissoluta estão em processo de contrair débitos morais que serão corrigidos no futuro mediante dificuldade que construirão para sua vivencia futura.
Como assim, escolhemos sofrer quando planejamos, no plano espiritual, nossa futura existência corpórea? A resposta é positiva quando nos arrependemos de nossas faltas passadas e entendemos que é necessário repará-las para que se construam em nós virtudes que se caracterizam como progresso moral.
Toda aflição que vivenciamos são necessariamente erros que cometemos? A grande maioria sim, mas há aqueles espíritos que, compadecidos de almas amadas que se acham transviadas da senda do bem, reencarnam junto a eles em missão de socorro e ajuda e auxiliando-as a passar pelas aflições que lhes fazem necessárias dando-lhes o apoio e compadecidas seguem sem reclamar embora compartir-lhes as dificuldades se aflições.
Concluímos com um trecho de Emmanuel em Ceifa de Luz (lição 27):
Valoriza a aflição de hoje, aprendendo com ela a crescer para o bem, que nos burila para a união com Deus, porque o Mestre que te propões a escutar e seguir, ao invés de facilidades no imediatismo da Terra, preferiu, para ensinar-nos a verdadeira ascensão, a humildade da manjedoura, o imposto constante do serviço aos necessitados, a incompreensão dos contemporâneos, a indiferença dos corações mais queridos e o supremo testemunho do amor em plena cruz da morte.
Bem aventurados os aflitos IV
Inicia Kardec o capítulo com o Item “Justiça das Aflições” discorrendo sobre as diversidades, sofrimentos e dores que se encontram em todos os grupos sociais da humanidade e questiona o que poderia explicar essas diferenças, que aparentemente se apresentam como injustas.
Partindo da premissa que DEUS é soberanamente justo e bom, as causas destas aflições devem obedecer a um critério que se apoia na JUSTIÇA DIVINA. Assim nos dois itens seguintes ele aborda as origens das aflições na vida presente e nas vidas passadas, onde clarifica que dores, sofrimentos e aflições têm suas coisas explicadas por comportamentos nossos que desrespeitam a lei divina ou natural.
André Luiz nos esclarece que: “O espiritismo mostra que a Lei de Causa e Efeito está presente no mundo moral e que toda ação tem a reação correspondente, significando que, diante do Código Divino, cada desacerto, agora ou no passado, leva sempre ao reparo necessário e que a aflição, longe de ser injusta, é na verdade efeito doloroso de uma causa injusta”.
Emmanuel nos explica que:
os problemas na realidade são desafios para que nós procuremos resolvê-los;
aquilo que chamamos de serviço impraticável nos é colocado porque Deus conhece nossa a força e capacidade;
tentações que são oriundas de nosso próprio magnetismo calamitoso, aos quais somos colocados a faceá-las para que aprendamos a transforma-las;
o parente difícil aparece para que aprendamos a arte de amparar;
companheiro obsidiado leva-nos a aprender a responsabilidade da reabilitação através da sustentação dos mesmos;
todas as aflições do mundo aparecem para desenvolvermos os valores do espirito e são oportunidades de servir agindo com paciência e bondade.
Fontes:
André Luiz. Causa e efeito; IN: Vivendo o Evangelho, volume I, psicografia de Antônio Baduy Filho. Ed. IDE
Emmanuel. Aflitos Bem Aventurados; IN: Nascer & renascer, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Ed. GEEM.
Bem aventurados os aflitos V
Causas atuais das aflições
Interessante notar que frequentemente atribui-se as aflições a eventos que tenham ocorridos em reencarnações anteriores, entretanto Kardec explica que assim deve-se proceder após analisar se a aflição que fazem os seres sofrer não tem sua origem em causas atuais, só então poderemos dizer que sua origem se encontra em reencarnações pregressas.
Os eventos que geram causas atuais das aflições são arrolados no item 4 deste capítulo;
- Imprevidência, orgulho e ambição.
- Falta de ordem, de perseverança.
- Má conduta e não ter limite de seus desejos.
- Casamentos por interesse, sem o lastro do amor.
- Falta de moderação e excesso de suscetibilidade.
- Intemperança de todos os gêneros que levam a doenças.
- Pais que não corrigem as más tendências de seus filhos desde a primeira infância.
Kardec coloca uma referência norteadora para análise: “Se eu tivesse, ou não tivesse feito tal coisa eu não estaria em tal situação”. Se honestamente refletir-se sobre essa questão vê-se que na maior parte das vezes pode-se atribuir a si mesmo a responsabilidade de seus próprios infortúnios.
Os males dessa natureza formam, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida; o homem os evitará quando trabalhar pelo seu aprimoramento moral, tanto quanto para seu aprimoramento intelectual.
A busca da harmonia interior, quando constatado que erroneamente se comportou, demanda ações responsáveis libertando-se de queixas pessimistas, administração dos conflitos, reagir à depressão, procurando conduzir o viver de forma cuidadosa com empenho e devotamento para não incorrer em novos enganos.
Jesus já ensinou: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. (João 5:8) e isso não se aplica apenas ao enfermo do físico, mas também para as enfermidades morais que devem ser enfrentadas e trabalhadas por aquele que quer dar um novo sentido a sua vida.
Bem aventurados os aflitos VI
Há uma tendência de associarmos a palavra Carma aos sofrimentos que acontecem em nossa vida para os quais não encontramos explicação pelo estilo de vida atual e assim, nós reencarnacionistas, atribuímos aos nossos erros em encarnações passadas.
Joanna de Ângelis nos explica: “O Carma é o efeito das ações praticadas nas diferentes etapas da existência atual como da pregressa. Fruto da arvore plantada e cultivada, tem o sabor da espécie que tipifica o vegetal”.
Quando se planta atos positivos colhem-se “momentos felizes, afetividade, lucidez, progresso e novos ensejos de crescimento moral, espiritual e intelectual”.
Entretanto se o plantio se baseia na “insensatez, vulgaridade, perversão, rebeldia, odiosidade” teremos que facear as expiações e provas reparadoras.
Continua a autora espiritual informando que: “O carma esta sempre em processo de alteração, conforme o comportamento da criatura”. Assim se o sofrimento pode se alterar quando se resolve mudar as atitudes e quando o Ser resolve buscar sua melhoria trabalhando para o bem geral que resulta em bem próprio.
Outra atitude enganosa é atribuir os sofrimentos à “Vontade de Deus” assim costuma-se ouvir “vou resignar-me, pois é vontade de Deus”; a doutrina Espírita nos esclarece que Deus é justo e misericordioso e que não é vontade dele o nosso sofrimento, mas é colheita da nossa semeadura que Ele permite que ocorra para que possamos aprender a deduzir as consequências de nossos atos antes de praticá-los.
Joanna de Ângelis nos traz dois importantes exemplos de nossas colheitas:
Enquanto na ignorância, Maria de Magdala, com a consciência adormecida, vivia em promiscuidade moral. Ao defrontar Jesus, despertou, alterando o comportamento de tal forma, que elaborou o abençoado carma de ser a primeira pessoa a vê-LO ressuscitado.
Judas Escariotes, consciente da missão do Mestre, intoxicou-se pelos vapores da ambição descabida, e, despertando depois, ao enforcar-se, estabeleceu o lúgubre carma de reencarnações infelizes para reparar os erros tenebrosos e recuperar-se.
Fonte:
FRANCO, Divaldo P. Carma e consciência. IN: Momentos de Saúde e de Consciência. Pelo Espírito de: Joanna de Ângelis. Leal ed. Salvador, 2013.
Causas anteriores das aflições
Comentando sobre as causas anteriores das aflições nos ensina André Luiz1:
- Ontem desvios. Hoje aflição.
- Não digas nunca que perdeste a esperança e observa que a Bondade Divina sempre te socorreu na hora difícil.
- Angustia indescritível sempre tem cura e então se pode retornar a jornada.
- Profunda tristeza demanda esforço para prosseguir no caminho.
- Na desilusão é preciso superar o pessimismo e recuperar o ânimo.
- Na derrota procurar novas oportunidades de trabalho nobre e útil.
- É preciso não tornar-se refém do passado libertando-se das interferências perturbadoras buscando a humildade, o amor autêntico, o perdão, a ideia do bem, a esperança, a caridade e a fé inabalável.
- Inspirar-se no Evangelho.
- Renovação intima na busca da consciência tranquila.
No livro Nosso Lar,2 encontra-se a seguinte informação: “A aflição não constrói, a ansiedade não edifica. Saibamos ser dignos do clarim do Senhor atendendo-lhe a Vontade Divina no trabalho silencioso, em nossos postos”.
Cassimiro de Abreu3 poeticamente diz;
Meus amigos no serviçoDe prece e doutrinação,Cada espírito que sofreÉ a benção da lição
De André Luiz ainda temos duas belíssimas assertivas:
O sofrimento quando aceito à luz da fé viva é uma fonte criadora de asas espirituais.4
O sofrimento dos vencidos no combate humano é celeiro de luz da experiência.5
Emmanuel6 ensina:
Não basta sofrer simplesmente para ascender à gloria espiritual. Indispensável é saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração sequioso de paz.
Fontes:
Esquecimento do passado
Esse tema é tratado por Kardec no item 11 do capítulo Bem Aventurado os Aflitos de O Evangelho Segundo o Espiritismo¹
Sempre há muita curiosidade sobre quem teríamos sido em pregressa reencarnação, entretanto, isso em nada nos ajudaria na presente reencarnação, uma vez que, poderia proporcionar interferências constrangedoras na presente vivência, pois traria perturbações inevitáveis nas relações sociais.
Quais perturbações? Esclarece Kardec: poderia nos humilhar, exaltar nosso orgulho e assim entravar o livre arbítrio.
Cada nova existência é um novo ponto de partida, mas o que já aprendemos permanece em nosso repertório de princípio mesmo que o processo do aprendizado permaneça arquivado no nosso inconsciente e assoma através de nossa consciência e de nossas tendências.
Esclarece Kardec que o esquecimento não ocorre senão durante a vida corporal o que se constitui em uma interrupção momentânea que poderá ser retomada quando de nossa volta ao plano espiritual ou durante nossa emancipação pelo sono tempo quando haurimos forças para a presente vivência.
Quando alguma má tendência já se acha corrigida e não nos resta nenhum traço dela torna-se desnecessário sua lembrança, pois em nada nos ajudaria. Mais vale ouvir a voz da consciência para nos nortear considerando que é nela que estão gravadas as leis de Deus.
Aqui vale o ensinamento de André Luiz²:
Não importa o que foste ou fizeste em outros tempos, mas o que constróis agora em favor de seu aprimoramento íntimo, valorizando a oportunidade do recomeço que a misericórdia de Deus te permite, através da reencarnação.
O Espiritismo aponta o Evangelho de Jesus com roteiro de transformação moral e descortina os horizontes do futuro, mas o espirita que se envolve na teia das revelações pretéritas desperdiça tempo e se torna refém do passado.
Motivo de resignação
A compreensão do sofrimento para que se tenha a resignação esta diretamente ligada à visão que se tenha da vida futura. Aquele que acredita que com a morte do corpo físico tudo cessa não pode compreender o porquê do sofrimento, entretanto quando se tem uma visão clara da vida espiritual entende que o sofrimento é o preludio da cura.
Sofremos porque ainda estamos em processo de resgate de dívidas em pregressa reencarnação ou porque o sofrimento é uma prova que se tem que passar para que nossas virtudes possam ser aferidas, mostrando que estão consolidadas em nós.
Emmanuel nos esclarece: “Estudemos resignação em Jesus – Cristo. A cruz do Mestre não é um símbolo de apassivamento à frente da astúcia e da crueldade e sim mensagem de resistência contra a mentira e a criminalidade mascaradas de religião, num protesto firme que perdura até hoje”.
Joanna de Ângelis afirma: “O resignado não é um covarde, mas alguém que compreende a finalidade da existência terrena”.
Assim compreendendo pode-se concluir que resignação não é passividade, mas aceitação do sofrimento e que se deve evidar esforços para dele sair tendo a certeza de sua transitoriedade.
Conta-se que Maria de Nazaré em sua casa em Éfeso acolhia os sofredores que por lá passavam e sua mensagem de consolação e esperança era: “Isso também passará”.
O sofrimento tem seu fim quando o SER se harmoniza com as leis morais da vida, é processo de aprendizado e não castigo, pois o Pai é Misericordioso não pune, mas dá oportunidades de aprendizado.
Fontes:
Xavier F. C. Waldo, V.pelos espíritos de Emmanuel e André Luiz. Estude e Viva.
Franco, D. pelo Espírito Joanna de Ângelis .Leis morais da vida.
Suicídio e loucura
Itens 14 e 15
A incredulidade sobre a vida futura alicerçada nas ideias materialistas é indutora do suicídio, uma vez que a crença de que a vida se extingue no ato de por fim a existência corporal leve o indivíduo a crer que seus sofrimentos e desespero cessarão e que o nada é o seu destino.
O oposto, entretanto, ocorre àqueles que têm a firme convicção de o espirito é imortal e que a eternidade o espera quando volta à vida espiritual, este conhecimento dá à criatura a calma e a resignação necessária frente aos reveses e as decepções que possam lhe ocorrer uma vez que sabe que esses sofrimentos passarão e que a forma de vivencia-los estará construindo a sua felicidade futura.
O suicídio acarreta para o espirito uma volta à espiritualidade com muito sofrimento e dor, pois ocorre a decepção de que nada encontraria que seu sofrimento teria um fim e como nada disso acontece e, sobretudo, percebe que seu perispírito apresenta lesões causadas pela maneira pela qual interrompeu sua vida biológica.
O suicídio tem como fatores atenuantes a loucura e a embriagues que se poderia dizer que o indivíduo esta em uma situação que podemos chamar de inconsciente.
Explicamos o Evangelho segundo o Espiritismo que os casos de loucura são “devidos à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem força de suportar…”
André Luiz na mensagem “A maior aflição” inserida no livro “Vivendo o Evangelho vol 1” ensina:
Se você atravessa a hora mais difícil observe estas recomendações. Fuja da revolta. Mantenha a calma. Entenda a situação. Evite o desespero. Sustente a coragem. Revigore a fé. Prossiga com otimismo. Cultive a resignação. Aceite a realidade. Use o discernimento. Faça o possível. Exercite a prece. Pense na reencarnação. Considere a imortalidade. Fortaleça a esperança. Creia na bondade Divina. A experiência no corpo físico não prescinde do sofrimento, necessário ao aperfeiçoamento espiritual, mas a compreensão da vida eterna, através das lições do Evangelho é sempre o bálsamo que alivia na provação dolorosa. Nos momentos aflitivos, a maior aflição é estar afastado de Deus.
Suicídio e loucura
Itens 16 e 17
Bem-aventurados os Aflitos
Instrução dos Espíritos
O mal e o remédio
A felicidade não é deste mundo
Capítulo v- item 20
Mensagem assinada pelo cardeal Morlot em Paris 1863.
Lembra o cardeal que essa assertiva já esta no livro Eclesiastes, do velho testamento e que é compreensível pelo fato de habitarmos um planeta de expiações e provas onde a grande maioria de seus habitantes ainda se encontra na condição de espíritos neutros que se apegam as coisas deste mundo e que oscilam entre o bem e o mau, carecendo ainda de desenvolvimento moral e intelectual.
A crença de que esta é a única existência aumenta mais o sofrimento das criaturas de diferentes classes sociais; os que sofrem dificuldades financeiras de alguma forma invejam aqueles que são economicamente mais abastados, pois imaginam que para eles a infelicidade não existe, entretanto enganam-se, pois há diferentes tipos de sofrimento além da falta de recursos materiais.
Emmanuel (1) afirma que há duas espécies de lágrimas: aquelas que se originam no desespero e que são venenos mortais e aquelas que nascem das dores sinceras e construtivas que são filtros de redenção e vida.
Para André Luiz (2) “a Doutrina Espírita, revivendo o Evangelho de Jesus, convida-te a renovação íntima, no serviço do bem desinteressado, ensinando que a tua felicidade somente será duradoura e verdadeira se ela for parte da felicidade do próximo”.
O cardeal termina sua mensagem exortando os presentes á reunião, onde ela foi psicografada, a divulgarem a Doutrina Espírita e “Que nessa reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse objetivo grandioso de preparar, ás novas gerações, um mundo em que a felicidade não será mais uma palavra vã”.
Todos buscamos a felicidade, entretanto André Luiz (3) nos lembra: “a felicidade legítima não é mercadoria que se empresta. É realização intima”.
Fontes:
- Lágrimas In: Caminho, Verdade e Vida.
- André Luiz. Contrastes. In: Vivendo o Evangelho.
- André Luiz. Problemas pessoais. In: Agenda Cristã.
Notícia acerca do Sr Sanson
Capítulo V – item 21
Esse espírito assina a mensagem “Perdas de pessoas amadas. Mortes prematuras” que se encontra no capítulo V item 21 de O Evangelho segundo o Espiritismo.
Abaixo consiste na transcrição do início do capítulo II da segunda parte do livro “O Céu e o Inferno” de Allan Kardec.
Antigo membro da Sociedade Espírita de Paris faleceu a 21 de abril de 1862, depois de um ano de atrozes padecimentos. Prevendo a morte, dirigira ao presidente da Sociedade uma carta com o tópico seguinte:
“Podendo dar-se o caso de ser surpreendido pela separação entre minha alma e meu corpo, ocorre-me reiterar-vos um pedido que vos fiz há cerca de um ano, qual o de evocar o meu Espírito o mais breve possível, a fim de, como membro assaz inútil da nossa Sociedade, poder prestar-lhe para alguma coisa depois de morto, esclarecendo fase por fase as circunstâncias decorrentes do que o vulgo chama morte, e que, para nós outros – os espíritas – não passa de uma transformação, segundo os desígnios insondáveis de Deus, mas sempre útil ao fim que Ele se propõe. Além deste pedido que é uma autorização para me honrardes com essa autópsia espiritual, talvez improfícua em razão do meu quase nulo adiantamento, e que a vossa sabedoria não consentirá ir além de um certo número de ensaios – ouso pedir pessoalmente a vós como a todos os colegas que supliquem ao Todo-Poderoso a assistência de bons Espíritos, e a São Luís, nosso presidente espiritual, em particular, que me guie na escolha e sobre a época de uma nova encarnação, ideia que de há muito me preocupa.
“Arreceio-me de confiar demais nas minhas forças espirituais, rogando a Deus, muito cedo e presunçosamente, um estado corporal no qual eu não possa justificar a divina bondade, de modo a prejudicar o meu próprio adiantamento e prolongar a estação na Terra ou em outra qualquer parte, desde que naufrague.”
Para satisfazer-lhe o desejo, evocando-o o mais breve possível, dirigimo-nos com alguns membros da Sociedade à câmara mortuária, (Câmara mortuária, 23 de abril de 1862) onde, em presença do seu corpo, se passou o seguinte colóquio, precedendo uma hora o respectivo enterro. Era duplo o nosso fim: íamos cumprir uma vontade última e íamos observar, ainda uma vez, a situação de uma alma em momento tão imediato à morte, tratando-se, ao demais, de um homem eminentemente esclarecido, inteligente e profundamente convicto das verdades espíritas. Íamos enfim colher nas suas primeiras impressões a prova de quanto, sobre o estado do Espírito, pode influir a compenetração dessas verdades. E não nos iludimos na expectativa, porquanto o Sr. Sanson descreveu, plenamente lúcido, o instante da transição, vendo-se morrer e renascer, o que é uma circunstância pouco comum e só devida à elevação do seu Espírito.
Kardec não nomina o médium que recebeu a mensagem que se acha logo a seguir do texto transcrito.
Capítulo V Bem-aventurados os Aflitos
Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras
Essa mensagem consoladora assinada por Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris (1863) faz um contraponto entre a visão materialista e espiritualista da temática perda de pessoas amadas e mortes prematuras.
Esclarece que do ponto de vista material há perda, bem como mortes prematuras, mas do ponto de vista espiritual a morte do corpo físico não significa o afastamento definitivo do ser amado, mas apenas sua passagem para o plano espiritual de onde continua nos vendo e amando.
Explica que quando o desencarne ocorre durante os períodos da infância e juventude significa que essa era uma necessidade do espírito e que a cessação da vida física ocorreu no tempo que lhe era necessário para cumprir sua tarefa reencarnatória.
Quando volta ao plano espiritual o Espirito se alegra conosco, bem como sofre emocionalmente quando nos desesperamos e lamentamos sua perda, então se faz necessária a compreensão da tranquilidade e da imortalidade da alma para que possamos transmitir paz e harmonia aqueles que já se encontram no plano espiritual.
Sanson termina a mensagem com essa assertiva: “Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu.”
