O LIVRO DOS MÉDIUNS
Estudo doutrinário de: Nilza Teresa Rotter Pelá (Veja outros estudos da mesma autora sobre O Evangelho e A Gênese)
Autor: Allan Kardec Editora: FEB Data da 1ª edição: 1861 |
Notas históricas
Em matéria intitulada “O livro dos Médiuns” da Revista Espírita (Revue Spirite) de janeiro de 1861 Kardec noticia: “Há muito tempo anunciada, mas com a publicação retardada por força de sua própria importância, esta obra aparecerá de 5 a 10 de janeiro, pelos Srs Didier & Cie, livreiros editores Quai des Augustins 35“, em nota de rodapé informa que a obra também poderá ser encontrada nos escritórios da revista e que o preço do volume é de 3 francos e pelo correio 4 francos. Esclarece ainda que o livro nascia fruto de longa experiência e estudos laboriosos, o que sempre foi a marca de Kardec. Destaca que “a seção concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi de nossa parte objeto de particular atenção”.
O ano de 1861 foi marcado por várias manifestações de intolerância contra a nascente Doutrina Espírita, é neste ano que ocorre o “auto de fé de Barcelona”, e com a publicação de “O livro dos Médiuns a “Biblioteca Católica” passa a acusar o Espiritismo pela criminalidade e pelos suicídios, mas é também um ano muito fecundo na divulgação da doutrina, sobretudo pela viagens de Kardec destacando as visitas as cidades de Sens, Mâcon, Lião e Bordéus.
Precedendo a publicação de “O livro dos Médiuns” Kardec edita, em 1858, um trabalho precursor intitulado “Instruções práticas sobre manifestações espíritas”. Em a Revista Espírita de agosto de 1860 há uma nota assinada por Kardec referente a essa obra com a informação: “Essa obra está completamente esgotada e não será reimpressa. Será substituída pelo novo trabalho, ora no prelo, que sairá muito mais complexo”.Passado 63 anos após este fato, no ano de 1923 Jean Meyer à frente da “Casa dos Espíritas” edita a considerada 2a edição do livro. Caibar Schutel lendo o trabalho, solicita e recebe de Jean Meyer a autorização para traduzi-lo para o português e editá-lo, assim quase ao mesmo tempo em que o livro “Instruções práticas” é vendido em Paris também o é no Brasil. Este livro precursor contém “Vocabulário Espírita” redigido pelo próprio Kardec. Presentemente este livro é editado pela Casa Editora O Clarim com nova tradução de Wallace Leal V. Rodrigues trabalho que segundo ele realizou “com o simples e único cuidado de alterar-lhe a ortografia e burilhar-lhe o texto”.
Publicada a 1a edição de “O livro dos Médiuns” com tiragem que não conseguimos localizar, mas com 500 páginas com formato de 18cm, esta rapidamente se esgota tanto que no mesmo ano de 1861, no número de novembro da Revista Espírita, à página 378 anuncia Kardec a segunda edição de “O Livro dos Médiuns”. Com júbilo relata aos leitores que o livro em muito ajudou a prevenir mistificações dando um melhor direcionamento às práticas mediúnicas.
Incansável na melhoria de seu trabalho na matéria supra citada Kardec anuncia a ampliação feita para essa 2a edição: “… encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo, recebeu desenvolvimentos muitos notáveis , frutos da experiência. No capítulo das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores, que se apresentam com falsos nomes. Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles tanto quanto nossa. Recomendamos com instância esta nova edição, com guia mais completo quer para os médiuns, quer para os simples observadores, E podemos afirmar que, seguindo-a pontualmente, evitar-se-ão os escolhos tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem.”
Entre nós os brasileiros as traduções de “O livro dos Médiuns” são feitas a partir da supra citada segunda edição, no frontispício da qual Kardec destaca que a obra é continuação de “O livro dos Espíritos”; trata-se do desdobramento do contido no livro segundo de “O livro dos Espíritos”: Mundo espírita ou dos espíritos.
Mediunidade
O dicionário¹ conceitua médium como sendo o “intermediário entre os vivos e a alma dos mortos”. Este conceito atende somente o aspecto biológico de vida, o qual não se adapta a visão espírita de vida que entende que quem morre é apenas o corpo físico e que o Espírito desencarnado continuará a sua trajetória evolutiva no plano espiritual, mantendo a sua individualidade.
No capítulo 14 de “O livro dos Médiuns”² Kardec trás o conceito de médium: “Qualquer pessoa que sente a influência dos Espíritos em qualquer grau de intensidade é médium. Esta faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e raros são as pessoas que não a possuem, pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem característica que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva. Deve-se notar ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os médiuns tem geralmente aptidões especiais por essa ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações.”
Herculano Pires³ diz que mediunidade é sintonia, intercâmbio, inspiração e que podemos didaticamente distinguir dois tipos: a mediunidade generalizada que todos possuem e a mediunidade ostensiva ou de trabalho que tem sido chamada de mediunato ou seja a mediunidade de compromisso.
Joanna de Angelis4 amplia o conceito de mediunidade quando afirma: “é inerente ao espírito que dela se utiliza, encarnado e desencarnado, para o ministério do intercâmbio entre diferentes esferas de evolução”.
Esta abordagem já fora exemplificada por André Luiz5 quando relata no livro “Libertação” fato ocorrido no plano espiritual onde seu instrutor Gúbio serviu de instrumento de intercâmbio entre Matilde, espírito de grande evolução espiritual, e Gregório um espírito que chefiava um grupo de Espíritos voltados para o mal habitantes das regiões umbralinas. Assim descreve André Luís este acontecimento: “Reparei que nosso dirigente, insulado na relva macia assumia a mesma posição de instrumento mediúnico… Antes, porém que conseguisse ligar o intento a ação{lembremos que Gregório pretendia atacar a caravana liderada por Gúbio da qual André Luís fazia parte] delicado aparelho luminoso surgiu no alto, a maneira de garganta improvisada em fluidos radiantes como as que se formam em sessão de voz direta… Compreendi que a benfeitora se valia dos fluidos vitais de nosso orientador (Gúbio) para exprimir-se…”
Recentemente Dr Inácio Ferreira6 relata evento mediúnico também ocorrido no plano espiritual no hospital sobre sua direção quando em um atendimento fraterno ao ex inquisidor Tomas de Torquemada recebe o recurso mediúnico de D. Maria Modesto que lhe serve de intermediária.
A mediunidade não é uma invenção do Espiritismo, este lhe deu uma explicação racional científica. Os espíritos desencarnados jamais deixaram de se comunicar com os encarnados. As manifestações mediúnicas existem desde todas as épocas, presentes tanto na vida comum dos indivíduos como no seio de todas as religiões, desde as mais remotas manifestações religiosas como o totemismo (crença nos totens)7.
Manoel Philomeno de Miranda8 afirma que a mediunidade ao longo da história da humanidade tem sido mal compreendida, portanto foi envolta de crenças, mitos e superstições. Até o advento do espiritismo os fenômenos mediúnicos eram considerados na esfera do maravilhoso e sobrenatural, sendo que durante muitos anos foi o fenômeno mediúnico considerado “coisa do diabo” e as pessoas portadoras de mediunidade consideradas bruxos ou feiticeiros e foram duramente perseguidos pelo poder religioso vigente em toda a Idade Média sendo que vários médiuns foram submetidos ao sacrifício da fogueira como forma de salvar suas almas.
A doutrina espírita oferece àqueles que se interessam por melhor compreender o fenômeno mediúnico uma vasta literatura desde “O Livro dos Médiuns” que é básico e essencial para todos como a literatura subsidiária oriunda de autores encarnados e desencarnados.
Todavia ao se falar de mediunidade não poderia deixar de apontar um aspecto que é de relevante importância para seu exercício e compreensão: o aspecto moral. Kardec particularmente muito destacou que o “dom mediúnico” é gratuito e que, portanto o mediunato também deve ser gratuito e visando exclusivamente o bem.
André Luís9 muito bem aborda esse aspecto quando relato o ensinamento recebido de seu orientador: “A mediunidade não é exclusiva dos chamados médiuns. Todos as criaturas a possuem, porquanto significa percepção espiritual, que deve ser incentivada em nós mesmos . Não bastará, entretanto, perceber, é imprescindível santificar essa faculdade convertendo-a no ministério ativo do bem.”
A vinda de Jesus: os médiuns preparadores
Os espíritos jamais deixaram de se comunicar com os homens. As manifestações mediúnicas existiram em todas as épocas tanto na vida comum dos indivíduos como no seio de todas as religiões, desde as mais remotas manifestações religiosas como no totemismo.
Emmanuel prefaciando o livro Mecanismos da Mediunidade nos informa que “onde a mediunidade atinge culminâncias é justamente no cristianismo nascituro”.
Antecedendo a vinda de Jesus reencarnaram os médiuns preparadores que tinham como função atuar como “transformadores elétricos conjugados para colher a força do influxo mental de Jesus”. Dentre eles destacamos: Zacarias e Isabel, pais de João O Batista; Maria e José, pais de Jesus; Simeão e Ana.
Lucas em seu Evangelho (cap.1, ves.5) assim descreve Zacarias e Isabel: “eram justos perante Deus , andando irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor”. Zacarias conversa com um Espírito de grande evolução, que foi identificado como sendo Gabriel, e que veio anunciar-lhe que sua mulher Isabel conceberia uma criança que seria grande perante o Senhor. Isabel era prima de Maria Mãe de Jesus e ao receber a visita da Maria identificou que a mesma estava grávida sendo a criança o Messias Prometido e lhe faz uma linda saudação apresentada por Lucas ainda no capítulo 1 de seu Evangelho versículos de 46 a 55.
