O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Estudo doutrinário de: Eurípides Kühl (veja também o artigo escrito por esse autor sobre esta mesma obra)

O livro dos espíritos livro

Autor: Allan Kardec

Editora: FEB

Data da 1ª edição  1857

 

Aos amigos internautas

“O Livro dos Espíritos” é composto de:

  • Introdução
  • Prolegômenos
  • Parte primeira: 4 capítulos
  • Parte segunda: 11 capítulos
  • Parte terceira: 12 capítulos
  • Parte quarta: 2 capítulos
  • Conclusão

Assim, além de nosso artigo (“que começa pelo começo”), nesse estudo adentraremos efetivamente a comentaremos as luzes desta sublime obra. Recomendo a leitura do artigo, especialmente para eventuais internautas não-espíritas, que ocasionalmente venham a navegar nas nossas páginas. Poderão encontrar notas iniciais, indicadoras do que se trata e do que virá adiante.


Conceitos de Allan Kardec

“Nascer, morrer, renascer ainda, e progredir sempre: tal é a lei!”

“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”

“Fora da Caridade não há salvação”

“Trabalho, Solidariedade, Tolerância”

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”
(Esta, a pedra angular da evolução moral: a AUTO-REFORMA!)


O Livro dos Espíritos

Primeira parte: Das causas primárias

Capítulo I – De Deus

Itens:

  • Deus e o infinito
  • Provas da existência de Deus
  • Atributos da Divindade

P: “1. Que é Deus?”Assim perguntando aos Espíritos iluminados, Kardec iniciou o assentamento da pedra literária angular do Espiritismo — “O Livro dos Espíritos”.Não registrou “quem”, mas sim “que”…Por si só este subliminar detalhe já traz à nossa reflexão o cuidado com o qual a tarefa seria executada! Sim, porque o “quem” individualiza o sujeito da oração, ao passo que o “que” abre um leque infinito de tentativas de possibilidades de responder à questão. (“Quem” pode ser pronome interativo ou relativo; mas o “que” pode ser: pronome interrogativo, pronome relativo, advérbio, conjunção subordinativa, conjunção coordenativa, partícula expletiva, substantivo masculino e finalmente, interjeição).Responderam-lhe os próceres celestiais:—“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.(Segundo nota da FEB – Fed.Espírita Brasileira – há traduções, além da sua, grafando “causa primeira”. A questão, esclarece, é de semântica).Daí em diante, o capítulo engloba mais 15 questões e respostas.Comentar sobre Deus é ingressar num labirinto. Não obstante, só mesmo ouvindo mais reflexões daqueles Amigos do Plano Maior, e pobremente de nossa parte, falando mais pelo sentimento do que pela razão, eis o que podemos inferir sobre Deus:- é eterno (sem começo ou fim)- é infinito (sem possibilidades de ser dimensionado)- é imutável (a estabilidade do Universo o prova)- é imaterial (sua natureza difere de toda a matéria conhecida)- é único (se outros similares houvesse, a unidade de decisões e a unidade de poder estariam sujeitas a diferente ordenação universal)- é onipotente (tudo pode: seu poder é absoluto porque é único; caso não dispusesse de soberano poder, algo poderia haver tão ou mais poderoso)- é onipresente (presente em todos os lugares, simultaneamente)- é onisciente (tudo sabe, tudo conhece: presente, passado, futuro)- é soberanamente justo e bom (leis divinas, naturais, irretocáveis no micro e no macro o atestam)- é perfeito (perfeição, aqui, no nível inigualável, o que, por si só caracteriza pureza inatingível).

As reflexões acima são algumas das possíveis, em se considerando o conhecimento humano e sua capacidade de o expressar.Todos os pensadores, de todos os tempos, algo disseram sobre Deus.Vamos registrar pequenas lembranças nossas:

Moisés: No decálogo, já no primeiro mandamento são expostas notas sobre Deus; no segundo, há séria advertência para que Seu nome jamais fosse pronunciado em vão.

Jesus: o maior de todos os pensadores, o espírito mais puro jamais encarnado, referindo-se a Deus disse:

a. “Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome!” (Mateus, 6:9);

Nota: Allan Kardec, considerando a concisão da “Oração Dominical” elaborada pelo próprio Jesus, houve por bem acrescentar comentários após cada frase (vide “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap XXVIII). Assim, à primeira frase do “Pai Nosso” (acima), adjuntou as reflexões:

Cremos em vós, Senhor, porque tudo revela o vosso poder e a vossa bondade! A harmonia do Universo testemunha uma sabedoria, uma prudência e uma previdência que suplantam todas as faculdades humanas; o nome de um ser soberanamente grande e sábio está inscrito em todas as obras da Criação, desde o ramo de erva e no menor inseto, até os astros que se movem no espaço; por toda parte vemos a prova de uma solicitude paternal; por isso, cego é aquele que não vos reconhece em vossas obras, orgulhoso aquele que não vos glorifica e ingrato aquele que não vos rende ações de graça.

b. “Bom, só existe um” (Mateus, 19:17).

c. “A Deus todas as coisas são possíveis” (Mateus, 19:26).

João: Deus é amor! (1 João, 4:8).

Santo Agostinho: teria dito que, no íntimo, sentia e sabia como era Deus, contudo, se alguém pedisse para dizê-lo, aí já não saberia;

Leonardo Da Vinci: perguntado sobre o que pensava sobre Deus, respondeu que só podia compará-Lo assim: “o Sol é a sombra d’Ele”; Um sábio estava na praia e um discípulo perguntou-lhe como era Deus, obtendo como resposta: “é mais fácil colocar toda a água do mar num dedal do que descrever como é Deus…”

Sir Isaac Newton: toda vez que pronunciava o nome de Deus, antes, tirava o chapéu, em sinal de profundo respeito; Ainda sobre Newton, dizem – e talvez não passe de folclore – que estando certa vez sob a “famosa macieira” (aquela da qual certa vez, ao ver se desprender uma maçã, argutamente enunciou a “Lei da Gravidade”), perguntou a um menino: “Você sabe quem fez esta maçã?”— “Foi Deus!!!”, respondeu o menino. Newton, então, propôs:— “Se você me provar que Deus existe eu lhe dou a maçã de presente…” — “E se o senhor me provar que Deus não existe, eu subo nessa macieira e apanho todas as maçãs para lhe dar…”.

Emmanuel: É um dos mais consagrados filósofos da espiritualidade a serviço do espiritismo. Ele registrou: “O servidor que confia na Lei da Vida reconhece que todos os patrimônios e glórias do Universo pertencem a Deus” (mensagem n° 26, in “Fonte Viva”, 28ª Ed., 2002, FEB, Brasília/DF).

Eurípedes Barsanulfo: deixou-nos a prece denominada “Deus”, um poema de raríssima suavidade espiritual, do qual vamos transcrever apenas dois parágrafos:

O Universo é obra inteligentíssima; obra que transcende a mais genial inteligência humana; e como todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, é forçoso inferir que a do Universo é superior a toda inteligência; é a inteligência das inteligências; a Causa das causas; a Lei das leis; o Princípio dos princípios; a Razão das razões; a Consciência das consciências; é Deus! Nome mil vezes Santo que Newton jamais pronunciava sem se descobrir. […] Deus! Reconheço-vos eu, Senhor! com Jesus, quando ora: “Pai nosso que estais nos céus… ou com os anjos quando cantam: ‘Glória a Deus nas alturas’… Aleluia!”

Panteísmo

Doutrina ou crença segundo a qual tudo o que existe é identificado com Deus; e ainda uma forma de sensibilidade que vê Deus manifesto em toda a natureza: Deus seria a soma de tudo o que existe. Como vemos, conceituação que de forma embora vaga, algo se aproxima da resposta à primeira questão de “O Livro dos Espíritos”, acima comentada. Mas há um intransponível ponto de desencontro entre essa doutrina (o panteísmo) e o espiritismo: ao configurar Deus como um ser material e possuidor de suprema inteligência, estabelece um paralelo entre o todo (o macro: Deus) e as partículas que o formam (o micro: o homem, por exemplo). Esse paralelismo não resiste à menor análise, quando sabemos que a matéria se acha em contínua transformação e o homem, em infinita evolução moral… Ora, como podemos imaginar um deus alterável (quanto à matéria) e em permanente escala evolutiva (no espírito)? Francamente, não dá!


Capítulo II — Dos elementos gerais do Universo

Conhecimento do princípio das coisas

Este capítulo engloba vinte perguntas e respostas: n°s 17 a 36.
Às três primeiras, prosseguem os espíritos sem condições de as responder (tratam, em síntese, da revelação do “princípio das coisas”, cujo mistério o homem ainda não tem faculdades para compreender, mesmo porque a ciência tem limites estabelecidos por Deus).
Embora paradoxal, justamente os homens de ciência, aqueles que mais e mais se jatanciam de enunciar e comprovar as leis da física, da química, da astronomia, da biologia, etc., são esses os que mais se aproximam da percepção da grandeza da criação de Deus!
Contudo, seja por orgulho, seja por presunção, declaram não terem qualquer crença, menos ainda a concepção de um criador universal.
O espiritismo tem como premissa que todas as coisas emanam de Deus. Assim, Deus, espírito e a matéria, constituem a trindade universal: o princípio de tudo o que existe.

Matéria

Só Deus sabe se a matéria existe desde sempre (eternamente). Antigamente havia o conceito de que matéria era tudo aquilo que tinha densidade, consubstancialidade, peso e forma; regular ou irregular, mas sempre tangível. Vejamos a questão n° 22:

P: Define-se geralmente a matéria como sendo o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas estas definições?
R: Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil, que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.

Ainda com essa questão, nós espíritas, aprendemos que: “matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”.

Espírito

Como o princípio inteligente do Universo, para manifestar-se no âmbito do plano terreno, o espírito necessita de unir-se à matéria. Nessa união, a matéria bruta, grosseira, se junta ao fluido universal (ou primitivo), que tem propriedades especiais e age como intermediário. Possibilita, assim, incontáveis combinações materiais, sob comando do espírito. Desta forma, o espírito “intelectualiza” a matéria!

Propriedades da matéria

São inúmeras as propriedades da matéria, a qual, por leis naturais e físicas, divinas, sábias, se modifica de modo a atender à organização física (e aos gostos) dos diversos seres vivos do planeta Terra.

***

Nota

Quando se pensar em “gostos”, reflitamos na bondade divina que proporciona que na Terra existam tantos sons, tantas cores, tantas frutas, tantas hortaliças, tantos grãos, tantos climas etc. Isso, para que ninguém venha algum dia a reclamar do agudo, porque existe o grave; do preto, porque existe o branco; do limão, porque existe a laranja lima; do jenipapo, porque existe o abacate; do jiló, já que existe o maracujá; do chuchu, já que existe a abobrinha; do quiabo, já que existe a vagem; da chicória, já que existe o almeirão; do frio, porque existe o calor; da lentilha, porque existe o feijão; e por aí vai… A gama de transformações e combinações materiais possíveis praticamente vai ao infinito e é justamente isso que possibilita ao homem exercitar a inteligência e tornar seu viver mais confortável. Como exemplo citamos as incontáveis utilizações: do fogo, da energia potencial da água, da fissão atômica, etc.

***

Espaço universal

Dimensionar o espaço universal, estabelecendo-lhe fronteiras, bem como, conceder-lhe certidão de nascimento, é absolutamente impossível ao homem, que pode, apenas, concebê-lo infinito (sem limites).
Vácuo, por definição, seria o “espaço ocupado por coisa alguma”. Kardec perguntou (questão n° 36) e obteve como resposta:

O vácuo absoluto existe em alguma parte do Espaço universal?
Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.

Estávamos em 1857. A ciência oficial tinha como verdade que entre os corpos celestes havia, sim, o vácuo absoluto. Eis que, nos fins do século XIX e início do XX, concorda com aquilo que Kardec havia registrado. A existência dos átomos e das moléculas foi definitivamente aceita pela ciência. A partir de então passou a ser “oficial” a suspeita da ciência de que o vácuo — a imensa área escura do espaço — estava repleto de matéria, tanto quanto um copo vazio está sempre cheio de ar.

— Mas, como prová-lo?!