André Luiz1 comentando essa mensagem afirma: “A passagem para o mundo espiritual é também simples transformação. Morre o corpo, surge a alma. E o túmulo é apenas a porta para a imortalidade.
Referências
1André Luiz. Psicografia de Antônio Baduy Filho. Aceitação. IN: Vivendo o Evangelho, volume 1.
Se fosse um homem de bem teria morrido
capítulo V, item 22
Fénelon. (Sens, 1861.)
Frente à morte biológica de alguma pessoa possuidora de virtudes morais, lamenta-se o ocorrido e muitas vezes ocorrem pensamentos que a morte deveria ter escolhido alguém mau, pois este não faria falta para a humanidade, entretanto esse pensamento carece de razão à luz da Doutrina Espírita, pois a morte só é biológica, sendo os Espíritos imortais.
Outro ponto a considerar é que nosso planeta é um educandário aonde vêm Espíritos adquirir desenvolvimento moral e intelectual, portanto aquele que já fez seu aprendizado, ou seja, aquele que já se tornou um homem de bem não tem mais necessidade de aqui permanecer ao contrário daquele que ainda tem muito a aprender.
A justiça divina é sábia, portanto, sabe dar a cada um a oportunidade que necessita. Àquele que já cumpriu seu aprendizado não precisa mais aqui permanecer em contrapartida o outro aqui fica, pois, seu processo de desenvolvimento está se realizando.
Richard SIMONETTI (Reformador Ano 127 • Nº 2.168 • Novembro 2009) relata:
Há gente má que tem existência breve. Não obstante, como diz Fénelon, há provações difíceis que podem ser evitadas, na medida em que as pessoas substituam a moeda da dor pela moeda Amor, que se exprime na prática do Bem, para resgate de débitos cármicos. Um homem bom, cumpridor de seus deveres, praticante da caridade, sofreu uma hemorragia cerebral. Embora contando com as preces e vibrações de toda uma comunidade espírita, sob sua direção, veio a falecer. Os familiares questionavam até que ponto vale a pena exercitar o Bem, se falta a proteção divina em situações dessa natureza. Suas dúvidas foram superadas quando um mentor espiritual lhes informou que o falecido tinha por programação existencial a ocorrência de graves limitações físicas, em existência vegetativa para resgate de débitos cármicos. Em face de seus méritos, a misericórdia divina o liberou da penosa situação, transferindo-o para o mundo espiritual.
Concluímos com as palavras de Fénelon: “Assim, pois, quando vos servis desse axioma [provérbio] não duvideis que blasfemais”.
Bem-aventurados os aflitos
Os tormentos voluntários
Voluntário (adjetivo) que não é forçado, que só depende da vontade; espontâneo, que se pode optar por fazer ou não.
Parece estranho que existam pessoas que escolhem sofrer, mas Fénelon explica a origem desse sofrimento no item 23 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo quando afirma: “o homem, como que de intento, cria para si tormentos que está em suas mãos evitar. Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: “bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados”, visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as compensações merecidas.”.
André Luiz nos ajuda melhor compreender essa triste opção que algumas vezes fazemos na nossa vida e que quando frente o sofrimento que nos atinge mergulhamos na queixa e na revolta atribuindo a causa do nosso sofrimento a situações e pessoas quando na realidade esse sofrimento é fruto de nossas emoções e sentimentos.
Diz o amigo espiritual no livro “Vivendo o Evangelho” l: 67 cap. V – 23 aflições inúteis
Delphine de Girardin
Nosso próximo estudo encontra-se sob o nome a desgraça real mensagem assinada por Delphine de Girardin. Essa senhora viveu na França no tempo de Kardec e ele a menciona em O Livro dos Médiuns no Capítulo XI Da Sematologia E Da Tiptologia faz uma crítica a Delphine no item 144:
“ Um aparelho mais simples, porém, do qual a má-fé pode abusar facilmente, conforme veremos no capítulo das Fraudes, é o que designaremos sob o nome de Mesa-Girardin, tendo em atenção o uso que fazia dele a Sr. ª Emílio de Girardin (nome do marido) nas numerosas comunicações que obtinha como médium. Porque, essa senhora, se bem fosse uma mulher de espírito, tinha a fraqueza de crer nos Espíritos e nas suas manifestações. ”
À primeira vista essa observação de Kardec poderia parecer descortês, mas se considerarmos que foi feita tendo como paradigma o “bom-senso” entendido como sensatez a observação se adequou ao propósito de alertar contra fraudes.
Ainda mais o codificador analisava uma dada situação em um dado momento e sua crítica não o levou a proscrever Delphine de Girardin de ser uma colaboradora da Doutrina Espírita. Assim assume uma “conduta ética demonstrando capacidade virtuosa de achar o meio termo e distinguir a ação correta, o que é em termos mais simples, nada mais que bom senso”.
No quadro apresentado a seguir podemos notar que Delphine de Girardin desencarnada teve suas mensagens divulgadas por Kardec em O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo e em vários números da Revista Espírita.
Obra/Título | Ano | Local | Médium |
OLM* Dissertações Espírita XIV | S/D**** | S/L***** | Não especificado |
OESE** A Verdadeira Desgraça | 1861 | Paris | Não especificado |
RE*** Mascaras Humanas | 1860 | S/L | Sra Costel |
RE*** A Eletricidade do Pensamento | 1860 | S/L | Sra Costel |
RE***Novembro
As Primeiras Impressões de Um Espírito |
1860 | Recebida ou lida na Sociedade parisiense de Estudos Espírita | Sra Costel |
RE*** Os Sábios | 1860 | Recebida ou lida na Sociedade parisiense de Estudos Espírita | Srta. Huet |
RE*** Intuição da Vida Futura | 1860 | S/L | Srta. Eugênie |
RE*** A Reencarnação | 1860 | S/L | Srta. Eugênie |
RE*** [Resposta da] Sra Delphine de Girardin | 1861 | S/L | Sra Costel |
RE*** 1863 Os Falsos Devotos | 10 de março de1863 | Reunião particular | Sra Costel |
** O Evangelho Segundo O Espiritismo, Tradução da 3a edição francesa por Guillon Ribeiro,Rio de Janeiro, FEB, s/d.
***** S/L sem especificação de local
Corroborando aquele raciocínio destacamos a dissertação de Maio 1863 da RE, onde precedendo a mensagem de Delphine de Girardin, Kardec anota que a mensagem a seguir tinha sua origem nas criticas que haviam sido feitas à mensagem anterior assinada por Delphine e que não está publicada na RE. Após as considerações da autora destacando-se “não insistirei sobre a comunicação assinada por meu nome, pois a crítica não convém a meu médium nem a mim. Assim, crede que virei quando for evocada, mas que jamais me interporei nos incidentes fúteis.” No término da mensagem Kardec faz uma elegante defesa de Delphine lembrando a possibilidade de um espírito estranho se interpor ao pensamento do médium e que, portanto deve-se recusar uma mensagem que embora assinada, mas que pelo fundo das ideais desmentisse o caráter do Espírito cujo nome leva.
A sensatez de Kardec revela-se em toda sua obra, pois não se deixou refém de nomes ilustres sempre se pautando pela análise racional dos fatos usando uma conduta ética criticando quando sua razão não aceitava o fato e defendendo quando a análise evidenciava coerência.
CONCLUSÃO
No caso Girardin vemos o julgamento de Kardec não ser influenciado pela primeira impressão que o levaria a continuar analisando com juízo negativo o que viesse do Espírito em questão. Sabemos que Kardec tinha um critério rigoroso de análise dos escritos para publicá-los como se pode ver em dois artigos da RE (4,5). Assim foi a análise sensata e ética (o que caracteriza Bom Senso) das dissertações ditadas por Delphine que determinou suas publicações não só na Revista Espírita, mas também em O Livro dos Médiuns e Evangelho segundo O Espiritismo.
A desgraça real
Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)
Esclarece-nos a autora que há um entendimento errôneo do que seja desgraça, uma vez que, pelo nosso acanhado ponto de vista de seres encarnados, chamamos de desgraça tudo aquilo que nos gera dor e sofrimento tais como:
(…)miséria no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho… desgraça para os que só veem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas consequências de um fato, mais do que no próprio fato.
Alerta-nos que muitas vezes ocorrência que classificamos como felizes podem gerar consequências funestas e que outras que nos causam contrariedade acabam produzindo o bem. O ponto central da análise consiste em pensar nas consequências que serão provocadas pelo evento.
Destaca a autora que: “A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir”.
Joanna de Ângelis em Leis Morais da Vida (cap.45) nos ensina: “Desgraça real é sempre o mal que se faz nunca o que se recebe. Insucesso social, prejuízo econômico, fatalidade são terapêuticas energéticas da vida para a erradicação dos canceres morais existentes em metástase cruel nos tecidos do Espírito imortal”.
Delfine lembra-nos que “verdadeira infelicidade… surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo”.
Joanna de Ângelis em Autodescobrimento; uma busca interior (cap. 9) discorre sobre indiferença: “Vício mental profundamente arraigado nos derrotistas, a indiferença termina por matar os sentimentos, levando o paciente a patologias mais graves na sucessão do tempo… Inicia-se às vezes , numa acomodação mental em relação aos acontecimentos, como mecanismos de defesa, para poupar o trabalho ou a preocupação, caracterizado num conceito – Deixa pra lá”.
Em “Amor Imbatível Amor” (cap. 11) Joanna de Ângelis assim se expressa:
A meta do egoísta é o gozo pessoal, perturbador, insaciável, porque oculta a insegurança que se realiza através da posse, com o que pensa conquistar relevo e destacar-se do grupo, nunca imaginando a ocorrência terrível da solidão e do desprezo que passa a receber mesmo daqueles que o bajulam e o incensam (…). O egoísta é exemplo típico da autonegação, do descaso que tem pelo SI profundo, vitimando-se pelo alucinar das ansiedades insatisfeitas e pelo tormento de não conseguir ser amado.
Concluímos com André Luiz em Vivendo o Evangelho (vol 1-68):
(…) mas a infelicidade maior é o distanciamento da realidade espiritual e a indiferença perante o próximo, quando você imagina que é feliz e, no entanto, está apenas anestesiado pelo egoísmo.
A melancolia
François de Genève. (Bordeaux.)
Este item do capítulo 5 de O Evangelho Segundo o Espiritismo: Bem-Aventurado os aflitos tem sido considerado como uma abordagem da depressão, entretanto logo na primeira frase François de Genève coloca claramente que se trata de uma “vaga tristeza se apodera por vezes de vossos corações e vos faz sentir a vida amarga”.
“Por vezes” nos dá ideia de algo que não é permanente, mas transitório, portanto concluímos que se trata de estado de tristeza e não de depressão.
A tristeza é um sentimento normal no ser humano, tem causa e é transitória, não afeta a capacidade de trabalho da pessoa, já a depressão é um estado permanente, afeta a capacidade de trabalho e prejudica as relações sociais.
Na mensagem François de Genève aborda um tipo de tristeza que algumas vezes sentimos e que esta relacionada à expectativa da liberdade que se tem na vida espiritual e que aparentemente não teria causa definida por não ter algo que não envolve acontecimentos do nosso cotidiano como mágoa, perda de emprego, desencarne de pessoa querida e outras circunstâncias.
Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade”, orienta-nos o mensageiro por que é necessário que passemos pela vida material para que “durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou.
Para Joanna de Ângelis:
A reencarnação tem como objetivo a auto conquista, que propicia a realização intelecto-moral recomendada por Allan Kardec como indispensável à sabedoria, que sintetiza a aquisição do conhecimento com amor.
Essa tristeza que aspira a libertação do Espírito das rudes tarefas da vida material é de “curta duração” deve ser afrontada, pois sabemos que a vida material é finita e que quando passamos por ela cumprindo o que nos compete, nossos amigos “espirituais jubilosos por ver-vos de novo entre eles vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra”.
Fontes
ALLAN KARDEC: O Evangelho segundo o Espiritismo cap. V: Bem-Aventurado os aflitos: A Melancolia.
Divaldo Pereira Franco, pelo Espirito de Joanna de Ângelis. O ser consciente. Cap. 7 item A Conquista do Self.
Capítulo V – Bem-aventurados os aflitos
Provas voluntárias. O verdadeiro cilício: 26 – Um anjo guardião (Paris, 1863).
1
Antes de comentar a mensagem supracitada vamos recordar o significado de Anjo Guardião. Vamos encontra-la em “O Livro dos Espíritos” capítulo IX- Da intervenção dos espíritos no mundo corporal
490 – Que se deve entender por anjo de guarda ou anjo guardião?
“O Espírito protetor, pertencente a uma ordem elevada.”
491 – Qual a missão do Espírito protetor?
“A de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.”
Na questão 495 do mesmo livro encontramos uma belíssima mensagem de Santo Agostinho e São Luís sobre esses Espíritos que nos assistem nas nossas dificuldades, orientando-nos no melhor caminho a seguir, através de inspirações e/ou durante nosso sono físico.
Dizem que a doutrina dos Anjos Guardiões nos encanta por sua doçura, também nos alertam que:
Ah! se conhecêsseis bem esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus Espíritos! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo constrangido a vos observar: ‘Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!’ Oh! Interrogai os vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis vossas provas e mais felizes tornareis as vossas existências. Vamos, homens, coragem! De uma vez por todas, lançai para longe todos os preconceitos e ideias preconcebidas. Entrai na nova senda que diante dos passos se vos abre. Caminhai! Tendes guias, segui-los, que a meta não vos pode faltar, porquanto essa meta é o próprio Deus.
A mensagem deve ser lida na integra. No final, Kardec acrescenta uma nota explicativa muito interessante.
No próximo mês quando comentarmos a mensagem do Anjo Guardião perceberemos as orientações que nos dá quanto ao respeito perante nosso corpo.
Comentários sobre: O verdadeiro cilício – Um anjo guardião (Paris, 1863.)
Cilício: antiga veste ou faixa de crina ou de pano grosseiro e áspero usada sobre a pele por penitência. Cinto ou cordão eriçado de cerdas ou correntes de ferro, cheio de pontas, com que os penitentes cingem o corpo diretamente sobre a pele.
Cilício é uma túnica, cinto ou cordão de crina, que se traz sobre a pele para mortificação ou penitência. O termo vem do latim “cilicinus” que quer dizer feito de pelo de cabra, ou “cilicium”, tecido áspero ou grosseiro de pelo de cabra ou vestido de gente pobre.
Nessa mensagem o termo é usado no sentido de sofrimento, dor, desconforto tanto material como moral.
O anjo guardião inicia a dissertação clarificando que é lícito ao SER procurar abrandar seu sofrimento e quando isso não é possível recomenda a paciência e a resignação, pois isso demostra o mérito na prova e/ou resgate pelo qual se passa.
Procurar sofrimento voluntário seria útil quando “os sofrimentos e as privações objetivam o bem do próximo, porquanto é a caridade pelo sacrifício; não, quando os sofrimentos e as privações somente objetivam o bem daquele que a si mesmo as inflige, porque aí só há egoísmo por fanatismo.”.
Frente a essa colocação fica evidente que o martírio do próprio corpo nada tem de útil, pois nenhum benefício traz ao próximo.
Pesquisando o termo na internet encontramos perguntas sobre como utilizar o cilício (aqui entendido como instrumento de torturar-se) o que evidencia que ainda nos tempos atuais usa-se esse artefato.
Embora esse não seja o único modo de torturar-se ainda ouvimos relatos de pessoas que se impõem privações porque acreditam que agradam a Deus assim fazendo.
O sofrimento advindo do trabalho ao próximo tem mérito, pois não é egoísta e não busca benefício próprio para aquele que o pratica.
No livro “Obreiros da vida eterna”, encontramos o exemplo de Dimas que, próximo de sua desencarnação é assistido por bons espíritos, equipe da qual participa André Luiz, cujo conteúdo transcrevemos:
André perguntou a Jerônimo se Dimas havia vivido toda a cota de tempo planejada para a sua encarnação. À resposta negativa de Jerônimo, André perguntou se Dimas poderia ser considerado assim como ele o fora um suicida lento.
Dimas havia sim abreviado sua vida, porém por motivo de ter-se empenhado em auxiliar o próximo, além de ter tido uma infância e juventude bastante sacrificadas, com escassa alimentação e trabalho duro.
Cercado de exigências sentimentais daqueles doentes do corpo e da alma, que o procuravam, subalimentado, mal dormido, teve as reiteradas congestões hepáticas convertidas na cirrose que o estava levando à morte. Há existências que perdem pela extensão ganhando pela intensidade. Enquanto os homens analisam pelos efeitos, a visão divina observa minuciosamente.
Conclui o mensageiro:
Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas, e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito, e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus”.
Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?
Bernardino, Espírito protetor. (Bordeaux, 1863.)
27. Deve alguém pôr termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?
A pergunta feita é respondida por Bernardino, Espírito protetor que em linguagem própria da época, expressam conceitos que só surgiram no século XX.
Iniciando a resposta lembra que estamos em um mundo de expiações e provas, essas visam nosso progresso moral e intelectual e que a dor e o sofrimento fazem parte desse processo. Lembra que, naquela época, havia duas correntes; uma defendia que a vida no sofrimento não tinha sentido e a outra que deveria deixar o processo da doença evoluir até a morte. Considera que nem uma nem outra estão certas, pois interromper a vida não é conduta aceitável e deixar a pessoa entregue ao sofrimento é faltar com a caridade, preconiza auxilio no alívio do sofrimento.
Comparemos a explicação de Bernardino com os conceitos atuais
“Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso”. Outros há, mesmo, que vão até o ponto de julgar que, não só nada devem fazer para atenuá-las, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. “Grande erro”.
EUTANÁSIA é o ato intencional de proporcionar a alguém uma morte indolor para aliviar o sofrimento causado por uma doença incurável ou dolorosa. Entretanto, em geral, a eutanásia é proibida por lei na maioria dos países, entretanto é legalizada na Holanda, Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Alemanha, Colômbia, Canadá e em alguns estados dos Estados Unidos da América.
DISTANÁSIA é a prática pela qual se prolonga, através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um enfermo incurável. Também pode ser conhecida como “obstinação terapêutica”. Distanásia é considerada uma má prática da medicina.
ORTOTANÁSIA, postura recomendada por Bernardino, é uma boa prática, sendo a sua realização recomendada durante os cuidados de pessoas com doenças incuráveis e terminais. Ortotanásia é o termo utilizado pelos médicos para definir a morte natural, sem interferência da ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e ao percurso da doença. A Ortotanásia é praticada por meio dos cuidados paliativos, abordagem que procura manter a qualidade de vida do paciente, e da sua família, em casos de doenças graves e incuráveis, ajudando no controle de sintomas físicos, psicológicos, sociais e espirituais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002,
Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
Concluímos com a assertiva de Bernardino:
Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade.
Sacrifício da própria vida – itens 29 e 30
Nesses dois itens, Allan Kardec usa uma formula que é exceção em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: faz duas perguntas que são respondidas por São Luiz, que, como sabemos, é o guia espiritual da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
O tema em questão é o suicídio intencional. Embora não praticado pelo próprio homem, o mesmo busca meios para que sua morte ocorra, como por exemplo, indo voluntariamente para o campo de batalha e expondo-se a grandes perigos.
Diz São Luiz:
Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência.
Conclui ao item 29 com a seguinte assertiva:
O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se for necessário; mas buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação.
No item 30 Kardec pergunta se o homem busca salvar alguém, mesmo com sacrifício da própria vida pode-se considerar como suicídio, São Luiz responde que tudo está na intenção, pois se o propósito é o bem pode ocorrer que o perigo eminente não se conclua e então o homem sai ileso dessa ação. Argumenta que o caracteriza o ato é se é feito com devotamento e abnegação ou com intenção suicida.
André Luiz, no livro “Vivendo o Evangelho” assim nos explica abordando aspectos atuais do suicídio mesmo que indireto:
CAMPO DE BATALHA
A vida é campo de batalha, onde muitos combatentes agem com intenções suicidas.
Estrada em reparo.
Sinalização abundante.
Motorista irresponsável.
*
Avenida movimentada.
Travessia perigosa.
Pedestre imprudente.
*
Conserto nas alturas.
Medidas de segurança.
Profissional relapso.
*
Enfermidade grave.
Tratamento indicado.
Paciente rebelde.
*
Mesa bem servida.
Cardápio variado.
Comensal glutão.
*
Festa entre amigos.
Balcão de bebidas.
Convidado sem limite.
*
Ambiente de ameaça.
Perigo de conflito.
Alguém provocador.
*
Convivência social.
Apelos de toda espécie.
Exageros e dependência.
*
Não há dúvida de que a experiência no corpo físico é luta constante, mas não use este campo de batalha para agredir a própria vida.