José da Galileia, a quem coube a tutela paternal de Jesus, também é visitado por “anjo do Senhor” e se mostra dócil à sua orientação. Maria teve por missão acolher Jesus nos braços maternos, como os demais recebe a visita de um Espírito de alta hierarquia que lhe notifica que seu filho teria uma importantíssima missão.
Simeão recebe de um emissário Divino a revelação que antes de sua morte se encontraria com O Messias e ele aguardou em prece durante longo tempo, o encontro se deu quando Jesus foi levado pelos pais ao Templo ocasião em que toma o menino nos braços e faz uma louvação transcrita por Lucas no capítulo 2 versículos de 29 a 32.
Lucas (cap.2; ves.36 – 38) assim descreve a profetisa Ana que também encontrou Jesus no templo: “Havia uma profetisa, chamada Ana , filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara., e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejum e orações. E,chegada naquela hora dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
Esse “grupo de médiuns admiráveis não apenas pelas percepções avançadas que os situavam em contacto com os Emissários Celestes, mas também pela conduta irrepreensível de que forneciam testemunhos surpreendentes o circuito de forças a que se ajustou a onda mental do Cristo, para daí expandir-se na renovação do mundo.”
Mediunidade Poliglota
Xenoglossia
Fenômeno em que o médium não só fala ou escreve em língua que ignora, mas fala ou escreve nessas línguas formulando observações originais ou conversando com os presentes, provando, desse modo, que as frases formuladas foram criadas pela circunstância corrente, o que exclui a possibilidade de entrarem em ação outras faculdades supranormais que transformem o suposto caso de xenoglossia num fenômeno de clarividência com percepção à distância das frases mediunicamente empregadas (Ernesto Bozzano, xenoglossia, p.60).
O fenômeno foi chamado por richet (Charles Richet – parapsicólogo) de xenoglossia (do grego xenos = estrangeiro, e gloto = falar).
Em atos dos apóstolos (cap.2, v1-13) é descrito a manifestação desse tipo de fenômeno mediúnico no dia do pentecostes, bem como no cap.19, v.1-7 aparece paulo de tarso apresentando essa mesma mediunidade.
Há muitos relatos dentro do cristianismo de missionários que apresentavam esse tipo de mediunidade, destacando-se são vicente ferrer, denominado apóstolo da paz. Afirma-se que ele falava todas línguas e dialetos da europa de seu tempo (1350-1419).
São francisco xavier pregou na india e era capaz de pregar nos vários diletos, que tem sido descritos como sendo quatrocentos.
Santo antônio de pádua, nominado “defensor da verdade”, falou no consultório, ao mesmo tempo, latim, grego, hebraico, italiano, francês , alemão português e muitas outras línguas da época. (http://www.geocities.com/athens/atrium/2995/xenoglossia.htm)
Francisco Cândido Xavier não só escreveu em inglês como escreveu de trás para frente um ditado de Emmanuel.
Ernesto Bozzano em seu livro xenoglossia fez um estudo desse fenômeno com apresentação de diversos casos que merece ser lido por aqueles que se interessam pelo fenômeno.
No livro “nos domínios da mediunidade” (André Luiz – psicografia de Francisco Cândido Xavier) no capítulo 23- fascinação descreve um caso de xenoglossia no qual uma senhora fala em antigo dialeto da toscana do século X.
Em “o livro dos médiuns” (tradução de j.herculano pires, 2a reimpressão, 1997, ed. Eme); 2a parte, cap. Xix-papel do médium nas comunicações item 223, questão 17:
P: a aptidão de certos médiuns para escreverem numa língua estranha não provém do fato de a terem usado noutra existência conservando-a de forma intuitiva?”.R: certamente isto pode acontecer, mas não é regra. O espírito pode, com algum esforço, superar momentaneamente a resistência material. É o que se verifica quando o médium escreve, na própria língua, palavras que não conhece.”(destaque nosso).
Final do item 225:
[…] quando o espírito se exprime numa língua familiar ao médium encontra as palavras já formadas e prontas para traduzir suas idéias. Se o faz numa língua estrangeira não dispõe das palavras, mas apenas das letras. É, então, que o espírito se vê obrigado a ditar, por assim dizer, letra por letra, exatamente como quiséssemos fazer escrever em alemão uma pessoa que nada soubesse dessa língua.
Bozzano (xenoglossia, p.141), afirma “a entidade influencia diretamente no médium os centros cerebrais da linguagem falada ou escrita.” , denomina isso de possessão mediúnica.
É de tradição considerar possessão como um fenômeno que só ocorre com espíritos com grau evolutivo pequeno, entretanto, vejamos quanto a possibilidade de a possessão ser utilizada pelos bons espíritos, encontramos na gênese o seguinte no capítulo xiv item 48:
A obsessão é sempre o fato de um espírito malfazejo. A possessão pode ser o fato de um bom espírito que quer falar e para fazer mais impressão sobre os seus ouvintes, empresta o corpo de um encarnado, que lhe empresta voluntariamente, como empresta a sua roupa. Isto se faz sem nenhuma perturbação ou mal-estar, e, durante esse tempo, o espírito se encontra em liberdade, como no estado de emancipação, e, o mais freqüentemente, se coloca ao lado de seu substituto para escutá-lo. (grifo original).
Quando o fenômeno venha ocorrer em nossa casa espírita é bom lembrarmos o alerta de “imperátor”:
O médium é acima de tudo, um centro condensador, onde se reunem os fluídos subtraidos aos assistentes e que portanto, o bom êxito das manifestações depende, em grande parte, das pessoas que formam o grupo […] os presentes fornecem substâncias fluídicas especializadas para as manifestações que se produzem. (Bozzano, xenoglossia, p.145).
Clarividência I
Sabemos que “O Livro dos Médiuns” foi publicado depois de “O Livro dos Espíritos” e nesse Kardec já abordava assuntos que posteriormente seriam desdobrados em suas outras obras. Assim também com o tema Clarividência.
Em “O Livro dos Espíritos” esse tema foi apresentado nas questões-428, 430, 433(O sonambulismo), 447 a 454 (Dupla Vista), 455 (Resumo Teórico do Sonambulismo, Êxtase e Dupla Vista). Kardec aprofundou o estudo em “O Livro dos Médiuns” na segunda parte – cap.VI- Manifestações visuais-itens 107-108 e segunda parte – cap.XIV- Os médiuns- itens 167, 168, 169,170,171- Médiuns Videntes. O assunto ainda foi por Kardec abordado Na Revista Espírita nas seguintes matérias publicadas: Adrian-Médium Vidente. Revista Espírita, Dez 1858, p.338-340; Adrian –Médium Vidente II. Revista Espírita, Jan,1859,p.7-11; O Sexto Sentido e a Visão Espiritual: Ensaio Teórico Sobre os Espelhos Mágicos. Revista Espírita, outubro de 1864, p.290-299; Novos Estudos Sobre Os Espelhos Mágicos ou Psíquicos: o vidente da floresta de Zimmerwald. Revista Espírita, outubro de 1865, p. 278-286.
Na literatura subsidiaria, vamos encontrar em “Mecanismos da Mediunidade” de André Luiz –cap.XVIII-Efeitos Intelectuais-Clarividência e Clariaudiência; em “Nos Domínios da Mediunidade- André Luiz-cap.12-Clarividência e Clariaudiência.; em Seara dos médiuns- Emmanuel-Clarividência.
O texto a seguir é uma súmula do que é encontrado na literatura acima citada.
As aparições sempre existiram, como existem no nosso tempo. Hoje em dia, a ciência convencionou chamá-las de alucinações. Esse fenômeno é comum entre aqueles recém-desencarnados que querem avisar seus familiares. Geralmente os Espíritos que aparecem são Espíritos afins.
Entende-se por médiuns videntes aqueles dotados da faculdade de ver os Espíritos no estado normal, perfeitamente acordados e guardam a lembrança do fato, bem como em estado sonambúlico ou aproximado do sonambúlico. Raro a faculdade ser permanente, geralmente ocorre de forma súbita e passageira. Como vêm com “olhos da alma” enxergam tanto com os olhos abertos como fechados. O cego pode ver os Espíritos, mas não se pode dizer que ele tenha dupla vista.
Não se deve confundir clarividência com a percepção do que Kardec, em “O Livro dos Médiuns” chamou de espíritos glóbulos.
Espíritos glóbulos:
1) Poeira no ar que se movimenta com o calor e são tidas por Espíritos.
2) Corpos opacos no humos aquoso dos olhos que projetados no ar e à distância aparentemente são pequenos discos que algumas pessoas tomam por Espíritos que as acompanha por todos os lugares.São conhecidos por pontos negros ou moscas amauróticas (são pontos negros que aparecem na visão por motivo de atrofia do nervo ótico, produzindo cegueira parcial ou total, sem prejuízo do globo ocular. Amaurose ou gota serena).Esses pontos movimentam-se de acordo com os movimentos da cabeça ou globo ocular e não evidenciam movimento autônomo.
3) Centelhas produzidas pela contração dos músculos dos olhos que se apresentam em feixes mais ou menos compactos.
Distingui-se aparições acidentais e espontâneas da faculdade de vidência.
Acidentais e espontâneas: geralmente no momento da morte, para avisar familiares e amigos ou para avisar de um perigo, dar conselho e pedir ajuda. Não se constitui da faculdade propriamente dita.
Faculdade de vidência permanente: é capacidade de, pelo menos freqüentemente, ver Espíritos que se aproximam, mesmo que estranhos. Podem ser de dois tipos:
a) vêm os Espíritos com detalhes e o médium é capaz de descrever sua fisionomia, suas vestes e até os sentimentos que revelam.
b) vêm toda a população de espíritos e seus afazeres.