O espiritismo e a ciência…

Em 1905, Albert Einstein, físico alemão (1879-1955), de paralelo com a física clássica, enuncia o conceito de fóton (quantum específico da luz) e que uma onda luminosa monocromática é formada de fótons, que têm massa de repouso nula, propagando-se no vácuo à velocidade da luz¹. Estava inaugurada a (teoria da) mecânica quântica!
A partir daí, as descobertas foram se sobrepondo, umas às outras.
Após o reconhecimento da existência dos átomos, colocou-se a questão de sua estrutura. Um primeiro modelo, baseado nos quanta (dispositivo planetário: elétrons gravitando em torno de um núcleo) foi aperfeiçoado, com a descoberta do nêutron, entre 1930 e 1932. Elétrons e nêutrons, em termos de física, passaram a ser considerados como partículas subatômicas fundamentais da família dos leptons (do grego = miúdos). Vários são os leptons conhecidos: os elétrons, os múons, os neutrinos [nome dado a pequenos nêutrons, por Enrico Fermi (1901-1954), físico italiano], e outros. Desde então, muitos físicos se debruçaram na pesquisa dos neutrinos, talvez as partículas mais intrigantes do mundo subatômico.
Intrigantes por possuírem propriedades misteriosas, diriam até fantasmagóricas. Sim: são capazes de atravessar toda a Terra sem uma única colisão… como se fossem fantasmas…
Atravessam objetos sólidos, inclusive o corpo humano, felizmente sem nenhum dano. O espantoso disso tudo é que trilhões (!) deles, a cada segundo, nos atravessam. E, no entanto, quando tudo, mas tudo mesmo, indicava que não possuíssem massa, eis o que aconteceu: dando um salto de Kardec aos nossos tempos, no início de junho de 1998, no Japão, um grupo de cento e vinte (!) cientistas, buscando apreender o que pudesse ajudar a entender algo que, eventualmente, existisse na escuridão do universo, e, principalmente, tentando comprovar que os neutrinos possuem massa, realizou um experimento no observatório japonês Super-Kamiokande²:

1. num tanque de aço inoxidável com 12,5 milhões de galões de água ultrapurificada (!!!), colocado 1,6 quilômetro abaixo da superfície da terra (um ambiente de estabilidade perfeita), foram instalados detectores de luz;
2. observou-se que às vezes, um neutrino colide com uma molécula de água e produz um lampejo azul;
3. os cientistas verificaram que os lampejos variam de intensidade, o que significa que os neutrinos mudam de forma, logo, devem possuir massa.

Criados a partir do processo de desagregação do núcleo do átomo, os neutrinos podem ser milhões de vezes menores do que um elétron. Até hoje a partícula com menor massa conhecida. Quando visto por outra partícula em experiências de espalhamento parece como um disco de 10 a 38 cm².

Atualmente, sabe-se que existem ao menos três neutrinos, cada um associado a uma partícula diferente: o neutrino do elétron, o do múon e o do tau, descoberto há três anos. E o mais intrigante ainda: eles podem intercambiar, entre si, as formas. Marcelo Gleiser, físico brasileiro mundialmente respeitado, chamou essas trocas de formas como sendo “o samba do neutrino doido”³ (o carnaval se aproximava…).
E isso ainda não é tudo: desde 1995, nos EUA, um experimento indicou a possível existência de um quarto neutrino, chamado de “neutrino estéril”.
Neutrinos são forjados no centro de estrelas como o Sol, em desintegrações de núcleos radioativos e em raios cósmicos. Em consequência, todo o sistema solar e, particularmente, a psicosfera terrena estão saturados deles.

— Isso não lembra o que o Espiritismo fala do fluido cósmico, em uma de suas infinitas transformações, particularmente aquela que constitui o envoltório atmosférico dos corpos celestes?

— No caso da Terra, vindo os neutrinos do Sol, isso não parece confirmar a informação de Emmanuel4, sobre a formação da Terra?

— E, em termos de envoltório sutil e etéreo da atmosfera dos corpos celestes, não é dali que os espíritos retiram a “matéria-prima” com a qual organizam seu perispírito, para atuarem nesse corpo celeste específico, no qual irão estagiar, ora encarnados, ora desencarnados, na longa rota evolutiva?

— Se neutrinos contêm massa, mas são tão infinitamente pequenos que podem, aos trilhões, atravessar todos os corpos sólidos, isso também não lembra uma das propriedades do perispírito, que mesmo ainda sendo matéria (segundo as questões n° 93 e 94 de “O Livro dos Espíritos” e o item n° 23 do Cap XIV de “A gênese”), atravessa corpos sólidos sem a menor dificuldade e se desloca instantaneamente a grandes distâncias?

— A interatividade nas formas dos neutrinos, também não nos lembram as diferentes constituições perispirituais a que Kardec se refere, quando registrou as diferentes classes de espíritos, com as respectivas densidades dos perispíritos que os recobrem?

— Essa mesma interatividade dos quatro neutrinos conhecidos, não teriam ação psicossomática naquilo que a Biologia denomina de “genoma humano” (o código da vida) — o DNA?

Terminamos por aqui nossos comentários, rogando aos que nos leem que relevem nosso pretensioso voo rasante sobre a ciência. Conquanto, não temos formação de físico ou químico nuclear, nem por isso nos vemos impedidos de ao menos conjeturar. A propósito, pedimos, ao menos, concedam o favor da lembrança das palavras proféticas de Kardec e teçam suas deduções:

Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.

De nossa parte, estamos testemunhando que a humildade de Kardec bem que pode ser configurada de outra forma: o tempo permitirá à ciência comprovar o que os espíritos já sabem há muito tempo…

Observações

  • Só para comparar: um elétron é visto por outro elétron (via interações magnéticas) como um disco da ordem de 10 a 30 cm².
  • O DNA tem quatro constituintes, e tem, em si, escrito o código genético na forma de pares de bases, ou letras químicas: A (adenina) : liga-se à T (Timina) e C (citosina) : liga-se à G (Guanina).

***
Nota:

¹Fóton (do grego = photos, luz) : quantum específico da luz; quantum (do latim = quantidade que toca a cada um em uma partilha). O plural de quantum é quanta.

²Reportagem científica da Revista VEJA de 17.Junho.1998: O VAZIO ESTÁ CHEIO.

³GLEISER, Marcelo, em texto especial para o caderno “Mais” da Folha de S.Paulo, em 15.Fev.04.

4Espírito Emmanuel, em “O Caminho da Luz”, psicografia de F.C.Xavier, ª Ed., 1999, FEB, Ri-o/RJ, no capítulo I, “A gênese planetária”, registra que a Terra seria “um bloco de matéria informe deslocada do Sol”, fato que hoje a ciência tem como a melhor de todas as probabilidades.

 


Capítulo III — Da Criação (questões 37 a 59)

Formação dos mundos

A quantidade de corpos celestes existentes, que juntos formam o Universo, é um número que foge absolutamente do conhecimento humano.
Desde quando existem esses mundos, essa é uma incógnita cosmológica, embora o espiritismo nos diga que foram criados por Deus, num tempo distante, indeterminado — e pela condensação do fluido cósmico universal, asseguraram os espíritos a Kardec.
Temos nos cometas o exemplo de mundos na fase inicial da sua formação, tanto quanto a astronomia já comprovou que mundos “velhos” se extinguem, dando origem a outros mundos, num processo de renovação semelhante ao dos seres vivos.
Ganha corpo perante alguns estudiosos do espiritismo a teoria da existência de vários universos. A vida no plano espiritual, para nós espíritas, parece ser prova cabal de que ao menos há mais um Universo¹.

Formação dos seres vivos

Nas questões n° 43 a 45 vemos que tão logo este planeta foi criado, foram trazidos átomos em suspensão no espaço e mesmo de outros planetas, para serem os formadores do protoplasma — tudo isso, sob supervisão de espíritos siderais, cumprindo desígnios divinos;
– por aproximadamente um bilhão de anos tais átomos foram se agregando, até formarem os germens de todos os seres vivos, que permaneceriam em estado latente, aguardando que o momento sublime da eclosão da vida os animasse;
– a relativa acomodação dos elementos, até então sacudidos e fustigados durante mais ou menos um bilhão de anos, proporcionou que a mônada celeste (“princípio espiritual”, ou “princípio inteligente” — criação de Deus) iniciasse sua trajetória evolutiva rumo à eternidade;
– essa a trajetória da mônada divina, indo do protoplasma à angelitude, isto é, estagiando desde o reino mineral, o vegetal, o animal, o hominal, até aportar na pátria dos espíritos puros;
– esse é o sublime roteiro de todos os espíritos! Todos!

Observação:

O Espírito André Luiz, no cap. III de “Evolução em Dois Mundos”, discorre maravilhosamente sobre essa fase inicial e suas consequências. Aqui, precisamos sintetizar essa descrição:
– em ambiente de mares mornos e de grande massa viscosa cobrindo a paisagem terrestre verte o princípio inteligente;
– séculos e séculos, milênios e milênios se passaram, silenciosos e sucessivos, nos quais a mônada celeste pôde se exprimir através do protoplasma;
– surgem os vírus, evidenciam-se as bactérias lavrando os minerais, são plasmadas as primeiras células, que se responsabilizariam pelas eclosões do reino vegetal, em seu início;
– formam-se as algas, em formas unicelulares — a mônada já está em estágio superior (!)
– em sucessão, surgem as algas verdes, pluricelulares, inaugurando-se a reprodução sexuada;
– de sucesso em sucesso, a mônada ingressa no reino animal;
– decorrem os milênios, com multiplicados ensaios e estágios, possibilitando à mônada, primeiro conquistar o instinto, depois a razão;
– pelo menos um bilhão e meio de anos após, o título de homem é alcançado (!!!)

Pois é, caros leitores: eis a nossa idade, quantificada com lógica por André Luiz: 15 milhões de séculos, ou, 1.500.000.000 de anos!

Povoamento da Terra. Adão

A ciência demonstra que não seria possível que o progresso humano, comprovadamente alcançado muito antes do Cristo, se tenha realizado apenas desde os séculos que distam do mito adâmico.

Diversidade das raças humanas

As condições climáticas foram as condicionantes das formações das raças: para viver na África, se nasce negro para proteção contra a inclemência do sol equatorial, com cabelos encarapinhados para reter o suor e “refrigerar” o couro cabeludo; para viver na Europa, a necessidade é ter a pele branca, para melhor captar os raios ultravioleta e suprir a carência de vitamina D, com narinas estreitas, de forma a permitir o aquecimento do ar antes da chegada aos pulmões; para viver no Oriente, tem que apresentar adiposidade em torno dos olhos, com aproximação das pálpebras, com isso tendo proteção aos ventos provenientes da proximidade com as geleiras. E, principalmente, pelas sucessivas migrações, os povos foram se adaptando às diferentes condições climáticas.
Por isso é que há diversidade de raças humanas, as quais se caracterizam por diferenças fisiológicas, decorrentes, como vimos, das necessárias e naturais condições físicas aos diferentes meios, nos quais tenham se agrupado e se fixado os primeiros habitantes da Terra. Considerando que tenhamos originalmente pertencido a uma única raça existente na superfície terrena, o fato é que com o aumento da população, houve dispersão de grupos que ao longo dos séculos partiram para novas paisagens, nas quais, em climas diferentes, novos ajuntamentos foram se formando.
A miscigenação sempre esteve presente na vida. Dessa forma, de início, o cruzamento de indivíduos da raça-mãe, com a segunda raça, por exemplo, por si só, já terá criado uma terceira raça. E assim sucessivamente.
Para o espiritismo “branca”, “negra”, “amarela” etc., são raças, sem diferenças espirituais no ser humano, apenas com elementos corantes adicionados ou subtraídos pelos espíritos “técnicos da reencarnação”, além de caracterizar pequenas particularidades físicas (cabelos, olhos, nariz, lábios, etc.) no indivíduo que deverá renascer. Essas particularidades dizem respeito ao meio ambiente no qual foi projetado o programa reencarnatório desse indivíduo. Suponhamos, por exemplo, um indivíduo que deverá nascer e viver no interior da sofrida “África negra”: a cor da pele e os traços fisionômicos terão aquela manipulação perispiritual, para que o genoma seja consentâneo com as leis da hereditariedade, bem como da raça local de nascimento.

Pluralidade dos mundos

A razão nos indica que todos os mundos são habitados. Porém, os espíritos disseram a Kardec que a constituição física dos outros mundos, bem como a organização, também física, dos seres que os habitam, não se assemelha à terrena. Para além, nas imensidões siderais existem fontes de luz e de calor, além do Sol, sendo que a eletricidade, em muitos mundos, desempenha papel que o homem desconhece.

Considerações e concordâncias bíblicas no tocante à Criação

Quanto aos mitos bíblicos de Adão, bem como o da formação do mundo em seis dias, não resistem à menor análise, admitindo-se:
– que Adão tenha mesmo povoado uma região ainda desabitada;
– que o dilúvio de Noé foi uma catástrofe parcial.

Por fim, Kardec reflete que as doutrinas e as idéias religiosas que defendem, se engrandecerão se caminharem de par com a Ciência.

***

Notas

¹Em cosmologia há um “modelo”, ou “teoria”, apelidado de BIG-BANG, especulando o estado em que se encontrava o Universo há 13 bilhões de anos, ou mais. Àquela remota época, estando temperatura e densidade extremamente altas, o modelo relativístico determinou a expansão do Universo, em um processo que lembra o de uma grande explosão; bola de fogo primordial; grande explosão (big-bang).