JESUS
Ao término do capítulo “Bem aventurados os aflitos”, Kardec insere o “Cristo Consolador” a nos indicar que Jesus é o caminho que nos livrará das aflições.
Há pessoas que contestam a existência de Jesus, entretanto há indicações de fontes históricas que evidenciam sua presença entre nós.
No livro “Antiguidades Judícas (90 D.C.)” Josephus anotou:
Tiago, o irmão de Jesus, aquele chamado Cristo”; Públio Caio Cornélio Tácito (55-120 d.C.) escreveu: “o fundador desta seita (o cristianismo), Cristo, fora executado durante o reinado de Tibério pelo governador da Judéia, Pôncio Pilatos
O Livro Dos Espíritos
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Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? R: “Jesus.”
No livro Obras Póstumas Kardec aborda a Natureza de Jesus.
Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava.
Jesus consagra o princípio da diferença hierárquica que existe entre o Pai e o Filho, se Jesus, ao morrer, entrega sua alma às mãos de Deus, é que ele tinha uma alma distinta de Deus, submissa a Deus. Logo, ele não era Deus.
Tudo, pois, nas palavras de Jesus, quer as que ele disse em vida, quer as de depois de sua morte, acusa uma dualidade de entidades perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento da sua inferioridade e da sua subordinação em face do Ente Supremo.
Conviveu entre gente simples estabelecendo as bases da edificação fraterna para os espíritos.
Em “Primícias do reino” – Divaldo Franco, pelo espírito Amélia Rodrigues, nos brinda com esse texto:
A mais comovente história que já se escreveu.
O maior amor que o mundo conheceu.
O exemplo mais fecundo que jamais existiu.
A vida de Jesus é o permanente apelo à mansidão, à dignidade, ao amor, à verdade.
Amá-Lo é começar a vivê-Lo.
Conhecê-Lo é plasmá-Lo na mente e no coração.
A vida que comporta a história da nossa vida — eis a Vida de Jesus!
A perene alegria, a boa mensagem de júbilo — eis o Evangelho!
O CRISTO CONSOLADOR
CAPÍTULO VI
O capítulo é composto dos seguintes itens: “O jugo leve”; “Consolador prometido” – “Instruções dos Espíritos: Advento do Espírito de Verdade”.
Consolador ou Paracleto, segundo a definição do dicionário quer dizer: alguém chamado ou enviado para prestar auxílio, consolar, confortar, alguém que exorta e consola. Assim, faz-se necessário entender Jesus como sendo alguém que veio para nos ajudar, consolar, exortar e não fazer por nós, como a maioria ainda entende que ele veio redimir nossos pecados, o que não é o entendimento Espírita.
Kardec inicia esse capítulo com o relato de Matheus:
Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. (S. MATEUS, cap. XI, vv. 28 a 30.)
Emmanuel1 2 3 discorrendo sobre esse versículo em três obras suas nos traz uma pergunta instigante: “Consegues ir?” e lembra:
[…] os laços da conveniência imediatista são demasiado fortes; além, assinalase o convite divino, entre promessas de renovação para a jornada redentora, todavia, o cárcere do desânimo isola o espírito, através de grades resistentes; acolá, o chamamento do Alto ameniza as penas da alma desiludida, mas é quase impraticável a libertação dos impedimentos constituídos por pessoas e coisas, situações e interesses individuais, aparentemente inadiáveis.
A colocação de Jesus é clara e evocativa – VINDE – entretanto, nem todos os aflitos tem o ânimo necessário para caminhar em direção a ELE e a falta do ânimo dos que escutam seu chamado e passam a emitir rogativas estranhas e caprichosas esquecendo-se que a jornada em direção a ele inicia-se por “ouvi-lo, no silêncio do santuário interior, concitando espírito a desprezar as disputas reprováveis do campo inferior.” Emmanuel2 pergunta:
Onde estão os aflitos da Terra que pretendem trocar o cativeiro das próprias paixões pelo jugo suave de Jesus Cristo?
Ninguém como Cristo espalhou na Terra tanta alegria e fortaleza de ânimo. Não amaldiçoou os tristes: convocou-os à consolação3.
Muitos dos seguidores de Jesus choraram na hora da tristeza: Maria de Nazaré chorou no Calvário, Pedro lastimou depois de negar o Cristo, Paulo pranteou as portas de Damasco, entretanto,
nenhum deles derramou lágrimas sem esperança. Prantearam e seguiram o caminho do Senhor, sofreram e anunciaram a Boa Nova da Redenção…3
Fonte:
1) XAVIER,F.C. pelo espírito de Emmanuel. Onde estão? In: Pão Nosso, capítulo 130
2) XAVIER,F.C. pelo espírito de Emmanuel. Consegues ir? In: Fonte Viva. Capítulo 5
3) XAVIER,F.C. pelo espírito de Emmanuel. Lágrimas. In: Caminho, verdade e vida. capítulo 172.
Consolação
Ensina-nos Kardec em o livro dos espíritos no complemento da questão 933 que: “no estado de civilização, o homem raciocina sua infelicidade e a analisa e, por isso, é por ela mais afetado. Mas pode, também raciocinar e analisar os meios de consolação. Essa consolação, ele a possui no sentimento cristão que lhe dá a esperança de um futuro melhor, e no espiritismo que lhe dá a certeza do futuro.”
No livro do velho testamento salmos, provavelmente escritos entre os anos 1000 e 500 a.c., encontramos “o senhor é refúgio para os oprimidos, uma torre segura na hora da adversidade” (9:9).
Matheus (11:28) registra as palavras de jesus” vinde a mim os que estais cansados e oprimidos e eu os aliviarei”
Muitos de nós pensam que esse alívio consiste na cessação da adversidade, entretanto a dor é nossa grande mestra, então não se trata de removê-la, mas sim de como nos relacionamos com ela apoiando-nos na fé e na esperança, compreendendo a transitoriedade desse sofrimento e procurando analisa-lo para entender qual lição precisamos aprender com ele.
Emmanuel, no livro caminho, verdade e vida, lição 172 denominada lágrimas assevera que jesus não amaldiçoou os tristes, mas convocou-os á consolação.
Contou-nos certa amiga, que ainda jovem em companhia da mãe foi a um velório do marido de uma amiga da família e embora quisesse consolá-la não sabia o que fazer, então sentou-se próximo dela e segurou-lhe a mão por um período até a mesma abraça-la e levantar-se para receber outros amigos que chegavam ao velório. Para minha amiga ela não teria alcançado seu objetivo de transmitir consolo á senhora. Anos mais tarde já adulta encontrou-se com a viúva que depois de longo abraço segredou-lhe que enquanto segurou suas mãos ela havia se fortalecido para enfrentar a adversidade daquele momento.
Prevaleceu o sentimento que, sem uso de palavras, transmitiu o que era necessário para aquele momento de grande tristeza.
Quando Kardec intitula o capítulo 6 de o evangelho segundo o espiritismo de o cristo consolador é para nos indicar que é nele que encontraremos os consolos de nossas aflições, pois suas lições inolvidáveis nos remetem a transitoriedade da vida material, a imortalidade da alma e nossa filiação de um pai misericordioso e bom que traçou para nós toda uma trajetória de progresso dando-nos a possibilidade de reencarnações múltiplas para o alcance desse objetivo.
O consolador prometido
Estudo doutrinário de: Nilza Teresa Rotter Pelá (veja os outros estudos dessa autora sobre A Gênese e O Livro dos Médiuns)
É prática costumeira e frequente, entre os espíritas, abrir “ao acaso” o Evangelho quando em situações difíceis ou mesmo durante o Evangelho no Lar. Não se cogita de mudar essa prática, pois acredito que em muitas ocasiões recebemos a mensagem que necessitamos naquele momento. O que se pretende é que o estudo do evangelho não se deve limitar a ela. Porquanto o estudo da composição¹ de O Evangelho segundo o Espiritismo, sugere que havia uma intencionalidade de Kardec, na terceira edição do livro, em apresentar a sequência dos capítulos conforme mostra a tabela abaixo:
O que queremos, de onde viemos: objetivo da obra; autoridade da doutrina espírita; universalidade; notícias históricas; Sócrates e Platão
Premissas: progresso; espiritualidade; pluralidade dos mundos habitados; reencarnação.
Como nós estamos: bem aventurados os aflitos
Como podemos sair: o cristo consolador
Ideal a atingir: bem-aventurados os pobres de espírito; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amar o próximo como a si mesmo; amai os vossos inimigos; não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita.
As nossas dificuldades: muitos os chamados, poucos os escolhidos; a fé transporta montanhas; os trabalhadores da última hora; haverá falsos cristos e falsos profetas; não separeis o que deus juntou; estranha moral; não ponhais a candeia debaixo do alqueire.
A nossa diretriz: buscai e achareis; dai gratuitamente o que gratuitamente recebestes; pedi e obtereis.
Como se pode ver, vale a pena.
¹PELÁ, N.T.R., O Evangelho Segundo o Espiritismo: Análise de sua constituição. Reformador. ano 131, nº 2211, junho de 2013.
Os tempos são chegados
Assim pode-se denominar o prefácio de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, pois aí se encontrara uma mensagem de “O Espírito De Verdade” anunciando que espíritos altamente evoluídos estavam se espalhando por toda a Terra como se fosse um grande exército obedecendo a um comando superior.
Esse exército tinha uma luta diferenciada, pois diferentemente dos exércitos militares da Terra não objetivava a conquista de poder usando força bruta e cruel, mas buscava alcançar corações e mentes para que efetivamente se agregassem à lei de amor que havia sido trazida por Jesus.
Os olhos humanos não podiam enxerga-los, pois como estrelas cadentes fariam sua entrada na psicosfera da Terra para a grande missão de anunciar que os tempos são chegados, que as falsas interpretações das lições e ensinamentos de Jesus, deturpados ao longo de dois milênios, precisavam ser reescritas, que a razão deveria nortear essa compreensão e que a nova fé seria aquela que encarasse a razão face a face em todas as épocas da humanidade.
Concita o “Espírito de Verdade” que todos poderiam e deveriam engrossar esse coro de espíritos superiores para que a sinfonia fosse ouvida em todos os recantos do planeta de maneira a tocar tanto os sábios como os ignorantes, os ricos e os pobres, os ateus e os cristãos, os sofredores e os felizes, os sãos e os doentes. Enfim, toda a humanidade que ao compreender o motivo de sua vida na Terra pudessem entender o real objetivo da reencarnação, qual seja a evolução e o progresso moral e intelectual do espírito imortal.
Termina a mensagem com a assertiva que esses seres luminares permaneceriam junto de nós e que cumpria a cada um a atitude de amor e fraternidade de uns para com os outros, uma vez que o reino de Deus só seria implantado quando entendêssemos e praticássemos a lei de amor a qual já tinha sido ensinada e exemplificada por Jesus quando encarnado entre nós.
Anota Kardec, em nota de rodapé, que a mensagem está colocada no início de “O Evangelho segundo o Espiritismo” por apresentar o verdadeiro caráter e objetivo do Espiritismo.
Objetivo desta obra 1
Na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo encontramos o subtítulo “OBJETIVO DESTA OBRA”, onde Kardec faz uma série de explicações necessárias ao entendimento da mesma. Nesta presente matéria nos ateremos ao primeiro parágrafo de fundamental importância para o entendimento da proposta de análise da Doutrina de Jesus à luz dos princípios básicos da Doutrina Espírita muito bem apresentados em O Livro dos Espíritos.
Argumenta Kardec que os relatos dos Evangelistas contêm cinco pontos, a saber: atos comuns à vida de Jesus; os milagres; as profecias; palavras de Jesus nas quais se apoiaram as religiões para estabelecer seus dogmas e os ensinamentos morais. Com relação aos quatros primeiros pontos têm havido controvérsias e desentendimentos entre as diferentes religiões e seitas, entretanto os ensinos morais de Jesus são comuns a todas elas, por isso esse aspecto é o apresentado na obra.
Aqui vamos analisar o sentido da palavra dogma, para que melhor possamos entender seu uso na obra de Kardec.
É muito comum sermos questionados que a Doutrina Espírita não se baseia em dogmas, mas em fatos, entretanto algumas vezes Kardec usa essa terminologia como, por exemplo, na questão 171 de o Livro dos Espíritos onde Kardec pergunta: “Sobre o que está baseado o dogma da reencarnação? ” Estará Kardec se contradizendo? Obvio que não para aquele que foi considerado o “bom senso encarnado”. Entendamos então.
Entre os filósofos pré-socráticos da Grécia antiga havia duas correntes antagônicas os céticos e os dogmáticos, sendo que os primeiros consideravam que a Verdade nunca seria conhecida e os segundos afirmavam que havia “verdades fundantes” que há um tempo seriam melhores compreendidas. Este é o dogma filosófico a que Kardec se refere na questão 171 de O Livro dos Espíritos.
Nesse primeiro parágrafo da Introdução o termo é usado no sentido religioso, oriundo da idade média quando o catolicismo instituiu o uso do termo com o sentido de pontos fundamentais e indiscutíveis de uma crença religiosa. Pontos inquestionáveis, uma verdade absoluta que deve ser ensinada com autoridade. É esse dogma que a Doutrina Espírita rejeita.
Fundamentalmente a mensagem desse primeiro parágrafo é: o Evangelho é um código de bem proceder que deve pautar nossa vida pública e privada e o princípio de todas as relações sociais.
Objetivo desta obra 2
Nessa parte da Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, além das considerações feitas no tópico anterior, nos 7 últimos parágrafos Kardec discorre sobre a compreensão dos textos evangélicos, que são lidos como se fosse um ritual. Admirando as máximas evangélicas, entretanto poucos buscam compreende-las e deduzir a consequência de seus atos quando analisados a luz dos ensinamentos de Jesus.
Pelo fato dos relatos evangélicos serem escritos de forma alegórica a compreensão dos mesmos foram analisados para atender objetivos pessoais e interesseiros de grupos, por isso alguns textos sofreram distorções interpretativas.
Por comodidade, pessoas se atêm apenas no que do “Evangelho” foi falado sem que se detenham na leitura e meditação do mesmo. Desse modo não é resultado de análise e aprofundamento pessoais e se fica apenas na crença que outros lhes transmitiram. Muitas explicações que são dadas de passagens evangélicas fogem da coerência do fundamento básico da doutrina de Jesus que é: o amor no seu mais puro sentido.
Afirma Kardec que a matéria reunida na obra nos remete para uma moral universal que independe de cultos e crenças, portanto o livro é para uso de todos que estão interessados na moral do Cristo.
Menciona o autor nessa parte de “O Evangelho segundo o Espiritismo” o respeito à tradução da Bíblia feita por SACY. A quem ele se refere?
“Louis-Isaac Lemaistre de Sacy (29 de março de 1613 – 4 de janeiro de 1684), um sacerdote de Port-Royal, foi um teólogo jansenista e humanista francês, mais conhecido por sua tradução da Bíblia, a Bíblia de Port-Royal, que se tornou a mais difundida tradução francesa do século XVIII.” (Wikipédia)
Por essa explicação vemos porque Kardec faz referência à tradução por ele usada nas citações evangélicas no corpo da obra. Era a mais utilizada e aceita na Europa naquele século.
Hoje já temos outras traduções dos evangelhos e recentemente fomos agraciados com a tradução dos quatro evangelhos e do Ato dos apóstolos feitas por Haroldo Dutra Dias na qual encontramos muitas notas explicativas que facilitam em muito nossa compreensão.
Controle universal do ensinamento dos espíritos
Neste tópico da introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” há que se destacar dois pontos importantes: o número de médiuns através dos quais Kardec recebia as informações do plano espiritual, número acima de 1000 – pois eram oriundas de 1000 centros espíritas já existentes na época.
O segundo ponto diz respeito a análise de matéria, recebida por via mediúnica. As quais, Kardec, recomenda cuidadosa análise; pois podem ser, apenas opiniões pessoais que o tempo se encarregará de mostrar que carecem de fundamentos.
É importante que um ensinamento oriundo do plano espiritual seja procedente de diferentes lugares e de diferentes médiuns que não se conheçam o que assegurará a universalidade dos ensinamentos.
Cautela se deve ter quando, de um mesmo médium, origina-se várias mensagens do mesmo teor assinadas por diferentes nomes uma vez que há na espiritualidade espíritos pseudo-sábios e enganadores que não se furtam de usar nomes famosos e respeitados para assinar aquilo que querem divulgar, e que fascinam os médiuns que não aceitam quaisquer advertências nesse sentido.
Quanto à publicação de todas as mensagens recebidas Kardec publica em a “Revista Espírita” de 1859 um artigo intitulado “Devemos publicar tudo quanto os espíritos dizem? ”, bastante esclarecedor.
Afirma o Codificador: “publicar sem exame, ou sem correção, tudo que vem dessa fonte [mediúnica] seria, em nossa opinião, dar prova de pouco discernimento”.
Em 1863, também em a Revista Espírita, publica outro interessante artigo intitulado “Exame das comunicações mediúnicas que nos enviam”, onde se encontra a análise de 3600 matérias das quais 3000 são de moralidade irreprochável e excelentes quanto ao fundo, 300 são boas para publicação e 100 de mérito inconteste.
Conclui Kardec:
No mundo invisível não faltam escritores, mas os bons são raros. Todas as precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.
Notícias históricas (primeira parte)
Para bem compreender algumas passagens dos evangelhos, necessário se faz conhecer o valor de muitas palavras neles, frequentemente, empregadas e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia naquela época. Já não tendo para nós o mesmo sentido, essas palavras foram com frequência mal interpretadas, causando uma espécie de incerteza. A compreensão do significado delas explica o verdadeiro sentido de certas máximas que, à primeira vista, parecem singulares.
Assim, pode-se supor que Kardec tenha incluído esse item na introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” para: descrever as características dos personagens que Jesus usou em suas parábolas e ensinos; identificar o perfil psicológico deles; detectar seus caracteres em nosso psiquismo.
A Sinagoga é o supremo tribunal do judaísmo. Sendo constituído por 71 sacerdotes, escribas e leigos proeminentes.
“No tempo de Jesus havia sinagogas em qualquer vila. Em Jerusalém, existiam, aproximadamente, 480”. Nele havia as homilias livres e como Jesus frequentava, assiduamente, as sinagogas em Israel (Matheus 4.23; 9.35; Lucas 4.16-30; 13.10; João 6.59; 18.20, entre outros) utilizava desses espaços para colocar seus ensinamentos.
Nesse item Kardec discorre sobre os: samaritanos, nazarenos, publicanos, portageiros, fariseus, escribas, saduceus, essênios ou esseus, terapeutas.
A análise desse item nos permite arrolar algumas das características das personalidades.
Negativas: falam-se espiritualista, mas vivem de forma materialista; longas polêmicas a respeito de crenças e mitos; hipocrisia; orgulho e vaidade; inveja; preconceito de classe e de crença; sensualidade; desrespeito com o semelhante; rigor.
No próximo mês falaremos sobre a característica positivas e daremos maiores esclarecimentos sobre os essênios.
Notícias históricas – os Essênios ou Esseus (segunda parte)
Fundada há 150 anos antes da vinda de Jesus, os essênios viviam uma vida de muita simplicidade e trabalho, formando uma comunidade onde havia rígidos princípios morais e de austeridade. Viviam em celibato, condenavam a escravidão e a guerra, punham em comunhão os seus bens e se entregavam à agricultura. Ensinavam o amor a Deus e ao próximo, a imortalidade da alma e acreditavam na reencarnação.
Corre a notícia de que Jesus passou um período de sua vida entre eles para aprender a sua doutrina, mas em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Kardec faz uma nota explicativa se referindo ao livro “A morte de Jesus”, que defende essa ideia, onde destaca que: “supostamente escrita por um essênio, é obra inteiramente apócrifa, cujo único fim foi servir de apoio a uma opinião. Ela traz em si mesma a prova de sua origem moderna”.
Temos amplo esclarecimento dessa questão no livro “A grande espera” de autoria de Eurípedes Barsanulfo, psicografia de Corina Novelino, onde há esclarecimento de que Jesus realmente esteve entre os essênios, mas não para aprender com eles; mas para ensiná-los.
Os essênios sabiam que o Messias viria, portanto viviam na “grande espera”, quando um ancião da comunidade, sentindo que o Messias já havia chegado, enviou um emissário a sua procura. Este, voltou notificando que o mesmo vivia com seus pais “além do Grande Mar” e haviam se instalado “na antiga propriedade do respeitável descendente de Davi.” Era Jesus então um adolescente descrito por Eurípedes da seguinte maneira:
[…] um Jovem ser humano, igual a tantos outros. Mas, sua beleza radiosa caracterizava lhe singularmente a luz íntima. O semblante lembrava algo que procedia dos Céus e que somente nas Alturas poderia ser comparado. Cabelos dourados caíam-lhe aos ombros delicados. Os olhos claros escondiam centelhas divinas. E a voz possuía estranhas vibrações e parecia canalizar as forças do Universo, produzindo a mais fantástica das envolvências inexplicáveis… Assumia Ele a roupagem humana para melhor servir aos homens.