Para ilustrar a capacidade de ver Espíritos, Kardec, em “O Livro dos Médiuns”. relata que estando presente a uma ópera em companhia de um médium vidente, este via os Espíritos na platéia e no palco, especialmente um sobre a cantora principal que foi tomado por um Espírito brincalhão. Evocado no intervalo disse ser o Espírito guia da cantora. Kardec ainda no teatro evoca Weber, autor da peça que diz ser o desempenho dos atores fraco e que irá animá-lo, ato subseqüente o desempenho dos atores melhora.
A faculdade de Vidência deve se processar naturalmente, sem que se provoque. Quanto se tem o germe da faculdade ela se manifesta por si mesma. Algumas pessoas podem, sem dúvida, enganar-se de boa fé, mas outras podem simular essa faculdade por amor próprio ou por interesse. Para exemplificar uma mediunidade autêntica, relata o caso do médium que diz a uma senhora viúva que via um Espírito perto dela e esta diz ser de seu falecido marido.O médium diz-lhe que não, e descreve uma senhora, com um penteado característico, que é identificada com a sua avó.
Os sonâmbulos podem ver através dos corpos opacos, pois não há corpos opacos, senão para os órgãos grosseiros da matéria. Para o Espírito, a matéria não oferece obstáculo, pois ele a atravessa livremente. Freqüentemente os Espíritos dizem que vêm pela testa, pelo joelho, etc., porque os Espíritos encarnados, inteiramente imersos na matéria, não compreendem que ele possa ver sem o auxílio dos órgãos, e Espíritos pouco desenvolvidos, pela insistência dos encarnados que com eles conversam, julgam necessitar desses órgãos. Mas se o deixássemos livres, compreenderiam que vêm por todas as partes do corpo.
Pois se a clarividência do sonâmbulo é da sua alma ou de seu Espírito, por que ele não vê tudo e por que se engana tantas vezes?
Primeiro não é dado aos Espíritos imperfeitos tudo ver e tudo conhecer; sabemos muito bem que eles ainda participam dos nossos erros e dos nossos prejuízos e, depois, quando estão ligados à matéria não gozam de todas as faculdades de Espírito. Deus deu ao homem essa faculdade com um fim útil e sério e não para que aprenda o que não deve saber; eis porque os sonâmbulos não podem dizer tudo.
O desenvolvimento, maior ou menor, da clarividência sonambúlica depende da organização física e da natureza do Espírito encarnado, pois há disposições físicas que permitem ao Espírito libertar-se mais ou menos facilmente da matéria. A organização física desempenha o seu papel, há organizações que se mostram refratárias. Quando ocorre em uma mesma família é por similitude de organização, como as outras faculdades físicas e depois o desenvolvimento da faculdade, por uma espécie de educação, que também se transmite de um para outro.
A dupla vista é a vista da alma, ocorre quando o Espírito está em maior liberdade, embora o corpo não esteja dormindo. A faculdade da dupla vista é permanente, mas seu exercício não.A dupla vista é espontânea na maioria dos casos, mas a vontade também, muitas vezes, desempenha um grande papel. Por exemplo: as pessoas chamadas de leitoras de sorte, algumas das quais possuem essa faculdade, que a vontade as ajuda a entrar em na estado de dupla vista é isso que se chama visão.
A dupla vista desenvolve-se pelo exercício, assim como qualquer trabalho conduz ao progresso.
Certas circunstâncias desenvolvem a dupla vista tais como doenças, proximidade de um perigo, uma grande comoção. O corpo se encontra às vezes em estado particular que permite ao Espírito ver o que não poderia ver com os olhos do corpo.
Os tempos de superexcitação moral provocam, às vezes, o desenvolvimento da dupla vista.Parece ser uma providência para nos ajudar no momento de perigo.
Nem sempre as pessoas dotadas de dupla vista tem consciência disso, para elas é coisa completamente natural e acreditam que todos percebem como elas.
Em certos casos a dupla vista pode dar pré-ciência e pressentimento das coisas, considerando-se que há muitos graus dessa faculdade.Alguns indivíduos podem ter todos os graus, outros ter somente um.
No caso de visão à distância as coisas não são vistas do lugar onde está o médium como se usasse um telescópio, mas a sua alma lá se encontra e vê as coisas no lugar onde elas ocorrem, seu corpo fica como aniquilado e privado de sensações até a hora que seu Espírito tomar conta dele. Quando o período de afastamento é longo e realiza-se um trabalho ativo pode sobrevir o cansaço. O portador de dupla vista não assinala o órgão especial onde ela ocorre. Se tiverem que se reportar ao corpo esse lugar parece estar nos centros em que a atividade vital é maior, principalmente no cérebro ou na região epigástrica ou em outra parte que ele considera mais intensa a ligação da alma com o corpo.
No momento que ocorre o fenômeno da dupla vista o estado físico é sensivelmente modificado: os olhos têm qualquer coisa de vago, olhando sem ver, e toda a fisionomia reflete uma espécie de exaltação. Constata-se que os órgãos da visão são alheios ao fenômeno e a visão persiste mesmo com os olhos fechados.
O esquecimento se segue, em geral, a essa lucidez passageira, cuja lembrança se torna cada vez mais vaga e acaba por desaparecer.
O poder da dupla vista varia desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes e ausentes. No estado rudimentar ela dá a algumas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de segurança nos atos, a que se pode chamar de a justeza do golpe de vista moral. Mais desenvolvida desperta os pressentimentos, e ainda mais desenvolvida, mostra os acontecimentos já realizados ou em vias de realização.
Adrian, membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas tinha notável faculdade. Ele era médium vidente, escrevente, auditivo e sensitivo. Esteve junto com Kardec em teatros, bailes, em passeios, hospitais, nos cemitérios, nas igrejas, assistiu a enterros, casamentos, a batizados e a sermões. Em todas essas ocasiões Sr Adrian viu os Espíritos que lá estavam e Kardec estabeleceu conversação com alguns deles, os interrogou e aprendeu muitas coisas.
A forma aparente do Espírito depende do períspirito. . Em seu estado normal tem este corpo a forma humana, mas não calcada traço a traço sobre aquele que ficou, principalmente quando foi deixado há muito tempo.Nos primeiros momentos que segue à morte e enquanto existe um laço entre as duas existências maior é similitude; esta, porém apaga-se à medida que se opera o desprendimento e que o Espírito se torna estranho ao seu último invólucro. Pode retomar sua antiga aparência, mas isto requer um grande esforço.
A intenção do médium vidente influencia sobre a disposição do Espírito a se apresentar sobre seus olhos.Os Espíritos evoluídos se revestem de determinada aparência para um motivo sério e útil.
“A visão de um Espírito pelo médium se realiza por uma espécie de irradiação fluídica que parte do Espírito e se dirige ao médium, esse por assim dizer absorve os raios e os assimila. Se estiver só ou cercado de pessoas simpáticas, unidas pela intenção e pensamento sobre ele concentra-se aqueles raios, então a visão é clara e precisa… Se ao contrário tem ao seu redor influências antipáticas e pensamentos divergentes e hostis, se não há recolhimentos os raios fluídicos se dispersam e são absorvidos pelo ambiente, daí uma espécie de nuvem que se projeta sobre o Espírito e não permite que se lhes distingam as nuances.Tal seria uma luz com ou sem refletor.”
“…pela associação avançada de raios mentais entre as entidades e o médium dotado de mais amplas percepções visuais e auditivas, a visão e a audição se fazem diretas, do recinto exterior para o campo íntimo, graduando-se contudo, em expressões variadas.Escasseando os recursos ultra–sensoriais, surgem nos médiuns dessa categoria a vidência e a audiência internas mais entranhadamente radicadas na conjugação de ondas.Atuando sobre os raios mentais do medianeiro o desencarnado transmite-lhe quadros e imagens valendo-se de centros autônomos da visão profunda localizadas no diencéfalo, ou lhe comunica vozes e sons, utilizando-se da cóclea, tanto mais intensa se verifique a complementação vibratória nos quadros de freqüência das ondas, ocorrência esta que se afigura ao médium possuir um espelho na intimidade dos olhos ou na caixa acústica na profundez dos ouvidos.”(Mecanismos da Mediunidade)
Em Seara dos Médiuns, Emmanuel faz considerações sobre a faculdade da Vidência, abordando aspectos morais de seu exercício, portanto concluímos com suas palavras: “Com isso não queremos dizer que esse ou aquele apontamento mediúnico deva ser desprezado, pois que em mediunidade tudo é ensinamento digno de atenção. Ponderemos apenas o impositivo de estudo, a fim de que a interpretação particular não se dirija para as raias do ilógico”.
Da obsessão I
O assunto “Da Obsessão” é abordado no capítulo 23 do Livro dos Médiuns, entretanto antes disso ele já havia sido tratado em duas partes de O Livro dos Espíritos, embora sem usar a terminologia obsessão o capítulo IX-Intervenção dos Espíritos no mundo corpóreo –I Penetração do nosso pensamento pelos Espíritos, nas questões 465 a 472 trata da intervensão dos Espíritos imperfeitos que induzem ao mal, no item II deste mesmo capítulo trata dos Possessos (questões 473 a 480) e no item IV Convulsionários (questões 481 a 483).