Capítulo IV — Do princípio vital (questões 60 a 75)

Seres orgânicos e inorgânicos

Este capítulo é de fácil assimilação quanto ao que os espíritos responderam a Kardec. De uma forma bastante simples eles definem os seres orgânicos como sendo aqueles que “têm vida”, vida essa, claramente perceptível e que se desdobra em: nascimento, crescimento, reprodução por si mesmos e, finalmente, a morte.
Comparando a dinâmica dos seres orgânicos com a inércia dos inorgânicos, logo deduzimos que estes últimos são aqueles que aos nossos sentidos constituem a matéria em estado bruto, sem atividade própria, isto é, sem movimento. Quase podemos dizer que estão “mortos”…
Mas, não é bem assim. A física já comprovou que toda a matéria existente é composta de átomos; e estes, de um núcleo, em volta do qual circulam em órbitas cativas miríades de prótons e elétrons, carregados de energia (positiva e negativa), e mais: no turbilhão dos átomos que formam um objeto, em cada um desses átomos, trilhões de partículas subatômicas (de infinitesimais proporções) têm também atividade incessante.
Tal é a grandeza da criação, a demonstrar como Deus, Inteligência Suprema do Universo, faz-se presente tanto no macro quanto no micro!
É nesse ponto que o espiritismo inaugura um novo conceito de seres orgânicos e inorgânicos, ao enunciar que são todos constituídos da mesma essência (o “fluido universal”), mas que os primeiros são aqueles que, por assim dizer, estão (durante a vida terrena) animalizados, ativados, por uma energia toda especial, que denomina de “princípio vital”, não-humana, mas divina (também oriunda do “fluido universal”).
Esse princípio vital, como tudo o que existe — exceção do espírito —, sendo uma das variantes da matéria universal modificada, desdobra-se por sua vez em outras formas, de modo a se adequar à incontável gama de espécies de seres orgânicos existentes (homens, animais, plantas).

A vida e a morte

Ao tratar desse tema — nascer e morrer, inevitável para todos os seres orgânicos —, o espiritismo traz à nossa compreensão, que a vida (física) inicia quando o princípio vital se une à matéria e que a morte ocorre quando esse princípio se esgota, num órgão vital ou nos demais órgãos.
Tal conceito se reveste de amplidão se dirigirmos o foco para os seres humanos, onde sabemos que muitas mortes ocorrem sem que os órgãos do ser estejam esgotados (caso, por exemplo, dos suicídios).
Mas este não é foro adequado a essa ilação, que expomos tão-somente para que observemos como é impróprio radicalizar nas respostas às perguntas de Kardec. Aliás, de resto, consideramos temerário radicalizar sobre qualquer outra opinião, sobre qualquer outro assunto, seja qual for.

***

NOTA: Mais à frente, isso se tornará bem mais compreensível, bastando, por enquanto, apenas adiantarmos que o Espiritismo tem como premissa que a vida se inicia na fecundação.

***
Demonstrando como o espiritismo caminha de par em par com a ciência, vejamos a questão n° 70 de “O Livro dos Espíritos” e a resposta:

Que é feito da matéria e do princípio vital dos seres orgânicos, quando estes morrem?
R: A matéria inerte se decompõe e vai formar novos organismos.

Não foi exatamente isso que disse Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794), notável químico francês, ao enunciar lei da química sobre a conservação da massa: “Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”?
Complementaram os espíritos a resposta: “O princípio vital volta à massa donde saiu”.

A seguir, em longa exposição, Kardec reflete que o princípio vital se expressa por determinada quantidade de fluido vital, segundo cada ser humano ou segundo cada espécie; diz mais: esse fluido pode ser transferido, de quem tem mais para quem dele está carente (uma forma bem simples disso se dá pelo passe magnético).
Usando de um simples exemplo, tornando definitivamente simples a compreensão da vida e da morte, Kardec as compara a um aparelho elétrico com ou sem a energia elétrica acionada.

Inteligência e instinto

Definir inteligência e instinto é tarefa que corre o risco de abrir um leque de infinitas hastes, posto que muitos são os componentes de ambas as faculdades. Contudo, neste estudo, vamos nos amparar nas judiciosas reflexões de Kardec, para podermos laborar algumas reflexões sobre ambos.

A inteligência:

– A inteligência (contínua) é um atributo especial, outorgado por Deus ao ser quando ele ingressa no reino hominal, após seu princípio inteligente ter estagiado longamente nos reinos mineral, vegetal e animal, adquirindo inexoráveis aprendizados evolutivos, aliados a méritos que certamente conquista, a pouco e pouco.
– Na categoria de faculdade especial, como parte integrante do Espírito, a inteligência necessita igualmente de condições especiais para poder se desenvolver e mais que isso, se expressar: a principal dessas condições é unir-se à matéria (já animalizada), para então intelectualizá-la.
– O “quantum” de inteligência de cada ser é variável, quando considerado o momento da análise, mas na origem, face a justiça divina, com toda certeza o Criador dispensa absolutamente porção igual a cada um, sem exceção.
– Para nós, espíritas, uma pessoa muito ou pouco inteligente, está a indicar que tal reflete o número acumulado de vivências, experiências e aprendizados, num ou noutro caso, na longa fieira de reencarnações que culminaram com a presente. Em outras palavras, na primeira, deduzimos que se trata de um espírito criado bem antes desse outro — nada mais.

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Notas da psicologia sobre a inteligência:

a. Há uma relação da idade mental com a idade cronológica de um indivíduo, o que estabelece o respectivo quociente de inteligência (Q.I.), expresso através de um número multiplicado por 100 (P.ex., uma criança com idade mental igual a 12 e idade cronológica igual a 10 tem um Q.I. de 120. (O Q.I. medium de um grupo de crianças representativa da população de certa idade é, por definição, igual a 100). Durante muito tempo esse conceito prevaleceu como fator decisivo na hora de um candidato ser escolhido em determinado emprego.
b. Há poucos anos, as empresas vêm aliando um segundo quociente ao Q.I.: o “quociente emocional” (Q.E.), determinado pela forma como um candidato se comporta diante das várias situações profissionais (relacionamento com chefes, colegas e subalternos, postura diante de crises, etc.).
c. Mais modernamente ainda, está se incorporando um terceiro quociente aos candidatos a emprego: o S.Q. (do inglês: “spiritual quotient” = quociente espiritual). Isso mesmo: averiguação das virtudes do candidato, tais como religiosidade, fraternidade, caridade, humildade, compaixão, etc.) O S.Q. surgiu quando os cientistas, analisando como ocorrem as experiências espirituais do indivíduo, descobriram uma determinada área no cérebro, que denominaram “Ponto de Deus”!!!
d. Concebendo-se a inteligência como a capacidade de resolver problemas, isso caracterizando a “inteligência contínua”, ou raciocínio lógico (do ser humano), da “inteligência fracionária” (dos animais), a inteligência humana permite a chamada “reversibilidade”, isto é, uma operação pode ser anulada pela sua inversa sem que essa volta ao ponto de partida a modifique ou modifique seu objeto. Por exemplo: em uma operação como A + B = C, a reversibilidade permite que o sujeito realize a operação inversa, C – B = A. Assim, as funções intelectuais alcançam um conhecimento do mundo.

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O instinto:

– O instinto é atributo essencial à preservação do ser: nunca falha!
– Ele se exprime na ausência de aprendizado, contudo, é, ao mesmo tempo, a principal ferramenta da inteligência, ainda embrionária nas formas rudimentares dos seres orgânicos, nos quais sua ação é quase que integralmente dominante.
– À medida que os seres orgânicos vão palmilhando a longa fieira de experiências, que lhes vai ofertando aprendizado inconsciente, o instinto vai dando lugar à inteligência, que de início, se manifesta fragmentária.
– Ao atingirem o grau que os credencia à ascensão ao reino hominal, os seres orgânicos, sem perderem o instinto, são então contemplados com a inteligência contínua. À medida que o espírito progride o instinto vai se tornando cada vez mais evanescente, embora sem desaparecer de todo.
– De posse do instinto e da inteligência, o homem tem condições de optar tanto pela prática do bem quanto do mal. Decorrendo dessa opção poderá, respectivamente, mais cedo ingressar no reino da angelitude, sendo feliz, ou retardar isso, por trilhar em descaminhos morais. Todavia, cedo ou tarde, tendo por companhia inexorável a dor, será reconduzido por vias conducentes à felicidade.


Parte segunda: Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos

Capítulo I – Dos Espíritos (questões 76 a 131)

Ao iniciar a parte segunda, após ter analisado meticulosamente as “causas primárias” — Deus e Seus atributos —, Kardec ingressa agora nas reflexões referentes aos espíritos: nós!
Nunca será demais exaltar o senso prático e o processo altamente pedagógico do Mestre lionês, empregados nesta obra, o que diz bem da sua competência, a serviço da alevantada missão que lhe foi atribuída pelos prepostos do Espírito de Verdade — Jesus!
Este capítulo é um tanto quanto diferente dos anteriores, revestindo-se de um caráter mais “técnico”, por isso o vamos apresentar de forma a contemplar a essência das respostas/informações que os espíritos prestaram a Kardec:

Origem e natureza dos Espíritos – (questões 76 a 92)

– pode se dizer que são os seres inteligentes da Criação;
– existem em todo o Universo, povoando-o;
– tiveram princípio, mas quando e como ninguém o sabe: eis aí o mistério;
– sua existência não tem fim;
– são constituídos de matéria quintessenciada, extremamente etérea,
– sua forma é qual uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea¹;
– sua coloração vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual o rubi, segundo maior ou menor pureza;
– percorrem o espaço com a velocidade do pensamento;
– têm a propriedade de irradiar: sem se dividir, enviam seus raios em várias direções.

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Nota:

¹observamos por esta resposta que é um equívoco se dizer ou pensar que os videntes “vêem espíritos”; na verdade, o que vêem é o perispírito (cuja definição aparecerá no segmento do presente estudo

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Perispírito – (questões 93 a 95)

– o espírito está sempre envolvido por uma substância vaporosa: o perispírito;
– esse invólucro, semimaterial, é extraído do fluido universal de cada globo – que varia de mundo para mundo¹;
– o perispírito tem a propriedade de tomar a aparência desejada pelo Espírito²;

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Notas:

¹Dessa informação talvez possamos inferir que jamais um ser humano, encarnado, terá condições de ir e mais ainda de permanecer em outro mundo. Quanto aos desencarnados, a literatura espírita tem dito que existe tal possibilidade, mas nesse caso os “visitantes” estarão sempre acompanhados de espíritos evoluídos, que lhes proporcionam tal “passaporte fluídico”, de duração episódica — apenas o tempo da visita;

²Muitas outras características do perispírito serão vistas mais à frente.

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Diferentes ordens de Espíritos / Escala espírita – (questões 96 a 113)

Para melhor expor o pensamento de Kardec, vamos acoplar algumas informações do capítulo 3 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Há muitas moradas na casa de meu Pai -, apresentando abaixo um quadro sinótico, resumido:

Ordem Classe Nível Evolutivo
Espiritual
Atributos Morais Mundos em
que Residem
1ª (única) Espíritos Puros Ministros de Deus
Superioridade moral absoluta
Celestes ou Divinos
Espíritos Superiores Ciência + Sabedoria + Bondade Felizes
Espíritos de Sabedoria Conhecimento + Juízo reto Felizes
Espíritos sábios Conhecimento voltado para questões científicas Felizes
Espíritos benévolos Bondade + Conhecimentos limitados Felizes ou de Regeneração
Espíritos batedores Aptidão para coisas materiais De Regeneração
Espíritos neutros Apego às coisas do mundo (nem bons, nem maus)  
3ª* Espíritos pseudo-sábios Conhecimento + orgulho Provas e expiações **
Espíritos levianos Ignorância + malícia  
10ª Espíritos impuros Inclinação para o mal  

* Estes Espíritos, propriamente falando, não formam uma classe distinta pelas suas qualidades pessoais. Podem caber em todas as classes da terceira ordem.
** A Terra está configurada nessa categoria de mundos habitados.

Como se nota, é puramente didática a classificação acima.
Devemos levar em conta, na apreciação do pensamento kardequiano, que tanto a classificação dos espíritos e dos mundos nos quais habitam, contemplam sua evolução espiritual. E que, de forma alguma, esse é um sistema acabado, mas tão somente uma proposição calcada nos diversos depoimentos obtidos através da mediunidade por Allan Kardec, quando da codificação do espiritismo, além de suas próprias reflexões.

Progressão dos Espíritos – (questões 114 a 127)

Os Espíritos — sem exceção — foram e são criados por Deus, simples e ignorantes, com destinação à felicidade que, mais cedo ou mais tarde, alcançarão, dependendo tão-somente do esforço próprio de cada um. Para tanto, já na origem do seu ingresso no reino da razão recebem o livre-arbítrio. Exercitando a inteligência e agindo, ou não, pelas indicações da consciência, têm condições de optar por seus atos, no bem ou no mal. Disso decorre que, pela lei divina de ação e reação, serão responsabilizados, adquirindo créditos ou débitos.

Os espíritos podem permanecer bastante tempo em descaminhos, aos quais um dia terão que abandonar e trilhar as vias do progresso moral. Quando estacionados no mal, não perdem sua individualidade nem seu nível moral é rebaixado; em outras palavras, não retrogradam. Se forem renitentes, a bondade divina lhes oferece a bênção da suspensão temporária do livre-arbítrio e espíritos siderais lhes designam existências destinadas ao despertamento moral. Obviamente, tais existências são difíceis, por colocar o espírito diante da própria consciência, visando que ele se arrependa e reconstrua o que haja destruído, resgatando as faltas cometidas, a par de resignação, com entendimento da generosidade divina.
Deve ser realçado que ninguém será mau para sempre. Reduzindo os termos, podemos novamente inferir que há uma “lei da inexorabilidade”, pela qual os espíritos calcados no mal, recalcitrantes, são compelidos — a benefício deles mesmos — a receber lições de progresso moral da melhor de todas as professoras: a dor!
Jesus, antes que a crença nos demônios se enraizasse na cultura religiosa, afirmou em alto e bom som que do redil divino nenhuma ovelha se perderia, conforme narração do evangelista Mateus, em 18:12, pela parábola da ovelha desgarrada.