Assim O louvavam os essênios:
Hosanas aos Céus!Graças ao Criador!Pela MisericórdiaQue faz baixarSobre a terra impura,Enviando Seu AnjoMais puro e perfeito,Nas asas do Amor,Para caminharCom os homens, pisandoEstradas de DorE dar-lhes a rotaSublime da Paz,As alegrias apontando!Glória ao Bom PaiDe infinito Amor!Glória ao FilhoDe Suprema luz!
Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e espiritismo (primeira parte)
Faremos uma parte introdutória sobre esses dois filósofos.
Sócrates (Σωκράτης) nasceu em Atenas 469 a.C. ou 470 a.C e faleceu em 399 a.C. (70 anos) era filósofo, filho de um escultor e uma parteira.
Conta-se que um dia Sócrates foi levado junto à sua mãe para ajudar em um parto complicado. Vendo sua mãe realizar o trabalho, Sócrates logo “filosofou”: Minha mãe não irá criar o bebê, apenas ajudá-lo-á a nascer e tentará diminuir a dor do parto. Ao mesmo tempo, se ela não tirar o bebê, logo ele irá morrer, e igualmente a mãe morrerá!
Sócrates concluiu então que, de certa forma, ele também era um parteiro. O conhecimento está dentro das pessoas (que são capazes de aprender por si mesmas). Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento. Concluiu ele. Por isso, até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por maiêutica (que significa parteira em grego). (BIOGRAFIA E IDEIAS DE SÓCRATES)
Maiêutica, o método usado por Sócrates, consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto. Tal filósofo nada deixou escrito quem o fez foram seus discípulos, inclusive Platão.
Platão (427 a.C. – 347 a.C.), nasceu em Atenas e desde jovem se tornou discípulo de Sócrates. Em 387 a.C, fundou a “Academia”, uma escola de filosofia com o propósito de recuperar e desenvolver as ideias e pensamentos socráticos. Convidado pelo rei Dionísio, passa um bom tempo em Siracusa, ensinando filosofia na corte.
Platão valorizava os métodos de debate e conversação como formas de alcançar o conhecimento. De acordo com Platão, os alunos deveriam descobrir as coisas superando os problemas impostos pela vida. A educação deveria funcionar como forma de desenvolver o homem moral. A educação deveria dedicar esforços para o desenvolvimento intelectual e físico dos alunos.
Frases de Platão:
O belo é o esplendor da verdade.O que mais vale não é viver, mas viver bem.Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias.Praticar injustiças é pior que sofrê-las.A harmonia se consegue através da virtude.
Referências:
BIOGRAFIA E IDEIAS DE SÓCRATES. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/socrates/>
BIOGRAFIA DE PLATÃO. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/platao/>
Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão I
Nesta parte do capítulo da Introdução, Kardec arrola 21 itens das ideias de Sócrates e Platão seguidas de sua análise evidenciando que, aproximadamente 500 anos antes de Cristo, já possuíam concepções relativas à reencarnação, à existência do plano espiritual e de espíritos de diferentes graus evolutivos tanto encarnados como desencarnados. Ora, nada mais claro, pois esses espíritos aqui estavam encarnados em missão de ajuda ao desenvolvimento moral e intelectual de nosso planeta, portanto, já eram evoluídos a ponto de Jesus, o governador de nosso orbe, enviá-los como precursores. Nesta matéria discutiremos os itens de 1 a 4
I) As almas pré existem e sobrevivem ao corpo, estabelecem ciclos de existência no mundo material e no mundo espiritual, corpo e espírito são entidades distintas, fundamentam a doutrina dos anjos decaídos.
II) Apresentam a ilusão que tem o homem de que sua vida material é tudo, pois encarnado é como se estivesse tendo uma vertigem, bem como tem dificuldade de ver a sua existência do ponto de vista espiritual, faz-se então necessário entender essa distinção para adquirir sabedoria.
III) A busca da verdade é o real objetivo de nossa evolução, mas quando encarnado o ser sofre a influência de seus órgãos e a alma fica obscurecida. Os sábios sempre souberam que a morte física não é o fim, e reencarnar seria a única maneira de continuar o processo evolutivo.
IV) Traz a ideia que ao desencarnar a alma mantém alguma coisa de forma material, aborda também o entendimento de que reencarnar somente é necessário às almas que ainda são impuras. Quando está na espiritualidade as almas podem adquirir conhecimentos e tomar boas resoluções e isso lhes faculta ter ideias intuitivas quando encarnadas. Quando os filósofos dizem que ao desencarnar a alma retém algo de sua forma material, parece-nos que fica implícita a noção que tinham do períspirito, embora essa terminologia ainda não existisse e que esse períspirito ainda estaria impregnado de matéria densa e que, portanto poderiam ser visíveis.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão II
Nos itens V e VI é tratado da figura do Daimon, cuja denominação nos causa estranheza por sabermos que essa palavra deu origem a expressão “demônio”, figura maléfica de alguns cultos cristãos.
Em sua origem, na Grécia antiga, não era esse o significado de Daimon, mas sim: guia de almas; protetores de homens e lugares. Sócrates, nos escritos de Platão se referia sempre ao seu Daimon.
A atuação desses “Daimon”, inteiramente benéfica, evita que determinadas situações ocorram e que outras sejam viabilizadas. Sócrates também entendia que, em certas ocasiões, seu Daimon se calasse, porque assim se fazia necessário.
Era responsabilidade de o Daimon levar seu protegido até Hades1 para ser julgado e lá ficaria esperando até ser reconduzido para nova existência.
Hades, deus do mundo subterrâneo, dominava o reino dos mortos, um lugar onde só imperava a tristeza. Era um deus quieto e seu nome quase nunca era pronunciado, pois tinham medo, para isso usavam outros nomes como o de Plutão. Um deus muito temido, pois no seu mundo sempre havia espaço para as almas.
O Daimon servia de intermediário entre os deuses e os humanos sejam durante a vigília ou durante o sono.
A análise que Kardec faz desses seres os identifica com a doutrina dos anjos da guarda e espíritos protetores, bem como da reencarnação após um tempo de espera na espiritualidade.
Na questão 495 de “O Livro dos Espíritos” Kardec transcreve uma belíssima mensagem assinada por São Luís e Santo Agostinho onde fica clara a disposição desses seres em nos ajudar e nos proteger; informa que esses anjos tutelares podem de nós se afastar quando somos indiferentes às suas orientações e quando seus tutelados escolhem ficar com espíritos inferiores.
Por serem os precursores das ideias cristãs e espíritas, nada mais lógico que esses dois filósofos processem essa ideia de maneira que pudesse ser entendida pelas pessoas daquela época.
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Notas:
1Na mitologia grega, Hades é o deus do submundo. Filho de Cronos e Reia, irmão de Zeus, Héstia, Demeter, Hera e Poseidon. Casado com Perséfone. Ficou responsável pelo submundo, ou reino dos mortos. Seu mundo era dividido em duas partes: Érebo (onde as almas ficavam para serem jugadas e receberem seus castigos ou suas recompensas) e Tártaro (uma região mais profunda onde eram aprisionados os Titãs, com os quais lutou para ter domínio de seu reino).
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Referências:
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA. Disponível em: <http://sites.google.com/site/sbgdicionariodefilosofia/daimon>
COSTA, V. P. O "Daimon" de Sócrates: conselho divino ou reflexão. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/14-valcicleia.pdf>
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão III
Os itens VII e VIII apresentam as concepções de Sócrates e Platão sobre a vida espiritual a qual denominavam como sendo a verdadeira vida. Para esses filósofos a vida material é apenas um segundo frente à eternidade. Essa concepção também é um dos fundamentos do cristianismo e de outras crenças que aceitam a imortalidade da alma.
Acreditavam e ensinavam que a transitoriedade da vida material era necessária para que a alma alcançasse sua iluminação, portanto aceitavam que existem espíritos nos mais diferentes estados de desenvolvimento intelectual e moral e essa concepção é a mesma que a doutrina espírita apresenta para explicar a diversidade de caráter dos indivíduos.
Interessante notar que a argumentação dos filósofos se apoiava na compreensão que alma se desmaterializa à medida que evolui.
Aponta Kardec:
O que eles diziam, por intuição, o Espiritismo o prova com os inúmeros exemplos que nos põe sob as vistas.
Intuição é faculdade ou ato de perceber, discernir ou pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise.
É quando chegamos a uma conclusão de um problema complexo sem ter raciocinado. Popularmente, essa intuição se refere aos clichês “Como não pensei nisso antes?” e “Eureca!”. Quando pessoas passam por esse fenômeno, elas não sabem explicar como elas chegaram ao resultado final, simplesmente falam que a resposta apareceu na mente deles1
Dentro da visão Kardecista, a intuição envolve conhecimento e experiência acumulado de outras vidas, e já tendo passado por situações similares no passado, o indivíduo toma decisões importantes que poderão alterar o curso de sua jornada, ou ainda, que poderão salvar-lhe de uma situação de risco.
Referências
1 SUPER INTERESSANTE. O que é intuição? Revista on-line. Seção: comportamento. 31 de outubro de 2016. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/o-que-e-intuicao/> Acesso em: 10 de novembro de 2016.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão IV
Os itens IX e X apresentam as concepções dos filósofos a respeito daquilo que levamos para o mundo espiritual depois de termos cumprido nossa trajetória reencarnatória.
É conveniente acreditar no “nada” após a morte do corpo físico para aqueles que levam uma vida dissoluta. Sendo o “nada”, nada tem que se responsabilizar e, portanto lhes é tranquilizador assim acreditar. Podem continuar no seu estilo de vida irresponsável
Em oposição os que têm uma visão espiritualista se esforçam para adornar suas almas com atributos morais o que lhes asseguraria um retorno tranquilo e enobrecedor, quando de sua volta ao plano espiritual.
Essas colocações são corroboradas pela moral cristã e pelo ensino dos espíritos da Codificação. Embora, antigos, tais ensinamentos, ainda hoje, não fazem eco para aqueles que querem viver o aqui e o agora!
No item X é apresentado um trecho “Colóquios de Sócrates com seus discípulos”, na prisão. Sabemos que Sócrates foi condenado, injustamente, a beber cicuta, um poderoso veneno por ser acusado de corromper a juventude por levar seus discípulos a pensarem livremente.
Os discípulos estavam inconformados pela condenação, mas o mestre, de forma tranquila, lhes ensina que nada havia a temer uma vez que voltava à espiritualidade, carregado de virtudes, mesmo tendo os poderosos o acusado injustamente. Tece então um paralelo entre o homem cheio de vícios e o homem virtuoso.
Ainda ensina que é melhor sofrer que fazer injustiças, pois enquanto a primeira adorna o espirito que retorna a vida espiritual, a injustiça praticada é, pois:
[…] a maior desgraça que pode acontecer ao homem é ir para o outro mundo carregado de crimes.
Mais uma vez, vemos o acerto de Kardec ao nomear esses dois filósofos como sendo os precursores do Cristianismo e do Espiritismo.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão V
No tópico XI é apresentada uma fala de Sócrates aos seus juízes.
Recordando: Sócrates foi condenado a beber cicuta, pois se considerou que ele estava corrompendo a juventude pelo seu método do livre pensar. |
Tendo, um de seus discípulos se revoltado com a injustiça, e, declarando-se ao mestre, este lhe respondeu: “Queria que fosse justiça?”
Inicia seu pronunciamento anotando que os homens são de dois tipos em relação à morte. Uns acreditam que nada ocorrerá, será uma noite eterna sem consciência, destruição absoluta; outros consideram que a morte é simplesmente a passagem para outro lugar. Vemos ai embutida a ideia do plano espiritual, desdobrada nos ensinamentos de Jesus, clarificada pela Doutrina Espírita que nos explica que a qualidade da vida pós-morte é determinada pelos nossos princípios morais e não por títulos e honrarias que ajuntamos na vida material.
Aborda nessa fala, aos seus juízes, sua convicção na imortalidade da alma e do encontro que ocorreria depois da morte com outras almas. Afirma seu desejo de conhecer essa vida pós-morte e ver que como seria diferente essa vivência entre “aqueles que são sábios e aqueles que creem sê-los e não são”.
Conclui, afirmando, que é chegada a hora de conhecer essa vida e que eles continuariam na vida presente.
Novamente, Kardec comenta que espíritos da categoria de Sócrates e Platão já trouxeram para a presente encarnação esses conhecimentos que estão concordantes com os ensinamentos de Jesus e dos Espíritos da Codificação.
Nada mais lógico uma vez que há mais de 500 anos de sua encarnação, entre nós, Jesus já preparava a humanidade para receber o que viria ensinar.
Destaca ainda Kardec que esses Espíritos faziam parte da falange que o assessoraria na obra da Codificação Espírita. Podemos constatar que dentre os Espíritos que assinaram os “prolegômenos” de “O Livro dos Espíritos”, lá estão eles.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão – VI
Os itens XII e XIII tratam de questões referentes ao comportamento humano, sobretudo sobre a questão da justiça e da injustiça e dos frutos de nossas emoções, sentimentos e ações.
Sobre a justiça, lembram os filósofos que não é necessário retribuir a injustiça pela injustiça, entretanto lembram que nem todas as pessoas assim entendem o que resulta em divisões que culminam com o desprezo.
Aponta Kardec que esse preceito é implícito na ideia de caridade apresentada por Jesus e ratificada pelos Espíritos da codificação quando dizem que caridade é benevolência, indulgência e perdão. Ora, quem perdoa não retribui injustiça com injustiça; sabe o espírita que ao seu tempo haverá um despertar da consciência dos vingativos e que então buscarão reparar seu erro.
O rancor daquele que retribui injustiça com injustiça porta no seu coração a mágoa e conforme nos ensina Joanna de Ângelis: “Quem guarda rancor, coleciona lixo moral, e, consequentemente termina enfermado.”
No item XIII Sócrates e Platão trazem a figura da árvore que pode produzir bons ou maus frutos, figura essa também frequente nos ensinamentos de Jesus.
Sabemos que nossas ações são frutos de nossas emoções e sentimentos e é através das ações que exteriorizamos nosso estado psicológico. As maldades como a bondade moram dentro daquele que as pratica, é seiva que nutre o fruto símbolo de nosso agir. Como o fruto será bom se foi nutrido com sentimentos aversivos em relação ao nosso próximo? Lembremos a assertiva contida em Matheus 7-20: “uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons.”.
Ao enviar Sócrates e Platão á Grécia antiga para serem seus precursores, Jesus objetivava legar, por antecipação, o código de conduta moral que viria trazer mais tarde. No seio deste povo ainda politeísta, mas sede de grande cultura era possível aceitar esses princípios com mais naturalidade que outros povos ainda com pouco desenvolvimento intelectual.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão VII
No item XIV, encontra-se a explicação que Sócrates e Platão deram à questão da riqueza. Para eles, seria um grande perigo, pois seus possuidores correm o risco de dar mais valor as suas posses materiais que a sua essência: a alma.
Explicam que esse apego excessivo aos bens materiais o leva a um desamor por si mesmo, ocupando-se mais do externo do que do seu interno.
Os Espíritos da Codificação disseram que a riqueza, como a pobreza, são provas às quais todos são submetidos e ambas as provas têm suas dificuldades que testam nossas virtudes.
No capítulo XVI de “O Evangelho segundo o Espiritismo” – “Não se pode servir a Deus e a Mamon”- encontramos a seguinte explicação:
[…] a pobreza para uns é prova de paciência e da resignação; a riqueza é para outros prova de caridade e abnegação.
Nesse mesmo capítulo encontramos que deste mundo só se leva a inteligência, os conhecimentos, qualidades morais. A questão central, como colocaram Sócrates e Platão, é: “somos ricos de qualidades morais?”
André Luiz no livro “Obreiros da vida eterna” descreve a situação em que, acompanhando o sepultamento do corpo de Dimas, obtém permissão de seu instrutor para caminhar pelo cemitério. Para sua surpresa, encontra o espirito de um homem cujo corpo estava lá enterrado. Aquele permanecia ainda ligado ao corpo pelo cordão prateado. André pergunta ao zelador espiritual porque não se fazer o desligamento ao que lhe é explicado que aquele homem estava mentalmente ligado às suas posses materiais e se desprendido voltaria a sua casa e atormentaria seus herdeiros.
Encerramos essa reflexão citando a questão 922 de O Livro dos Espíritos:
A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens? “Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.”
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão VIII
O item XV trata da visão que os filósofos tinham do ato de orar.
Estavam na Grécia antiga onde imperava o politeísmo e, eles mesmos sempre se referiam aos deuses e aos espíritos protetores, que intitulavam de Daimon, evidenciando a crença na espiritualidade ou como se referia Platão “ao mundo das ideias” onde tudo é permanente diferentemente ao mundo material onde tudo é impermanente.
Dialogar com as divindades era preconizado a todos os cidadãos e isso se fazia através do ato de orar.
Como em todos os tempos e até hoje, há muitos que acreditam que serão ouvidos por muito falar ou por dizer palavras bonitas ou poéticas como se fosse possível enganar aqueles que estão na espiritualidade que vêm mais nossos sentimentos e ações que nosso palavreado.
Nesse trecho da fala de Sócrates, encontramos a clara explicação que nossas orações chegam até a espiritualidade superior quando são acompanhadas de sentimentos de humildade e de atos morais do nosso proceder.
Apontam que ser virtuoso é mais importante que se sacrificar e dizer belas palavras, pois é, na manifestação das virtudes, que se conhece o real caráter da alma.
Aqui nos lembramos da parábola do fariseu e do publicano que oravam no templo, o primeiro, orgulhoso, arrolava para Deus seus feitos materiais como se isso não fosse sua obrigação cotidiana dentro da lei judaica, por isso sentia-se superior ao publicano que humildemente colocava o reconhecimento de suas faltas e pedia ajuda a Jeová. Jesus então aponta que a verdadeira oração era do publicano e não do fariseu.
No capítulo “Pedi e Obtereis” de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, fala-se da qualidade da prece e da sua eficiência que necessariamente estão na dependência da humildade, da fé, da melhoria moral, da Paternidade generosa de Deus, no amor de Jesus e dos Bons Espíritos e não na sua duração, nas suas belas palavras, na tentativa de se mostrar bom e servil quando na realidade não o é.
Alerta Sócrates que “Seria uma coisa grave se os deuses tivessem mais consideração pelas nossas oferendas que pela nossa alma.”.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão IX
O item XVI aborda a questão do amor, um dos pilares da filosofia de Sócrates e Platão, que segundo eles podia ser encontrado em todas as partes desde o movimento dos astros até nas manifestações da natureza e a única forma de dar paz aos homens.
Considera-se o homem que só ama o corpo como sendo “homem vicioso” e pode-se considerar assim porque esse amor reflete o materialismo contido na essência desse sentimento. É o ser que vive na busca das sensações e não dos sentimentos. Na Grécia antiga era costume louvar o semideus EROS que simbolizava esse tipo de amor que se manifestava em orgias que geralmente ocorria durante os banquetes.
Neste item Kardec ressalta a importância do amor fraterno como sendo o único que pode unir os homens por ser uma lei universal e não transitória como é o amor erótico, que visa o aqui e o agora.
O Cristianismo vem a seu tempo demostrar a vivência do amor fraterno universal na exemplificação de Jesus ao longo de suas pregações e atuações, não era meramente um discurso, mas sim um princípio básico de conduta moral.
Em seguida do item XVI Kardec apresenta a questão da virtude no item XVII.
Como os filósofos colocam a virtude como sendo um dom de Deus, Kardec contesta essa colocação por considerar que ela se assemelha a doutrina da graça.
Graça é um conceito teológico fortemente enraizado no Judaísmo e no Cristianismo, definido como um dom gratuito e sobrenatural dado por Deus para conceder à humanidade todos os bens necessários à sua existência e à sua salvação. Esta dádiva é motivada unicamente pela misericórdia e amor de Deus à humanidade, logo, movida por Sua iniciativa própria, ainda que seja em resposta a algum pedido a Ele dirigido. E também por esta razão, a Graça é um favor imerecido pelo Homem, mas sim fruto da misericórdia e amor divinos.