Sabemos que a partir de 1858 passa a ser editada mensalmente a Revista Espírita- Jornal de Estudos Psicológicos com o objetivo de trazer relatos e análises sobre os fenômenos devidos aos Espíritos que até então pertenciam ao campo do maravilhoso e sobrenatural, assim Kardec coloca logo no primeiro número da Revista matéria intitulada Introdução a que se destina a publicação: “Contudo, como nosso objetivo é chegar à verdade, acolheremos todas as observações que nos forem dirigidas e, tanto quanto permitir o estados dos conhecimentos adquiridos , procuraremos resolver as dúvidas e esclarecer os pontos ainda obscuros. Nossa Revista será, assim, uma tribuna, na qual, entretanto, a discussão jamais deverá afastar-se das normas da mais estrita conveniência. Numa palavra, discutiremos, mas não disputaremos.” Dentro dessa diretriz, tanto como sobre vários temas, a obsessão também é abordada. Temos assim nos anos de 1858, 1859,1860 as seguintes matérias que tratam da obsessão:
1858 –Mademoiselle Clairon e o fantasma (pág. 44-48- fevereiro), O Espírito batedor de Bergzabern (pág.131-136-maio), O Espírito batedor de Bergzabern II (pág.159-169-junho), O Espírito batedor de Bergzabern III (pág.192-194-julho), O tambor de Beresina I (195-200-julho), Espíritos impostores: o falso padre Ambrósio (pág.200-204-julho), O Espírito batedor de Dibbelsdorf (pág.229-232-agosto),Obsedados e subjugados (pág.275-287-outubro), O mal do medo (pág.290-292- outubro),Teoria do móvel de nossas ações (pág.292-294- outubro).
1859 – Escolhos dos médiuns (pág. 31-38-fevereiro), Espíritos barulhentos, como livrar-se deles (pág.49-53-fevereiro), Médiuns interesseiros (pág.64-66-março), Processos para afastar os maus espíritos (pág. 251-260-setembro)
1860 – Manifestações físicas Espontâneas: O padeiro de Dieppe (pág.81-85-março), Boletim ( pág 105-abril ),A noiva traída ( pág.160/161-maio), Superstição (161-162 maio), Palestras familiares de além túmulo(pág.185, item 20-junho) , Leitura da ata dos trabalhos da sessão de 29 de junho(pág.237- agosto), mesmo após a publicação do Livro dos Médiuns, ainda encontramos na Revista as matérias arroladas a seguir:
1861 -Carta sobre a incredulidade-primeira parte (pág.16-24janeiro), Espírito batedor de Aube (pág 24-30),
1862 – Epidemia demoníaca na Sabóia (pág.107-111-abril), Estudo sobre os possessos de Morzine-Causas da obsessão e meio de combate-I parte (pág. 355-365-dezembro)
1863 -Estudo sobre os possessos de Morzine-Causas da obsessão e meio de combate-II parte (pág.1-8-janeiro), Estudo sobre os possessos de Morzine-Causas da obsessão e meio de combate-III parte( pág.33-40-fevereiro); Palestras familiares de além túmulo-Clara Rivier (pág.88-março); – Estudo sobre os possessos de Morzine-Causas da obsessão e meio de combate-III parte( pág.99-110-abril) Estudo sobre os possessos de Morzine-Causas da obsessão e meio de combate-IV parte( pág.131-140), Um caso de possessão: senhorita Julia( pág.373377- dezembro), Os conflitos ( pág381-386-dezembro) ;
1864 – Um caso de possessão: senhorita Julia II (pág.11-17- janeiro), Palestra de além túmulo: Fredegunda (pág.17-20- janeiro), Cura de uma obsessão (pág.45-46 -fevereiro), Cura da jovem obsedada de Marmade (pág.168-177-junho), Novos detalhes sobre os possessos de Morzine ( pág.225-23-agosto), Instruções dos Espíritos-Os Espíritos na Espanha( 276-280-setembro);
1865 -O Espírito na Espanha: cura de uma obsedada em Barcelona (pág.167-174-junho);
1866 – Curas de obsessões(pág.38-42-fevereiro), Considerações sobre a mediunidade curadora (pág.347-355-novembro);
1867 -Nova sociedade espírita de Boudaux (pág. 181-185-junho); Dissertações Espíritas-O magnetismo e o espiritismo comparados (pág. 190-193-junho);
1869 -Suicídio por obsessão (pág 27-28-janeiro), Obsessões Simulada( pág. 31-32- janeiro).
Ainda nas Obras Básicas encontramos o assunto tratado em:
A Gênese- Capítulo XIV – Os Fluidos- tópico Obsessões e Possessões( itens 45 a 49) e no capítulo XV- Os milagres do Evangelho- Possuídos ( itens de 29 a 36);
O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo XII – Amai os vossos inimigos- tópico Os inimigos desncarnados (itens 5 e 6), capítulo XXVIII – Coletânea de Preces Espíritas – tópicoPelos doentes e pelos obsidiados ( itens 81 a 84)
O Céu e o Inferno – Segunda parte capítulo V- Os suicidas –caso de Antoine Bell.
Pelas inúmeras vezes que Kardec aborda esse assunto vemos a importância que o fenômeno da Obsessão tem. Em duas matérias acima arrolada há relato da intervenção de Kardec em casos de obsessão: Obsedados e subjugados (pág.275-287-outubro), – Um caso de possessão: senhorita Julia II (pág.11-17- janeiro).
Obsessão
Capítulo 23- O Livro dos Médiuns
“Trata-se do domínio de alguns espíritos podem adquirir sobre certas pessoas”.Sempre que ocorre a obsessão a influência é exercida por espíritos inferiores que a exercem identificando-se com a vítima e a conduzem como se faz a uma criança. Essa influência de domínio não ocorre por parte de espíritos bons uma vez que estes aconselham e combatem a influência dos maus Espíritos, mas se não são ouvidos eles se retiram.
Dependendo do grau de constrangimento e da natureza dos efeitos que produz, a obsessão pode ser de várias modalidades quais sejam: obsessão simples, fascinação, subjugação.
Em caso de médiuns, quando ocorre a obsessão simples o espírito inferior que exerce a influência intromete-se nas comunicações que o médium recebe, substitui os espíritos que são evocados e impede o médium de comunicar-se com outros espíritos. Neste caso não se trata de ser enganado por um Espírito inferior, pois o melhor médium está sujeito a isso, principalmente quando o médium é iniciante e esta na fase de educação mediúnica. O médium esta sendo enganado, mas não está obsedado, pois na obsessão o médium não consegue se desembaraçar pela tenacidade do obsessor em influenciá-lo. O médium sabe que esta lidando com um espírito mistificador, pois este não dissimula suas intenções e se o médium se mantém vigilante raramente será enganado. Esse tipo de influência é apenas desagradável e dificulta que o médium entre em contato com Espíritos sérios e com aqueles para os quais tem afeição. Dentro desta modalidade há a ocorrência das manifestações físicas quando o Espírito Obsessor produz ruídos e pancadas espontaneamente.
Na fascinação o espírito mistificador interfere no pensamento do médium criando ilusões que paralisam sua capacidade de julgar as comunicações que recebe. Não se sente enganado, pois o Espírito cria uma confiança cega que o impede de perceber o absurdo da comunicação. Não há relação com nível intelectual do médium, pois médium com muita instrução pode ser alvo deste tipo de obsessão. Isso ocorre porque o médium esta com sua mente dominada pelo espírito mistificador. Neste tipo de obsessão o médium é levado a acreditar nas teorias mais absurdas que considera como boas e adequadas, por isso este tipo é bastante perigoso. Kardec em “O Livro dos Médiuns” faz referência a obras ditas espíritas meramente por serem obras psicografadas e que a uma análise à luz da doutrina evidenciam idéias e conceitos que nada têm a ver com o espiritismo.
Nesses dois tipos há uma diferença de caráter do espírito infeliz. Na obsessão simples ele é apenas insistente e se afasta quando o médium se empenha em dele se livrar. Já na fascinação o espírito mistificador usa de numerosos expediente para parecer que é uma personalidade, usa uma linguagem recheada de conceitos morais, mais uma análise criteriosa deixa evidente seu atraso moral. Ele afasta o médium de pessoas que podem alertá-lo para assim não ser contestado.
Na subjugação a vítima tem sua vontade paralisada pela influência do Espírito inferior que faz com que a pessoa tenha comportamento que não deseja. Este tipo de domínio pode ser moral ou corpóreo. Na subjugação moral a pessoa faz coisas absurdas que considera normal, é como se estivesse fascinado pela incapacidade de julgar seus atos. Na subjugação corpórea o indivíduo passa a apresentar atitudes ridículas, tais como beijar o chão em lugares públicos. Muitas vezes se manifesta por manias, trejeitos, esgares, tiques nervosos, permanente estado de irritação. Pode ocorrer que essas pessoas sejam consideradas “loucas”, entretanto elas têm plena consciência do ridículo de suas atitudes.
O uso do termo possessão para qualificar os subjugados é inadequado por dar a idéia que o Espírito atrasado entra no corpo de sua vítima, bem como sugere a existência de seres criados para o mal, isso não é verdade.
Um dos principais obstáculos à mediunidade é a influência que um Espírito infeliz pode exercer sobre o médium originando mensagem de caráter suspeito que muitas vezes vêm entremeadas de conceitos bons, por isso toda mensagem deve ser analisada e rejeitado nelas todos os conceitos que não tem respaldo dentro da moral evangélica e da filosofia espírita.
Há características que evidenciam a ação de um Espírito obsessor que se traduzem na persistência do Espírito se comunicar mesmo quando o médium não quer; quando o médium não reconhece a falsidade e o ridículo das mensagens que muitas vezes são assinadas por nomes respeitáveis; o Espírito obsessor faz reiterados elogios ao médium que se compraz com isso; o médium não aceita as críticas feitas as suas comunicações e por sugestão do Espírito se afasta das pessoas que podem esclarecê-lo; quando o médium é constrangido a tomar atitudes que ele não concorda e na ocorrência de uma necessidade inoportuna de escrever, bem como a ocorrência de ruídos e transtornos que têm como alvo o médium.
