O LIVRO DOS MÉDIUNS II
Estudo doutrinário de: Valentim Fernandes
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Autor: Allan Kardec Editora: FEB Data da 1ª edição: 1861 |
O maravilhoso e o sobrenatural
Se a crença nos Espíritos e nas suas manifestações fosse uma concepção isolada, o produto de um sistema poderia com certa razão ser suspeita de ilusória. Mas quem nos diria, então, por que ela se encontra tão viva entre todos os povos antigos e modernos, nos livros santos de todas as religiões conhecidas? Isso, dizem alguns críticos, é porque o homem, em todos os tempos, teve amor ao maravilhoso. — Mas o que é o maravilhoso, segundo vós? — Aquilo que é sobrenatural? — E que entendeis por sobrenatural? — O que é contrário ás leis da Natureza. — Então conheceis tão bem essas leis que podeis marcar limites ao poder de Deus? Muito bem! Provai então que a existência dos Espíritos e suas manifestações são contrárias às leis da Natureza; que elas não são e não podem ser uma dessas leis. Observai a Doutrina Espírita e vereis se no seu encadeamento elas não apresentam todas as características de uma lei admirável, que resolve tudo o que os princípios filosóficos até agora não puderam resolver. (Cap. II, item 7)
Suely Caldas Schubert nos ensina que: “[…] para os que consideram a matéria a única potência da Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso, ou sobrenatural, e, para eles, maravilhoso é sinônimo de superstição”.
A falta de conhecimentos das leis que regem os fenômenos da natureza, criaram ao longo dos séculos histórias fantasiosas que povoaram o universo do popular e criaram as crendices que, hoje, com o avento das modernidades muitas delas caíram no esquecimento. Presenças imateriais, constantes, vivas e atuantes vistas por muitos, pressentidas por alguns, transformam-se, ao sabor das fantasias daqueles que não as compreendiam, em fatos maravilhosos e sobrenaturais, aumentados ao sabor da imaginação humana. Até hoje alguns desses acontecimentos, ainda vez ou outra, vêm a tona, como, por exemplo, o caso da “mula-sem-cabeça” que ainda prossegue assustando as criaturas. O estudo desse caso, entre tantos outros, a lógica nos leva a crer que tal lenda nasceu da aparição de alguns Espíritos zombeteiros que apareciam nessa forma para assustar os incautos com o que eles se divertiam.
Allan Kardec esclarece a respeito: “[…] Mas, também já temos dito que o Espírito, sob seu envoltório semimaterial, pode tomar todas as espécies de formas, para se manifestar. Pode, pois, um Espírito zombeteiro aparecer com chifre e garras, se assim lhe aprouver, para divertir-se à custa da credulidade daquele que o vê, do mesmo modo que um Espírito bom pode mostrar-se com asas e com uma figura radiosa.” (Cap. VI, Item 113-ª)
Conclui-se então, que o sobrenatural não existe e que tudo está dentro da lei da natureza e na medida que vamos nos esclarecendo, o que é sobrenatural toma forma de coisas naturais e possíveis de acontecerem.
Obsessões
No número das dificuldades que a prática do Espiritismo apresenta é necessário colocar a da obsessão em primeira linha. Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não exercem nenhum constrangimento. Os bons aconselham, combatem a influência dos maus, e se não os escutam preferem retirar-se. Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegarem a dominar alguém, identifica-se com o Espírito da vítima e a conduzem como se faz com uma criança. (Cap. XXIII, item 237).
Muitos que procuram a casa espírita chegam porque supostamente estejam acometidos de uma “obsessão”. Quando alguém está sofrendo obsessão, há alterações de comportamento físico, mental e emocional, que podem ser percebidos por aqueles que estão acostumados aos trabalhos de atendimentos em casas espíritas.
A obsessão apresenta característica diversas que precisamos distinguir com precisão, resultantes do grau do constrangimento e da natureza dos efeitos que este produz. A palavra obsessão é, portanto, um termo genérico pelo qual se designa o conjunto desses fenômenos, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação. (Cap. XXIII, item 237).
Mas será mesmo que tudo é obsessão? Qual o conceito? O Codificador nos esclarece em ”O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
A obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas; traduz-se, na mediunidade escrevente, pela obstinação de um Espírito em se manifestar, com exclusão de todos os outros.
Na questão 456 de “O livro dos espíritos”, os espíritos nos orientam que os desencarnados podem ver tudo que fazemos, desde que prestem atenção, e que constantemente nos rodeiem. Já na resposta à pergunta 457 afirmam que os espíritos conhecem nossos mais secretos pensamentos e atos, e quando nos achamos sozinhos é comum termos uma multidão de Espíritos que nos observam. Na 459 afirmam que os espíritos influem em nossos pensamentos e atos mais frequentemente do que imaginamos, e que de ordinário são eles que nos dirigem. Na 456 confirmam, que frequentemente sofremos, no mesmo instante, influência dos pensamentos dos espíritos e que esses pensamentos, não raro, contrários uns aos outros (pensamentos estes que podem ser tanto do bem quanto do mal) estão mesclados em nossas mentes, com os nossos próprios pensamentos.
Daí dá para concluir que, embora as obsessões sejam um fato, muitos dos pensamentos que por vezes imaginamos serem provenientes de um espírito desencarnado, muitas vezes são nossos.
Importante, então, que ao lidarmos com tais situações tenhamos o bom senso e acima de tudo o conhecimento doutrinário necessário para não confundir as situações e atribuir aos espíritos aquilo que corre por conta dos encarnados.