Dependendo das correntes teológicas cristãs, existem aqueles que defendem que a graça é irresistível; outros que a graça é somente para algumas pessoas escolhidas e totalmente predestinadas por Deus; e há ainda aqueles que acreditam que a graça é universal (ou seja, predestinada para toda a humanidade), mas que pode ser recusada livremente pelo Homem. (Wikipedia)
A contestação de Kardec é a seguinte: “O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força que Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar o bem.”.
Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão X
Item XVIII
É disposição natural, em todos nós, a de nos apercebermos muito menos dos nossos defeitos, do que dos de outrem. Diz o Evangelho: “Vedes a palha que está no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso”.
Os filósofos, com outras palavras dizem exatamente o que o Cristo viria confirmar muitos séculos depois, usando a alegoria da palha¹/cisco e argueiro/trave².
Esse olhar que vê sempre o defeito do outro e não o seu próprio, alardeia a suas virtudes e não constata a virtude do outro é a manifestação do orgulho e da vaidade que ainda habita em nós.
G. Jung, psicanalista, discípulo de Freud e depois dissidente, trabalhava com o conceito de “sombra”³ que todos carregamos, mas negamos que elas existam em nós, então não podemos aceita-las e tentarmos eliminá-las.
Joanna de Ângelis na construção da “Psicologia Espírita” lança mão desse conceito para incentivar em nós a procura dessas sombras, a fim de reconhecê-las, e assim, poder trabalhar com ela na busca de nosso aperfeiçoamento moral.
Encontramos uma lenda indiana4 muito interessante relativa a essa passagem:
Cada homem caminha na face da terra carregando duas sacolas, uma na frente e outra atrás, na primeira coloca suas virtudes e na de trás os seus defeitos, assim sempre olham para suas virtudes e ignoram os seus defeitos, mas o que vem atrás olha os defeitos do antecessor e vêm apenas suas virtudes.
Santo Agostinho na questão 919 de “O livro dos Espíritos” nos indica um importante trabalho de análise e reflexão diária a respeito de nossos acertos e enganos de cada dia, só assim poderemos olhar nossa sacola de trás e identificar o que de defeito existe em nós e que necessita de corrigenda.
Resumo da doutrina de Sócrates e Platão XI
Item XIX
Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem a alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem.
Muitas enfermidades têm origem no temperamento desajustado, nas emoções em desalinho, em influências espirituais negativas. A ansiedade, o medo, o pessimismo, a ira, o ciúme e o ódio são responsáveis por males que ainda não se encontram catalogados, prejudicando a saúde física, emocional e mental. Esforça-te por permanecer em paz, cultivando os pensamentos bons, que te propiciarão inestimáveis benefícios. Conforme preferires mentalmente, assim te será a existência.
Comparando as duas assertivas, a de Sócrates e a de Joanna de Ângelis constata-se que o filósofo 500 anos antes de Cristo já falava da influência dos sentimentos e emoções sobre a saúde física e mental; criticava a medicina que olha os doentes apenas como corpos físicos e aponta a necessidade do tratamento integral do Ser.
A Doutrina Espírita ensina que somos Espíritos imortais revestidos de perispírito e quando encarnado possuímos o corpo físico. O corpo físico é transitório e se desgasta com o passar do tempo e então perece. O perispírito não.
“Quando o Espírito se une ao corpo, nele existe com seu perispírito, que serve de laço entre o Espírito propriamente dito e a matéria corpórea; é o intermediário das sensações percebidas pelo Espírito.” (Rev. Esp, dez. 1862)
“O períspirito, sendo um dos elementos constitutivos do homem, representa um papel importante em todos os fenômenos psicológicos e, até um certo ponto, nos fenômenos fisiológicos e patológicos.”( Morel Lavallée. As três causas principais das doenças. Rev. Esp. Fev, 1867. Allan Kardec. Atmosfera espiritual, Rev. Esp. Maio, 1867)
Morel Lavallée afirma:
Se a perturbação vier do perispírito, se for uma modificação do princípio fluídico que o compõe, que se ache alterado, será preciso uma medicação em relação com a natureza do órgão perturbado, para que as funções possam retomar seu estado normal. Se a doença proceder do Espírito, não se poderá empregar, para a combater, outra coisa senão uma medicação espiritual.
Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão XII
Item XX
Todos os homens, a partir da infância, muito mais fazem de mal do que de bem. Essa sentença de Sócrates fere a grave questão da predominância do mal na Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos mundos e da destinação do planeta terreno, habitado apenas por uma fração mínima da Humanidade. Somente o Espiritismo resolve essa questão, que se encontra explanado aqui adiante, nos capítulos (II, III e IV).
Não sabemos quantos planetas habitados existem no Universo, mas Joanna de Ângelis no livro “No limiar do infinito”, no capítulo “Ante o Cosmos” nos informa que na Via Láctea existem cem bilhões de estrelas e que no universo existem dez bilhões de galáxias, portanto a possibilidade de existir mundos com características semelhantes a da Terra e albergar seres semelhantes a nós e algo a ser considerado.
Na escala dos mundos, apresentada em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, que consta de 5 posições o nosso planeta encontra-se no número 2 tendo mais 3 tipos de mundo acima dessa posição, portanto há que se considerar que a longa jornada que nós habitantes desse planeta ainda termos de caminhar para possuirmos condições de habitar o tipo de mundo mais evoluído que são os mundos celestes ou divinos.
Em “Obras Póstumas”, Kardec, na dissertação “O egoísmo e o orgulho” lembra:
É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem origem no egoísmo dos homens. […] O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho […] O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito inútil. Ele não criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude do seu livre-arbítrio. Contido em justos limites, aquele sentimento é bom em si mesmo. A exageração é o que o torna mal e pernicioso.
A doutrina espírita vem assim clarificar a predominância do mal na Terra e também nos mostrar que essa situação é transitória, uma vez que nós, seus habitantes, estamos tendo múltiplas oportunidades para, através de nossa evolução e progresso, mudar essa situação quando substituirmos o egoísmo e o orgulho por procedimentos de fraternidade e benevolência, indulgência e perdão, ou seja, exercermos a caridade como ensinada por Jesus.
Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão XIII
Item XXI
Ajuizado serás, não supondo que sabes o que ignoras.
Essa assertiva dos filósofos inserida em O Evangelho segundo o Espiritismo é um importante alerta para todo aquele que busca conhecer a Doutrina Espírita no seu real sentido. Aquele que busca o conhecimento sabe que sempre há algo a aprender e que, por sermos Almas que ainda vivem em um mundo de provas e expiação, nosso conhecimento esta em processo e nosso progresso intelectual carece de longa jornada para se concretizar.
O conhecimento das obras básicas do Espiritismo se faz necessário uma vez que ele será a referência de análise para todo leitura de obras subsidiárias, de material da internet, de palestras ou conversas que versem sobre a Doutrina Espírita.
Por que necessitamos dessa referência? Porque é muito frequente nos depararmos com fontes que se dizem espírita, mas uma análise mais profunda evidencia que ao lado de conceitos corretos podemos encontrar mescladas opiniões pessoais que divergem do conteúdo doutrinário.
Recebemos, pelo celular, mensagens denominadas com de autoria de Espíritos respeitáveis ou médiuns conhecidos cujo conteúdo evidencia que falsidades que se escondem atrás desses nomes respeitáveis.
Kardec em “O Livro dos Médiuns” dedica uma parte as comunicações apócrifas assinadas por nomes famosos e respeitados e afirma:
Muitas comunicações há, de tal modo absurdas, que, embora assinadas com os mais respeitáveis nomes, o senso comum basta para lhes tornar patente a falsidade. Outras, porém, há, em que o erro, dissimulado entre coisas aproveitáveis, chega a iludir, impedindo às vezes se possa apreendê-lo à primeira vista. Essas comunicações, no entanto, não resistem a um exame sério.
Assim como no mundo espiritual há os espíritos pseudo-sábios, encarnado também os encontramos, não são necessariamente ignorantes, mas creem saber mais do que realmente sabem. São guiados pela presunção e orgulho.
Reconhecer que nem tudo se sabe e que sempre temos o que aprender é virtude que nos disponibiliza acessar novos conhecimentos colocando-nos no processo de contínuo aprendizado.
“Examinai tudo. Retende o bem.” (1 Tessalonicenses 5:21) ensinou Paulo de Tarso e essa deve ser nossa postura frente aquilo que deparamos nos diferentes meios de comunicação.
As premissas
Se nos reportarmos às matérias contidas neste estudo, logo no início, encontraremos um quadro sinótico sobre “A Estrutura Didática de O Evangelho segundo o Espiritismo”, onde um dos itens diz respeito aos quatro primeiros capítulos que denominamos ‘As Premissas’.
Entendemos por premissas fato ou princípio que serve de base à conclusão de um raciocínio. São elas: não vim destruir a lei, meu reino não é deste mundo, há muitas moradas na casa de meu pai, ninguém poderá ver o reino de deus se não nascer de novo.
Considerando que o “Evangelho Segundo o Espiritismo”
[…] constitui código, uma regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundamentam na mais rigorosa justiça
Kardec, antes de colocar as regras de bem proceder, apresenta as premissas na quais assentam; pois as compreendendo a nossa fé será raciocinada e não dogmática.
Essas premissas nos remetem à compreensão do que deve fundamentar nosso comportamento cristão: progresso, espiritualidade, o entendimento sobre a pluralidade dos mundos habitados e a reencarnação.
Não vim destruir a lei
Nesse capítulo é apresentada a evolução do pensamento religioso através das três revelações, onde fica evidente o processo evolutivo do homem se relacionar com Deus, com seu semelhante e consigo mesmo.
Meu reino não é deste mundo
Destaca a questão da vida espiritual como a verdadeira destinação dos homens.
Há muitas moradas na casa de meu pai
A pluralidade dos mundos habitados e suas características.
Ninguém poderá ver o reino de deus se não nascer de novo
Reencarnação como essencial ao processo evolutivo.
Assim, o entendimento dessas premissas nos ajuda a escolher o caminho, verificar a direção e diante de dúvidas e dificuldades responder a questão: o que o cristo faria em idênticas condições?
Bem aventurado os aflitos
Após as premissas Kardec nos apresenta o diagnóstico das aflições que vivemos por habitarmos um planeta de expiação e provas.
Esse é o capítulo mais longo de O Evangelho segundo o Espiritismo, evidenciando que é longa a lista de nossas aflições a espera de nosso desenvolvimento intelectual e moral para delas nos livrarmos.
A visão espirita da dor e do sofrimento nos apresenta esses acontecimentos como possibilidade de transformação; pois o sofrimento só nos será útil se dele tirarmos o aprendizado para não nos perpetuarmos no erro e haurirmos coragem para continuar no nosso processo de modificação de comportamentos.
Elencaremos a seguir as aflições arroladas neste capítulo: Causas Atuais e Anteriores das Aflições, Esquecimento do Passado, Suicídio e Loucura, Perda de Pessoas Amadas, Mortes Prematuras, A Melancolia, Aborto, Eutanásia, Ignorar as Provas do Próximo, Provas Voluntárias.
Consta ainda desse capítulo orientações sobre: a felicidade não é deste mundo, justiça das aflições, a infelicidade real, o verdadeiro cilício, sacrifício da própria vida, proveito do sofrimento para outrem.
O capítulo apresenta ainda um ponto muito importante que é motivo de resignação, mostrando que quando ocorre o aprendizado e a modificação de comportamento aquele sofrimento cumpriu a sua função, portanto ele não se repetirá na nossa trajetória evolutiva.
Muitos ainda pensam que resignação é uma atitude passiva frente à dor e o sofrimento, entretanto isso não é realidade. Uma vez que resignação nos faz aceitar as aflições, mas também indica a direção para envidar esforços a fim de resolver as causas que as geram.
Joanna de Ângelis em seu livro “Autodescobrimento: uma busca interior” afirma que:
Inadvertidamente ou por comodidade, a maioria das pessoas aceita e submete-se ao que poderia mudar a benefício próprio, autopunindo-se e, acreditando merecer o sofrimento e a infelicidade com que se vê a braços, quando o propósito da Divindade para com suas criaturas é a plenitude, é a perfeição.
Capítulo VI
O Cristo Consolador: Advento do Espírito de Verdade
Aproxima-se o Natal e sabemos nós que, antes das comemorações, é importante refletirmos sobre o que JESUS significa para nós e nosso planeta; é comum ouvirmos que ele é Governador de nosso planeta, mas o que significa isso?
Para a maioria das pessoas o símbolo do Natal é o presépio com o menino Jesus e seus pais, Maria e José, como se Jesus só a partir desse momento tenha participado de nosso planeta.
Advento significa vinda ou chegada. A palavra advento também pode significar fundação ou criação de alguma coisa.
Considerar que a chegada de Jesus nesse planeta fixa-se no seu nascimento entre nos é esquecermo-nos dos 4,5 bilhões de anos que ele cuida e governa a Terra.
Em “A caminho da luz” Emmanuel nos esclarece que Jesus esta conosco desde o momento que a terra se desprendeu do Sol e ele “organizou o cenário da vida, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres no porvir”.
Jesus faz parte de uma comunidade de Espíritos Puros que dirige nosso sistema solar e essa comunidade reuniu-se por duas vezes: quando ao planeta se desprendeu do sol e Jesus assumiu sua direção e novamente quando Jesus devia reencarnar entre nós.
Lembremo-nos que Espíritos Puros não têm mais necessidade de reencarnação e quando a ela se submete é para cumprir uma missão e a de Jesus foi trazer as leis morais de Deus através de seus ensinamentos e vivência.
Outra importante missão de Jesus foi coordenar a equipe espiritual que trabalhou junto a Kardec na codificação da DOUTRINA ESPÍRITA. Ficou conhecido entre nós como O Espirito Verdade.
No Capítulo VI de O evangelho segundo o Espiritismo – O Cristo Consolador: Advento do Espírito de Verdade há uma mensagem assinada pelo Espirito Verdade, mas em O livro dos Médiuns essa mesma mensagem esta inserida, então assinado por Jesus.
São 4,5 bilhões de anos que Jesus esta construindo nossa morada planetária e cuidando de nós, portanto seu AMOR por nós pode ser avaliado pelo seu tempo de dedicação.
Bem aventurados os aflitos
Anteriormente foi abordada a composição do capítulo mais extenso de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e as diferentes aflições que vivemos por estarmos em um mundo de expiação e provas.
Neste momento, vamos tecer algumas considerações sobre a dor e o sofrimento sobre a ótica da psicologia espírita de Joanna de Ângelis em seu livro “Plenitude” por ser um importante subsídio para a compreensão dessas ocorrências em nossa vida.
Destacaremos algumas frases que nos darão subsídios para compreendermos o sofrimento não como karma, mas como elemento propiciatório da evolução do espírito imortal.
Bem aventurados os aflitos II
Traçando o perfil da situação de nosso planeta, Kardec apresenta, nesse capítulo, todas as dificuldades que ainda faceamos por estarmos habitando um mundo de expiação e provas.
A palavra aflição pode ser entendida como a gama de sentimentos que um doloroso evento ou fato despertam no ser humano.1
Pode-se também entender aflição como sendo tristeza, amargura.2
Pessoas há que mesmo sofrendo atribulações mantem-se em uma atitude interna positiva, enquanto outras se alimentam interiormente de pessimismo e revolta. As primeiras têm a consciência reta e sincera e seu interior é calmo e feliz embora “externamente aconteçam coisas que o entristeçam.” As segundas, que pela ausência de harmonia espiritual, têm necessidade de alegrias externas geralmente ruidosas e violentas.
“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João, 17:15), são palavras de Jesus quando preparava os discípulos para seu regresso a pátria espiritual, evidenciando que tribulações aconteceriam, mas era necessário que eles não deixassem se abater por elas.
O Ser que não tem harmonia interna “não tolera a solidão que lhe traz consciência mais nítida da sua vacuidade ou desarmonia interior”, busca pessoas para não estar a sós consigo e, quando isso não é possível, busca o ruído da rua, do rádio, da televisão, da internet, do celular e, quando isso não lhe basta, procura o recurso das drogas e entorpecentes para camuflarem por algum tempo a sensação da sua triste solidão. Se isso não lhe basta apela para o suicídio.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14:27) afirma Jesus recomendando que sua paz não se encontra no mundo exterior , mas interiormente no Ser que a encontra na sua espiritualidade, pois as alegrias externas tem sobre o Ser o efeito da água do mar, que quanto mas se bebe mais sede se tem.
Referências
1O NOVO TESTAMENTO. Tradução de Haroldo Dutra Dias. FEB., 2013.
2ROHDEN, H. O sermão do monte. Ed. Martin Claret, São Paulo, inverno de 2002.
Bem-aventurados os aflitos III
Kardec inicia esse capítulo com três passagens evangélicas: uma de Matheus (cap.5: 4, 6,10) e duas de Lucas (cap.5: 20, 21, 24,25) onde os evangelistas abordam o trecho do Sermão do Monte, quando Jesus fala das bem-aventuranças e as consequências para aqueles que vivem de forma displicente e irresponsável.
Nessas passagens há duas conotações a serem assinaladas: aflições que geram tranquilidade e tranquilidade que geram aflições. Asseverou Jesus que os que sofrem e sabem sofrer estão em processo de quitação com as leis divinas e aqueles que vivem de forma dissoluta estão em processo de contrair débitos morais que serão corrigidos no futuro mediante dificuldade que construirão para sua vivencia futura.
Como assim, escolhemos sofrer quando planejamos, no plano espiritual, nossa futura existência corpórea? A resposta é positiva quando nos arrependemos de nossas faltas passadas e entendemos que é necessário repará-las para que se construam em nós virtudes que se caracterizam como progresso moral.
Toda aflição que vivenciamos são necessariamente erros que cometemos? A grande maioria sim, mas há aqueles espíritos que, compadecidos de almas amadas que se acham transviadas da senda do bem, reencarnam junto a eles em missão de socorro e ajuda e auxiliando-as a passar pelas aflições que lhes fazem necessárias dando-lhes o apoio e compadecidas seguem sem reclamar embora compartir-lhes as dificuldades se aflições.
Concluímos com um trecho de Emmanuel em Ceifa de Luz (lição 27):
Valoriza a aflição de hoje, aprendendo com ela a crescer para o bem, que nos burila para a união com Deus, porque o Mestre que te propões a escutar e seguir, ao invés de facilidades no imediatismo da Terra, preferiu, para ensinar-nos a verdadeira ascensão, a humildade da manjedoura, o imposto constante do serviço aos necessitados, a incompreensão dos contemporâneos, a indiferença dos corações mais queridos e o supremo testemunho do amor em plena cruz da morte.
Bem aventurados os aflitos IV
Inicia Kardec o capítulo com o Item “Justiça das Aflições” discorrendo sobre as diversidades, sofrimentos e dores que se encontram em todos os grupos sociais da humanidade e questiona o que poderia explicar essas diferenças, que aparentemente se apresentam como injustas.
Partindo da premissa que DEUS é soberanamente justo e bom, as causas destas aflições devem obedecer a um critério que se apoia na JUSTIÇA DIVINA. Assim nos dois itens seguintes ele aborda as origens das aflições na vida presente e nas vidas passadas, onde clarifica que dores, sofrimentos e aflições têm suas coisas explicadas por comportamentos nossos que desrespeitam a lei divina ou natural.
André Luiz nos esclarece que: “O espiritismo mostra que a Lei de Causa e Efeito está presente no mundo moral e que toda ação tem a reação correspondente, significando que, diante do Código Divino, cada desacerto, agora ou no passado, leva sempre ao reparo necessário e que a aflição, longe de ser injusta, é na verdade efeito doloroso de uma causa injusta”.
Emmanuel nos explica que:
os problemas na realidade são desafios para que nós procuremos resolvê-los;
aquilo que chamamos de serviço impraticável nos é colocado porque Deus conhece nossa a força e capacidade;
tentações que são oriundas de nosso próprio magnetismo calamitoso, aos quais somos colocados a faceá-las para que aprendamos a transforma-las;
o parente difícil aparece para que aprendamos a arte de amparar;
companheiro obsidiado leva-nos a aprender a responsabilidade da reabilitação através da sustentação dos mesmos;
todas as aflições do mundo aparecem para desenvolvermos os valores do espirito e são oportunidades de servir agindo com paciência e bondade.
Fontes:
André Luiz. Causa e efeito; IN: Vivendo o Evangelho, volume I, psicografia de Antônio Baduy Filho. Ed. IDE
Emmanuel. Aflitos Bem Aventurados; IN: Nascer & renascer, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Ed. GEEM.
Bem aventurados os aflitos V
Causas atuais das aflições
Interessante notar que frequentemente atribui-se as aflições a eventos que tenham ocorridos em reencarnações anteriores, entretanto Kardec explica que assim deve-se proceder após analisar se a aflição que fazem os seres sofrer não tem sua origem em causas atuais, só então poderemos dizer que sua origem se encontra em reencarnações pregressas.