Pode-se perguntar porque um Espírito se empenha em obsedar um encarnado, isso varia de acordo com o caráter do Espírito, assim pode ser uma vingança contra a pessoa que o prejudicou ou magoou em sua vida ou em encarnação passada, outras vezes é o desejo de fazer o mal, como sofrem desejam fazer os outros sofrerem, outros sentem ódio despertado pela inveja daqueles que praticam o bem e por isso são maldosos com criaturas honestas; outros ainda aproveitam-se da fraqueza moral de certas pessoas que são incapazes de lhes oferecer resistência; há obsessores que não são necessariamente maus, que têm alguma bondade, entretanto, são dominados pelo orgulho do falso saber, querem impor seus pontos de vista e não vacilam em usar nomes pomposos para atingir seu objetivo. Quando mais a pessoa, que é alvo da ação do Espírito infeliz, se impacienta, mais ele se compraz, assim a paciência é importante para o afastamento do mesmo.
Para combater a obsessão simples há dois recursos importantes: não acatar as sugestões que os Espíritos fazem e manter a paciência e a calma; pois com já dito atrás quanto mais a pessoa, que é alvo do assédio de um Espírito infeliz, se impacienta mais prazer ele sente em atormentar sua vítima. Esses dois comportamentos muitas vezes são suficientes para afastar obsessor, entretanto outras vezes o Espírito é teimoso e o processo pode arrastar-se por anos, assim sendo pedir ajuda aos bons Espíritos e ao anjo de guarda é importante, bem como orar em favor do Espírito infeliz que observando a conduta e a boa intenção da pessoa que assedia pode também se transformar moralmente. Quando o Espírito utiliza-se de um médium escrevente a prática da psicografia deve ser interrompida para cortar a possibilidade dele continuar a ter um veículo de comunicação.
Reverter uma fascinação é muito mais complexo, pois diferentemente da obsessão simples em que a pessoa se dá conta do absurdo das idéias que lhe são sugeridas, o fascinado considera todas as sugestões que lhe são feitas como acertadas, mesmo quando fere princípios que a ciência já comprovou. Há casos em que tal é o domínio que o Espírito exerce sobre o fascinado que todos os esforços feitos apresentam-se sem resultados e se prolonga por longo tempo.
Na subjugação a vítima se apresenta sem energia para afastar o Espírito obsessor, portanto necessita da ajuda que seja moralmente superior ao Espírito que pode se lhe impor a sua vontade.Também é importante a ajuda da fluidoterapia que pode prestar uma ajuda eficiente.
Em todos os casos de obsessão tem-se que considerar as imperfeições morais do obsedado, portanto o processo de reforma íntima é condição indispensável para o afastamento dos maus Espíritos obsessores. Se a pessoa se compraz com suas imperfeições morais até mesmo a ajuda de seu anjo guardião pode ser perdida, pois o mesmo se afasta quando vê seus esforços infrutíferos, entretanto se melhorarem seus anjos de guarda voltaram a prestar a ajuda que necessitam. “Os Espíritos bons são naturalmente mais poderosos que os maus e basta a sua vontade para os afastar, mas assistem apenas àqueles que os ajudam, por meio dos esforços que fazem para se melhorarem”.
Não se pode atribuir todos os reveses da vida à ação de maus Espíritos, pois muitas vezes as dificuldades são oriundas da negligência das pessoas. Kardec relata o caso de um fazendeiro que já havia lançado mão de vários expedientes no sentido de debelar uma doença que dizimava seu gado que atribuía a causas sobrenaturais, então apela a Kardec que recebe a orientação que tudo era fruto da negligência daquele homem que não mantinha boas condições dos currais que era fonte de contaminação dos animais.
Aparentemente uma pessoa apresenta-se como uma pessoa de bem, mas mesmo assim sofre o assédio de Espíritos infelizes, entretanto os bons Espíritos alertam que na realidade essa pessoa, embora sem aparentar, ainda apresenta uma deficiência moral que a torna vulnerável à ação dos maus Espíritos. Um exame de consciência permitirá a ela detectar aonde precisa melhorar.
A afinidade moral é o fator importante no processo obsessivo, pois a qualidade do sentir, pensar e agir de uma pessoa determina a qualidade das companhias espirituais que terá.
Obsessão e Jesus
No número das dificuldades que a prática do Espiritismo apresenta, é necessário colocar o da obsessão em primeira linha. Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não exercem nenhum constrangimento. Os bons aconselham, combatem a influência dos maus e, se não os escutam preferem retirar-se. Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegam a dominar alguém, identificam-se com o Espírito da vítima a conduzem como se faz a uma criança. (O Livro dos Médiuns – item 237)
Em face do perigo da obsessão, ocorre perguntar se não é inconveniente ser médium, se não é essa faculdade que a provoca, enfim, se não é isso uma prova de inconveniência das comunicações espíritas. Nossa resposta é fácil e pedimos que a meditem cuidadosamente. Não tendo sido os médiuns nem os espíritas que criaram os Espíritos, mas sim os Espíritos que deram origem aos espíritas e aos médiuns e, sendo os Espíritos simplesmente as almas dos homens é evidente que sempre exerceram influência benéfica ou perniciosa sobre a humanidade. A faculdade mediúnica é para eles apenas um meio de se comunicarem e, na falta dessa faculdade, eles se comunicam por mil outras maneiras mais ou menos oculta. (O Livro dos Médiuns – item 244)
Tendo como referência os itens acima citados Emmanuel apresenta no livro “Seara dos Médiuns” dois estudos intitulados OBSESSÃO E JESUS e OBSESSÃO E EVANGELHO nos quais faz uma análise de criaturas que conviveram ao tempo de Jesus e evidenciavam estarem sobre domínio de Espíritos inferiores.
Inicia o estudo refutando que a obsessão seja fruto do exercício mediúnico à luz da Doutrina Espírita, uma vez que desde de todos os tempos encarnados e desencarnados se relacionaram tanto em processo de ajuda como em processo de obsessão. Esclarece ainda que a Doutrina Espírita é o recurso para a supressão deste flagelo.
“A vida de Jesus na Terra foi uma batalha constante e silenciosa contra obsessões, obsidiados e obsessores”. Após esta afirmação Emmanuel apresenta uma série de exemplos que serão arrolados a seguir.
No início da vida de Jesus aparece como alvo de Espíritos obsessores Herodes como nos relata Matheus (2:16) “Vendo-se iludido pelos magos; enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos”. Tal atrocidade visava a morte de Jesus, entretanto, com a intervenção do plano espiritual, ele não é atingido.
Também o relato de Mateus (14:1-12) apresenta as circunstâncias da morte de João O Batista pode-se identificar a ação dos Espíritos infelizes sobre Herodes, Herodias e sua filha que culminou com a degola de João.
Mateus também descreve no capítulo 4 de seu evangelho, versículos de 1 a 11 o que convencionou chamar de: a tentação de Jesus e que Emmanuel apresenta como sendo a ação de “Obsessores cruéis que não vacilam em procurá-lo no nas orações do deserto, verificando-lhe os valores do sentimento”.
Para Emmanuel toda a trajetória de Jesus foi pontilhada de Espíritos infelizes senhoreando médiuns desnorteados.
Conforme Marcos (5: 2-9) “Entrementes chegaram à outra margem do mar à terra dos gerasenos. Ao desembarcar, logo veio dos sepulcros, ao seu encontro, um homem possuído de espírito imundo o qual vivia nos sepulcros e nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo, porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram quebradas por eles e os grilhões despedaçados, e ninguém podia subjugá-lo. Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e pelos montes, ferindo-se com pedras.Quando, de longe viu Jesus correu e o adorou exclamando com alta voz : que eu tenho contigo Jesus, filho de Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes; porque Jesus lhe dissera: Espírito imundo , sai desse homem! Perguntou-lhe: qual o seu nome? Respondeu ele: Legião é o meu nome porque somos muitos.” Neste relato Emmanuel identifica a obsessão seguida de processo de vampirismo onde o pobre homem era intimamente manobrado por entidades cruéis que mais se assemelhava a um animal feroz.
Lucas (4: 33-35) relata:
Achava-se na Sinagoga um homem possesso de um espírito de demônio imundo ,e bradou em voz alta; Que temos nós contigo Jesus de Nazareno? Vieste para prender-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus! Mas Jesus o repreendeu dizendo: Cala-te, e sai desse homem .O demônio depois de o ter lançado por terra no meio de todos, saiu dele sem lhe fazer mal.
Aqui, segundo Emmanuel, temos um caso de obsessão simples.
A cura de um mudo endemoninhado é relatada por Mateus (9:31-32):
Ao retirarem-se eles, foi-lhe trazido um mudo endemoninhado. E, expelido o demônio falou o mudo, e as multidões se admiraram, dizendo: Jamais se viu tal cousa em Israel.
Classifica Emmanuel este processo como sendo obsessão complexa, uma vez que atinge a alma e o corpo.
A obsessão indireta de Judas é relatada por João (13:2): “Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus […]”. Trata-se de uma situação na qual o obsedado padece de influência de Espírito infeliz, entretanto não perde a sua responsabilidade no evento.
Entre os que compartilhavam a estrada de Jesus surgem obsessores e psicoses diversas tais como: “Maria de Magdala, que se faria a mensageira da ressurreição, fora vítima de entidades perversas; Pedro sofria obsessão periódica; Caifás mostrava-se paranoico; Pilatos tinha crises de medo; no dia da crucificação vemos o senhor rodeado por obsessores de todos os tipos a ponto de ser considerado , pela multidão, inferior a Barrabás”; finalmente é crucificado entre duas criaturas que podem ser consideradas cleptomaníacos
Em Atos dos Apóstolos (8: 5-7) encontramos:
Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo. As multidões atendiam, unânimes, às cousas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de todos os possessos saíam gritando em voz alta e muitos paralíticos e coxos foram curados.”Emmanuel classifica este episódio de obsessão coletiva gerando moléstias fantasmas.