Foi por isso que o codificador abrindo o capítulo XXIII fez a categórica afirmação: “No número das dificuldades que a prática do Espiritismo apresenta é necessário colocar a da obsessão em primeira linha”.
Médiuns de cura
A mediunidade provê excelente ferramenta para aquele que deseja se melhorar de forma segura, eficiente e eficaz. É uma ferramenta que se bem utilizada pode operar verdadeiros prodígios em benefício dos mais necessitados quer sejam encarnados quer sejam desencarnados. Temos muitos exemplos no dia a dia, e também nas esferas missionárias, como podemos ver em médiuns como, Yvone do Amaral Pereira, Divaldo Franco, Chico Xavier e outros, que se destacam no movimento espírita.
Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva.
Deve-se notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os médiuns têm, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações.
Somente para mencioná-la trataremos aqui desta variedade de médiuns, (médiuns de cura) porque o assunto exigiria demasiado desenvolvimento para o nosso esquema. Estamos, aliás, informados de que um médico nosso amigo se propõe a tratá-la numa obra especial sobre a medicina intuitiva. Diremos apenas que esse gênero da mediunidade consiste principalmente no dom de curar por simples toques, pelo olhar ou mesmo por um gesto, sem nenhuma medicação. Certamente dirão que se trata simplesmente de magnetismo. É evidente que o fluido magnético exerce um grande papel no caso. Mas, quando se examina o fenômeno com devido cuidado, facilmente se reconhece à presença de mais alguma coisa. (Cap. XIV, item 159)
O médium curador tem a sua especialidade na cura como qualquer outra pessoa tem no ramo em que atue. Um médico tem a sua especialização em determinada área, porque nela se debruçou por mais tempo, e assim é em todos os ramos de atividades. No caso do médium, além do estudo, é preciso ter também outras aptidão, que passa pelo dom de curar.
E os requisitos básicos para o bom desempenho da mediunidade de cura é o devotamento e abnegação. Muito difícil de ser administrada porque mexe diretamente no ego do médium, que muitas vezes se acha acima do Espírito que executa a cura, esquecendo-se que é apenas o instrumento. Tem trazido grandes benefícios às pessoas necessitadas, mas em muitas ocasiões alguns prejuízos à doutrina espírita em virtude da forma deturpada com que ela é utilizada.
Uma das grandes provações do médium de cura é não se deixar levar pelas tentações do orgulho e da vaidade. Quando o médium começa a ser muito solicitado, começa a ser muito elogiado, fica famoso e muitos começam a adorá-lo como um santo, seu ego pode atrapalhar sua missão. Há muitos médiuns de cura que caíram por sua vaidade e perderam a oportunidade bendita do trabalho, no campo do bem. Por isso Allan Kardec, com muita propriedade faz a seguinte recomendação:
Mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. […] O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. “Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVI, item 10.)
Obsessões, enfermidades e passes
Quase todos os dias nos deparamos com pessoas que procuram as casas espíritas, com problemas obsessivos já em estado avançado, levando muitas vezes essas criaturas às doenças de difíceis diagnósticos pelos médicos da Terra, que não consideram a possibilidade da influência espiritual.
Allan Kardec no livro “A Gênese”, nos diz que “nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele […]”. Ainda nos orienta o codificador, na mesma obra, que sendo o períspirito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido.
Esses fluidos exercem sobre o períspirito uma ação tanto mais direta quando, por sua extensão e irradiação, o períspirito com eles se confunde. Atuando esses fluidos sobre o períspirito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com o qual se acha em contato molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa. “Se os eflúvios maus são permanentes e enérgicos, podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades”. Daí a ideia de que “no conhecimento do períspirito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis”. (Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, cap. I).
Em “Mecanismos da Mediunidade”, encontramos os seguintes apontamentos de André Luiz.
Compreendemos assim, perfeitamente, que a matéria mental é o instrumento sutil da vontade, atuando nas formações da matéria física, gerando as motivações de prazer ou desgosto, alegria ou dor, otimismo ou desespero, que não se reduzem efetivamente a abstrações, por representarem turbilhões de força em que a alma cria os seus próprios estados de mentação indutiva, atraindo para si mesma os agentes (por enquanto imponderáveis na Terra), de luz ou sombra, vitória ou derrota, infortúnio ou felicidade […]. Acumulando em si mesma as forças autogeradas em processo de profundo desequilíbrio, a alma exterioriza forças mentais desajustadas e destrutivas, pelas quais atrai as forças do mesmo teor, caindo frequentemente em cegueira obsessiva […]. E chegadas as semelhantes conturbações, seja no arrastamento da paixão ou na sombra do vício, sofrem a aproximação decorrentes mentais arrasadoras, oriundas dos seres empenhados à crueldade, por ignorância – encarnados e desencarnados -, que, vampirizando a existência, lhes impõem disfunções e enfermidades de variados matizes, segundo os pontos vulneráveis que apresentem, criando no mundo vastas províncias de alienação e sofrimento.
Ainda sobre enfermidades encontramos em “O que é o Espiritismo”:
Não confundamos a loucura patológica“ com a obsessão; esta não provém de lesão alguma cerebral, mas da subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, têm as aparências da loucura propriamente dita.
Ainda em “O que é o Espiritismo”:
[…] Fazendo conhecer esta nova causa de perturbação orgânica, o Espiritismo nos oferece, ao mesmo tempo, o único meio de vencê-la, agindo não sobre o enfermo, mas sobre o Espírito obsessor. O Espiritismo é o “remédio e não a causa do mal”.