Anjos e demônios – (questões 128 a 131)

O ser humano vem denominando de anjos, arcanjos e serafins àqueles espíritos que, na verdade, adquiriram o mais alto grau de pureza.
Esses espíritos alçaram tal posição por esforço próprio, tendo trilhado todos os caminhos do aprendizado e escalado os degraus do progresso até o topo.
Espíritos puros já os havia antes mesmo da Terra existir!
A concepção de demônio é absolutamente falsa, mas compreensível no nosso mundo, onde por ignorância, “criamos” seres com poderes fantásticos. Na realidade, “demônios” não passam de espíritos malfazejos.


Capítulo II – Da reencarnação dos Espíritos (questões 132 a 148)

 

Objetivo da encarnação (questões 132 e 133)

Ao que informaram os espíritos, o objetivo precípuo da encarnação é proporcionar ao espírito a via pela qual ele chegará, um dia, à perfeição possível.
A maneira como isso acontece tem por base a bondade de Deus, ofertando ao espírito infinitas oportunidades de participar da obra da Criação, como co-criador — numa análise simplista, Deus oferta trabalho!
É assim que ao criar os mundos e neles alocar os Espíritos para evoluírem o Pai lhes concede, como graça suprema, a inefável chance de ajudar o progresso, solidarizando-se uns com os outros e com a obra da natureza.
Como de início todos os espíritos são criados simples e ignorantes, o progresso de cada um depende única e exclusivamente de sua ação. Mais depressa se aproximarão de Deus, com maiores ou menores atribulações, conforme optem pela integração com as Leis Divinas.

 

A alma (questões 134 a 146)

Nos tempos da Codificação (1858-1869), havia intensa celeuma nos meios filosóficos, em constantes embates com os meios científicos, discursando os primeiros sobre a alma, com várias “verdades acabadas”, sendo que os segundos, apegados às pipetas, fórmulas e experiências in vitro, tudo negavam, sistematicamente.
Simplificando a discussão, Kardec anota que “o termo alma é tão elástico que cada um o interpreta ao sabor de suas fantasias” e complementa que “o homem tem, instintivamente, a convicção de que nem tudo se lhe acaba com a vida”.
Desde a o início de “O Livro dos Espíritos” (na Introdução, § II), Kardec frisa que o vocabulário humano é por demais precário para que a alma nele obtivesse definição cabal.
No entanto, para que os estudiosos do espiritismo não se perdessem em divagações ou discussões sobre qual a melhor acepção para o termo alma, Kardec pedagogicamente registra que o emprego para facilitar o entendimento será:
alma = Espírito encarnado
Espírito = Espírito desencarnado.

Assim, nós, espíritas, chamamos de alma ao espírito, quando este se reveste de um corpo físico.
Nesta oportunidade, vamos abrir um leque de reflexões sobre as informações passadas pelos espíritos, ao responderem especificamente as questões 136.a e 136.b:

136.a: Pode o corpo existir sem a alma?
— Pode; (…) a vida orgânica pode animar um corpo sem alma.

136.b: Que seria o nosso corpo, se não tivesse alma?
— Simples massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um homem.

Nossa especificidade sobre as respostas acima se prende ao fato de que está muito em voga hoje a discussão sobre o emprego de células-tronco, existentes no ser humano, sendo que as que formam o embrião, quando ainda na fase de blastócito, são de muito melhor emprego. Por isso, a ardente discussão entre os homens de ciência e os legisladores, isso no mundo todo.
Células-tronco, para uso na medicina, trouxeram à tona os questionamentos:

— Utilizar células-tronco embrionárias ou as do próprio indivíduo? Por que não as dos embriões congelados, inexoravelmente descartados pelo casal? Ou mesmo por embriões que sejam clonados?
No Espiritismo, obviamente, não há registro de células-tronco. Não obstante, o mérito de qualquer ação terá sempre alguma conotação com os ensinos de Jesus, e aí sim, encontraremos no Espiritismo, alicerce seguro para opinar. É assim que nós, espíritas, somos radicalmente contrários à utilização do embrião, mesmo que na fase de blastócito, com utilização de células-tronco (embrionárias), para fins de clonagem terapêutica.
Não iremos adiantar reflexões, mas citamos apenas que pela questão n° 344 de “O Livro dos Espíritos”, a concepção inicia-se a ligação da alma ao corpo. Logo, tal procedimento constitui um aborto — crime, segundo leis da vida e por conseguinte, diante de Deus.
Alguém poderá argumentar que o espiritismo esclarece que há corpos sem alma (as citadas questões n° 136.a e 136.b, acima) e assim sendo, o descarte de tais embriões, após deles serem extraídas as células-tronco, não constituiria aborto…
Muito bem!
Contra-argumentamos, com uma pergunta: quem, na face da Terra, pode afirmar em qual embrião inexiste a ligação de um Espírito?…
Aliás, Deus, em Sua bondade infinita, no tempo certo (antes que tal acontecesse) já permitiu à ciência descobrir que todos os indivíduos, mesmo e principalmente os adultos, têm células-tronco em si mesmos, propiciando auto-emprego com rejeição “zero”, o que dispensa as alienígenas, vindas de embriões!
Assim, reiteramos que células-tronco constituem, num primeiro passo, uma das bênçãos até aqui alcançadas pelas pesquisas com a clonagem, abrindo um inimaginável leque de opções na cura de doenças graves, recomposição de órgãos, etc. Bênção incalculável, sublime!
Mas, quando falarmos de clonagem, convém frisar que de nossa parte, defendemos a clonagem terapêutica, isto é, aquela pela qual células-tronco sejam retiradas dele próprio e eventualmente sido clonadas (naturalmente, em laboratório), visando número suficiente para o processo de cura.
De forma literal e inarredável, somos contra a clonagem terapêutica pela qual haja emprego de celulas-tronco extraídas de embriões.

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Nota:

O assunto é vasto e o espaço não comporta maiores reflexões. Não obstante, em 2004 foi lançada a obra “Genética… Além da Biologia”, no qual tratei com largueza desse e de outros temas correlatos.

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Materialismo (questões 147 e 148)

Comentando as considerações dos anatomistas e seus vários conceitos referentes ao tema alma, Kardec combate o materialismo (tudo se acaba com a morte…) com grande senso de oportunidade e lógica, expondo os princípios espíritas, probantes da sobrevivência do espírito.
Essa postura (a do nada), põe a descoberto que o homem, na verdade, a ela se agarra pelo medo que tem do abismo que a morte abre ao ignorante do mundo espiritual.
“Tarefa dos espíritas”, realça Kardec, será lhes ofertar “uma âncora de salvação” (dando informação e prestando esclarecimentos sobre a sublime engenharia da reencarnação — vidas sucessivas —, engendrada por Deus e que contempla todos os espíritos), o que lhes retirará da mente a perniciosa ideia do “nadismo”, bem como o medo da própria morte.


Capítulo III — Da volta do Espírito, extinta a vida corpórea, à vida espiritual (questões 149 a 165)

Preocupado em obter esclarecimentos sobre o que sucede ao homem após o fenômeno da morte — inexorável, aliás, para todos os seres vivos —, Kardec elaborou uma série de perguntas que dirigiu aos Espíritos, obtendo como respostas informações extremamente claras e que de forma alguma agridem ao bom senso.

Este capítulo, assim, interessa a todos…

As respectivas informações, como de resto todas as demais contidas em “O Livro dos Espíritos”, de forma alguma são imposições dogmáticas, antes, convite à razão.
Aceitá-las, ou não, eis aí outra valiosa premissa espírita: a de que tudo aquilo que se dirigir aos escaninhos da fé, que antes seja submetido à análise, seguida de demorada reflexão e julgamento, para só então, se considerado procedente, constituir-se em verdade, já então como “fé raciocinada”.

A alma após a morte; sua individualidade. Vida eterna (questões 149 a 153)

Essas questões ensejaram aos Espíritos Instrutores proclamar que a morte não existe como grande parte da humanidade imagina, isto é, um acontecimento absolutamente misterioso, impenetrável, insondável…

De fato, pelas respostas, que por exercício de lógica são facilmente aceitas, a morte, tanto quanto o nascimento, não passa de mudança de plano para a alma, no seu longo itinerário evolutivo, onde berço e túmulo são experiências muitas vezes repetidas.
É de se considerar que o Espírito tem princípio, mas não terá fim, isto é, ruma para a Eternidade, tal se constituindo sublime bênção; a cada desencarnação, retorna à Pátria espiritual, sempre revestido do perispírito, que também não se desfaz, um e outro não perdendo a identidade; já quanto aos corpos físicos utilizados nas sucessivas existências corpóreas, não padece dúvida de que são transitórios, quais vestimentas da alma.

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Nota:

A propósito do perispírito, recordamos que quando tratamos dele, no Cap. I da segunda parte, ficou estabelecido que ele é constituído de matéria cósmica do planeta no qual a alma vai reencarnar; sua duração, assim, é igual ao tempo de permanência dessa alma no longo roteiro de evolução vivenciado nesse mundo.

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O fluxo: encarnação-desencarnação-reencarnação-desencarnação…, tende assim, para repetência até um distante ponto futuro, e enquanto dura citado fluxo, opera por “solução de continuidade”, podendo ser comparado a um movimento pendular. Cessará tal fluxo quando o Espírito adquirir todo o conhecimento e evolução moral consentâneo com o grau moral desse mundo, ocasião em que obterá mérito para transmigrar para um mais evoluído.

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Nota:

Seres angelicais, por livre escolha e abnegação, não raramente permanecem “missionariamente” no mundo no qual alcançaram o passaporte para mundo mais feliz.

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A mediunidade desponta como fator decisivo como demonstrativo de que alma desencarnada (denominada Espírito) mantém a individualidade, seja pelas inúmeras comunicações verbais ou até mesmo por aparições.

Separação da alma e do corpo (questões 154 a 162)

Não há dor para a alma quando se soltam os laços que a prendem ao corpo.
O desprendimento do perispírito é realizado gradualmente, variando em razão do quantum de desprendimento material do desencarnante: as almas mais evoluídas se desprendem mais rapidamente, qual pássaro que deixa a gaiola e voa para o céu; nas almas apegadas à matéria, os laços custam mais a se desfazerem. Isso é cristalino de entender.
A experiência vem demonstrando que almas há que deixam o corpo físico, mesmo antes do desenlace, quando ainda há alguma vida orgânica. Talvez isso seja difícil de crer, mas à questão n° 156 é bem clara a informação:

[…] O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe (vida orgânica) enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.

Algumas almas — evoluídas —, ainda presas à vida orgânica, vislumbram o plano espiritual e se esforçam para que ocorra o desprendimento. Isso lhes apraz.

A chegada da alma ao mundo espiritual pode proporcionar alegria ou constrangimento, conforme haja praticado o bem ou conscientemente o mal, posto que lá estão muito mais Espíritos do que homens aqui na Terra.

São frequentes os reencontros com parentes, amigos ou conhecidos, tanto quanto com inimigos, vindo todos, amigável ou negativamente, recepcionar aquele que chega…

Mortes violentas (por acidentes, por decapitação, etc.), promovem cessação da vida orgânica e podem promover separação perispiritual, simultaneamente, tanto quanto também perda ou breve manutenção da consciência. Contudo, o desprendimento se dará com grande dificuldade em casos de morte violenta nos quais as forças vitais se mantêm por algum tempo.

Perturbação espiritual (questões 163 a 165)

A perturbação espiritual da alma que chega ao plano espiritual, decorrente do fenômeno morte do corpo físico, variará em razão do seu grau de elevação (purificação, própria do homem de bem).

Obviamente, o conhecimento da “Doutrina dos Espíritos”, será de grande valia para aquele que compreende os meandros da vida, sempre pujante, a se expressar ora no espiritual, ora no material.

Claro é que grande maioria de nós não tem preparo suficiente para administrar, sem alguma perturbação, ou de maneira confusa, esse instante inexorável, pelo qual tantas e tantas vezes já passamos e ainda passaremos.

Mas nós, os espíritas, que já conhecemos a mecânica divina dessas abençoadas viagens da nossa alma, temos mais é que nos conscientizar que o futuro é sempre promissora oportunidade de crescimento. E que a morte faz parte da vida (não é fácil ter presente essa concepção…).
Aliás, ouço, desde criança, que todos, sem a menor dúvida, sabem que:

Na festa da vida, a morte é a convidada que jamais falta, porém, quando chega, quase sempre causa surpresa.