Assim como Jesus e seus seguidores diretos a todos assistiram estendamos o serviço de socorro aos obsessores e obsedados “de qualquer procedência porque os princípios de Allan Kardec revivem os ensinamentos de Jesus, na antiga batalha da luz contra a sombra e do bem contra o mal”.
Médiuns curadores
O assunto é tratado em O Livro dos Médiuns, segunda parte, capítulo 14 Os Médiuns itens de 175-176: Médiuns curadores.
Esse gênero de mediunidade consiste do dom de curar por simples toques, pelo olhar ou mesmo por um gesto, sem nenhuma medicação. Entre os médiuns curadores a faculdade é espontânea e às vezes os médiuns as possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma potencia oculta, que caracteriza a mediunidade torna-se evidente em certas circunstâncias. A maioria das pessoas qualificáveis como médiuns curadores recorrem à prece, que é uma verdadeira evocação. A força magnética pertence ao homem, mas é aumentada pela ajuda dos Espíritos que a que ele apela.
Em a Revista Espírita, Kardec apresenta várias matérias sobre o assunto conforme súmulas apresentadas a seguir:
Médiuns curadores – Janeiro 1864: Aborda a importância da prece e invocação dos Espíritos superiores; na ação dos fluidos espirituais.
Carta de um médium curador lida na Sociedade foi seguida de duas comunicações: Mesmer que enfatiza a importância da vontade e fenômeno da combinação do magnetismo e fluido espiritual e de Paulo, apóstolo que destaca a relevância das orientações aos médiuns.
Conclusão de Kardec: diferença entre o magnetizador e o médium curador, desinteresse, benevolência, humildade e caridade, cuidado com o charlatanismo.
O poder curativo do Magnetismo Espiritual (Espírito do Dr. Demeure) –abril de 1865, destaca que mediunidade curadora depende da ação dos fluidos espirituais; lembra as dificuldades em tornar uma profissão regular.
Lembremos aqui que a mediunidade curadora está exclusivamente na ação fluídica mais ou menos instantânea; que aqui não deve ser confundida com magnetismo humana, nem com a faculdade que têm certos médiuns de receber dos Espíritos a indicação de remédios. Estes últimos são apenas médiuns medicinais […].
Da mediunidade curadora – setembro de 1865: carta solicitando esclarecimento alguns princípios fundamentais. Como os Espíritos agem .
No homem mole e distraído a corrente é mole, a emissão é fraca, o fluido espiritual para nele, mas sem que o aproveite; no homem de vontade enérgica, a corrente produz efeito de uma ducha. Não se deve confundir vontade enérgica com teimosia, porque esta é sempre resultado do orgulho ou do egoísmo, ao passo que o mais humilde pode ter a vontade do devotamento.
Zuavo curador do campo de Châlons, outubro 1866, considera:
[…] essa cura nada tem de maravilhoso ou de miraculoso..todos os fatos sem exceção,que se produzem por influência mediúnica são devidos a uma força da natureza […] alguns agem com conhecimento de causa outros …sabem que curam, e eis tudo. […] Desde que o dom de curar não é resultado, nem do estudo, nem de um talento adquirido aquele que o possui não pode considerá-lo um mérito […] médium melhor dotado não passa de instrumento passivo , de que os Espíritos se servem hoje e podem deixar amanhã.
Consideração sobre a propagação da mediunidade curadora –novembro de 1866: a mediunidade curadora tem limites traçados pelas leis naturais; o Espiritismo nem inventou, nem descobriu a mediunidade curadora; variedade de nuances da mediunidade curadora.
Compreende-se que a ação fluídica possa dar sensibilidade a um órgão existente, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao movimento e à percepção, cicatrizar ferida, porque o fluido se torna um verdadeiro agente terapêutico, mas é evidente que não pode remediar a ausência ou a destruição de um órgão que seria um verdadeiro milagre… Há, pois, doenças fundamentalmente incuráveis e seria ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a humanidade de todas as sua enfermidades.
O magnetismo e o Espiritismo comparados –junho de 1867
O magnetismo é pois , um grau inferior do Espiritismo, e que insensivelmente se confunde com este último, por uma série de variedades […] O Espiritismo não é, pois, senão o magnetismo espiritual, e o magnetismo não é outra coisa senão o Espiritismo humano.
A lei a os médiuns curadores –julho de 1867.Trata de mediunidade curadora do Sr Jacob e da interdição por ele sofrida por exercê-la.
Médicos – Médiuns –outubro de 1867: o desenvolvimento da mediunidade curadora em indivíduos ignorantes e indiferentes.
Dissemos que a mediunidade curadora não matará a medicina nem os médicos, mas não pode deixar de modificar profundamente a ciência médica. Sem dúvida haverá sempre médiuns curadores, porque sempre os houve, e esta faculdade está na natureza; mas serão menos numerosos e menos à medida que aumentar o número de médiuns-médicos, e quando a ciência e a mediunidade se prestarem mútuo apoio. Ter-se-á mais confiança nos médicos quando forem médiuns , e mais confiança nos médiuns quando forem médicos.
O Caid Hassan, curador tripolitano –outubro de 1867: indivíduos indignos da faculdade notável.
Eles são instrumentos movidos por uma vontade exterior […] Se pois, o Espírito que intervém na cura encontrar um bom instrumento dele se servirá com boa vontade; se não utilizará o que tiver à mão, por mais defeituoso que seja.
O zuavo Jacob –outubro de 1867: descrição sobre as curas realizadas
Conselho sobre mediunidade curadora – outubro de 1867
Para evitar recidivas, é necessário o remédio espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o destrói em seus efeitos; numa palavra, é preciso tratar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma.
O assunto também é tratado em “A Gênese”:
Cap.14 – Os Fluidos-Curas itens 31-34
31: substituição de uma molécula malsã por uma sã, poder curador resultado da qualidade do fluido e da vontade do curador;
32: há curas cuja ação é rápida e outros que necessitam de tempo para a cura
33: a) o próprio fluido do magnetizador; b) pelo fluido dos Espíritos, c) humano espiritual.
34: são fenômenos naturais, sempre ocorreram na história da humanidade, a cura instantânea pela imposição das mãos são raras.
Cap.15 – Os Milagres do Evangelho – Curas – 10 A mulher com perda de sangue.
Pode ser dirigido pela vontade do curador como pode ser atraído pelo desejo ardente, confiança e fé do enfermo-força atrativa.
Tiptologia: ruídos, pancadas e batidas
Dois ruídos famosos
1) Irmãs Fox
André Jackson Davis (1826-1910) médium norte americano, em 1847 predisse a manifestação ostensiva dos chamados mortos através de pancadas.
Em suas anotações com data de 31 de março de 1848 assim assinalou: “Esta madrugada um sopro fresco passou pelo meu rosto e eu ouvi uma voz suave e firme dizer: ‘ Irmãos foi dado início a um bom trabalho, contempla a demonstração viva que surge’. Pus-me a cismar no significado de tal mensagem.”
Neste dia registrou-se um fato de significante relevância para o despertamento da humanidade. Hydesville e as irmãs Fox: abertura da comunicação ostensivos entre encarnados e desencarnados. O fato ocorreu nos Estados Unido, por ser um país mais livre de preconceitos, mais receptivo a novas idéias do que qualquer outro povo da época.
Hydesville fica no condado de Wayne no estado de Nova York onde morava John D. Fox e sua família local onde ocorreram as manifestações físicas.
A partir da 28 de março de 1847 nessa residência começaram a ocorrer ruídos, arranhaduras e os móveis eram arrastados. As filhas do casal foram dormir no quarto dos pais e proibidas de tentar se relacionar com as batidas que se faziam ouvir. Por três noites a família não dormiu. Entretanto as meninas fizeram contato com o autor das pancadas que se descobriu ser um caixeiro viajante que fora assassinado pelos antigos moradores da casa e escondido em uma parede dupla no porão da casa. Este acontecimento despertou o mundo para a possibilidade da comunicação dos Espíritos com as pessoas encarnadas.
2) Alerta a Kardec
Em Obras Póstumas e no Livro dos Médiuns Kardec descreve como foi alertado pelo Espírito Verdade em uma noite do mês de março de 1856 quando, sozinho em casa, escrevia um texto e iniciaram-se batidas na parede que separava o cômodo vizinho, procurou localizar a origem do som e nada encontrando voltou a escrever e novamente as batidas reiniciaram. O processo repetiu-se por várias vezes, até a volta de Sra Kardec para casa que também escutou o som e como o marido não conseguiu localizar. Interrompeu a atividade e as batidas cessaram. No dia seguinte em casa do Sr. Baudin, onde se realizaria uma sessão, entra em contato com O Espírito Verdade que diz ser seu guia espiritual e que as batidas tinham por objetivo alertá-lo sobre o que estava escrevendo pois “Desagradava-me o que escrevias e eu queria que parasses.” Posteriormente revendo seus escritos encontra onde estava o que deveria ser mudado.
Em O Livro dos Médiuns encontra-se:
“Dá-se o nome de manifestações físicas às que se traduzem por efeitos sensíveis, tais como ruídos movimentos e deslocação de corpos sólidos. Umas são espontâneas, isto é, independentes da vontade de quem quer que seja; outras podem ser provocadas.”