Os eventos que geram causas atuais das aflições são arrolados no item 4 deste capítulo;
- Imprevidência, orgulho e ambição.
- Falta de ordem, de perseverança.
- Má conduta e não ter limite de seus desejos.
- Casamentos por interesse, sem o lastro do amor.
- Falta de moderação e excesso de suscetibilidade.
- Intemperança de todos os gêneros que levam a doenças.
- Pais que não corrigem as más tendências de seus filhos desde a primeira infância.
Kardec coloca uma referência norteadora para análise: “Se eu tivesse, ou não tivesse feito tal coisa eu não estaria em tal situação”. Se honestamente refletir-se sobre essa questão vê-se que na maior parte das vezes pode-se atribuir a si mesmo a responsabilidade de seus próprios infortúnios.
Os males dessa natureza formam, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida; o homem os evitará quando trabalhar pelo seu aprimoramento moral, tanto quanto para seu aprimoramento intelectual.
A busca da harmonia interior, quando constatado que erroneamente se comportou, demanda ações responsáveis libertando-se de queixas pessimistas, administração dos conflitos, reagir à depressão, procurando conduzir o viver de forma cuidadosa com empenho e devotamento para não incorrer em novos enganos.
Jesus já ensinou: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. (João 5:8) e isso não se aplica apenas ao enfermo do físico, mas também para as enfermidades morais que devem ser enfrentadas e trabalhadas por aquele que quer dar um novo sentido a sua vida.
Bem aventurados os aflitos VI
Há uma tendência de associarmos a palavra Carma aos sofrimentos que acontecem em nossa vida para os quais não encontramos explicação pelo estilo de vida atual e assim, nós reencarnacionistas, atribuímos aos nossos erros em encarnações passadas.
Joanna de Ângelis nos explica: “O Carma é o efeito das ações praticadas nas diferentes etapas da existência atual como da pregressa. Fruto da arvore plantada e cultivada, tem o sabor da espécie que tipifica o vegetal”.
Quando se planta atos positivos colhem-se “momentos felizes, afetividade, lucidez, progresso e novos ensejos de crescimento moral, espiritual e intelectual”.
Entretanto se o plantio se baseia na “insensatez, vulgaridade, perversão, rebeldia, odiosidade” teremos que facear as expiações e provas reparadoras.
Continua a autora espiritual informando que: “O carma esta sempre em processo de alteração, conforme o comportamento da criatura”. Assim se o sofrimento pode se alterar quando se resolve mudar as atitudes e quando o Ser resolve buscar sua melhoria trabalhando para o bem geral que resulta em bem próprio.
Outra atitude enganosa é atribuir os sofrimentos à “Vontade de Deus” assim costuma-se ouvir “vou resignar-me, pois é vontade de Deus”; a doutrina Espírita nos esclarece que Deus é justo e misericordioso e que não é vontade dele o nosso sofrimento, mas é colheita da nossa semeadura que Ele permite que ocorra para que possamos aprender a deduzir as consequências de nossos atos antes de praticá-los.
Joanna de Ângelis nos traz dois importantes exemplos de nossas colheitas:
Enquanto na ignorância, Maria de Magdala, com a consciência adormecida, vivia em promiscuidade moral. Ao defrontar Jesus, despertou, alterando o comportamento de tal forma, que elaborou o abençoado carma de ser a primeira pessoa a vê-LO ressuscitado.
Judas Escariotes, consciente da missão do Mestre, intoxicou-se pelos vapores da ambição descabida, e, despertando depois, ao enforcar-se, estabeleceu o lúgubre carma de reencarnações infelizes para reparar os erros tenebrosos e recuperar-se.
Fonte:
FRANCO, Divaldo P. Carma e consciência. IN: Momentos de Saúde e de Consciência. Pelo Espírito de: Joanna de Ângelis. Leal ed. Salvador, 2013.
Causas anteriores das aflições
Comentando sobre as causas anteriores das aflições nos ensina André Luiz1:
- Ontem desvios. Hoje aflição.
- Não digas nunca que perdeste a esperança e observa que a Bondade Divina sempre te socorreu na hora difícil.
- Angustia indescritível sempre tem cura e então se pode retornar a jornada.
- Profunda tristeza demanda esforço para prosseguir no caminho.
- Na desilusão é preciso superar o pessimismo e recuperar o ânimo.
- Na derrota procurar novas oportunidades de trabalho nobre e útil.
- É preciso não tornar-se refém do passado libertando-se das interferências perturbadoras buscando a humildade, o amor autêntico, o perdão, a ideia do bem, a esperança, a caridade e a fé inabalável.
- Inspirar-se no Evangelho.
- Renovação intima na busca da consciência tranquila.
No livro Nosso Lar,2 encontra-se a seguinte informação: “A aflição não constrói, a ansiedade não edifica. Saibamos ser dignos do clarim do Senhor atendendo-lhe a Vontade Divina no trabalho silencioso, em nossos postos”.
Cassimiro de Abreu3 poeticamente diz;
Meus amigos no serviçoDe prece e doutrinação,Cada espírito que sofreÉ a benção da lição
De André Luiz ainda temos duas belíssimas assertivas:
O sofrimento quando aceito à luz da fé viva é uma fonte criadora de asas espirituais.4
O sofrimento dos vencidos no combate humano é celeiro de luz da experiência.5
Emmanuel6 ensina:
Não basta sofrer simplesmente para ascender à gloria espiritual. Indispensável é saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração sequioso de paz.
Fontes:
Esquecimento do passado
Esse tema é tratado por Kardec no item 11 do capítulo Bem Aventurado os Aflitos de O Evangelho Segundo o Espiritismo¹
Sempre há muita curiosidade sobre quem teríamos sido em pregressa reencarnação, entretanto, isso em nada nos ajudaria na presente reencarnação, uma vez que, poderia proporcionar interferências constrangedoras na presente vivência, pois traria perturbações inevitáveis nas relações sociais.
Quais perturbações? Esclarece Kardec: poderia nos humilhar, exaltar nosso orgulho e assim entravar o livre arbítrio.
Cada nova existência é um novo ponto de partida, mas o que já aprendemos permanece em nosso repertório de princípio mesmo que o processo do aprendizado permaneça arquivado no nosso inconsciente e assoma através de nossa consciência e de nossas tendências.
Esclarece Kardec que o esquecimento não ocorre senão durante a vida corporal o que se constitui em uma interrupção momentânea que poderá ser retomada quando de nossa volta ao plano espiritual ou durante nossa emancipação pelo sono tempo quando haurimos forças para a presente vivência.
Quando alguma má tendência já se acha corrigida e não nos resta nenhum traço dela torna-se desnecessário sua lembrança, pois em nada nos ajudaria. Mais vale ouvir a voz da consciência para nos nortear considerando que é nela que estão gravadas as leis de Deus.
Aqui vale o ensinamento de André Luiz²:
Não importa o que foste ou fizeste em outros tempos, mas o que constróis agora em favor de seu aprimoramento íntimo, valorizando a oportunidade do recomeço que a misericórdia de Deus te permite, através da reencarnação.
O Espiritismo aponta o Evangelho de Jesus com roteiro de transformação moral e descortina os horizontes do futuro, mas o espirita que se envolve na teia das revelações pretéritas desperdiça tempo e se torna refém do passado.
Motivo de resignação
A compreensão do sofrimento para que se tenha a resignação esta diretamente ligada à visão que se tenha da vida futura. Aquele que acredita que com a morte do corpo físico tudo cessa não pode compreender o porquê do sofrimento, entretanto quando se tem uma visão clara da vida espiritual entende que o sofrimento é o preludio da cura.
Sofremos porque ainda estamos em processo de resgate de dívidas em pregressa reencarnação ou porque o sofrimento é uma prova que se tem que passar para que nossas virtudes possam ser aferidas, mostrando que estão consolidadas em nós.
Emmanuel nos esclarece: “Estudemos resignação em Jesus – Cristo. A cruz do Mestre não é um símbolo de apassivamento à frente da astúcia e da crueldade e sim mensagem de resistência contra a mentira e a criminalidade mascaradas de religião, num protesto firme que perdura até hoje”.
Joanna de Ângelis afirma: “O resignado não é um covarde, mas alguém que compreende a finalidade da existência terrena”.
Assim compreendendo pode-se concluir que resignação não é passividade, mas aceitação do sofrimento e que se deve evidar esforços para dele sair tendo a certeza de sua transitoriedade.
Conta-se que Maria de Nazaré em sua casa em Éfeso acolhia os sofredores que por lá passavam e sua mensagem de consolação e esperança era: “Isso também passará”.
O sofrimento tem seu fim quando o SER se harmoniza com as leis morais da vida, é processo de aprendizado e não castigo, pois o Pai é Misericordioso não pune, mas dá oportunidades de aprendizado.
Fontes:
Xavier F. C. Waldo, V.pelos espíritos de Emmanuel e André Luiz. Estude e Viva.
Franco, D. pelo Espírito Joanna de Ângelis .Leis morais da vida.
Suicídio e loucura
Itens 14 e 15
A incredulidade sobre a vida futura alicerçada nas ideias materialistas é indutora do suicídio, uma vez que a crença de que a vida se extingue no ato de por fim a existência corporal leve o indivíduo a crer que seus sofrimentos e desespero cessarão e que o nada é o seu destino.
O oposto, entretanto, ocorre àqueles que têm a firme convicção de o espirito é imortal e que a eternidade o espera quando volta à vida espiritual, este conhecimento dá à criatura a calma e a resignação necessária frente aos reveses e as decepções que possam lhe ocorrer uma vez que sabe que esses sofrimentos passarão e que a forma de vivencia-los estará construindo a sua felicidade futura.
O suicídio acarreta para o espirito uma volta à espiritualidade com muito sofrimento e dor, pois ocorre a decepção de que nada encontraria que seu sofrimento teria um fim e como nada disso acontece e, sobretudo, percebe que seu perispírito apresenta lesões causadas pela maneira pela qual interrompeu sua vida biológica.
O suicídio tem como fatores atenuantes a loucura e a embriagues que se poderia dizer que o indivíduo esta em uma situação que podemos chamar de inconsciente.
Explicamos o Evangelho segundo o Espiritismo que os casos de loucura são “devidos à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem força de suportar…”
André Luiz na mensagem “A maior aflição” inserida no livro “Vivendo o Evangelho vol 1” ensina:
Se você atravessa a hora mais difícil observe estas recomendações. Fuja da revolta. Mantenha a calma. Entenda a situação. Evite o desespero. Sustente a coragem. Revigore a fé. Prossiga com otimismo. Cultive a resignação. Aceite a realidade. Use o discernimento. Faça o possível. Exercite a prece. Pense na reencarnação. Considere a imortalidade. Fortaleça a esperança. Creia na bondade Divina. A experiência no corpo físico não prescinde do sofrimento, necessário ao aperfeiçoamento espiritual, mas a compreensão da vida eterna, através das lições do Evangelho é sempre o bálsamo que alivia na provação dolorosa. Nos momentos aflitivos, a maior aflição é estar afastado de Deus.
Suicídio e loucura
Itens 16 e 17
Bem-aventurados os Aflitos
Instrução dos Espíritos
O mal e o remédio
A felicidade não é deste mundo
Capítulo v- item 20
Mensagem assinada pelo cardeal Morlot em Paris 1863.
Lembra o cardeal que essa assertiva já esta no livro Eclesiastes, do velho testamento e que é compreensível pelo fato de habitarmos um planeta de expiações e provas onde a grande maioria de seus habitantes ainda se encontra na condição de espíritos neutros que se apegam as coisas deste mundo e que oscilam entre o bem e o mau, carecendo ainda de desenvolvimento moral e intelectual.
A crença de que esta é a única existência aumenta mais o sofrimento das criaturas de diferentes classes sociais; os que sofrem dificuldades financeiras de alguma forma invejam aqueles que são economicamente mais abastados, pois imaginam que para eles a infelicidade não existe, entretanto enganam-se, pois há diferentes tipos de sofrimento além da falta de recursos materiais.
Emmanuel (1) afirma que há duas espécies de lágrimas: aquelas que se originam no desespero e que são venenos mortais e aquelas que nascem das dores sinceras e construtivas que são filtros de redenção e vida.
Para André Luiz (2) “a Doutrina Espírita, revivendo o Evangelho de Jesus, convida-te a renovação íntima, no serviço do bem desinteressado, ensinando que a tua felicidade somente será duradoura e verdadeira se ela for parte da felicidade do próximo”.
O cardeal termina sua mensagem exortando os presentes á reunião, onde ela foi psicografada, a divulgarem a Doutrina Espírita e “Que nessa reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse objetivo grandioso de preparar, ás novas gerações, um mundo em que a felicidade não será mais uma palavra vã”.
Todos buscamos a felicidade, entretanto André Luiz (3) nos lembra: “a felicidade legítima não é mercadoria que se empresta. É realização intima”.
Fontes:
- Lágrimas In: Caminho, Verdade e Vida.
- André Luiz. Contrastes. In: Vivendo o Evangelho.
- André Luiz. Problemas pessoais. In: Agenda Cristã.
Notícia acerca do Sr Sanson
Capítulo V – item 21
Esse espírito assina a mensagem “Perdas de pessoas amadas. Mortes prematuras” que se encontra no capítulo V item 21 de O Evangelho segundo o Espiritismo.
Abaixo consiste na transcrição do início do capítulo II da segunda parte do livro “O Céu e o Inferno” de Allan Kardec.
Antigo membro da Sociedade Espírita de Paris faleceu a 21 de abril de 1862, depois de um ano de atrozes padecimentos. Prevendo a morte, dirigira ao presidente da Sociedade uma carta com o tópico seguinte:
“Podendo dar-se o caso de ser surpreendido pela separação entre minha alma e meu corpo, ocorre-me reiterar-vos um pedido que vos fiz há cerca de um ano, qual o de evocar o meu Espírito o mais breve possível, a fim de, como membro assaz inútil da nossa Sociedade, poder prestar-lhe para alguma coisa depois de morto, esclarecendo fase por fase as circunstâncias decorrentes do que o vulgo chama morte, e que, para nós outros – os espíritas – não passa de uma transformação, segundo os desígnios insondáveis de Deus, mas sempre útil ao fim que Ele se propõe. Além deste pedido que é uma autorização para me honrardes com essa autópsia espiritual, talvez improfícua em razão do meu quase nulo adiantamento, e que a vossa sabedoria não consentirá ir além de um certo número de ensaios – ouso pedir pessoalmente a vós como a todos os colegas que supliquem ao Todo-Poderoso a assistência de bons Espíritos, e a São Luís, nosso presidente espiritual, em particular, que me guie na escolha e sobre a época de uma nova encarnação, ideia que de há muito me preocupa.
“Arreceio-me de confiar demais nas minhas forças espirituais, rogando a Deus, muito cedo e presunçosamente, um estado corporal no qual eu não possa justificar a divina bondade, de modo a prejudicar o meu próprio adiantamento e prolongar a estação na Terra ou em outra qualquer parte, desde que naufrague.”
Para satisfazer-lhe o desejo, evocando-o o mais breve possível, dirigimo-nos com alguns membros da Sociedade à câmara mortuária, (Câmara mortuária, 23 de abril de 1862) onde, em presença do seu corpo, se passou o seguinte colóquio, precedendo uma hora o respectivo enterro. Era duplo o nosso fim: íamos cumprir uma vontade última e íamos observar, ainda uma vez, a situação de uma alma em momento tão imediato à morte, tratando-se, ao demais, de um homem eminentemente esclarecido, inteligente e profundamente convicto das verdades espíritas. Íamos enfim colher nas suas primeiras impressões a prova de quanto, sobre o estado do Espírito, pode influir a compenetração dessas verdades. E não nos iludimos na expectativa, porquanto o Sr. Sanson descreveu, plenamente lúcido, o instante da transição, vendo-se morrer e renascer, o que é uma circunstância pouco comum e só devida à elevação do seu Espírito.
Kardec não nomina o médium que recebeu a mensagem que se acha logo a seguir do texto transcrito.
Capítulo V Bem-aventurados os Aflitos
Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras
Essa mensagem consoladora assinada por Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris (1863) faz um contraponto entre a visão materialista e espiritualista da temática perda de pessoas amadas e mortes prematuras.
Esclarece que do ponto de vista material há perda, bem como mortes prematuras, mas do ponto de vista espiritual a morte do corpo físico não significa o afastamento definitivo do ser amado, mas apenas sua passagem para o plano espiritual de onde continua nos vendo e amando.
Explica que quando o desencarne ocorre durante os períodos da infância e juventude significa que essa era uma necessidade do espírito e que a cessação da vida física ocorreu no tempo que lhe era necessário para cumprir sua tarefa reencarnatória.
Quando volta ao plano espiritual o Espirito se alegra conosco, bem como sofre emocionalmente quando nos desesperamos e lamentamos sua perda, então se faz necessária a compreensão da tranquilidade e da imortalidade da alma para que possamos transmitir paz e harmonia aqueles que já se encontram no plano espiritual.
Sanson termina a mensagem com essa assertiva: “Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu.”
André Luiz1 comentando essa mensagem afirma: “A passagem para o mundo espiritual é também simples transformação. Morre o corpo, surge a alma. E o túmulo é apenas a porta para a imortalidade.
Referências
1André Luiz. Psicografia de Antônio Baduy Filho. Aceitação. IN: Vivendo o Evangelho, volume 1.
Se fosse um homem de bem teria morrido
capítulo V, item 22
Fénelon. (Sens, 1861.)
Frente à morte biológica de alguma pessoa possuidora de virtudes morais, lamenta-se o ocorrido e muitas vezes ocorrem pensamentos que a morte deveria ter escolhido alguém mau, pois este não faria falta para a humanidade, entretanto esse pensamento carece de razão à luz da Doutrina Espírita, pois a morte só é biológica, sendo os Espíritos imortais.
Outro ponto a considerar é que nosso planeta é um educandário aonde vêm Espíritos adquirir desenvolvimento moral e intelectual, portanto aquele que já fez seu aprendizado, ou seja, aquele que já se tornou um homem de bem não tem mais necessidade de aqui permanecer ao contrário daquele que ainda tem muito a aprender.
A justiça divina é sábia, portanto, sabe dar a cada um a oportunidade que necessita. Àquele que já cumpriu seu aprendizado não precisa mais aqui permanecer em contrapartida o outro aqui fica, pois, seu processo de desenvolvimento está se realizando.
Richard SIMONETTI (Reformador Ano 127 • Nº 2.168 • Novembro 2009) relata:
Há gente má que tem existência breve. Não obstante, como diz Fénelon, há provações difíceis que podem ser evitadas, na medida em que as pessoas substituam a moeda da dor pela moeda Amor, que se exprime na prática do Bem, para resgate de débitos cármicos. Um homem bom, cumpridor de seus deveres, praticante da caridade, sofreu uma hemorragia cerebral. Embora contando com as preces e vibrações de toda uma comunidade espírita, sob sua direção, veio a falecer. Os familiares questionavam até que ponto vale a pena exercitar o Bem, se falta a proteção divina em situações dessa natureza. Suas dúvidas foram superadas quando um mentor espiritual lhes informou que o falecido tinha por programação existencial a ocorrência de graves limitações físicas, em existência vegetativa para resgate de débitos cármicos. Em face de seus méritos, a misericórdia divina o liberou da penosa situação, transferindo-o para o mundo espiritual.
Concluímos com as palavras de Fénelon: “Assim, pois, quando vos servis desse axioma [provérbio] não duvideis que blasfemais”.
Bem-aventurados os aflitos
Os tormentos voluntários
Voluntário (adjetivo) que não é forçado, que só depende da vontade; espontâneo, que se pode optar por fazer ou não.
Parece estranho que existam pessoas que escolhem sofrer, mas Fénelon explica a origem desse sofrimento no item 23 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo quando afirma: “o homem, como que de intento, cria para si tormentos que está em suas mãos evitar. Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: “bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados”, visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as compensações merecidas.”.
André Luiz nos ajuda melhor compreender essa triste opção que algumas vezes fazemos na nossa vida e que quando frente o sofrimento que nos atinge mergulhamos na queixa e na revolta atribuindo a causa do nosso sofrimento a situações e pessoas quando na realidade esse sofrimento é fruto de nossas emoções e sentimentos.