De qualquer forma, sem que isso seja pessimismo, menos ainda masoquismo, devemos estar conscientes de que mais dia, menos dia, passaremos por essa transição. Tal consciência é fundamental para que, chegado esse instante, não venhamos a incorrer na infelicidade de nos mantermos iludidos, quais ébrios em terra estranha. E pior: muita vez, onerando os que ficaram na vida física, deles nos aproximando, necessariamente trazendo-lhes perturbação, fruto da ausência de uma prece sincera a Jesus.
Sim: o exercício diário da prece deve ser incorporado no nosso programa de vida, pois em qualquer circunstância, qual a natural perturbação decorrente da morte, ela nos trará equilíbrio e apoio da espiritualidade amiga.


 Capítulo IV — Da pluralidade das existências (questões 166 a 221)

Generalidades

A pluralidade das existências é uma dessas “verdades ocultas” tão aparentes, de tanta lógica, de tanta exaltação à Lei de Justiça Divina, que chega a ser penoso à humanidade não a ter ainda incorporado a vivência humana.

Bastaria uma simples reflexão sobre o nascimento de pessoas saudáveis, algumas nascidas em famílias riquíssimas, em contraposição a outras pessoas nascidas doentes, em famílias paupérrimas; outras tantas nascidas com acesso integral à educação, ao passo que outras na miséria é quase que uma constante… Surgiria a ardente questão:

— Se somos todos filhos de Deus, onde há justiça do Pai?

Somente pelas vertentes e justificativas de vidas passadas a resposta será convincente. Aliás, é bom que se diga, data de muitos milênios a crença de alguns povos na reencarnação.
Temos aqui um fato que nem todos os espíritas têm o cuidado de divulgar, já que poucos não são os palestrantes que em suas reflexões quase chegam a afirmar que a reencarnação é uma novidade trazida ao mundo pela Doutrina dos Espíritos (o espiritismo), cuja codificação foi feita por Allan Kardec, tendo por pedra fundamental o “O Livro dos Espíritos”, lançado em 18.04.1857, na França.

Não, não é! Com efeito, a reencarnação é uma das premissas de antigas religiões, tais como o Hinduísmo, o Jainismo, o Budismo, etc.

O que deve ser também registrado é que somente o espiritismo incorporou a mediunidade à reencarnação, obtendo dessa forma, relatos dos próprios Espíritos (desencarnados), sobre essa sublime bênção que comprova o Amor, Sabedoria e Justiça de Deus. Pela reencarnação, verdadeiro mecanismo de evolução espiritual, temos todos os meios necessários ao aprendizado ininterrupto.

Por outro lado, aquele que errou, jamais será condenado às penas eternas e sim, terá sempre “n” oportunidades de se quitar perante a própria consciência, pois pelas vidas sucessivas, irá “rasgando duplicatas assinadas no passado”, no tempo que for necessário.

  1. A reencarnação (questões 166 a 170)

Temos aqui cinco questões que nos esclarecem que o Espírito, através das várias existências como encarnado (quando nós espíritas o chamamos de “alma”, para efeito pedagógico) vão se depurando. Na vivência corporal o Espírito se transforma e por destinação divina, tende a permanentemente a evoluir moralmente, indo de “simples e ignorante” a Espírito bem-aventurado — puro Espírito.

Naturalmente que até atingir o ápice da perfeição possível, o ser demandará grande quantidade de existências físicas. Contudo, dependendo do procedimento de cada um, obviamente os que desde logo praticarem o Bem, na sua essência divina (segundo as sublimes lições e sugestões de Jesus), o número de experiências encarnadas será bem menor do que se tal procedimento não fosse observado.

  1. Justiça da reencarnação (questão 171)

A reencarnação, fundamentalmente, visa a evolução do Espírito, pelo acúmulo de aprendizados, decorrentes das infinitas experiências.
Para nós, terrestres, em paralelo, contempla o arrependimento…
Sim, porque pela Justiça, Bondade e Amor do Pai, aquele que erra não será condenado à perdição, mas tem como fanal a salvação, arrependimento surgindo dos erros acumulados, seguindo-se trabalho de reconstrução do que tenha destruído.
Como não poderia deixar de ser, esse roteiro redentor de reabilitação terá que ser trilhado, cedo ou tarde, fruto das lições que a própria Vida lhe ofertará, através da Lei de Ação e Reação. Lições essas, quase sempre dolorosas, conquanto sempre a caridade dos Amigos Espirituais esteja presente, arrimando aquele que se quita.

  1. Encarnação nos diferentes mundos (questões 172 a 188)

A vida física não acontece apenas na Terra, mas em outros mundos. Aqui, contudo, são as existências corpóreas das mais materiais e imperfeitas…
Vivemos muitas vezes aqui neste planeta, até que por mérito sejamos transferidos para outros, de vida mais harmoniosa; também por demérito, poderemos vivenciar experiências físicas em mundos ainda mais atrasados do que o nosso…
Mundos são solidários entre si, isto é, um mesmo espírito poderá habitar num mundo, ir para outro, voltar àquele e até mesmo ir para novos mundos. O objetivo é evoluir, sempre!
O espírito que evolui, às vezes, por missão, reencarna em mundos atrasados.
A pergunta de Kardec (q. 182) de como é a vida, o corpo e o estado moral em outros mundos, ficou sem resposta. Declararam os Espíritos que tal revelação, detalhada, poderia perturbar nosso equilíbrio, posto que nem todos estamos em condições de isso compreender. Mas, de forma genérica, prestaram longa informação de como se verifica a vida física, nos diferentes mundos, adequadamente com a evolução do Espírito. (Sugerimos leitura dessa questão, a de n° 182).

Mundos há em que os Espíritos apenas se revestem apenas de perispírito.
Aliás, os Espíritos puros são revestidos de envoltório tão etéreo que para nós é como se isso nem existisse.

Uma coisa ficou bem patente nas respostas a Kardec: de mundo para mundo os envoltórios dos espíritos se modificam e que cada mundo oferta material espiritual específico para os que ali irão reencarnar. Isso parece sinalizar que a ida de um ser encarnado, e mesmo desencarnado, de um mundo para outro, encontrará barreira intransponível.
Isso não se aplica aos Espíritos puros: têm eles a propriedade de estar qualquer mundo, no qual desejarem cumprir seu apostolado de caridade…

***

Nota:

A pretendida visita a Marte, ou a outros mundos, talvez nunca possam acontecer para o homem encarnado… Nós, espíritas, temos conhecimento de que somente com o amparo e em companhia de Espíritos elevados, o homem pode, em espírito, eventualmente, visitar um outro corpo celeste e por breve tempo ali permanecer.
A propósito de Marte, segundo os Espíritos, seria ele um mundo ainda mais atrasado do que a Terra, física e moralmente, ao passo que Júpiter seria mais adiantado do que nosso mundo; neste, estariam reencarnadas personalidades que foram conhecidas na Terra.
Nos complementos dessas informações sobre a vida em outros mundos são tratados temas tais como a longevidade e diferente forma de computar o tempo.

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  1. Transmigrações progressivas (questões 189 a 196)

Neste subtítulo os Espíritos esclarecem que o Espírito evolui gradativamente — de simples e ignorante a anjo —, “ensaiando-se a alma para a vida”, algo assim semelhante à vida corporal, que vai do embrião à infância e desta à fase adulta.
O Espírito em novas existências não retrograda moralmente, apenas na condição social. Aliás, todos os Espíritos são submetidos a provas, havendo aqueles que desde o início resistem às tentações do mal, apenas praticando o bem.
Tratando-se do perispírito, ele se aperfeiçoa à medida que o Espírito vai se aperfeiçoando.
Quanto ao corpo físico, perecível (apodrece), não é ele que influencia ao Espírito, e sim, ao contrário.

  1. Sorte das crianças após a morte (questões 197 a 199)

O Espírito de uma criança pode ser mais adiantado do que seu pai, vez que pelas existências passadas, pode ter acumulado mais experiências e aprendizados.
Dentro desta mesma premissa, pode ocorrer o contrário, isto é, nem sempre se poderá afirmar que uma criança tem um estado normal de inocência, eis que num corpo infantil pode estar reencarnado um Espírito de péssima índole…
Assim, quanto ao grau de adiantamento de uma criança que morre em tenra idade, pode dar-se que o dela é até maior do que o de um adulto.
A morte de uma criança, além de representar prova para os pais, pode também configurar que se tratou (este curto tempo de vida terrena) de um complemento a uma existência anterior, interrompida antes do término previsto (caso do suicídio, por exemplo).

  1. Sexo nos Espíritos (questões 200 a 202)

Segundo o entendimento terreno, os Espíritos não têm sexo, havendo entre eles sintonia de sentimentos.
Para conquistar conhecimento em tudo o Espírito reencarnará existências como homem e outras tantas como mulher, integralizando, dessa forma, o progresso que a vida física em cada sexo proporciona.

  1. Parentesco, filiação (questões 203 a 206)

Pais dão vida física ao filho, sem nada acrescentar na constituição do Espírito dele, pois todos os Espíritos são indivisíveis.

Pela reencarnação temos que nossos parentes não são apenas os da vida presente: isso faz com que a família de cada um de nós seja bem maior do que imaginamos…
Deus, ao engendrar os sagrados laços familiares, formulou leis da Natureza que são deslembradas e até irreconhecidas bênçãos, para tantas pessoas que se julgam solitárias no mundo…

Na verdade, nenhum de nós jamais está sozinho, a começar do Anjo Guardião que cada um recebe de presente da Vida.

  1. Parecenças físicas e morais (questões 207 a 217)

O Espiritismo esclarece com muito bom senso uma questão crucial para o entendimento da herança que os pais transferem para os filhos, tanto do ponto de vista físico, quanto moral:

– aspectos morais não são transmissíveis de alma para alma

– a ascendência paterna pode e deve contribuir para o progresso moral do filho

– pais virtuosos podem gerar filhos de natureza perversa, pois se o corpo deriva do corpo, o Espírito não procede do Espírito

– pais bons, que têm filhos de má índole, isso pode significar que esses maus Espíritos (tais filhos), terão suplicado apoio para se melhorar: pediram para nascer num lar equilibrado, tendo Deus os atendido (nesse caso, contaram com a caridade do casal que os acolheu)

– irmãos de caráter semelhante ou diferente põem à mostra que tais Espíritos têm ou não, sintonia

– irmãos xifópagos representam similaridade quase que integral de caráter…

***

Nota:

Talvez nos seja permitido refletir que tal expiação, dolorosíssima, retrate comprometedora vinculação do passado entre eles, com o ódio imantando-os de tal forma, que somente assim, pelo perdão recíproco, aprenderão a conviver em harmonia…

***

– famílias, e até mesmo povos, se agrupam por analogia de pendores

– em existências futuras o Espírito apresentará os traços morais já alcançados, o que não acontecerá com as características físicas, que nenhum traço guardam do passado.

  1. Idéias inatas (questões 218 a 221)

Considerando a multiplicidade de existências corpóreas, o Espírito (ser individual) utilizará um corpo físico a cada uma delas.

Esses corpos serão diferentes entre si, contudo, como o Espírito é o mesmo, é de se inferir que o conhecimento adquirido nas experiências e aprendizados vivenciados permanecerá integral, em cada uma delas — sem perdas.

As chamadas “idéias inatas” nada mais representam do que pequenas lembranças que afloram no dia-a-dia da vida física, vindas da bagagem espiritual de outras vidas.
Por Bondade divina, o homem não tem lembrança das vidas passadas, fato que poderia levar a Humanidade ao caos (esse tema será tratado mais adiante, no cap. VII).

A cada nova existência o Espírito soma novas lições, novas ações (com suas conseqüências). Agirá e progredirá com base no que já tenha aprendido, no passado.
Vidas passadas, assim, a bordo da lógica, trazem à tona a explicação para os gênios, possuidores de extraordinárias idéias, a facilidade que determinadas pessoas demonstram no aprendizado de línguas, artes, técnicas, etc.

A existência de Deus, imanente a todos os povos, em todas as épocas, encontra explicação na vida espiritual, aquela vida no mundo invisível, de onde todos nós nos deslocamos rumo à paisagem terrestre, na busca contínua da evolução.


 Capítulo V — Considerações sobre a pluralidade das existências (questão 222)

A nosso ver este capítulo representa, praticamente, a pedra angular do Espiritismo — a reencarnação! Sim, pois pelos desdobramentos vivenciais da reencarnação o homem consegue aproximar-se um pouco mais do entendimento da Justiça Divina.
Além disso, como se não bastasse tão espetacular processualística da evolução, que só mesmo a Sabedoria e Amor de Deus poderia engendrar, é por ela (a reencarnação) que se dá o intercâmbio entre o Plano Espiritual e o Plano Material.
Aliás, no capítulo anterior, Kardec já registrara à questão 171 que todas as premissas da reencarnação se fundam na Justiça Divina.

Agora, utilizando um capítulo inteiro, cujas considerações emanam de apenas uma questão — a de n° 222 —, o Codificador volta ao tema, com amplitude.
(O capítulo é longo e por isso vamos tentar sintetizá-lo, sem prejuízo do seu fulcro).