Em ambos os casos as manifestações através de pancadas ou batidas ocorreram de forma espontânea. Tanto a família Fox como o professor Rivail não tinham nenhuma intenção de provocar os ruídos, foram mesmo por eles surpreendidos. No caso das Irmãs Fox, posteriormente elas pediam que suas perguntas fossem respondidas por batidas para as quais se convencionou um sistema, ai o fenômeno foi provocado.
As primeiras comunicações inteligentes foram obtidas por meio de pancadas, ou da tiptologia. Muito limitados eram os recursos que oferecia esse meio primitivo, que se ressentia de estar na infância a arte, tudo se reduzindo, nas comunicações, a respostas monossilábicas, por – sim, ou – não, mediante convencionado número de pancadas. Mais tarde, foi aperfeiçoado.
Não tardou que a tiptologia se aperfeiçoasse e enriquecesse com um meio de comunicação mais completo, o da tiptologia alfabética, que consiste em serem as letras do alfabeto indicadas por pancadas. Podem obter-se então palavras, frases e até discursos inteiros. De acordo com o método adotado, a mesa dará tantas pancadas quantas forem necessárias para indicar cada letra, isto é, uma pancada para o a, duas pancadas para o b, e assim por diante. Enquanto isto, uma pessoa irá escrevendo as letras, à medida que fossem sendo designadas. O espírito faz sentir que terminou, usando de um sinal que se haja convencionado. Pancadas produzidas na própria madeira da mesa, sem nenhuma espécie de movimento é a tiptologia interior.
Kardec alerta quanto à facilidade que tem os embusteiros de simular esse fenômeno através de técnicas que são capazes de dominar, portanto faz-se mister que uma observação bastante apurada seja feita quando na presença desses fenômenos. Alerta também que em muitos casos de obsessão podem ocorrer manifestações ruidosas e obstinadas de alguns Espíritos, que fazem se ouçam, espontaneamente, pancadas ou outros ruídos que se tornam muito inoportunos.
Afirma ainda Kardec que de todas as manifestações espíritas as mais freqüentes são os ruídos e as pancadas, entretanto é necessário que se afaste as causas naturais que possam estar ocasionando o fato; quando manifestação de espíritos eles são golpes secos, outras vezes surdos, fracos e leves, de outras vezes claros, distintos, até mesmo barulhentos, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. Propõe o Codificador que se submeta o acontecimento a vontade da pessoa que quer testá-lo sugerindo que ocorra em lugar definido, aumentando ou diminuindo de intensidade a pedido de maneira que não se possa negar a presença de uma inteligência. Ressalta, entretanto que a falta de resposta nem sempre significa ausência de uma causa inteligente, pois os espíritos são livres para atender ou não pedidos que lhes façam.
Para que o fenômeno se produza, faz-se mister a intervenção de uma ou mais pessoas dotadas de especial aptidão, que se designam pelo nome de médiuns. O número dos presentes em nada influi, a não ser que entre eles se encontrem alguns médiuns ignorados. Quanto aos que não têm mediunidade, a presença desses nenhum resultado produz, pode mesmo ser mais prejudicial do que útil pela disposição de espírito em que se achem.
Nem todos os Espíritos que se manifestam por pancadas são batedores. Este qualificativo deve ser reservado para os que poderíamos chamar batedores de profissão e que, por este meio, se deleitam em pregar peças, para divertimentos de umas tantas pessoas, em aborrecer com as suas importunações. Pode-se esperar que algumas vezes abordem coisas espirituosas; porém, coisas profundas, nunca.
Seria, portanto, perder tempo formular-lhes questões de certo porte científico, ou filosófico. A ignorância e a inferioridade que lhes são peculiares deram motivo a que, com justeza, os Espíritos de categorias superiores os qualificassem de palhaços, ou saltimbancos do mundo espiritual. Acrescentemos que, além de agirem quase sempre por conta própria, também são amiúde instrumentos de que lançam mão os espíritos superiores, quando querem produzir efeitos materiais, que requerem energias mais densas para transmitir o conteúdo das mensagens.
Admitamos agora que, por uma comprovação minuciosa, se adquira a certeza de que os ruídos, ou outros efeitos quaisquer, são manifestações reais: será racional que se lhes tenha medo? Não, decerto; porquanto, em caso algum, nenhum perigo haverá nelas. Só os que acreditam que é o diabo que as produz podem ficar abalados de modo deplorável, como o são as crianças a quem se mete medo com o lobisomem, ou o bicho papão. Essas manifestações tornam-se às vezes, desagradáveis, causando aos que as experimentam o desejo muito natural de se verem livres delas.
As manifestações físicas têm por fim chamar-nos a atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de uma força superior ao homem. Também dissemos que os Espíritos elevados não se ocupam com esta ordem de manifestações.e que se servem dos Espíritos inferiores para produzi-las, assim como nos utilizamos os nossos serviçais para os trabalhos pesados.
Alcançado esse fim, cessa a manifestação material, por desnecessária. (Transcrições e súmula do contido nos capítulos “Das manifestações físicas, das mesas girantes; manifestações físicas espontâneas; da sematologia e da tiptologia, da obsessão; charlatanismo e prestidigitação”).
Kardec alerta que o termo “espíritos batedores” deve ser reservado àqueles que são “batedores de profissão e que pertencem sempre, pela pouca elevação das idéias e conhecimento, às categorias inferiores… Espírito batedor propriamente dito é quase sempre fútil, quando não são malévolos”. Destaca ainda que há espíritos com qualidades morais e intelectuais superiores que se servem de batidas para transmitir mensagens por não ter encontrado no médium a faculdade necessária ao emprego de outro tipo de comunicação. Esses Espíritos devem ser chamados de espírito tiptor que se refere à linguagem tiptológica. (considerações sobre o espírito batedor de carcassone. In: Revista Espírita, junho de 1863. p.185-188).
Uma correspondência enviada no ano de 1859 consulta Kardec sobre como se livrar de Espíritos barulhentos que importunava uma família ao que o codificador responde, através da Revista Espírita (fevereiro de 1859):
Em geral não há razão para nos amedrontarmos; sua presença pode ser importuna, mas não é perigosa. Alias, compreende-se que tenhamos desejo de nos desembaraçarmos deles; entretanto, quase sempre fazemos exatamente o contrário do que deveríamos. Se forem Espíritos que se divertem, quanto mais levarmos a coisa a sério; mais eles persistem, como meninos travessos que apoquentam tanto mais vêem que nos impacientamos e que metem medo aos covardes… O melhor meio de instruir-se a respeito é evocar o Espírito através de um bom médium psicografo; por suas respostas veremos imediatamente com quem tratamos e, em conseqüência podemos agir. Se for um Espírito infeliz, manda a caridade que o tratemos com os cuidados que merece. Se for um brincalhão de mau gosto, podemos agir com ele sem cerimônias; se for malévolo é preciso pedir a Deus que o torne melhor. Em todo o caso a prece só bons resultados poderá dar. (Espíritos barulhentos. Como livrar-se deles.)
Médiuns interesseiros
Em O Livro dos Médiuns este assunto é tratado no capítulo XXVIII Charlatanismo e Prestidigitação, e como o próprio nome indica trata-se daqueles que, em seu exercício mediúnico, buscam ganhos materiais e/ou fama e prestígio.
Há vários aspectos que merecem análise quando o médium se deixa levar por esse tipo de comportamento. Um deles é que a mediunidade não se destina a espetáculos públicos sendo que seu exercício é de muita responsabilidade, pois envolve sempre a presença de Espíritos e que as manifestações destes independe da vontade do médium ou de qualquer outra pessoa senão apenas a vontade deles próprios. Assim Espíritos de certo grau de evolução se afastam de médiuns interesseiros deixando o campo aberto para a ação de Espíritos brincalhões e zombeteiros que se comprazem com atividades que buscam apenas distrações e não um propósito edificante.
A história da mediunidade nos apresenta casos em que o médium, quando movido de interesses mundanos, na ausência de Espíritos para se comunicarem usam do charlatanismo e do ilusionismo simulando comunicação de entidades que na realidade nada têm a ver com isso.
Sabemos que a mediunidade não foi criada pelo Espiritismo, desde de tempos remotos a história registra a ocorrência de fenômenos mediúnicos, entretanto foi com o Espiritismo que se colocou a questão moral de seu exercício.
Em a Revista Espírita (maio de 1864), Kardec traça as diferenças entre o Espiritismo desenvolvido na Europa e Novo Espiritualismo desenvolvido, sobretudo na América do Norte. Enquanto esse valorizava o fenômeno Mediúnico em si (o fenômeno pelo fenômeno) o Espiritismo desdobra as conseqüências morais dos fatos para o futuro da humanidade.
Dentro do contexto de apenas ver o fenômeno como algo a ser pesquisado, sem que se leve em consideração as conseqüências morais, parecia lícito aos pesquisadores remunerarem os médiuns como uma forma de tê-los disponíveis para as experiências sem que tivessem preocupação com seu sustento. Esse comportamento foi utilizado por muitos pesquisadores no final do século XIX e início do século XX.
Kardec no capítulo em estudo alerta “Mas de que serviriam hoje os médiuns pagos, se podemos ter nós mesmos a faculdade ou encontrá-la entre os familiares, amigos e conhecidos?” Com relação a esta afirmação de Kardec o professor Herculano Pires assim se expressa: “Na Europa e nos Estados Unidos, a regra é o pagamento do ‘trabalho’ mediúnico. Mas isso por falta de conhecimento do Espiritismo e particularmente desse aspecto da mediunidade esclarecido por Kardec: todos somos médiuns e podemos contar entre os familiares e os amigos muitos bons médiuns, bastando para isso, organizarmos trabalhos sérios e sistemáticos, sem intenções interesseiras de nenhuma espécie. A mediunidade é uma faculdade humana”.
