O BURRO DE CARGA

Pelo espírito: Neio Lúcio
Psicografia de: Francisco Cândido Xavier
Obra: Ideias e ilustrações – Editora: FEB

No tempo em que não havia automóveis, na cachoeira de famoso palácio real, um burro de carga curtia imensa amargura, suportando as brincadeiras e o desprezo dos seus companheiros.

Reparando em seu pelo maltratado, nas grandes cicatrizes que lhe cobriam o corpo e no seu jeito triste e humilde, aproximou-se um lindo cavalo árabe, ganhador de vários prêmios.

Junto com ele estava um potro inglês, vindo de uma família de campeões, orgulhosos conversavam:

_ Veja em que estado está o burro! Que triste o seu destino! Você não tem inveja da minha posição? Sou aplaudido nas corridas, sou elogiado pelas palavras dos reis e acariciado pelas mãos das princesas.

_ Imagine se um pobre burro consegue entender o que é o brilho das corridas e a emoção da caçada!

O pobre animal recebia todas as críticas e ironias com o seu jeito triste e resignado.

Outro cavalo, também de procedência nobre, adquirido de um famoso criador húngaro, entrou na cocheira e começou a comentar:

_ Esse burro é um covarde! Sofreu as maiores brutalidades nas mãos de amansador e não deu um coice! Nasceu somente para levar cargas e pancadas. É vergonhoso e humilhante ter que suportar sua presença…

Um jumento espanhol, orgulhoso de sua origem, chegando perto do infeliz burro de carga, falou sem piedade:

_ Eu tenho vergonha de reconhecer esse burro como meu parente próximo! Ele é um fraco, um inútil, um animal sem nenhum orgulho!

_ Ele não tem amor-próprio! Vejam só o meu caso: eu só aceito deveres dentro de um limite. Se alguém quer abusar, eu dou um coice e sou até capaz de matar.

E, assim, sempre com observações de desprezo pelo burro continuava a conversa na cocheira.

Foi quando, muito admirados, os orgulhosos animais viram entrar na cocheira o Rei e o chefe da cavalariça.

Ouviram quando conversavam:

_ Preciso de um animal para uma tarefa de grande responsabilidade. Quero que ele seja dócil e educado, que mereça minha absoluta confiança.

_ Majestade, temos animais da mais pura linhagem. O que Vossa Alteza acha desse cavalo árabe?

_ Não, não! Ele é muito altivo e só serve mesmo para corridas em festas sem importância.

_ Não quer o potro inglês?

_ De jeito nenhum. Ele é muito irrequieto, não sabe fazer nada além de caçar.

_ Majestade, veja que beleza esse cavalo húngaro! Quem sabe ele lhe agrada.

_ Não, não. Ele é muito bravo e sem educação. É bom apenas para ser pastor de rebanhos.

_ Quem sabe um jumento serve para a tarefa?

O Rei já meio desanimado:

_  De maneira alguma. Esse jumento é manhosos, não sabe obedecer e não merece confiança.

O Rei parou pensativo, ficou alguns instantes meditando qual animal poderia fazer a importante tarefa que ele desejava.

_ Onde está o meu burro de carga?

_ Está ali, Majestade.

O próprio Rei foi buscá-lo e, puxando-o carinhosamente para fora do estábulo, mandou que o enfeitassem com as cores e s símbolos da Casa Real e confiou-lhe seu filho ainda criança para uma longa viagem.

Assim acontece na vida. Temos sempre muitos amigos, conhecidos, companheiros, mas somente nos prestam serviços úteis aqueles que já aprenderam a ajudar sem pensar em si mesmos e sem desejar recompensas.

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