– A nós espíritas jamais acorreu proclamar que o Espiritismo teria “inventado” o dogma da reencarnação, ou mesmo que o teríamos ressuscitado da doutrina de Pitágoras. E não apenas dos gregos: também os egípcios e os hindus sabiam da volta da alma a um novo corpo físico. Com efeito, o Hinduísmo (2000 a.C.) e depois o Budismo e o Jainismo tinham a reencarnação como realidade. Na verdade, algumas distorções foram introduzidas no conceito remoto, preconizando que a alma humana, que mal procedesse, ao ter que reencarnar, para recuperar-se poderia reencarnar no corpo de um animal (metempsicose).
– Demonstrando justeza e boa vontade para com todos, Kardec sugere a neutralidade nesse tema, de forma a que a existência terrena possa acontecer várias vezes, ou, ao contrário, apenas uma vez, daí resultando que ou a reencarnação existe, ou não existe.

– Vejamos os desdobramentos da unicidade da existência física:

  1. se a reencarnação não existe, obviamente só há uma existência corporal e nesse caso, a alma de cada criatura humana só pode ter sido criada na ocasião do seu nascimento, pois mesmo que a alma já existisse, onde estava? Fazendo o quê? Tinha consciência? Se não tinha, não progredia e nesse caso por que foi criada para a inércia mental?
  2. havendo apenas uma vida física, como explicar, diante da Justiça Divina:

– a aptidão extranormal de algumas crianças, para estas ou aquelas artes ou ciências, ao lado de outras crianças que já nascem com impedimentos irreversíveis?

– por que uns nascem pobres e outros ricos?

– por que uns nascem na Europa e outros junto a tribos indígenas?

– o que determina à alma nascer homem ou mulher?

– o que dizer ou pensar das crianças que nascem mortas?

Seria Deus parcimonioso a tal grau?…

Qual filosofia resolveria tais enigmas?

– Reflitamos, a seguir, sobre a existência das várias vidas para a mesma alma:
a. existindo a reencarnação, com ou sem crença dos homens, ela se processará, porque emana da vontade de Deus, como tudo o mais no Universo e nesse caso raciocinemos:

– no nascimento, cada alma já traz consigo intuição de aprendizados anteriores;

– tal adiantamento será meritório porque proporcional ao esforço próprio;

– na maioria, as almas criadas há mais tempo, terão condições de apresentar maior evolução, com multiplicados estágios terrenos, ora como homem, ora mulher; ora rico, ora pobre; ora numa profissão, ora noutra, e assim por diante;

– todas as desigualdades morais, mentais, intelectuais, sociais, econômicas, profissionais, familiares, etc. se auto-explicam, com lógica imbatível, porque alicerçada na Justiça de Deus — igualdade para com todos — e no mérito individual de cada alma (“A cada um segundo suas obras”, proclamou Jesus);

  1. sobretudo, pelo amor do Pai pelos Seus filhos — nós —, se erramos numa ou mais existências, não estaremos condenados ao “fogo eterno”, e sim, temos “n” oportunidades de ressarcimento de eventuais erros na(s) vida(s) futura(s), na senda inexorável rumo ao progresso moral, morada da felicidade, finalidade precípua para a qual fomos criados (vide questão n° 132, desta obra).

* * *

A propósito do tema “reencarnação”, vamos transcrever abaixo duas questões que constam do nosso livro “Genética…Além da Biologia”, Edição Fonte Viva, BH/MG, 2004:

— Como o Espiritismo explica que doenças graves, letais, algumas vezes se manifestam até mesmo em nascituros ou em crianças?

— Quanto a adultos, sabemos que doenças em geral são resultantes de agressões físicas sofridas pelas células somáticas, ao longo da vida do indivíduo, daí resultando desarranjos no genoma (em células específicas da área física injuriada). No câncer, por exemplo, essas células são induzidas a se reproduzirem descontroladamente, numa “clonagem indesejável”.
Inserimos aqui, como conjetura, que além das auto-agressões ao corpo, há o contexto espiritual, pelo qual o transgressor das leis morais, por atos de intemperança, agride também ao seu perispírito, mentalmente, por reverberação, com reflexos danosos nos vários departamentos do seu corpo, os quais evidenciarão repercussões infelizes, via de regra, em existências futuras.

Essa é uma explicação que trilha pela lógica e pela Justiça Divina e que pode perfeitamente justificar o surgimento de doenças graves em pessoas (bebês, crianças ou adultos) que na atual existência nenhuma transgressão tenham cometido.
Nós, espíritas, acreditamos que tais agressões formam as chamadas “matrizes psíquicas” no DNA das células, de onde, naquela existência ou quase sempre em outra futura, poderá eclodir uma deficiência física ou mental, como por exemplo, o câncer ou o mongolismo.
Estamos, com isso, lucubrando sim, que o DNA tem sua matriz no astral e que passa de reencarnação para reencarnação. Arrima-nos o saudoso Prof. Carlos Torres Pastorino, na sua (infelizmente esgotada) monumental obra “Técnicas da Mediunidade” (Ensaio), p. 135, item: “A bioquímica comprova a Lei do Carma”.

Por fim, reduzindo os termos, temos que as doenças graves, na verdade, além de constituírem purificação orgânica, na maioria dos casos espelham purificação espiritual.
Mas, ninguém que tenha sido alcançado pela dureza do sofrimento deve permitir que isso lhe roube o sabor sutil da feliz essência que é estar vivo.

Comprovante científico da Reencarnação (!)

Roubando parte do tempo dos leitores, vamos inserir aqui uma humilde conjetura, que nem mesmo pode ser considerada como um “ensaio”, sobre uma eventual forma de comprovar a reencarnação.

Dirigimos essa conjetura a dois consagrados espíritas e os mesmos, conquanto a considerassem viável, sugeriram que fosse encaminhada à Federação Espírita Brasileira, o que fizemos.

Estamos aguardando pronunciamento daquela abençoada Instituição.
Sem mais demora, eis o que matutamos:

– Ao escrevermos o livro “Genética e Espiritismo”, editado em 1996 pela F.E.B., no item “DNA e Reencarnação”, às páginas 34-40, reproduzimos várias informações sobre a imortalidade da parte astral do DNA. Daí ficamos a imaginar a proposição que, talvez, pelas estruturas dos genes e particularmente do DNA (via genoma), a ciência possa definitivamente comprovar a reencarnação “in vitro”, isto é, pelo método laboratorial de pesquisa, comprobatório, irrefutável e universal.

Para tanto, necessário seria colher material de alguém desencarnado e comparar esse DNA, com o de alguém que, hoje, reencarnado, seja supostamente aquele indivíduo.
Apenas como exemplo: há em Uberaba/MG, o Hospital do Fogo Selvagem, onde tempos atrás, em visita, o nosso Chico Xavier confidenciou que um dos internos era a reencarnação de um personagem (famoso quanto infeliz) da 2ª Guerra Mundial…
Depois disso, até temos na literatura espírita um livro de famoso jornalista carioca, que afirma ter sido personagem da “revolução francesa”.

Se fosse possível oficialmente coletar um fio de cabelo dos despojos de ao menos um desses personagens e compará-lo com o DNA dos ora encarnados, quem sabe seriam coincidentes…? Lembro que há alguns anos, nos EUA, foi examinado um fio de cabelo de Lincoln e afirmou-se que ele sofria de doença respiratória, fato que nem todos os biógrafos do grande Presidente norte-americano registraram.
Assim, isso de coletar DNA de vultos históricos não será novidade, nem profanação. Seria, a meu ver, o casamento ideal do espiritismo com a ciência, preconizado por Kardec e defendido por Einstein.

Sabendo caríssima tal pesquisa, imaginamos que só mesmo poderia realizá-la alguma Entidade Científica (Fundação, Faculdade, etc.).

A bem da verdade: nossa lucubração sobre o DNA-imortal, como elemento probante terreno/científico da reencarnação, deriva-se e se escora na já citada obra de Torres Pastorino (“Técnicas da Mediunidade”), quando aventou (como ensaio) que o DNA comprova o karma…


Capítulo VI — Da vida espírita (questões 223 a 329)

Interessante: o capítulo anterior era formado de apenas uma questão, ao passo que este tem mais de 100 (cem) questões, o que bem demonstra a importância que a ele Kardec conferiu. Não que o anterior ou qualquer outro não tivesse importância, mas é que este, pelo que se nota, se reveste mesmo de maior transcendentalidade.
Atualmente os espíritas têm à sua disposição milhares(!) de obras relatando detalhes da vida espiritual.
— Quantos teriam se detido a perquirir as dificuldades encontradas pelo Codificador, no meio do século XIX, para elaborar perguntas aos Espíritos, concatenar as respostas dos vários médiuns e com a massa de informações à mão, filtrá-la o suficiente para que, codificando-a, lançasse ao futuro tão valiosas sementes?
Dizemos sementes porque, rigorosamente, todos os livros que hoje constituem a literatura espírita propriamente dita, isto é, pós-Kardec, nele têm respaldo, dele guardam as premissas — mormente, quando a ação se desenrola no Plano Espiritual.
É verdade que algumas obras, quais muitas que o inolvidável Chico Xavier psicografou, ao tratar de como é a vida “do lado de lá”, acrescentaram notícias e informações inéditas. É verdade. Mas Kardec, especialmente aqui, desponta como o pioneiro de uma sublime era: a chegada à Terra do Consolador prometido — a Doutrina dos Espíritos. Consolando e instruindo, o Espiritismo particulariza o que acontece quando o encarnado transpõe a inexorável fronteira terrena e adentra na espiritual, onde continuará vivendo…
Como se vê, há neste capítulo informações imperdíveis para todos os encarnados!
Feitas as primeiras reflexões, vamos resumir o que os Espíritos enunciaram a Kardec sobre como é a vida espírita:
OBS: Por oportuno, registramos que não se aplicam para os Espíritos puros todas as reflexões seguintes, pois sua evolução moral situa-os muito além das proposições humanas. Basta dizer, como exemplo, que vêem e compreendem a Deus(!), segundo a questão n° 11, deste livro.

  1. Espíritos errantes (questões 223 a 233)

    Desencarnada, a alma passa a ser Espírito errante, havendo-os de todos os graus evolutivos. Quando se diz Espírito errante se está referindo ao Espírito desencarnado, isto é, que está temporariamente na “erraticidade” e que deverá reencarnar, a breve ou longo tempo. Espíritos puros não são Espíritos errantes.
    Após a desencarnação o Espírito pode reencarnar imediatamente ou demorar longo intervalo. Tais períodos são, às vezes, “desde algumas horas até alguns milhares de séculos”.
    Sempre progridem os Espíritos errantes, ouvindo, aprendendo e ao se darem conta de suas imperfeições, buscam a vida corporal para nela colocarem em prática o aprendizado.

  2. Mundos transitórios (questões 234 a 236)

    Mundos transitórios têm superfície estéril, inadequada à vida terrena, mas propícia aos seres incorpóreos, que de nada precisam. São mundos para estágios dos Espíritos errantes, que ali se refazem, habitando-os temporariamente.
    A Terra, nos seus primórdios, foi um mundo transitório.

  3. Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos (questões 237 a 256)

    O Espírito desencarnado conserva as mesmas sensações terrenas, acrescidas de outras, pois a perda do invólucro carnal dá-lhe maior liberdade: a visão, por exemplo, reside toda nele e não apenas no equipamento ótico; tem luz própria e por isso para ele não há treva, exclusive quando em expiação. Perde a noção terrena do tempo cronológico, já que na Espiritualidade outras são as condições existenciais, quando a própria memória faz incursões no passado.
    Dependendo do seu adiantamento, os Espíritos errantes são sensíveis à música e às belezas da Natureza, que no plano extrafísico são superiores ao físico. O repouso, para eles, ocorre em razão de cansaço, mas sim para dar trégua aos pensamentos, que temporariamente ficam menos ativos.
    Sentir angústias morais e dor, fome, frio, calor, etc., constituem reminiscências da vida terrena dos Espíritos errantes involuídos, sendo que tais impressões só residem em suas mentes.

  4. Ensaio teórico da sensação nos Espíritos (questão 257)

    A presente questão, quer nos parecer, é que mais espaço ocupa em “O Livro dos Espíritos” (6 páginas, em fonte reduzida).
    Aqui Kardec discorre longamente sobre a dor que se manifesta no corpo (físico), lucubrando que o perispírito é o agente principal das sensações exteriores.
    Adverte o Mestre lionês para que não se confunda sensações do perispírito com as do corpo. Estas últimas servem apenas como parâmetro, jamais por analogia, isto é, as impressões de dor ou de desconforto que o perispírito do Espírito errante registra fazem parte de um vago sentimento íntimo, sendo mais uma reminiscência do que uma realidade. Numa palavra: é uma impressão que se materializa, fato que poderia perfeitamente não ocorrer…
    Cita como exemplo o caso dos suicidas, nos quais permanece incompleta a separação do corpo ao perispírito, causando repercussão neste, daquilo que acontece com os despojos. (Essa é, talvez, de todas as infelicidades, a maior: o suicida ficar preso à desintegração dos despojos carnais, testemunhando que a vida continua…).
    OBS: Um elementar exemplo pode nos fazer compreender que a sede das sensações é mesmo o perispírito, pois em duas situações com encarnados isso resta comprovado:

a. a ação da anestesia num paciente desloca, respectivamente, por um período de tempo, a contraparte astral na região ou, se a anestesia for total, todo o perispírito, permanecendo este, contudo, ligado ao corpo físico pelo cordão fluídico, pois do contrário ocorreria a morte;
b. em várias situações de coma, ao cessar tal estado alterado, o paciente narra que nada sentiu com referência a vários procedimentos médicos realizados até mesmo sem anestesia e há casos em que, desdobrado, “assiste” tais procedimentos.
Neste capítulo Kardec relembra que o perispírito é retirado da psicosfera do mundo em que o Espírito irá reencarnar.
Finalizando tão oportunas ilações dessa única questão, retransmitimos o que Kardec disse sobre suas pesquisas junto a milhares de Espíritos desencarnados:
“(…) Notamos sempre que os sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas conseqüências experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para os que seguiram o bom caminho. Deduz-se daí que, aos que sofrem, isso acontece porque o quiseram; que, portanto, só de si mesmos se devem queixar, quer no outro mundo, quer neste.”