Para tanto o Espiritismo oferece além do tratamento específico da obsessão, a terapia do passe como um dos elementos eficazes para a cura dessas enfermidades oriundas das obsessões.
Do ponto de vista “técnico”, o passe nada mais é do que a ação dirigida de certos fluidos. Sua aplicação processa-se de períspirito a períspirito. E por estar ligado ao corpo físico, célula a célula, exerce sobre ele preponderante influência. Daí se compreende, por exemplo, o bem estar físico que decorre da ação do passe. A energia salutar transmitida ao períspirito repercute no corpo, nos órgãos enfermos, por um processo de ressonância. Terapia de amor está inserida entre os recursos capazes de auxiliar os sofredores, na medida em que lhes possibilita a absorção de novas energias, capazes de restabelecer o equilíbrio.
Momento atual e mensagens apócrifas
É natural que, no momento difícil que estamos vivendo, aumente a procura por mensagens espíritas que possam trazer algum alento para as criaturas.
E é nesse contexto, de dúvidas e incertezas, que surge uma série de mensagens assinadas por espíritos cujos nomes são respeitáveis no movimento espírita. Porém, é nessa hora também que devemos estar muito atentos com as mistificações de médiuns e de espíritos que se aproveitam da credulidade das pessoas para se passarem por veneráveis, com recomendações, ora repetitivas, ora esdrúxulas, que não acrescentam absolutamente nada.
A questão da identidade dos Espíritos é uma das mais controvertidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo. Porque os Espíritos, de fato, não trazem nenhum documento de identificação e sabe-se com que facilidade alguns deles usam nomes emprestados. (KARDEC, O Livro dos Médiuns, item 255).
Diz Kardec no mesmo item, mais adiante, que a questão se torna mais complexa quando temos de comprovar a identidade de espíritos de personalidades antigas, o que muitas vezes é impossível.
De modo geral devemos avaliar os espíritos como avaliamos os homens: pela sua linguagem, estilo, tendências morais, atos, pelos conselhos dados etc. Desde que o espírito só diga coisas boas e proveitosas, pouco importa o seu nome. É como nos disse Jesus: “Porque não é boa árvore a que dá maus frutos, nem má árvore a que dá bons frutos. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu fruto” (Lucas, VI: 43 e 44).
Isso se aplica a encarnados e desencarnados, médiuns e espíritos. Entre as comunicações espíritas no último capítulo (XXXI) de “O Livro dos Médiuns”, temos alguns exemplos dados por Allan Kardec de mensagens consideradas apócrifas, que é algo escrito sobre o que não se tem a certeza da autoria ou cuja autenticidade não pode ser comprovada.
Há muitas vezes comunicações de tal maneira absurdas, embora assinadas por nomes os mais respeitáveis, que o mais vulgar bom-senso demonstra a sua falsidade. Mas há aquelas em que o erro é disfarçado pela mistura com princípios certos, iludindo e impedindo às vezes que se faça a distinção à primeira vista. Mas elas não resistem a um exame sério. (KARDEC, O Livro dos Médiuns, cap. XXXI).
Em síntese, Kardec apresenta, no item 267 de “O Livro dos Médiuns”, vinte e seis princípios que nos auxiliam a reconhecer a identidade e qualidade dos Espíritos. Vejamos alguns:
– “Não há outro critério para discernir o valor dos Espíritos, senão o bom-senso”;
– “Julgamos os espíritos pela sua linguagem e pelas suas ações”;
– “A linguagem dos espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem nenhuma mistura de trivialidade”;
– “A linguagem dos espíritos elevados é sempre idêntica, senão quanto à forma, pelo menos quanto à substância. As ideias são as mesmas, sejam quais forem o tempo e o lugar”;
– “Os espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem”;
– “Os espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer”;
– “Os espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das ideias e das expressões”;
– “Os espíritos bons não fazem lisonjas. Aprovam o bem que se faz, mas sempre de maneira prudente”;
– “Os espíritos superiores mantêm-se, em todas as coisas, acima das puerilidades formais. Os espíritos vulgares são os únicos que podem dar importância a detalhes mesquinhos, incompatíveis com as ideias verdadeiramente elevadas”;
Outras recomendações poderiam ser citadas, porém estas já são suficientes às nossas reflexões. Com certeza, os espíritos superiores se preocupam com o estado atual das coisas, mas de forma alguma os superiores estariam disseminando o medo, a desesperança, e tampouco se comportando como se estivessem em um palanque político.
Sábias as recomendações de Kardec:
Devemos igualmente desconfiar dos Espíritos que se apresentam com muita facilidade usando nomes bastante venerados e só com muita reserva aceitar o que dizem (KARDEC, O Livro dos Médiuns, item 267).
Pode-se fazer perguntas aos espíritos?
Orienta-nos Allan Kardec que mediunidade é a faculdade que propicia o intercâmbio entre encarnados e desencarnados.
Ainda com o espiritismo, entendemos que a mediunidade é uma faculdade humana natural, e aprendemos que o trabalho mediúnico na casa espírita tem características bem definidas, ou seja:
Receber comunicações de espíritos mais elevados, de sofredores, dos que querem vingança, enfim, de todos aqueles que podem orientar ou que necessitam de ajuda.
Dentro dessas possibilidades está também à de se fazer perguntas aos espíritos, como bem claro está no capítulo XXVI de “O Livro dos Médiuns”, desde que se obedeça alguns critérios conforme as orientações dos itens 287 e 288 do referido capítulo.