Diz o amigo espiritual no livro “Vivendo o Evangelho” l: 67 cap. V – 23 aflições inúteis
Delphine de Girardin
Nosso próximo estudo encontra-se sob o nome a desgraça real mensagem assinada por Delphine de Girardin. Essa senhora viveu na França no tempo de Kardec e ele a menciona em O Livro dos Médiuns no Capítulo XI Da Sematologia E Da Tiptologia faz uma crítica a Delphine no item 144:
“ Um aparelho mais simples, porém, do qual a má-fé pode abusar facilmente, conforme veremos no capítulo das Fraudes, é o que designaremos sob o nome de Mesa-Girardin, tendo em atenção o uso que fazia dele a Sr. ª Emílio de Girardin (nome do marido) nas numerosas comunicações que obtinha como médium. Porque, essa senhora, se bem fosse uma mulher de espírito, tinha a fraqueza de crer nos Espíritos e nas suas manifestações. ”
À primeira vista essa observação de Kardec poderia parecer descortês, mas se considerarmos que foi feita tendo como paradigma o “bom-senso” entendido como sensatez a observação se adequou ao propósito de alertar contra fraudes.
Ainda mais o codificador analisava uma dada situação em um dado momento e sua crítica não o levou a proscrever Delphine de Girardin de ser uma colaboradora da Doutrina Espírita. Assim assume uma “conduta ética demonstrando capacidade virtuosa de achar o meio termo e distinguir a ação correta, o que é em termos mais simples, nada mais que bom senso”.
No quadro apresentado a seguir podemos notar que Delphine de Girardin desencarnada teve suas mensagens divulgadas por Kardec em O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo e em vários números da Revista Espírita.
Obra/Título | Ano | Local | Médium |
OLM* Dissertações Espírita XIV | S/D**** | S/L***** | Não especificado |
OESE** A Verdadeira Desgraça | 1861 | Paris | Não especificado |
RE*** Mascaras Humanas | 1860 | S/L | Sra Costel |
RE*** A Eletricidade do Pensamento | 1860 | S/L | Sra Costel |
RE***Novembro
As Primeiras Impressões de Um Espírito |
1860 | Recebida ou lida na Sociedade parisiense de Estudos Espírita | Sra Costel |
RE*** Os Sábios | 1860 | Recebida ou lida na Sociedade parisiense de Estudos Espírita | Srta. Huet |
RE*** Intuição da Vida Futura | 1860 | S/L | Srta. Eugênie |
RE*** A Reencarnação | 1860 | S/L | Srta. Eugênie |
RE*** [Resposta da] Sra Delphine de Girardin | 1861 | S/L | Sra Costel |
RE*** 1863 Os Falsos Devotos | 10 de março de1863 | Reunião particular | Sra Costel |
** O Evangelho Segundo O Espiritismo, Tradução da 3a edição francesa por Guillon Ribeiro,Rio de Janeiro, FEB, s/d.
***** S/L sem especificação de local
Corroborando aquele raciocínio destacamos a dissertação de Maio 1863 da RE, onde precedendo a mensagem de Delphine de Girardin, Kardec anota que a mensagem a seguir tinha sua origem nas criticas que haviam sido feitas à mensagem anterior assinada por Delphine e que não está publicada na RE. Após as considerações da autora destacando-se “não insistirei sobre a comunicação assinada por meu nome, pois a crítica não convém a meu médium nem a mim. Assim, crede que virei quando for evocada, mas que jamais me interporei nos incidentes fúteis.” No término da mensagem Kardec faz uma elegante defesa de Delphine lembrando a possibilidade de um espírito estranho se interpor ao pensamento do médium e que, portanto deve-se recusar uma mensagem que embora assinada, mas que pelo fundo das ideais desmentisse o caráter do Espírito cujo nome leva.
A sensatez de Kardec revela-se em toda sua obra, pois não se deixou refém de nomes ilustres sempre se pautando pela análise racional dos fatos usando uma conduta ética criticando quando sua razão não aceitava o fato e defendendo quando a análise evidenciava coerência.
CONCLUSÃO
No caso Girardin vemos o julgamento de Kardec não ser influenciado pela primeira impressão que o levaria a continuar analisando com juízo negativo o que viesse do Espírito em questão. Sabemos que Kardec tinha um critério rigoroso de análise dos escritos para publicá-los como se pode ver em dois artigos da RE (4,5). Assim foi a análise sensata e ética (o que caracteriza Bom Senso) das dissertações ditadas por Delphine que determinou suas publicações não só na Revista Espírita, mas também em O Livro dos Médiuns e Evangelho segundo O Espiritismo.
A desgraça real
Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)
Esclarece-nos a autora que há um entendimento errôneo do que seja desgraça, uma vez que, pelo nosso acanhado ponto de vista de seres encarnados, chamamos de desgraça tudo aquilo que nos gera dor e sofrimento tais como:
(…)miséria no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho… desgraça para os que só veem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas consequências de um fato, mais do que no próprio fato.
Alerta-nos que muitas vezes ocorrência que classificamos como felizes podem gerar consequências funestas e que outras que nos causam contrariedade acabam produzindo o bem. O ponto central da análise consiste em pensar nas consequências que serão provocadas pelo evento.
Destaca a autora que: “A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir”.
Joanna de Ângelis em Leis Morais da Vida (cap.45) nos ensina: “Desgraça real é sempre o mal que se faz nunca o que se recebe. Insucesso social, prejuízo econômico, fatalidade são terapêuticas energéticas da vida para a erradicação dos canceres morais existentes em metástase cruel nos tecidos do Espírito imortal”.
Delfine lembra-nos que “verdadeira infelicidade… surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo”.
Joanna de Ângelis em Autodescobrimento; uma busca interior (cap. 9) discorre sobre indiferença: “Vício mental profundamente arraigado nos derrotistas, a indiferença termina por matar os sentimentos, levando o paciente a patologias mais graves na sucessão do tempo… Inicia-se às vezes , numa acomodação mental em relação aos acontecimentos, como mecanismos de defesa, para poupar o trabalho ou a preocupação, caracterizado num conceito – Deixa pra lá”.
Em “Amor Imbatível Amor” (cap. 11) Joanna de Ângelis assim se expressa:
A meta do egoísta é o gozo pessoal, perturbador, insaciável, porque oculta a insegurança que se realiza através da posse, com o que pensa conquistar relevo e destacar-se do grupo, nunca imaginando a ocorrência terrível da solidão e do desprezo que passa a receber mesmo daqueles que o bajulam e o incensam (…). O egoísta é exemplo típico da autonegação, do descaso que tem pelo SI profundo, vitimando-se pelo alucinar das ansiedades insatisfeitas e pelo tormento de não conseguir ser amado.
Concluímos com André Luiz em Vivendo o Evangelho (vol 1-68):
(…) mas a infelicidade maior é o distanciamento da realidade espiritual e a indiferença perante o próximo, quando você imagina que é feliz e, no entanto, está apenas anestesiado pelo egoísmo.
A melancolia
François de Genève. (Bordeaux.)
Este item do capítulo 5 de O Evangelho Segundo o Espiritismo: Bem-Aventurado os aflitos tem sido considerado como uma abordagem da depressão, entretanto logo na primeira frase François de Genève coloca claramente que se trata de uma “vaga tristeza se apodera por vezes de vossos corações e vos faz sentir a vida amarga”.
“Por vezes” nos dá ideia de algo que não é permanente, mas transitório, portanto concluímos que se trata de estado de tristeza e não de depressão.
A tristeza é um sentimento normal no ser humano, tem causa e é transitória, não afeta a capacidade de trabalho da pessoa, já a depressão é um estado permanente, afeta a capacidade de trabalho e prejudica as relações sociais.
Na mensagem François de Genève aborda um tipo de tristeza que algumas vezes sentimos e que esta relacionada à expectativa da liberdade que se tem na vida espiritual e que aparentemente não teria causa definida por não ter algo que não envolve acontecimentos do nosso cotidiano como mágoa, perda de emprego, desencarne de pessoa querida e outras circunstâncias.
Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade”, orienta-nos o mensageiro por que é necessário que passemos pela vida material para que “durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou.
Para Joanna de Ângelis:
A reencarnação tem como objetivo a auto conquista, que propicia a realização intelecto-moral recomendada por Allan Kardec como indispensável à sabedoria, que sintetiza a aquisição do conhecimento com amor.
Essa tristeza que aspira a libertação do Espírito das rudes tarefas da vida material é de “curta duração” deve ser afrontada, pois sabemos que a vida material é finita e que quando passamos por ela cumprindo o que nos compete, nossos amigos “espirituais jubilosos por ver-vos de novo entre eles vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra”.
Fontes
ALLAN KARDEC: O Evangelho segundo o Espiritismo cap. V: Bem-Aventurado os aflitos: A Melancolia.
Divaldo Pereira Franco, pelo Espirito de Joanna de Ângelis. O ser consciente. Cap. 7 item A Conquista do Self.
Capítulo V – Bem-aventurados os aflitos
Provas voluntárias. O verdadeiro cilício: 26 – Um anjo guardião (Paris, 1863).
1
Antes de comentar a mensagem supracitada vamos recordar o significado de Anjo Guardião. Vamos encontra-la em “O Livro dos Espíritos” capítulo IX- Da intervenção dos espíritos no mundo corporal
490 – Que se deve entender por anjo de guarda ou anjo guardião?
“O Espírito protetor, pertencente a uma ordem elevada.”
491 – Qual a missão do Espírito protetor?
“A de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.”
Na questão 495 do mesmo livro encontramos uma belíssima mensagem de Santo Agostinho e São Luís sobre esses Espíritos que nos assistem nas nossas dificuldades, orientando-nos no melhor caminho a seguir, através de inspirações e/ou durante nosso sono físico.
Dizem que a doutrina dos Anjos Guardiões nos encanta por sua doçura, também nos alertam que:
Ah! se conhecêsseis bem esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus Espíritos! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo constrangido a vos observar: ‘Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!’ Oh! Interrogai os vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis vossas provas e mais felizes tornareis as vossas existências. Vamos, homens, coragem! De uma vez por todas, lançai para longe todos os preconceitos e ideias preconcebidas. Entrai na nova senda que diante dos passos se vos abre. Caminhai! Tendes guias, segui-los, que a meta não vos pode faltar, porquanto essa meta é o próprio Deus.
A mensagem deve ser lida na integra. No final, Kardec acrescenta uma nota explicativa muito interessante.
No próximo mês quando comentarmos a mensagem do Anjo Guardião perceberemos as orientações que nos dá quanto ao respeito perante nosso corpo.
Comentários sobre: O verdadeiro cilício – Um anjo guardião (Paris, 1863.)
Cilício: antiga veste ou faixa de crina ou de pano grosseiro e áspero usada sobre a pele por penitência. Cinto ou cordão eriçado de cerdas ou correntes de ferro, cheio de pontas, com que os penitentes cingem o corpo diretamente sobre a pele.
Cilício é uma túnica, cinto ou cordão de crina, que se traz sobre a pele para mortificação ou penitência. O termo vem do latim “cilicinus” que quer dizer feito de pelo de cabra, ou “cilicium”, tecido áspero ou grosseiro de pelo de cabra ou vestido de gente pobre.
Nessa mensagem o termo é usado no sentido de sofrimento, dor, desconforto tanto material como moral.
O anjo guardião inicia a dissertação clarificando que é lícito ao SER procurar abrandar seu sofrimento e quando isso não é possível recomenda a paciência e a resignação, pois isso demostra o mérito na prova e/ou resgate pelo qual se passa.
Procurar sofrimento voluntário seria útil quando “os sofrimentos e as privações objetivam o bem do próximo, porquanto é a caridade pelo sacrifício; não, quando os sofrimentos e as privações somente objetivam o bem daquele que a si mesmo as inflige, porque aí só há egoísmo por fanatismo.”.
Frente a essa colocação fica evidente que o martírio do próprio corpo nada tem de útil, pois nenhum benefício traz ao próximo.
Pesquisando o termo na internet encontramos perguntas sobre como utilizar o cilício (aqui entendido como instrumento de torturar-se) o que evidencia que ainda nos tempos atuais usa-se esse artefato.
Embora esse não seja o único modo de torturar-se ainda ouvimos relatos de pessoas que se impõem privações porque acreditam que agradam a Deus assim fazendo.
O sofrimento advindo do trabalho ao próximo tem mérito, pois não é egoísta e não busca benefício próprio para aquele que o pratica.
No livro “Obreiros da vida eterna”, encontramos o exemplo de Dimas que, próximo de sua desencarnação é assistido por bons espíritos, equipe da qual participa André Luiz, cujo conteúdo transcrevemos:
André perguntou a Jerônimo se Dimas havia vivido toda a cota de tempo planejada para a sua encarnação. À resposta negativa de Jerônimo, André perguntou se Dimas poderia ser considerado assim como ele o fora um suicida lento.
Dimas havia sim abreviado sua vida, porém por motivo de ter-se empenhado em auxiliar o próximo, além de ter tido uma infância e juventude bastante sacrificadas, com escassa alimentação e trabalho duro.
Cercado de exigências sentimentais daqueles doentes do corpo e da alma, que o procuravam, subalimentado, mal dormido, teve as reiteradas congestões hepáticas convertidas na cirrose que o estava levando à morte. Há existências que perdem pela extensão ganhando pela intensidade. Enquanto os homens analisam pelos efeitos, a visão divina observa minuciosamente.
Conclui o mensageiro:
Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas, e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito, e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus”.
Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?
Bernardino, Espírito protetor. (Bordeaux, 1863.)
27. Deve alguém pôr termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?
A pergunta feita é respondida por Bernardino, Espírito protetor que em linguagem própria da época, expressam conceitos que só surgiram no século XX.
Iniciando a resposta lembra que estamos em um mundo de expiações e provas, essas visam nosso progresso moral e intelectual e que a dor e o sofrimento fazem parte desse processo. Lembra que, naquela época, havia duas correntes; uma defendia que a vida no sofrimento não tinha sentido e a outra que deveria deixar o processo da doença evoluir até a morte. Considera que nem uma nem outra estão certas, pois interromper a vida não é conduta aceitável e deixar a pessoa entregue ao sofrimento é faltar com a caridade, preconiza auxilio no alívio do sofrimento.
Comparemos a explicação de Bernardino com os conceitos atuais
“Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso”. Outros há, mesmo, que vão até o ponto de julgar que, não só nada devem fazer para atenuá-las, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. “Grande erro”.
EUTANÁSIA é o ato intencional de proporcionar a alguém uma morte indolor para aliviar o sofrimento causado por uma doença incurável ou dolorosa. Entretanto, em geral, a eutanásia é proibida por lei na maioria dos países, entretanto é legalizada na Holanda, Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Alemanha, Colômbia, Canadá e em alguns estados dos Estados Unidos da América.
DISTANÁSIA é a prática pela qual se prolonga, através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um enfermo incurável. Também pode ser conhecida como “obstinação terapêutica”. Distanásia é considerada uma má prática da medicina.
ORTOTANÁSIA, postura recomendada por Bernardino, é uma boa prática, sendo a sua realização recomendada durante os cuidados de pessoas com doenças incuráveis e terminais. Ortotanásia é o termo utilizado pelos médicos para definir a morte natural, sem interferência da ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e ao percurso da doença. A Ortotanásia é praticada por meio dos cuidados paliativos, abordagem que procura manter a qualidade de vida do paciente, e da sua família, em casos de doenças graves e incuráveis, ajudando no controle de sintomas físicos, psicológicos, sociais e espirituais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002,
Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
Concluímos com a assertiva de Bernardino:
Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade.
Sacrifício da própria vida – itens 29 e 30
Nesses dois itens, Allan Kardec usa uma formula que é exceção em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: faz duas perguntas que são respondidas por São Luiz, que, como sabemos, é o guia espiritual da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
O tema em questão é o suicídio intencional. Embora não praticado pelo próprio homem, o mesmo busca meios para que sua morte ocorra, como por exemplo, indo voluntariamente para o campo de batalha e expondo-se a grandes perigos.
Diz São Luiz:
Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência.
Conclui ao item 29 com a seguinte assertiva:
O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se for necessário; mas buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação.
No item 30 Kardec pergunta se o homem busca salvar alguém, mesmo com sacrifício da própria vida pode-se considerar como suicídio, São Luiz responde que tudo está na intenção, pois se o propósito é o bem pode ocorrer que o perigo eminente não se conclua e então o homem sai ileso dessa ação. Argumenta que o caracteriza o ato é se é feito com devotamento e abnegação ou com intenção suicida.
André Luiz, no livro “Vivendo o Evangelho” assim nos explica abordando aspectos atuais do suicídio mesmo que indireto:
CAMPO DE BATALHA
A vida é campo de batalha, onde muitos combatentes agem com intenções suicidas.
Estrada em reparo.
Sinalização abundante.
Motorista irresponsável.
*
Avenida movimentada.
Travessia perigosa.
Pedestre imprudente.
*
Conserto nas alturas.
Medidas de segurança.
Profissional relapso.
*
Enfermidade grave.
Tratamento indicado.
Paciente rebelde.
*
Mesa bem servida.
Cardápio variado.
Comensal glutão.
*
Festa entre amigos.
Balcão de bebidas.
Convidado sem limite.
*
Ambiente de ameaça.
Perigo de conflito.
Alguém provocador.
*
Convivência social.
Apelos de toda espécie.
Exageros e dependência.
*
Não há dúvida de que a experiência no corpo físico é luta constante, mas não use este campo de batalha para agredir a própria vida.
JESUS
Ao término do capítulo “Bem aventurados os aflitos”, Kardec insere o “Cristo Consolador” a nos indicar que Jesus é o caminho que nos livrará das aflições.
Há pessoas que contestam a existência de Jesus, entretanto há indicações de fontes históricas que evidenciam sua presença entre nós.
No livro “Antiguidades Judícas (90 D.C.)” Josephus anotou:
Tiago, o irmão de Jesus, aquele chamado Cristo”; Públio Caio Cornélio Tácito (55-120 d.C.) escreveu: “o fundador desta seita (o cristianismo), Cristo, fora executado durante o reinado de Tibério pelo governador da Judéia, Pôncio Pilatos
O Livro Dos Espíritos
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Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? R: “Jesus.”
No livro Obras Póstumas Kardec aborda a Natureza de Jesus.
Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava.
Jesus consagra o princípio da diferença hierárquica que existe entre o Pai e o Filho, se Jesus, ao morrer, entrega sua alma às mãos de Deus, é que ele tinha uma alma distinta de Deus, submissa a Deus. Logo, ele não era Deus.
Tudo, pois, nas palavras de Jesus, quer as que ele disse em vida, quer as de depois de sua morte, acusa uma dualidade de entidades perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento da sua inferioridade e da sua subordinação em face do Ente Supremo.
Conviveu entre gente simples estabelecendo as bases da edificação fraterna para os espíritos.
Em “Primícias do reino” – Divaldo Franco, pelo espírito Amélia Rodrigues, nos brinda com esse texto:
A mais comovente história que já se escreveu.
O maior amor que o mundo conheceu.
O exemplo mais fecundo que jamais existiu.
A vida de Jesus é o permanente apelo à mansidão, à dignidade, ao amor, à verdade.
Amá-Lo é começar a vivê-Lo.
Conhecê-Lo é plasmá-Lo na mente e no coração.
A vida que comporta a história da nossa vida — eis a Vida de Jesus!
A perene alegria, a boa mensagem de júbilo — eis o Evangelho!
O CRISTO CONSOLADOR
CAPÍTULO VI
O capítulo é composto dos seguintes itens: “O jugo leve”; “Consolador prometido” – “Instruções dos Espíritos: Advento do Espírito de Verdade”.
Consolador ou Paracleto, segundo a definição do dicionário quer dizer: alguém chamado ou enviado para prestar auxílio, consolar, confortar, alguém que exorta e consola. Assim, faz-se necessário entender Jesus como sendo alguém que veio para nos ajudar, consolar, exortar e não fazer por nós, como a maioria ainda entende que ele veio redimir nossos pecados, o que não é o entendimento Espírita.
Kardec inicia esse capítulo com o relato de Matheus:
Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. (S. MATEUS, cap. XI, vv. 28 a 30.)
Emmanuel1 2 3 discorrendo sobre esse versículo em três obras suas nos traz uma pergunta instigante: “Consegues ir?” e lembra:
[…] os laços da conveniência imediatista são demasiado fortes; além, assinalase o convite divino, entre promessas de renovação para a jornada redentora, todavia, o cárcere do desânimo isola o espírito, através de grades resistentes; acolá, o chamamento do Alto ameniza as penas da alma desiludida, mas é quase impraticável a libertação dos impedimentos constituídos por pessoas e coisas, situações e interesses individuais, aparentemente inadiáveis.