5. Escolha das provas (questões 258 a 273)

Antecedendo à reencarnação, o Espírito pode escolher o gênero de provas a que será submetido. Isso devido ao seu livre-arbítrio. Quando reencarnar, o que suceder, nem sempre terá sido escolhido por ele, pois ninguém pode prever o futuro. Muitos acontecimentos surgem de atos do dia-a-dia. As primeiras existências do homem são “monitoradas” por Espíritos protetores e à medida que ele evolui, seu livre-arbítrio mais se dilata. Há existências que podem ser impostas, pelas Leis Divinas, isso estritamente em favor do Espírito mergulhado em erros. Essa imposição funciona qual freio em prolongadas existências aplicadas ao mal. Nascer entre viciados, ricos, ladrões, etc., representa dura provação a que o Espírito será submetido, isto é, aproximar-se desse clima, sem dele fazer parte. Aliás, até depois de reencarnar, o Espírito pode influenciar na escolha de suas provações.
OBS: À questão 272 Kardec comenta “a ferocidade dentro da civilização” de alguns homens… Nos nossos dias, em que o terrorismo internacional vem realizando atos de incrível barbárie, parece que os terroristas procedem de mundos inferiores à Terra. Estão tendo sua oportunidade de evolução e estão desperdiçando-a. Pelos ensinamentos dos Espíritos, sobre a Lei do Progresso, retornarão eles aos mundos de onde vieram, ou a outros ainda mais primitivos, nos quais ainda não há a civilização, que ajudarão a erguer, no trabalho dos milênios. Ademais, esticando nossas reflexões, podemos seguramente imaginar que os terroristas-suicidas da atualidade, ao desembarcarem no Plano Espiritual, não encontrarão as benesses que lhes foram prometidas como prêmio. Ao contrário, estagiarão em dolorosos e prolongados períodos, pelas paisagens umbralinas. Aí, seus Espíritos, tomando ciência das dores causadas a tantos pelo seu ato infeliz, terão fortemente impressas em seus perispíritos as “matrizes psíquicas” de tão grande equívoco. Numa próxima existência, esse atavismo (ensinamentos duramente adquiridos através a pedagogia da dor, a mais eficiente de todas as professoras), por certo será poderoso desestimulo à repetição de erros tão nefandos.
Por tudo isso, talvez nos seja permitido supor que antes do término do século XXI, o atual cenário de turbulência internacional desaparecerá da face da Terra… Nesse futuro, o planeta já estará mais próximo do estado de regeneração. E que os terroristas, em outros mundos ou aqui mesmo, estarão recebendo ou já receberam as duras, mas proveitosas lições no Plano Espiritual. Sem citarmos países, todos sabemos de bolsões de generalizada e extrema pobreza, onde a mortalidade infantil se mostra cruel aos olhos dos homens. Contudo, vista da Espiritualidade protetora, a vida física curta quase sempre sinaliza bênção para refazimento de perispíritos altamente danificados, seja de espíritos endurecidos, empedernidos ou malvados, ou, no caso das explosões do próprio corpo físico, com objetivo de matar inimigos.

6. Relações de além-túmulo (questões 274 a 290)

No Plano Espiritual a autoridade moral é irresistível. Lá, inclusive, predomina a afinidade e os Espíritos da mesma categoria reúnem-se em famílias ou grupos.
Espíritos “pequenos” na Terra, quando desencarnados, podem ser elevados…
Os bons Espíritos podem ir a toda parte, já os menos elevados sofrem restrições.
Os Espíritos se comunicam pelo fluido universal, que transmite o pensamento, o qual não pode ser disfarçado.
Ao desencarnar, o Espírito quase sempre tem alguém à sua espera: se justo, os que o amam se confraternizam com seu regresso; já os Espíritos pouco evoluídos, igualmente encontrarão desafetos ou inimigos aguardando-o, para ajuste de contas…

7. Relações simpáticas e antipáticas dos Espíritos. Metades eternas. (questões 291 a 303)

Espíritos sentem afeições ou ódio, segundo tenham ou não elevação moral.
Muitas animosidades, no Plano Espiritual se desfazem logo, pois os Espíritos compreendem que tudo não passou de tolices ou melindres, recíprocos.
Não existe metade de Espírito (nem eterna, nem temporária…). A expressão “alma gêmea”, empregada por alguns, é absolutamente imprópria. Pode, sim, haver simpatia entre dois Espíritos, mas a tendência evolucionista espiritual fará com que o amor seja universal — de todos para todos e tudo —, jamais particularizado.

8. Lembrança da existência corporal (questões 304 a 319)

Desencarnado, aos poucos o Espírito vai tendo acesso a recordações e particularidades de algumas vidas passadas. As existências primitivas se perdem na noite do esquecimento. O corpo físico que acaba de deixar passa a ser considerado como uma veste incômoda que o molestava.
OBS.: Aqui, a expressão “veste incômoda que o molestava”, deve ser vista como símbolo da liberdade do Espírito, pela morte física, semelhante ao pássaro que deixa a gaiola. Na verdade, o corpo físico é invólucro maravilhoso, engendrado por Deus, inapreciável bênção para que o Espírito consiga realizar seu progresso moral.
Quanto mais evoluído for o Espírito, ao desencarnar menos memória terá dos seus pertences materiais. Trabalhos de arte ou literatura interrompidos pela morte não são alvo de lamento ao Espírito que compreende que serão completados ou refeitos por outros Espíritos, encarnados.

9. Comemoração dos mortos. Funerais. (questões 320 a 329)

Para nós, espíritas, o “Dia de Finados” não representa necessariamente um marco, conquanto mereça nosso maior respeito, tanto pelos encarnados que a ele se devotam, quanto pelos desencarnados, que nele são alvo de gestos de saudade e amor.
Não desconhecemos que a maioria dos Espíritos desencarnados, egressos desse nosso mundo de provas e expiações, apreciam a lembrança que naquele dia lhe dedicam os parentes e amigos, junto aos respectivos túmulos, fato que os alegra e lhes causa bem-estar.
Contudo, sem a dimensão de data ou lugar, entendemos e sentimos que a prece santifica a lembrança e assim, todos os dias, onde quer que seja, uma prece sincera dirigida ao ente que partiu será a melhor de todas as demonstrações de carinho, amizade e amor que lhe devotamos.
Encerrando este longo capítulo Kardec comenta que estátuas ou monumentos erguidos em memória de alguns vultos não lhes agradam tanto como à lembrança.
Algumas vezes o Espírito assiste ao próprio enterro, outras vezes fica perturbado; quase sempre assiste à reunião dos seus herdeiros e aí julga qual a consideração que tinham por ele; nesses momentos, a cobiça dos que ficaram costuma produzir decepções naquele que partiu…


Capítulo VI — Da vida espírita (questões 223 a 329)

Interessante: o capítulo anterior era formado de apenas uma questão, ao passo que este tem mais de 100 (cem) questões, o que bem demonstra a importância que a ele Kardec conferiu. Não que o anterior ou qualquer outro não tivesse importância, mas é que este, pelo que se nota, se reveste mesmo de maior transcendentalidade. Atualmente os espíritas têm à sua disposição milhares(!) de obras relatando detalhes da vida espiritual.
— Quantos teriam se detido a perquirir as dificuldades encontradas pelo Codificador, no meio do século XIX, para elaborar perguntas aos espíritos, concatenar as respostas dos vários médiuns e com a massa de informações à mão, filtrá-la o suficiente para que, codificando-a, lançasse ao futuro tão valiosas sementes?

Dizemos sementes porque, rigorosamente, todos os livros que hoje constituem a literatura espírita propriamente dita, isto é, pós-Kardec, nele têm respaldo, dele guardam as premissas — mormente, quando a ação se desenrola no plano espiritual.
É verdade que algumas obras, as quais muitas que o inolvidável Chico Xavier psicografou, ao tratar de como é a vida “do lado de lá”, acrescentaram notícias e informações inéditas. É verdade. Mas, Kardec, especialmente aqui, desponta como o pioneiro de uma sublime era: a chegada à Terra do Consolador prometido — a Doutrina dos Espíritos. Consolando e instruindo, o espiritismo particulariza o que acontece quando o encarnado transpõe a inexorável fronteira terrena e adentra na espiritual, onde continuará vivendo…

Como se vê, há neste capítulo informações imperdíveis para todos os encarnados!
Feitas as primeiras reflexões, vamos resumir o que os espíritos enunciaram a Kardec sobre como é a vida espírita:

***
Nota
Por oportuno, registramos que não se aplicam para os Espíritos puros todas as reflexões seguintes, pois sua evolução moral situa-os muito além das proposições humanas. Basta dizer, como exemplo, que veem e compreendem a Deus(!), segundo a questão n° 11, deste livro.
***

1. Espíritos errantes (questões 223 a 233).

Desencarnada, a alma passa a ser Espírito errante, havendo-os de todos os graus evolutivos. Quando se diz Espírito errante se está referindo ao Espírito desencarnado, isto é, que está temporariamente na “erraticidade” e que deverá reencarnar, a breve ou longo tempo. Espíritos puros não são Espíritos errantes.

Após a desencarnação o Espírito pode reencarnar imediatamente ou demorar longo intervalo. Tais períodos são, às vezes, “desde algumas horas até alguns milhares de séculos”.
Sempre progridem os Espíritos errantes, ouvindo, aprendendo e ao se darem conta de suas imperfeições, buscam a vida corporal para nela colocarem em prática o aprendizado.

2. Mundos transitórios (questões 234 a 236).

Mundos transitórios têm superfície estéril, inadequada à vida terrena, mas propícia aos seres incorpóreos, que de nada precisam. São mundos para estágios dos Espíritos errantes, que ali se refazem, habitando-os temporariamente. A Terra, nos seus primórdios, foi um mundo transitório.

3. Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos (questões 237 a 256)

O Espírito desencarnado conserva as mesmas sensações terrenas, acrescidas de outras, pois a perda do invólucro carnal dá-lhe maior liberdade: a visão, por exemplo, reside toda nele e não apenas no equipamento ótico; tem luz própria e por isso para ele não há treva, exclusive quando em expiação. Perde a noção terrena do tempo cronológico, já que na Espiritualidade outras são as condições existenciais, quando a própria memória faz incursões no passado.

Dependendo do seu adiantamento, os Espíritos errantes são sensíveis à música e às belezas da Natureza, que no plano extrafísico são superiores ao físico. O repouso, para eles, ocorre em razão de cansaço, mas sim para dar trégua aos pensamentos, que temporariamente ficam menos ativos.

Sentir angústias morais e dor, fome, frio, calor, etc., constituem reminiscências da vida terrena dos Espíritos errantes involuídos, sendo que tais impressões só residem em suas mentes.

4. Ensaio teórico da sensação nos Espíritos (questão 257)

A presente questão é que mais espaço ocupa em “O Livro dos Espíritos” (6 páginas, em fonte reduzida). Aqui Kardec discorre longamente sobre a dor que se manifesta no corpo (físico), lucubrando que o períspirito é o agente principal das sensações exteriores.
Adverte o Mestre lionês para que não se confunda sensações do períspirito com as do corpo. Estas últimas servem apenas como parâmetro, jamais por analogia, isto é, as impressões de dor ou de desconforto que o períspirito do Espírito errante registra fazem parte de um vago sentimento íntimo, sendo mais uma reminiscência do que uma realidade. Numa palavra: é uma impressão que se materializa, fato que poderia perfeitamente não ocorrer.
Cita como exemplo o caso dos suicidas, nos quais permanece incompleta a separação do corpo ao períspirito, causando repercussão neste, daquilo que acontece com os despojos. (Essa é, talvez, de todas as infelicidades, a maior: o suicida ficar preso à desintegração dos despojos carnais, testemunhando que a vida continua).