287: […] Nunca seria demasiado o nosso cuidado com a maneira de interpelar os Espíritos e mais ainda com a natureza das perguntas. Duas coisas devemos considerar nessas perguntas: a forma e o fundo. No tocante à forma, devem ser redigidas com clareza e precisão, evitando-se a complexidade. Mas outro ponto importante é a ordem em que devem ser dispostas. Num assunto que exige uma série de perguntas é essencial que elas se encadeiem com método, decorrendo naturalmente umas das outras. Dessa maneira os Espíritos respondem com muito mais facilidade e maior clareza do que se perguntássemos ao acaso, saltando de um assunto para outro. Por essa razão é conveniente prepará-las antes, deixando para intercalar durante a sessão as que surgirem das circunstâncias. Além de ser melhor a redação feita com calma, esse trabalho preparatório representa, como já dissemos, uma evocação antecipada a que o Espírito pode ter assistido e se preparado para responder.
Continua no item 287:
Algumas pessoas pensam que é preferível não fazer perguntas, convindo esperar o ensinamento dos Espíritos, sem o provocar. Isso é um erro. Não há dúvida que os Espíritos dão instruções espontâneas de elevado alcance que não podemos desprezar, mas há explicações que teríamos de esperar por muito tempo se não solicitássemos. Sem as nossas perguntas. O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns ainda estariam por fazer ou pelo menos seriam muito mais incompletos: numerosos problemas de grande importância estariam ainda por resolver.
Sabemos por orientação da própria espiritualidade que não devemos consultar os espíritos a todo o momento sobre problemas comuns da vida cotidiana que cabe apenas a nós resolver, porém não devemos perder de vista que determinados assuntos só são abordados pelos espíritos se solicitarmos a sua intervenção.
O grande problema é que a falta de estudo e o despreparo de alguns dirigentes, faz com que esta possibilidade fique esquecida. Desde que o bom senso prevaleça e o objetivo da pergunta seja útil por que não as utilizas? É só seguir as orientações abaixo, que certamente algo de positivo se consegue, conforme está no item 288.
Perguntas agradáveis ou desagradáveis aos espíritos:
- Os Espíritos respondem de boa vontade às perguntas que lhes fazemos?
— Depende das perguntas. Os Espíritos sérios respondem com prazer às que objetivam o bem e os meios de vos fazer progredir. Não dão ouvidos às perguntas fúteis.
- Basta que uma pergunta seja séria para ter uma resposta séria?
— Não. Isso depende do Espírito.
— Mas uma pergunta séria não afasta aos Espíritos levianos?
— Não é a pergunta que afasta os Espíritos levianos, é o caráter de quem a faz.
- Quais as perguntas particularmente desagradáveis para os Espíritos bons?
— Todas as que são inúteis ou feitas por curiosidade e para experimentá-los. Então eles não respondem e se afastam.
— Há perguntas que desagradem aos Espíritos imperfeitos?
— Somente aquelas que possam pôr-lhes à mostra a ignorância ou a mistificação, quando estão procurando enganar. Fora disso, respondem a tudo sem se preocuparem com a verdade.
- Que pensar das pessoas que só veem nas comunicações espíritas uma distração ou um passatempo, um meio de obter revelações sobre questões de interesse pessoal?
— Os Espíritos inferiores gostam muito dessas pessoas que, como eles, gostam de se divertir, e ficam satisfeitos quando as mistificam.
- Quando os Espíritos não respondem a certas perguntas é porque não querem ou por que uma potência superior se opõe a certas revelações?
— Uma coisa e outra. Há coisas que não podem ser reveladas e outras que o Espírito não conhece.
— Insistindo-se bastante o Espírito acabará por responder?
— Não, o Espírito que não quer responder pode retirar-se sem dificuldade. É por isso que convém esperar quando vos mandam e sobretudo não insistir para obter resposta. Insistência por uma resposta que não vos querem dar é um meio certo de ser enganado.
- Todos os Espíritos estão aptos a compreender as perguntas que lhes fazem?
— Longe disso. Os Espíritos inferiores são incapazes de responder a certas perguntas, o que não os impede de fazê-lo bem ou mal, como acontece entre vós.
Observação de Kardec: Em certos casos, e quando for útil, acontece muitas vezes que um Espírito mais esclarecido ajuda um Espírito ignorante e lhe assopra a resposta. Isso se reconhece facilmente pelo contraste da resposta com as demais, e também porque frequentemente o próprio Espírito o confirma. Mas isso só acontece com os Espíritos ignorantes de boa fé, jamais com os que fingem saber.
Há espíritos?
A crença nos espíritos é intuitiva – já trazemos este conhecimento que, embora velado no corpo físico, está presente em nossas vidas; assim nos ensinam os espíritos,
Seja qual for a ideia que dos Espíritos se faça, a crença neles necessariamente se funda na existência de um princípio inteligente fora da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta deste princípio. Tomamos, conseguintemente, por ponto de partida, a existência, a sobrevivência e a individualidade da alma, existência, sobrevivência e individualidade que têm no Espiritualismo a sua demonstração teórica e dogmática e, no Espiritismo, a demonstração positiva.
Nas regiões do espaço infinito se reúnem os semelhantes, sendo o lugar de cada um, conforme suas afinidades. Os espíritos instruem:
Segundo a crença vulgar, se vai para o céu, ou para o inferno. […] a razão se recusa a admitir semelhante nulidade do infinito e tudo nos diz que os diferentes mundos são habitados. […] não podendo a doutrina da localização das almas harmonizar-se com os dados da Ciência, outra doutrina mais lógica lhes assina por domínio, não um lugar determinado e circunscrito, mas o espaço universal: formam elas um mundo invisível, em o qual vivemos imersos, que nos cerca e acotovela incessantemente.