O aspecto moral da mediunidade é também tratada em O Evangelho Segundo o Espiritismo no Capítulo XXVI – Dai Gratuitamente O Que Gratuitamente Recebestes, no item Mediunidade Gratuita onde é colocado que o médium não pode receber vantagens, pois que, as orientações “não são fruto de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais”, são fruto de uma inteligência que se manifesta através dele que esta funcionando tal qual um aparelho telefônico, se do outro lado não há um Espírito nada se obtém.
A mediunidade não é exclusividade de nenhuma região, pessoas ou religiões, uma vez que ela se manifesta em todos os lugares e por diferentes tipos de médiuns, isso porque é da vontade de Deus que todos seu filhos possam ser esclarecidos e consolados e não somente aqueles que podem pagar para receber a ajuda dos Espíritos.“Tal a razão por que a mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo”.
“Ora, a primeira condição para se granjear a benevolência dos bons Espíritos é a humildade, o devotamento, a abnegação, o mais absoluto desinteresse moral e material”. . A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente.”(O Evangelho Segundo O Espiritismo)”.
A questão da exploração da mediunidade para coisas fúteis e visando ganho financeiro ou prestígio também foi preocupação de Moisés como se pode verificar nos livros do Velho Testamento: Levítico e Deuteronômio, onde para evitar o abuso do uso da mediunidade, a prática de conversar com “os mortos” é condenada.
A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um recurso para adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo charlatanismo e pela superstição. Essas práticas, ao que parece, também eram objeto de negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não conseguiu desentranhá-las dos costumes populares. Estas palavras são inequívocas e provam claramente que nesse tempo as evocações tinham por fim a adivinhação, ao mesmo tempo em que constituíam comércio, associadas às práticas da magia e do sortilégio, acompanhadas até de sacrifícios humanos. Moisés tinha razão, portanto, proibindo tais coisas e afirmando que Deus as abominava. O espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente moral, consolador e religioso das relações de além-túmulo”. (O Céu e o Inferno Capítulo XI, Da Proibição de Evocar os Mortos)
E quando o médium não tem recurso material para dedicar-se exclusivamente ao exercício mediúnico? A resposta a essa questão está em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios.
Elementos desnecessários em reuniões mediúnicas: símbolos, fórmulas, paramentos, emblemas, figuras.
Conta-se que quando a esposa do cientista Einstein lhe repreendia pelo modo descuidado de se vestir, ele perguntava: “é o traje que melhora o ser humano?” Completava com uma frase do filósofo Spinoza “Mau seria que o saco fosse melhor do que o cereal que nele vai.” Este fato ajusta-se perfeitamente à doutrina espírita que valoriza os sentimentos e propósitos interiores em detrimento de coisas exteriores e ritualística nas reuniões mediúnicas¹.
No capítulo XVII – Da Formação Dos Médiuns de “O Livro dos Médiuns” no item 211 encontramos a seguinte afirmação:
Limitar-nos-emos aqui a dizer que, além da linguagem, podem considerar-se provas infalíveis da inferioridade dos Espíritos todos os sinais, figuras, emblemas inúteis, ou pueris; toda escrita extravagante, irregular, intencionalmente torturada, de exageradas dimensões, apresentando formas ridículas e desusadas. A escrita pode ser muito má, mesmo pouco legível, sem que isso tenha o que quer que seja de insólito, porquanto é mais questão do médium que do espírito. Temos visto médiuns de tal maneira enganados, que medem a superioridade dos Espíritos pelas dimensões das letras e que ligam grande importância às letras bem talhadas, como se fossem letras de imprensa, puerilidade evidentemente incompatível com uma superioridade real.
No capítulo XIV – Os Médiuns, item 176-9:
Haverá para isso algumas fórmulas de prece mais eficazes do que outras?
Somente a superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, em se tratando de pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de determinada fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é na fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da ideia ligada ao uso da fórmula.
A clareza de visão de Kardec delimita que tudo o que é exterior é de pouca importância para que tenhamos a ajuda e amparo dos bons Espíritos que são cativados pelos nossos bons propósitos e compromisso com o bem e a verdade, pouco importando uso de aparatos exteriores ou vestimenta especial por ocasião das reuniões mediúnicas.
Valorizam os aspectos exteriores aqueles a quem falta conhecimento doutrinário e ainda se acham presos aos atavismos oriundos de praticas religiosas de vidas pretéritas, que muitas vezes pensam que Espírito com forma perispiritual masculina se recusassem a se manifestar através de uma médium mulher.
Herculano Pires² nos esclarece:
Kardec assinala dois seres na estrutura humana: o ser do corpo e o ser espiritual. No homem atual esses dois seres se equilibram e a sua psicologia pode ser medida pela predominância de um sobre o outro ou pela sua equivalência. As pessoas em que predomina o ser do corpo estão mais próximas ao primitivismo. Aquelas em que os dois seres se equivalem apegam-se mais às coisas materiais e tem dificuldade de conceber a realidade do espírito. As pessoas em que predomina o ser espiritual dão mais importância às questões espirituais. As primeiras estão apegadas ao passado, as segundas à pragmática do presente e as terceiras tendem ao futuro.
Esclarece ainda que aqueles que são dominados por esse primitivismo têm mais sensações que emoções e mais emoções que idéias. Podemos, portanto cogitar que aqueles que ainda se prendem a necessidade de elementos exteriores na prática mediúnica tem um ponto de vista peculiar a sua idade espiritual.
Hammed³ lembra:
Lucas afirmava que ‘Deus não leva em conta o tempo da ignorância’ (Atos 17:30). Em outra oportunidade confirmou também que ‘muito se pedirá àquele que muito recebeu’ (Lucas 12:48), quer dizer, o agravamento das faltas é proporcional ao conhecimento… somente seremos avaliados pela providência divina de conformidade com as possibilidades do saber e sentir, isto é, segundo a nossa maneira de ver a nós próprios e o mundo que nos rodeia.
A Doutrina Espírita não possui hierarquia, rituais, símbolo, fórmulas, por ser uma doutrina que assenta suas bases em uma filosofia que valoriza os princípios éticos morais como determinante do tipo de relação que as pessoas e os grupos mantêm com os Espíritos de diferentes categorias cuja presença nas reuniões se fará pelo princípio de sintonia.
É questão de estudo e de aplicação desse estudo às condições de trabalho. Quem estuda o Espiritismo sabe que a mente é que comanda soberana as relações com o além-túmulo.¹
Mesa-girardin e outros artefatos de comunicação com os espíritos
Um aparelho mais simples, porém, do qual a má-fé pode abusar facilmente, conforme veremos no capítulo das Fraudes, é o que designaremos sob o nome de Mesa-girardin, tendo em atenção o uso que fazia dele a Sra Emílio de Girardin nas numerosas comunicações que obtinha como médium. Porque, essa senhora, se bem fosse uma mulher de espírito, tinha a fraqueza de crer nos Espíritos e nas suas manifestações. Consiste o instrumento num tampo móvel de mesa, com o diâmetro de trinta a quarenta centímetros, girando livre e facilmente em torno de um eixo, como uma roleta. Sobre sua superfície e acompanhando-lhe a circunferência, se acham traçados, como sobre um quadrante, as letras do alfabeto, os algarismos e as palavras sim e não. Ao centro existe uma agulha fixa. Pousando o médium os dedos na borda do disco móvel, este gira e pára, quando a letra desejada está sob a agulha.
Escrevem-se, umas após outras, as letras indicadas e formam-se assim, muito rapidamente, as palavras e as frases.
É de notar-se que o disco não desliza sob os dedos do médium; que os seus dedos, conservando-se apoiados nele, lhe acompanham o movimento. Talvez que um médium poderoso consiga obter um movimento independente. Julgamos-lo possível, mas nunca o observamos. Se se pudesse fazer a experiência dessa maneira, infinitamente mais probante ela seria, porque eliminaria toda possibilidade de embuste. (O Livro dos Médiuns – cap.XI. Da sematologia e da tiptologia: Linguagem dos sinais e das pancadas – Tiptologia alfabética, item 144)
Delphine di Girardin (1804-1855)
Foi poetisa. Casou-se com Émile de Girardin, jornalista e político francês, passando então a ser conhecida como Sra. Émile de Girardin.
Tomou contato com as mesas girantes nos salões literários, ponto de encontro de celebridades no mundo das letras e das artes. Logo se convenceu das manifestações dos espíritos pela mesa. Ainda em Paris encontrou-se pessoalmente com o professor Rivail..
Amiga pessoal de Victor Hugo, que foi exilado devido os acontecimentos políticos do ano de 1851, acontecimento esse que lhe causava muito sofrimento e em 6 de setembro de 1853 desembarcou em Jersey, uma pequena ilha de 116 quilômetros quadrados local do exílio do amigo. A viagem lhe foi penosa, pois já estava doente, com câncer. No transcorrer de sua visita relata as notícias de Paris e dentre elas se referiu às mesas girantes. Embora experiências com as mesas já tivessem sido feitas sem sucesso na ilha, o amigo, embora cético, aderiu às reuniões somente para não desgostar a amiga. Não tiveram sucesso nos primeiros cinco dias, mas a 11 de setembro de 1853, através da mesa comunicou-se Leopoldine, filha do poeta morta durante a lua-de-mel, afogada em um lago, num passeio de barco com o marido.
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” o espírito Delphine de Girardin assina a mensagem “A desgraça real” no capítulo V (Bem aventurados os aflitos), item 24.
Planchette
Utilizada para escrita direta as planchettes apareceram em 1853. Mezinha em forma de coração com um lápis preso em uma de suas pernas. Em “O Livro dos Médiuns” há referência a esse artefato no capítulo XIII item 152.
gostei muito do site parabéns 🙂