A colocação de Jesus é clara e evocativa – VINDE – entretanto, nem todos os aflitos tem o ânimo necessário para caminhar em direção a ELE e a falta do ânimo dos que escutam seu chamado e passam a emitir rogativas estranhas e caprichosas esquecendo-se que a jornada em direção a ele inicia-se por “ouvi-lo, no silêncio do santuário interior, concitando espírito a desprezar as disputas reprováveis do campo inferior.” Emmanuel2 pergunta:
Onde estão os aflitos da Terra que pretendem trocar o cativeiro das próprias paixões pelo jugo suave de Jesus Cristo?
Ninguém como Cristo espalhou na Terra tanta alegria e fortaleza de ânimo. Não amaldiçoou os tristes: convocou-os à consolação3.
Muitos dos seguidores de Jesus choraram na hora da tristeza: Maria de Nazaré chorou no Calvário, Pedro lastimou depois de negar o Cristo, Paulo pranteou as portas de Damasco, entretanto,
nenhum deles derramou lágrimas sem esperança. Prantearam e seguiram o caminho do Senhor, sofreram e anunciaram a Boa Nova da Redenção…3
Fonte:
1) XAVIER,F.C. pelo espírito de Emmanuel. Onde estão? In: Pão Nosso, capítulo 130
2) XAVIER,F.C. pelo espírito de Emmanuel. Consegues ir? In: Fonte Viva. Capítulo 5
3) XAVIER,F.C. pelo espírito de Emmanuel. Lágrimas. In: Caminho, verdade e vida. capítulo 172.
Consolação
Ensina-nos Kardec em o livro dos espíritos no complemento da questão 933 que: “no estado de civilização, o homem raciocina sua infelicidade e a analisa e, por isso, é por ela mais afetado. Mas pode, também raciocinar e analisar os meios de consolação. Essa consolação, ele a possui no sentimento cristão que lhe dá a esperança de um futuro melhor, e no espiritismo que lhe dá a certeza do futuro.”
No livro do velho testamento salmos, provavelmente escritos entre os anos 1000 e 500 a.c., encontramos “o senhor é refúgio para os oprimidos, uma torre segura na hora da adversidade” (9:9).
Matheus (11:28) registra as palavras de jesus” vinde a mim os que estais cansados e oprimidos e eu os aliviarei”
Muitos de nós pensam que esse alívio consiste na cessação da adversidade, entretanto a dor é nossa grande mestra, então não se trata de removê-la, mas sim de como nos relacionamos com ela apoiando-nos na fé e na esperança, compreendendo a transitoriedade desse sofrimento e procurando analisa-lo para entender qual lição precisamos aprender com ele.
Emmanuel, no livro caminho, verdade e vida, lição 172 denominada lágrimas assevera que jesus não amaldiçoou os tristes, mas convocou-os á consolação.
Contou-nos certa amiga, que ainda jovem em companhia da mãe foi a um velório do marido de uma amiga da família e embora quisesse consolá-la não sabia o que fazer, então sentou-se próximo dela e segurou-lhe a mão por um período até a mesma abraça-la e levantar-se para receber outros amigos que chegavam ao velório. Para minha amiga ela não teria alcançado seu objetivo de transmitir consolo á senhora. Anos mais tarde já adulta encontrou-se com a viúva que depois de longo abraço segredou-lhe que enquanto segurou suas mãos ela havia se fortalecido para enfrentar a adversidade daquele momento.
Prevaleceu o sentimento que, sem uso de palavras, transmitiu o que era necessário para aquele momento de grande tristeza.
Quando Kardec intitula o capítulo 6 de o evangelho segundo o espiritismo de o cristo consolador é para nos indicar que é nele que encontraremos os consolos de nossas aflições, pois suas lições inolvidáveis nos remetem a transitoriedade da vida material, a imortalidade da alma e nossa filiação de um pai misericordioso e bom que traçou para nós toda uma trajetória de progresso dando-nos a possibilidade de reencarnações múltiplas para o alcance desse objetivo.
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O consolador prometido
Inicia Kardec esse item 3 do capítulo VI com a passagem do evangelho de João no capítulo 14: 15, 16, 17 e 26.
Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu pai e ele vos enviará outro consolador, a fim de que fique eternamente convosco: – o espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. – Porém, o consolador, que é o santo Espírito, que meu pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.
Nessas palavras anotadas por João, Jesus estipula que aquele que o ama guarda seus mandamentos e assim tornar-se-á possível sua solicitação à Deus para a vinda do consolador prometido.
Longa foi a caminhada da humanidade para que o consolador pudesse vir. Isso porque se fazia necessário o desenvolvimento intelecto moral das criaturas, pois que tudo que Jesus havia dito por parábolas e alegorias metafóricas pudesse ser entendido.
Afirma ainda que tudo que não havia sido dito a seu tempo, além do que muito dos ensinamentos do Mestre foram esquecidos ou desvirtuados. Ao tempo previsto, uma plêiade de espíritos luminares veio, para através de diferentes médiuns, em diferentes locais revelarem o que até então era conhecido como milagre.
Ao tempo de Jesus a humanidade não teria condição de entender os aspectos profundos da mediunidade, da reencarnação, do períspirito, do fluido cósmico universal dentre outros clarificados pela doutrina espírita.
O consolador esclarecendo nossa destinação à perfeição relativa que só pode ser alcançada pela reencarnação, através da qual vamos corrigindo erros anteriores e fazendo novos aprendizados para podermos entender a justiça das aflições.
Kardec assim termina esse item:
Assim, o espiritismo realiza o que jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de deus e consola pela fé e pela esperança.
André Luiz em “Vivendo o Evangelho” volume 1 nos diz na lição “Jesus e Kardec”,
São inúmeras as identificações entre o cristianismo e o espiritismo
Jesus ensina boa nova. Kardec vincula a doutrina espírita ao evangelho.
Jesus anuncia o reino de deus. Kardec descortina o mundo espiritual.
Jesus proclama a imortalidade. Kardec comprova a sobrevivência do espírito.
Jesus opera milagres. Kardec explica a mediunidade.
Jesus cura possessos. Kardec estuda a obsessão.
Jesus rejeita a falsa virtude. Kardec convida ao aprimoramento íntimo.
Jesus combate o formalismo farisaico. Kardec abole o ritualismo exercício da crença.
Jesus condena o fanatismo. Kardec define a fé raciocinada.
Jesus diz que é preciso nascer de novo. Kardec expõe a reencarnação.
Jesus afirma que há muitas moradas na casa do pai. Kardec refere-se à pluralidade dos mundos habitados.
Jesus condiciona a salvação à prática do amor ao próximo. Kardec assevera que fora da caridade não há salvação.
Revivendo os ensinamentos do Cristo, o espiritismo é na verdade o cristianismo restaurado em sua pureza primitiva, livre das interpretações teológicas.
Jesus pelo amor, traz Deus ao homem. Kardec pela razão, leva o homem a Deus.
Advento do espírito da verdade (instrução dos espíritos)
A mensagem inserida no capítulo vi de o evangelho segundo o espiritismo item 5 assinada por “espírito de verdade” foi anteriormente colocada por Kardec, em o livro dos médiuns, segunda parte, capítulo XXI item IX e então, em nota explicativa, Kardec evidenciando cautela apontando que a mensagem vinha assinada por Jesus de Nazaré e havia sido psicografada por um dos melhores médiuns da “sociedade espírita de paris”, alertando que na mensagem: “não constatamos senão uma coisa que é a superioridade incontestável da linguagem dos pensamentos…”
Inicia-se a mensagem: “venho, como antigamente entre os filhos de Israel, trazer a verdade dissipar as trevas”. Essa colocação inicial remete-nos para a compreensão que era Jesus que estava falando de sua passagem como encarnado pela terra.
Então por que Kardec mudou a assinatura?
Hermínio C. De Miranda no capítulo 4: “Quem é o espírito verdade, guia de Kardec?” No seu livro “As mil faces da realidade espiritual”, apresenta o histórico desse relacionamento iniciado em 1856, em casa da família Boudin, quando Kardec lhe pergunta o nome, e a resposta segue:
[…] para ti, chamar-me ei a verdade…e todos os meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição”. Em outra ocasião Kardec pergunta à entidade se ele fora na terra alguma personagem conhecida; a resposta é firme e severa: “já te disse que, para ti, sou a verdade; isto, para ti quer dizer discrição; nada mais saberás a respeito.
O mesmo autor supõe que em algum momento Kardec tomou conhecimento de que o Espírito da Verdade era realmente Jesus, mas obediente às orientações anteriormente recebidas, mantem o anonimato, porque, àquela época, seria um grande escândalo o que criaria polêmicas desnecessárias a propagação da doutrina nascente.
Na nota explicativa de “O Livro dos Médiuns”, Kardec traz a questão das comunicações de espíritos puros que, se não impossíveis, são raras. Hoje, graças as elucidações de obras subsidiárias da doutrina, sabemos que Jesus, na condição de espírito puro, é governador do nosso planeta. Já estivera entre nós na condição de encarnado para implantar a lei de amor que ao longo dos séculos foi desvirtuada, portanto não há de causar admiração que ele tenha assumido a direção do advento da doutrina espírita que tem por missão esclarecer o que ao tempo de sua passagem pela terra não tenha sido compreendida.
Lacordaire (París, 1862) ditou uma dissertação sobre os espíritos puros que Kardec inseriu na Revista Espírita (fevereiro de 1868) na qual afirma:
[…] perto de Deus estão numerosos espíritos chegados ao topo da escada dos espíritos puros, que merecem entre eles seus enviados superiores encarregados de missões especiais. Podeis chamá-los de cristos: é a mesma escola, são as mesmas ideias modificadas segundos tempos.
Emmanuel no livro “A caminho da Luz”, nos dá notícia de um conselho de espíritos crísticos que governam o nosso sistema solar e dentre eles encontra-se Jesus.
Portanto, é perfeitamente compreensível que o Espírito de Verdade seja o Cristo, conhecido por nós como Jesus.
Fontes:
EMMANUEL. A caminho da luz, capítulo 1.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns
KARDEC, Allan. Obras Póstumas.
KARDEC, Allan. Os messias do espiritismo. In: Revista espírita, item 4, fev. 1868.
MIRANDA, H.C. Mil faces da realidade espiritual
O Cristo consolador
Capítulo VI
O último tópico desse capítulo é uma mensagem assinada pelo ESPÍRITO VERDADE em Havre 1863 sendo uma exortação á abnegação e ao devotamento, virtudes essas presentes a todos os realmente humildes de coração e não na aparência. Interessante apontar que que o próximo capítulo vai tratar justamente do tópico “pobres de espíritos” entendido como aqueles que são realmente humildes. Erroneamente têm-se entendido que humilde são pessoas com pouco ou nenhum recurso amoedado, mas isso é um engano, pois há ricos humildes e pobres orgulhosos. Humildade é virtude do Espírito e não a posição social que hoje ocupa o indivíduo.
A palavra abnegação é usada para indicar a ação de abnegar, ou seja, desistir de alguma coisa.
Envolve vários comportamentos como: desprendimento, desambição, generosidade, modéstia e renúncia. No Espiritismo, a abnegação está relacionada à prática do bem acima do nosso próprio bem é ser altruísta. Não “significa, no entanto, que ser abnegado é abdicar-se do pensamento crítico e julgamento para suprir uma necessidade de outra pessoa ou instituição.” Agir com abnegação não significa sermos ingênuos pois demanda não perder nossa avaliação do momento, consideramos que muitos daqueles que necessitam de nossa ajuda podem estar vivenciando dificuldades as quais já fomos capazes de superar. Coloca a prática do bem em primeiro lugar, buscando seu burilamento espiritual. Nesse tópico de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIITISMO encontramos as seguintes afirmativas do ESPÍRITO VERDADE:
A abnegação e o devotamento são uma prece contínua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras.
Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem
Em o LIVRO DOS ESPÍRITOS na questão 912 Kardec pergunta:
Qual o meio mais eficiente de combater-se o predomínio da natureza corpórea? Resposta: “Praticar a abnegação.”
Na CASA ESPÍRITA têm-se muita oportunidade de exercitar a abnegação, exemplo disto: trabalho voluntário, compartilhar conhecimentos, contribuir com doações, estar disponível aos companheiros frequentadores, calar suas convicções políticas dentro da casa espírita respeitando a convicções dos outros, e sobretudo procurar sua reforma íntima como preconiza Santo Agostinho na questão 919ª de O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Concluímos com palavras de Emmanuel em “Pensamento e vida”:
A abnegação, que é sacrifício pela felicidade alheia, sublima o espírito. (…) Pela fidelidade ao desempenho das suas obrigações, o homem melhora a si mesmo, e, pela abnegação, o anjo aproxima-se do homem melhorado, aprimorando a vida e o mundo.
Fontes:
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Dicionário de sinônimos online: palavra abnegação, disponível em: encurtador.com.br/dAS57
Abnegação no Espiritismo, disponível em: https://conteudoespirita.com/abnegacao-no-espiritismo/
Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus. (Mateus, cap. V, v. 3.)
O que se deve entender por pobres de espírito?
Algumas traduções do texto de Mateus usam a palavra baldos em lugar de pobres; essa palavra (baldo) significa inúteis, dispensáveis, desnecessários, escusados, prescindíveis, supérfluos.
Como muito bem diz Kardec no início do capítulo: “Por pobres de espírito Jesus não entende os baldos de inteligência, mas os humildes, tanto que diz ser para estes o reino dos céus e não para os orgulhosos.”
Jesus- nosso Guia e Modelo- jamais assim nós qualificaria, que somos as ovelhas de seu redil, como sendo inúteis ou dispensáveis, pois tem a plena convicção de nossa destinação à perfeição relativa.
Lembra Kardec que atribuir esse significado ás palavras de Jesus é próprio dos presunçosos e orgulhosos que não podem admitir a existência de um SER que lhes seja superior, pois assim estariam colocados abaixo deste Ser e eles, os presunçosos, jamais admitiriam ocupar essa posição.
Joanna de Ângelis no livro Florações Evangélicas aponta que a presunção é: “Alma gêmea do orgulho, é filha especial do egoísmo, inimigo sórdido de toda construção moral do homem, comprazendo-se em desequilibrar e malsinar”. A benfeitora explica que a presunção produz tristeza, é de mau agouro; infausta, sombria, bem como torna a pessoa colérica e é um dos principais inimigos da evolução humana.
Emmanuel no livro “O Consolador” respondendo a questão 313 –Como entender a bem-aventurança conferida por Jesus aos “pobres de espírito?” faz uma importante explicação:
-O ensinamento do Divino Mestre, referia-se às almas simples e singelas, despidas do “espírito de ambição e de egoísmo” que costumam triunfar nas lutas do mundo. Não costumais até hoje denominar os vitoriosos do século, nas questões puramente materiais, de “homens de espírito?” É por essa razão que, em se dirigindo à massa popular, aludia o Senhor aos corações despretensiosos e humildes; aptos a lhes seguirem o ensinamento; sem determinadas preocupações rasteiras da existência material.
A assertiva ora comentada reporta-se a humildes de espírito, isto é, àqueles cujos corações estejam escoimados do orgulho sob suas múltiplas modalidades. (VINÍCIUS, IN; NA SEARA DO MESTRE, Bem-aventurados os humildes de espírito)
Concluindo o item Kardec destaca: “Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que dele afastam a criatura, e isso por uma razão muito natural: a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre em espírito, conforme o entende o mundo, e rico em qualidades morais.”
No livro “Autodescobrimento: uma busca interior” no capítulo 11 –Os sentimentos: amigos ou adversários” a benfeitora Joanna de Ângelis assim se expressa: “Quando se é humilde, logra-se a pureza com desprezo do puritanismo; vive-se a sinceridade, sem a preocupação de agradar, confia-se no sucesso das realizações, mas não lhe impõem as propostas. Tudo transcorre em uma Psicosfera de harmonia e naturalidade”
Aquele que se eleva será rebaixado
Por essa ocasião, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram:
Quem é o maior no reino dos céus?” – Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: “Digo-vos, em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus. – Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus – e aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe. (S. MATEUS, cap. XVIII, vv. 1 a 5.)
Como muito comum no Evangelho, esse texto apresenta uma importante alegoria que é preciso considerar, como Paulo: “a letra mata mas o Espírito vivifica” (2 Coríntios 3:6).
Sabemos pelos ensinamentos da Doutrina Espírita que o Espírito traz, ao reencarnar, um determinado grau de desenvolvimento moral e que muitos deles carregam consigo tendências e gostos que evidenciam pouco desenvolvimento ético- moral. Então nem todas as crianças trazem pureza no coração.
No texto de Matheus a assertiva: “converterdes e tornardes quais crianças encaminha nosso raciocínio que Jesus falava do período da infância e não da criança propriamente dita.
O que os luminares da codificação nos ensinaram, em “O Livro dos Espíritos”, à respeito da infância?
Indo de um mundo para outro, o Espírito passa por nova infância?
“Em toda parte a infância é uma transição necessária, mas não é, em toda parte, tão obtusa como no vosso mundo.”
- Qual, para este, a utilidade de passar pelo estado de infância?
“Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”
Jesus, portanto, ensina a respeito de tornar-se acessível a conquista de novos valores morais dentre outros a humildade corretamente entendida.
Joanna de Ângelis nos ajuda a compreender o real significado de humildade em dois livros da série psicológica.
“O Ser consciente” capítulo 5:
A humildade é uma conquista da consciência que se expressa em forma de alegria, de plenitude. Quando se manifesta com sofrimento, desprezo por si mesmo, violenta desconsideração pela própria vida, exibe o lado oculto da vaidade, da violência reprimida e chama a atenção para aquilo que, legitimamente, deve passar despercebido.
“Autodescobrimento – uma busca interior” capítulo 11:
…a humildade é cativante, sem aparência. Sente-se lhe o perfume primeiro, para poder-se vê-la depois, qual ocorre com as delicadas violetas…Quando se é humilde, logra-se a pureza com desprezo pelo puritanismo, vive-se a sinceridade, sem a preocupação de agradar; confia-se no sucesso das realizações, mas não se lhe impõem as propostas. Tudo transcorre em uma Psicosfera de harmonia e naturalidade.
CAPÍTULO VII BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
Mistérios ocultos aos doutos e aos prudentes
7. Disse, então, Jesus estas palavras:
Graças te rendo, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e pôr as teres revelado aos simples e aos pequenos. (S. MATEUS, cap. XI, v. 25.)
A primeira impressão que se tem ao ler esse versículo do evangelho de Matheus é que Deus dá atenção a alguns e ignora outros; entretanto sabemos que essa conduta jamais viria de Nosso Pai que é soberanamente justo e bom.
Kardec ao analisar o texto, com muita propriedade, afirma:O orgulho é a catarata que lhes tolda a visão.
O que Deus distribui, distribui a todos, mas nem todos recebem da mesma forma. Aponta ainda o codificador:
A esses não quer Deus abrir à força os olhos, dado que lhes apraz tê-los fechados.
Entendamos que Deus não fere nosso livre arbítrio e com sua misericórdia infinita nos proporciona tempo e experiências pedagógicas que precisamos para abrir os olhos.
André Luiz (1) assevera:Embora a incredulidade seja companheira da arrogância, há muitos orgulhosos que se arvoram em detentores da revelação divina.
Esses se caracterizam por imporem barganhas, são adeptos do fanatismo, não aceitam a opinião alheia, ironizam quem tem crenças diferentes da sua, creem que merecem privilégios, são prepotentes, sentem-se superiores aos outros e são intolerantes.
Conclui o autor supra:Fé com orgulho resulta em combinação desastrosa, porque os orgulhosos que acreditam em Deus, imaginam que Deus só acredita neles.
Ser arrogante significa ser altivo, prepotente, ter a convicção que é expert em vários assuntos e, por isso, não tem interesse em ouvir outras opiniões. De modo geral, uma pessoa arrogante é considerada orgulhosa, soberba, presunçosa e extremamente vaidosa.
O que se esconde por trás destas atitudes é uma profunda solidão e incapacidade para se relacionar adequadamente com os outros, além de uma forma de esconder as próprias inseguranças e não admitir que não tem as capacidades adequadas para o papel que desempenha.Joanna de Ângelis, em seu livro “Jesus e o evangelho à luz da psicologia profunda”, no capítulo 35 afirma:
Orgulho, filho dileto do egoísmo, é síndrome de fraqueza moral, que necessita ser combatido com a renovação emocional e autodescobrimento, mediante os quais o enriquecimento de valores se dá naturalmente e se consegue força para vencer o patamar inferior onde se encontra.
FONTES
1) BADUY FILHO, A. pelo espírito André Luiz, Fé e orgulho. In: VIVENDO O EVANGELHO (VOLUME 1) IDE, ARARAS p.173.
2) https://www.significados.com.br/arrogante/
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que tinha o que tanto procurava.
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Meu muito obrigado!!!
Olá, Marcos. Ficamos felizes por ter gostado de nosso artigo. Volte sempre!