Resta saber se o espírito pode comunicar-se com o homem, permutar pensamentos com os encarnados. Mas, por que não? Que é o homem, senão um espírito revestido de corpo material? Qual o motivo por que um espírito livre não poderia comunicar-se com um espírito cativo, como o homem livre se comunica com o prisioneiro? Admitida a sobrevivência da alma, seria irracional negar a sobrevivência de suas afeições? Desde que as almas estão por toda parte, não é natural pensar que a de alguém que nos amou durante a vida venha nos procurar desejando comunicar-se conosco, e se utilize os meios que estão ao seu dispor? Quando viva na Terra, não agia ela sobre a matéria do seu corpo? Não era ela, a alma, que dirigia os movimentos corporais? Por que, pois, não poderia ela, após a morte, servir-se de outro corpo, de acordo com o espírito nele encarnado, para manifestar o seu pensamento, como um mudo se serve de uma pessoa que fala, para se fazer compreender?
Como diz o codificador, os incrédulos (se é que de fato existem) é que teriam que provar que essas verdades não poderiam se dar, partindo-se do princípio de que a alma existe. Que eles assim, possam tirar, do seu arsenal científico, alguma prova matemática, física, química, mecânica, fisiológica, demonstrando por a mais b, sempre a partir do princípio da existência e da sobrevivência da alma, que:
- O ser pensante durante a vida terrena não deve mais pensar depois da morte;
- Se ele pensa, não deve mais pensar nos que amou;
- Se pensa nos que amou, não deve querer comunicar-se com eles;
- Se pode estar em toda parte, não pode estar ao nosso lado;
- Se está ao nosso lado, não pode se comunicar conosco;
- Por meio do seu corpo fluídico, não pode agir sobre a matéria inerte;
- Se pode agir sobre a matéria inerte, não pode agir sobre um ser vivo;
- Se pode agir sobre um ser vivo, não pode lhe dirigir a mão para o fazer escrever;
- Podendo o fazer escrever, não pode responder às perguntas lhe transmitindo pensamento.
De resto, pode-se dizer que a manifestação dos espíritos está presente em todos os tempos da história da humanidade pelo fato de que sempre existiram homens que, ao partirem para o mundo espiritual, sentiram a necessidade de se comunicarem com o mundo físico e vice-versa. Ainda que este contato tenha se cercado das mais absurdas crendices e superstições. Prática que o espiritismo, através da obra ora em estudo, logo em seu primeiro capítulo veio, racional e cientificamente, eliminar.
Fim providencial das manifestações espíritas
Muitas pessoas não se convencem da possibilidade dos espíritos se manifestarem em nosso meio. Mesmo que isso ocorra, grande é o número de incrédulos. Tal situação tem até a sua razão de ser à medida que os charlatães, infelizmente, estejam por toda parte. Não compreendendo essa possibilidade e, simplesmente, querendo ignorar, por interesses outros, o intercâmbio, colocam-se na condição de críticos vorazes.
A ignorância sobre a natureza dos espíritos e dos meios pelos quais podem se manifestar torna, a princípio, incompreensível o fenômeno das manifestações, as quais não podem ocorrer sem a ação dos espíritos sobre a matéria. Os que consideram o espírito totalmente desprovido de matéria perguntam, com aparente razão: como ele pode agir materialmente?
A natureza íntima do espírito, ou seja, do ser pensante, é para nós inteiramente desconhecida. Ele se revela a nós pelos seus atos, e esses atos só podem tocar os nossos sentidos por um intermediário material. O espírito precisa de matéria para agir sobre a matéria, e seu instrumento direto é o perispírito, como o do homem é o corpo físico. Para tal utiliza seu perispírito, e também atua sobre o fluido cósmico universal, agente intermediário, espécie de veículo sobre o qual ele age como nós agimos sobre o ar para obter certos efeitos, através da dilatação, da compressão, da propulsão ou das vibrações.
Assim considerada, a ação do espírito sobre a matéria é fácil de se admitir. Compreende-se que todos os efeitos que daí resulta cabem na ordem dos fatos naturais e nada têm de maravilhosos. Só pareciam sobrenaturais porque sua causa era desconhecida. Conhecida esta, desaparece o maravilhoso, pois a causa se encontra inteiramente nas propriedades semimateriais do perispírito. Trata-se de uma nova ordem de coisas, fatos que novas leis vêm explicar.
No entanto toda manifestação espírita tem um fim, mas nem sempre é aquele providencial recomendado por Allan Kardec.
O fim providencial das manifestações espíritas é convencer os incrédulos de que nem tudo se acaba para o homem com a extinção da vida terrestre, e dar aos crentes ideias mais justas do futuro. Os Espíritos bons nos vêm instruir para nosso melhoramento e avanço e não para revelar-nos o que não devemos saber ainda, ou que só devemos conseguir pelo nosso trabalho. Se bastasse interrogar os Espíritos para obter a solução de todas as dificuldades científicas, ou para fazer descobertas e invenções lucrativas, qualquer ignorante podia tornar-se sábio sem estudar, todo preguiçoso ficar rico sem trabalhar; é o que Deus não quer. Os Espíritos ajudam os homens de gênio pela inspiração oculta, mas não os dispensam do trabalho nem das pesquisas, a fim de lhes deixar o mérito. (O que é o Espiritismo, item 50)
Faria ideia bem falsa dos Espíritos quem neles quisesse ver auxiliares dos leitores da buena-dicha. Os Espíritos sérios se recusam a ocupar de coisas fúteis; os Espíritos levianos e zombeteiros tratam de tudo, respondem a tudo, predizem tudo o que se quer, sem se importarem com a verdade, e encontram maligno prazer em mistificar as pessoas demasiado crédulas. Eis por que é essencial conhecer-se perfeitamente a natureza das perguntas que se podem dirigir aos Espíritos. (O Livro dos Médiuns item 286)
Fora do que pode ajudar ao progresso moral, não há senão incerteza nas revelações que se podem obter dos Espíritos. A primeira consequência deplorável para aquele que desvia sua faculdade do seu fim providencial, é de ser mistificado pelos Espíritos enganadores, que pululam ao redor dos homens. A segunda é de cair sob o domínio desses mesmos espíritos que podem, por meio de conselhos pérfidos, conduzir a infelicidades reais e materiais sobre a Terra. A terceira é de perder, depois da vida terrestre, o fruto do conhecimento do Espiritismo […] As manifestações não estão, pois, destinadas a servir aos interesses materiais; sua utilidade está nas consequências morais que delas decorrem. Todavia, não tivessem elas por resultados senão fazer conhecer uma nova lei da Natureza, demonstrar materialmente a existência da alma e sua sobrevivência, isso já seria muito, porque seria um largo e novo caminho aberto à filosofia. (O que é o Espiritismo itens 52 e 53)
Psicografia
A Ciência Espírita progrediu como todas as outras e mais rapidamente que as outras. Porque apenas alguns anos nos separam dos meios primitivos e incompletos que chamávamos, trivialmente, de mesas falantes e já podemos comunicar-nos com os Espíritos tão fáceis e rapidamente como os homens entre si. E isso pelos mesmos meios: a escrita e a palavra. (Capítulo XIII, item 152)
Para Herculano Pires,
o progresso acentuado por Kardec foi realmente rápido. Mas depois se verificou um retardamento. Em “Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita”, que abre “O Livro dos Espíritos”, Kardec aponta “a leviandade do Espírito humano” como causa do desinteresse e até mesmo da reação contra os estudos espíritas. “A dança das mesas” foi considerada indigna da atenção dos homens que se julgam sábios, o mesmo acontecendo com a cestinha escrevente. A tola vaidade humana e também os interesses feridos, as traições ameaçadas, a fascinação do imediatismo impediram que a Ciência Espírita prosseguisse em seu desenvolvimento rápido. Mas o próprio desenvolvimento das Ciências materiais está hoje forçando os homens a reencontrarem a verdade espírita.
A psicografia tem sido ao longo dos anos a mediunidade mais “procurada” por aqueles que querem se iniciar no trabalho de intercâmbio com a espiritualidade, como se fosse possível esse tipo de escolha.
“O Livro dos Médiuns” nos diz que mediunidade é predisposição orgânica e sendo assim não é passível de se adquirir porque quer, tampouco não ter porque não quer. Diante disso, podemos perguntar da mesma forma que Kardec perguntou, no item 220, das questões 12 a 16:
12. Com que fim a Providência dotou certas pessoas de mediunidade, de uma maneira especial?— É uma missão de que as encarregou e de que elas se sentem felizes: são intérpretes entre os Espíritos e os homens.13. Mas há médiuns que só empregam a sua faculdade com má vontade.— São médiuns imperfeitos. Não sabem o valor da graça que lhes foi concedida.14. Se for uma missão, por que não se apresenta como privilégio dos homens de bem, sendo dada a pessoas que não merecem nenhuma consideração e que podem abusar dela?— Precisamente porque essas pessoas necessitam dela para se aperfeiçoarem, e para que tenham a possibilidade de receber bons ensinamentos. Se não a aproveitarem, sofrerão as consequências. Jesus não falava de preferência aos pecadores, dizendo que é preciso dar aos que não têm?15. As pessoas que têm grande desejo de escrever como médiuns e não o conseguem, podem chegar a conclusões negativas contra si mesmas, no tocante à boa vontade dos Espíritos para com elas?— Não, porque Deus pode haver-lhes recusado essa faculdade, como pode haver-lhes recusado o dom da poesia ou da música, mas se não gozam desses favores, podem gozar de outros.16. Como um homem pode aperfeiçoar-se pelo ensinamento dos Espíritos, quando não tem, seja por seu intermédio ou de outros médiuns, a possibilidade de receber esse ensino direto?— Não tem ele os livros, como os cristãos têm o Evangelho? Para praticar a moral de Jesus os cristãos não precisam ter ouvido as palavras da própria boca do mestre.
Assim sendo, podemos concluir que podemos desenvolver outras atividades apurando a nossa sensibilidade para trabalhos de ajuda ao próximo.
Muitas vezes, atraídos pelo “glamour” da psicografia e querendo começar por onde muitos estão terminando, com a fama proveniente dos livros psicografados (muitos de conteúdos duvidosos), perdemos o nosso tempo esperando por algo que, talvez, nunca venha.
Importante, ainda, saber que todo aquele que inicia seu treinamento de escrita com o preconcebido conceito de que tem uma missão nessa área, ou então de que os espíritos vão dirigir sua mão para escrever, terá grande possibilidade de fracassos, quer seja pela não evolução do processo, quer seja pela aproximação de espíritos malfazejos e mentirosos, que se divertem com a imprudência do candidato a médium psicógrafo.
Manifestações espontâneas e a incredulidade
No item 87 do Livro dos Médiuns lemos que,
as manifestações espontâneas nem sempre se limitam a ruídos e batidas. Degeneram às vezes em verdadeira barulheira e em perturbações. Móveis e objetos são revirados, projéteis diversos são atirados de fora, portas e janelas são abertas e fechadas por mãos invisíveis, vidraças se quebram e tudo isso não pode ser levado à conta de ilusão.Toda essa desordem é muitas vezes real, mas algumas vezes é apenas aparente. Ouve-se gritaria num cômodo ao lado, barulho de louça que cai e se despedaça, de achas de lenha rolando no assoalho. Corre-se para ver e encontra-se tudo tranquilo em ordem. Mas a gente se retira, porém, e o tumulto recomeça.
Tudo isso é perfeitamente possível se considerarmos os Espíritos como forças atuantes da natureza e com capacidades de provocarem os ditos fenômenos.
Porém no item 88 somos advertidos que a “[…] trapaça, por sua vez, não perdeu a ocasião de explorar a credulidade, quase sempre em proveito pessoal”.
Compreende-se ainda a impressão que fatos dessa espécie, mesmo reduzidos à realidade, podem produzir em caracteres fracos e predispostos, pela educação, às ideias supersticiosas.O meio mais seguro de prevenir os inconvenientes que possam acarretar, pois não se pode impedi-los, é dar a conhecer a verdade.As coisas mais simples tornam-se assustadoras quando ignoramos as causas. Havendo familiaridade com os Espíritos, e os que recebem suas comunicações não mais acreditando que se trata de demônios, o medo desaparecerá.
O que precisamos entender é que estas manifestações tiveram e têm um fim útil e providencial, ou seja, chamar a atenção através dos fenômenos para a realidade espiritual, ainda que muitos deles possam ser oriundos pura e simplesmente das criações das mentes humanas, quer sejam por superstições, quer sejam por medo, é fato comprovado pelas experiências espíritas. Muitos fatos autênticos desse gênero podem ser lidos na “Revista Espírita”. Entre outros, o do espírito batedor de Bergzabem, cujas estripulias duraram mais de oito anos (nº de maio, junho e julho de 1858); o de Dibbelsdorf (agosto de 1858); a do “Padeiro das Grandes Vendas”, próximo a Dieppe (março de 1860); o da Rua de Noyers, em Paris (agosto de 1860); o do “Espírito de Castelnaudary”, sob o título de “História de um Condenado” o da fabricante de São Petersburgo (abril de 1860), e assim por diante.
Para Herculano Pires, desconhecimento do problema mediúnico, a negação sistemática da ação dos Espíritos, a ignorância do assunto, enfim, são os responsáveis pelo tabu espírita, criador de neuroses e perturbações mentais. Ao lado das superstições, que agravam as consequências das manifestações inevitáveis, temos ainda o preconceito cultural, o falso saber de pessoas que se julgam orgulhosamente detentoras, como diz Kardec, de todas as leis naturais. A divulgação teórica e prática do Espiritismo é a única maneira possível de evitar todos esses inconvenientes, familiarizando as criaturas com esse aspecto inegável da realidade.
Para aquele que não estuda ou simplesmente nega, tudo isso pode ter caracteres de misterioso. Porém os estudos espíritas nos revelam de maneira dificilmente contestável, graças aos meios que nos proporcionam de nos comunicarmos com eles.
Aliás, os estudos espíritas nos ensinam também a distinguir o que há de real, de falso ou de exagero nos fenômenos que examinamos.
[…] Homens fortes, armai-vos; homens fracos, fazei armas de vossa brandura e de vossa fé; tende, mais persuasão, mais constância na propagação de vossa doutrina; não é senão um encorajamento que viemos vos dar, não é senão para estimular vosso zelo e vossas virtudes que Deus nos permite nos manifestarmos a vós; mas se se quisesse, não se teria necessidade senão da ajuda de Deus e da própria vontade; as manifestações espíritas não são feitas senão para os de olhos fechados e os corações indócis. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIII, instruções dos espíritos -São Vicente de Paulo, Paris, 1858).
O bem e o mal e a mediunidade
Em “O Livro dos Espíritos” questão 645, Allan Kardec, perguntou aos Espíritos Superiores:
Quando o homem está mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível?
E os Espíritos responderam:
– Arrastamento, sim; irresistível, não; porque no meio dessa atmosfera de vícios podes encontrar grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir, e que teve, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes.
Esta resposta que os Espíritos deram, joga por terra toda e qualquer pretensão de se atribuir as causas da violência e dos crimes ao meio em que as criaturas estão inseridas.
O conceito de crime, do ponto de vista jurídico, embora tenha variado de acordo com o tempo e o lugar, evoluiu, na medida em que a humanidade avançou em conhecimento e moralidade. Contudo, do ponto de vista humano e espiritual, esse conceito jurídico traz limitações, pois restringe a compreensão do que seja crime somente àquelas condutas que são previstas nas leis penais como criminosas.
O crime não é o resultado somente da violação às leis criadas pelos homens, mas, e antes de tudo, fruto da transgressão às leis divinas. Existe um Código de Leis que está acima da compreensão acanhada do ser humano e da sua justiça quase sempre parcial. Esta legislação é imutável, uma vez que espelha a perfeição do seu Criador, Deus. Então podemos, com muito mais propriedade, afirmar que são passíveis de “punições” todas as transgressões as Leis Divinas. Desse ponto de vista, “crime” é sinônimo de “mal”, ação que decorre do estado de ignorância e de imaturidade do homem.
Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. (O LIVRO DOS ESPÍRITOS, q. 634)
Na questão 636 de “O Livro dos Espíritos” também vemos que “[…] o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha em fazê-lo” e que o homem é tanto mais culpado quanto melhor sabe o que faz. Não é suficiente apenas deixarmos de fazer o mal para nos mostrarmos agradáveis a Deus, tentando assegurar uma situação futura. É preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer. “Não há ninguém que não possa fazer o bem; somente o egoísta não encontra jamais ocasião de praticá-lo”. (O LIVRO DOS ESPÍRITOS, q. 643).
Em mediunidade a chave para se livrar das investidas do mal e do charlatanismo é o conhecimento de como as coisas se processam. Somente o estudo metódico de “O Livro dos Médiuns” é o que nos proporciona essa possibilidade. Vejamos o que diz nos itens a seguir:
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O perispírito, como se vê, é o princípio de todas as manifestações.
Seu conhecimento nos deu a chave de numerosos fenômenos, permitindo um grande avanço à Ciência Espírita e fazendo-a entrar numa nova senda, ao tirar-lhe qualquer resquício de maravilhoso.
Nele encontramos, graças aos próprios Espíritos, pois é explicação da possibilidade de ação do Espírito sobre a matéria, da movimentação dos corpos inertes, dos ruídos e das aparições
Nele encontraremos a explicação de muitos outros fenômenos ainda por examinar, antes de passar ao estudo das comunicações propriamente ditas.
Tanto as compreenderemos, quanto mais nos inteirarmos de suas causas fundamentais.
Se bem compreendermos esse princípio, facilmente poderemos aplicá-lo aos diversos fatos que se apresentar à observação.
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Longe de nós considerar a teoria que apresentamos como absoluta e como sendo a última palavra na questão. Ela será sem dúvida completada ou retificada mais tarde através de novos estudos.
Mas por mais incompleta ou imperfeita que hoje se apresente, pode sempre ajudar a se compreender a possibilidade dos fenômenos por meios que nada tem de sobrenatural.
Se for uma hipótese, não se lhe pode, entretanto, negar o mérito da racionalidade e da probabilidade, e que vale tanto quanto todas as explicações tentadas pelos negadores para provar que tudo não passa de ilusão, fantasmagoria e evasiva nos fenômenos espíritas.
Portanto, nem a negação pura e simples, nem a aceitação cega! Assim sendo, combatemos o mal e praticamos o bem a favor da Doutrina Espírita e consequentemente de Jesus.
Os animais se comunicam?
Vez por outra surge no movimento espírita algumas novidades que precisam ser analisadas com critério e sabedoria. Uma delas é a que diz respeito às comunicações de animais. Em “O Livro dos Espíritos”, na questão seiscentos, Allan Kardec indaga aos espíritos superiores:
A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante como a do homem após a morte?
— Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo.
Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizado quase imediatamente; não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas.
Sendo assim, fica claro que eles não têm tempo e nem consciência de si mesmo, para entrar em contato com o mundo material.
Já em “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXII item 234 encontramos a seguinte orientação:
Os animais podem ser médiuns? Frequentemente se tem proposto esta questão, e certos fatos pareciam respondê-la afirmativamente. O que, sobretudo, tem dado motivo a aceitá-lo, são os notáveis indícios de inteligência de alguns pássaros educados pelo homem, que parecem adivinhar o pensamento e chegam a tirar de um maço de cartas as que correspondem exatamente ao pedido feito. Observamos essas experiências com especial cuidado, e o que mais admiramos foi à arte que se teve de desenvolver para a instrução desses pássaros.
Não se pode negar que eles possuem uma certa dose de inteligência relativa, mas devemos convir que, na circunstância aludida, sua perspicácia ultrapassaria de muito a do homem, porque ninguém se pode vangloriar de fazer o que eles fazem. Seria mesmo necessário, para certos casos, supor que eles possuem um dom de segunda vista superior ao dos sonâmbulos mais clarividentes. Sabemos, com efeito, que a lucidez é essencialmente variável e está sujeita a frequentes intermitências, ao passo que nesses animais seria permanente e funcionaria com uma regularidade e uma precisão que não se encontram em nenhum sonâmbulo.
Sem maiores aprofundamentos no assunto, o que queremos refletir aqui é sobre a necessidade de estudar as obras básicas para poder entender com mais propriedade o que é possível e o que não é. Proliferam nos dias atuais a ideia do atendimento espiritual aos animais, passes e etc., as vezes com a melhor das intenções, mas que ridicularizam a Doutrina Espírita.
Defensores das novidades sempre se apegam no pressuposto que a Doutrina Espírita é dinâmica e aberta a novas possibilidades. Sem dúvida, mas vejamos como Allan Kardec colocou essa proposição:
Caminhando de par com o progresso o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. (A Gênese, cap.I, item 55).
Note-se aí que existe uma palavra-chave que define tudo: verdade.
Assim, enquanto isso não for comprovado como verdade, devemos ficar com o que diz Allan Kardec, e os espíritos superiores em relação às novidades que surgem em sobre animais e outros – tais como: vegetarianismo e veganismo, por exemplo.
Todos dignos de respeito, mas que não encontra respaldo nas obras de Kardec, embora outras até tratem disso. Lembremos do que disse Emmanuel a Chico Xavier
Se algum dia, eu disser algo diferente do que disse Jesus e Kardec, fique com eles e abandone-me.
Essa observação de Emmanuel que demonstra humildade, deve ser observada também para todos os outros espíritos encarnados e desencarnados que eventualmente possam trazer algo que venha contrariar os princípios doutrinários contidos na codificação.