***
Nota
Um elementar exemplo pode nos fazer compreender que a sede das sensações é mesmo o perispírito, pois em duas situações com encarnados isso resta comprovado:
a. ação da anestesia num paciente desloca, respectivamente, por um período de tempo, a contraparte astral na região ou, se a anestesia for total, todo o perispírito, permanecendo este, contudo, ligado ao corpo físico pelo cordão fluídico, pois do contrário ocorreria a morte;
b. em várias situações de coma, ao cessar tal estado alterado, o paciente narra que nada sentiu com referência a vários procedimentos médicos realizados até mesmo sem anestesia e há casos em que, desdobrado, “assiste” tais procedimentos.
Neste capítulo Kardec relembra que o perispírito é retirado da psicosfera do mundo em que o Espírito irá reencarnar.
***

Finalizando tão oportunas ilações dessa única questão, retransmitimos o que Kardec disse sobre suas pesquisas junto a milhares de Espíritos desencarnados:

[…]Notamos sempre que os sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas consequências experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para os que seguiram o bom caminho. Deduz-se daí que, aos que sofrem, isso acontece porque o quiseram; que, portanto, só de si mesmos se devem queixar, quer no outro mundo, quer neste.

5. Escolha das provas (questões 258 a 273)

Antecedendo à reencarnação, o Espírito pode escolher o gênero de provas a que será submetido. Isso devido ao seu livre-arbítrio. Quando reencarnar, o que suceder, nem sempre terá sido escolhido por ele, pois ninguém pode prever o futuro. Muitos acontecimentos surgem de atos do dia-a-dia. As primeiras existências do homem são “monitoradas” por Espíritos protetores e à medida que ele evolui, seu livre-arbítrio mais se dilata. Há existências que podem ser impostas, pelas Leis Divinas, isso estritamente em favor do Espírito mergulhado em erros. Essa imposição funciona qual freio em prolongadas existências aplicadas ao mal. Nascer entre viciados, ricos, ladrões, etc., representa dura provação a que o Espírito será submetido, isto é, aproximar-se desse clima, sem dele fazer parte. Aliás, até depois de reencarnar, o Espírito pode influenciar na escolha de suas provações.

6. Relações de além-túmulo (questões 274 a 290)

 
No Plano Espiritual a autoridade moral é irresistível. Lá, inclusive, predomina a afinidade e os Espíritos da mesma categoria se reúnem em famílias ou grupos. Espíritos “pequenos” na Terra, quando desencarnados, podem ser elevados.

Os bons Espíritos podem ir a toda parte, já os menos elevados sofrem restrições. Os Espíritos se comunicam pelo fluido universal, que transmite o pensamento, o qual não pode ser disfarçado.

Ao desencarnar, o Espírito quase sempre tem alguém à sua espera: se justo, os que o amam se confraternizam com seu regresso; já os Espíritos pouco evoluídos, igualmente encontrarão desafetos ou inimigos os aguardando, para ajuste de contas.

7. Relações simpáticas e antipáticas dos Espíritos. Metades eternas (questões 291 a 303)

Espíritos sentem afeições ou ódio, segundo tenham ou não elevação moral.
Muitas animosidades, no Plano Espiritual se desfazem logo, pois os Espíritos compreendem que tudo não passou de tolices ou melindres, recíprocos.
Não existe metade de Espírito (nem eterna, nem temporária). A expressão “alma gêmea”, empregada por alguns, é absolutamente imprópria. Pode, sim, haver simpatia entre dois Espíritos, mas a tendência evolucionista espiritual fará com que o amor seja universal — de todos para todos e tudo —, jamais particularizado.

8. Lembrança da existência corporal (questões 304 a 319)

Desencarnado, aos poucos o Espírito vai tendo acesso a recordações e particularidades de algumas vidas passadas. As existências primitivas se perdem na noite do esquecimento. O corpo físico que acaba de deixar passa a ser considerado como uma veste incômoda que o molestava.

***
Nota
Aqui, a expressão “veste incômoda que o molestava”, deve ser vista como símbolo da liberdade do Espírito, pela morte física, semelhante ao pássaro que deixa a gaiola. Na verdade, o corpo físico é invólucro maravilhoso, engendrado por Deus, inapreciável bênção para que o Espírito consiga realizar seu progresso moral.
***

Quanto mais evoluído for o Espírito, ao desencarnar menos memória terá dos seus pertences materiais. Trabalhos de arte ou literatura interrompidos pela morte não são alvo de lamento ao Espírito que compreende que serão completados ou refeitos por outros Espíritos, encarnados.

9. Comemoração dos mortos. Funerais (questões 320 a 329)

Para nós, espíritas, o “Dia de Finados” não representa necessariamente um marco, conquanto mereça nosso maior respeito, tanto pelos encarnados que a ele se devotam, quanto pelos desencarnados, que nele são alvo de gestos de saudade e amor.

Não desconhecemos que a maioria dos Espíritos desencarnados, egressos desse nosso mundo de provas e expiações, apreciam a lembrança que naquele dia lhe dedicam os parentes e amigos, junto aos respectivos túmulos, fato que os alegra e lhes causa bem-estar.
Contudo, sem a dimensão de data ou lugar, entendemos e sentimos que a prece santifica a lembrança e assim, todos os dias, onde quer que seja, uma prece sincera dirigida ao ente que partiu será a melhor de todas as demonstrações de carinho, amizade e amor que lhe devotamos.
Encerrando este longo capítulo Kardec comenta que estátuas ou monumentos erguidos em memória de alguns vultos não lhes agradam tanto como à lembrança. Algumas vezes o Espírito assiste ao próprio enterro, outras vezes fica perturbado; quase sempre assiste à reunião dos seus herdeiros e aí julga qual a consideração que tinham por ele; nesses momentos, a cobiça dos que ficaram costuma produzir decepções naquele que partiu.


Capítulo VII — Da volta do Espírito à vida corporal – (questões 330 a 399)

Já estudamos o “O Livro dos Espíritos” várias vezes, ora em particular, ora em grupo, ora num determinado tema, ora a obra inteira.

O médium Divaldo Franco, ao que sabemos, foi o primeiro espírita a declarar, alto e bom som, já ter lido dezenas de vezes essa obra e que, no entanto, a cada releitura, novos aprendizados, ia colhendo.

Estamos iniciando assim nossas reflexões para igualmente dizer que é impressionante a atualidade desse sublime livro, pois não é que agora estaremos nos deparando com temas ligados às atualíssimas descobertas da biologia molecular (biogenética)?

Senão, vejamos o que este capítulo nos oferta:

  1. Prelúdio da volta (questões 330 a 343)

Todos os Espíritos, como, aliás, todos os seres vivos, estão inexoravelmente destinados à evolução. Disso não há dúvidas. Os Espíritos desencarnados pressentem a chegada da hora de retornar às lides físicas, assim como um cego se aproxima de uma fogueira e sente o calor. A junção espírito-corpo é atribuição de Espíritos elevadíssimos, sendo que o reencarnante, em razão do seu progresso e do decorrente merecimento, pode sugerir esta ou aquela particularidade física. O atendimento à sua pretensão está diretamente vinculado ao seu passivo espiritual (débitos/créditos) e os fatos mais importantes da futura existência terrena constituem o chamado “programa reencarnatório”. Esse programa não é um trilho — é uma trilha —, eis que o livre-arbítrio do Espírito pode modificá-lo, para melhor, ou, infelizmente, para pior…

É lógica a dedução que Espíritos muito atrasados não têm condições sequer de pedir ou pensar em detalhes da própria reencarnação. Nesse caso, os Espíritos bondosos, disso encarregados, elaboram referido programa por ele, invariavelmente atendendo às melhores e possíveis condições de executá-lo.

Num sentido figurado podemos refletir que nascer na Terra corresponde a morrer, no Plano Espiritual, algo assim como sair da liberdade e ingressar na escravidão.

  1. União da alma e do corpo. Aborto (questões 344 a 360)

Eis aqui uma transcendental informação dos Espíritos Superiores (questão 344):

A união começa na concepção, mas só se completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz.

Durante a gestação o feto não tem, propriamente falando, uma alma, não obstante encontrar-se ligado à alma que virá a possuir.

Mortes prematuras evidenciam imperfeições da matéria. Quase sempre constituem provas para os pais.

***
Nota
Nessa questão de mortes prematuras, ou mesmo de mortes de crianças com pouca idade, é ensinamento espírita que em alguns casos isso constitui reconstituição do perispírito que tenha sofrido lesão grave, com desagregação parcial, decorrente, por exemplo, nos casos de suicídio, quando o corpo é destroçado por veículos pesados; ou numa outra hipótese, quando o Espírito de tal forma promoveu maldades, que sua vestimenta perispiritual se danifica seriamente.
Nesses casos, no período da gestação, o incomparável auxílio psicodinâmico maternal já estará proporcionando início da citada recuperação. Como vemos, de todo mal Deus tira um bem!
***

Da concepção ao nascimento, a maioria dos Espíritos se iguala àquele que dorme; depois, ao despertar, só aos poucos recobra a consciência (da tenra idade à fase plena da consciência).

  1. Faculdades morais e intelectuais do homem (questões 361 a 366)

Boas qualidades morais evidenciam um Espírito evoluído; más, um Espírito com pouca evolução moral. Homens inteligentes há que não têm evolução moral, mas como todos progridem, também eles, um dia, serão bons.

  1. Influência do organismo (questões 367 a 370)

A matéria, de certa forma, cerceia a liberdade do Espírito, mas não lhe retira nenhuma faculdade que lhe seja própria. Predisposição e situação dos órgãos físicos de cada ser evidenciam efeito, cuja causa necessariamente só pode estar em vidas passadas. Isso se refere mais a dificuldades físicas. Nada objeta, porém, que Espíritos adiantados aceitem, como missão, reencarnar com essa ou aquela deficiência.

  1. Idiotismo e loucura (questões 371 a 378)

Longe de espelhar natureza inferior, a alma de seres com deficiências cérebro-mentais pode evidenciar Espírito de grande inteligência, em provável resgate de mau emprego dela. Podem ser comparados a um excelente músico que só dispõe de um instrumento defeituoso — permanece músico excelente, mas não produzirá boa música. Essas expiações lhes são benéficas por imporem temporário impedimento de novas quedas, ao tempo que proporcionam tempo para novas disposições.

  1. A infância (questões 379 a 385)

É engano pensar que as crianças têm Espírito mais novo do que o dos adultos, pois, não raro, dá-se o contrário. O organismo infantil, pela engenharia divina, é que oferece obstáculo à manifestação plena do potencial espiritual da criança. A infância pode ser comparada a um período de repouso para o Espírito, que nada tem de se preocupar, atribuição essa dos pais. Aliás, é na fase infantil que o Espírito se torna delicado, brando e acessível a novas impressões — obrigação dos pais — tendentes a lhe proporcionar mais adiantamento.

  1. Simpatia e antipatia terrenas (questões 386 a 391)

Conquanto não se reconheçam, não é raro dois seres se encontrarem e de imediato sentirem simpatia ou antipatia, recíprocas, isso evidenciando circunstâncias de vidas anteriores. Por outro lado, nada impede que haja simpatia/antipatia em Espíritos que não se conheçam, tão logo se aproximem: impera aí, em ambos, a sintonia ou repulsa fluídica, segundo o patamar vibracional de cada um.

  1. Esquecimento do passado (questões 392 a 399)

Benção das bênçãos divinas, o esquecimento do passado tem sido frequentemente “deslembrada” pelos homens, muitos dos quais buscam mergulhar no passado, através a chamada TVP — Terapia de Vidas Passadas.

Ouçamos Kardec:

Gravíssimos inconvenientes teria o de nos lembrarmos das nossas individualidades anteriores. Em certos casos, humilhar-nos-ia sobremaneira. Em outros nos exaltaria o orgulho, peando-nos, em consequência, o livre-arbítrio. Para nos melhorarmos, dá-nos Deus exatamente o que nos é necessário e basta: a voz da consciência e os pendores instintivos. Priva-nos do que nos prejudicaria.

Aliás, amiúde é possível o próprio indivíduo conhecer o que foi: aquele que vivencia determinada expiação, por si só infere sobre o gênero de sua(s) existência(s) anterior(es). Isso, porém, não pode ser tido à conta de regra absoluta. As tendências instintivas são o meio mais seguro para essa autorradiografia do nosso passado.

Como simples roteiro, nada absoluto, das vicissitudes e das provas que sofre o indivíduo ele pode alcançar esclarecimento acerca do que foi. Por exemplo:

– o orgulhoso será castigado no seu orgulho, mediante a humilhação de uma existência subalterna;

– o mau-rico (avarento), pela miséria;

– o que foi cruel para os outros, pelas crueldades sofrerá;

– o tirano, pela escravidão;

– o mau filho, pela ingratidão de seus filhos;

– o preguiçoso, por um trabalho forçado; etc.


Capítulo VIII — Da emancipação da alma – (questões 400 a 455)

Kardec ousa bastante neste capítulo ao pesquisar o transcendental mecanismo pelo qual o ser — o Espírito imortal — se desdobra em situações ora rotineiras (sono/sonhos), ora anormais (letargia, catalepsia, etc.).

Ousa porque vai além: indaga dos Espíritos que o arrimaram na Codificação do Espiritismo, o que, exatamente, ocorre com a alma, nessas ocasiões.
As respostas deixaram entrever, em síntese, que:

  1. O sono e os sonhos – (questões 400 a 412)

– o Espírito encarnado sente o invólucro físico como uma roupagem grosseira, da qual gostaria de logo se ver livre…

– no sono o Espírito se lança no espaço e vai ao encontro de outros Espíritos; tal evento é similar ao sentido durante algum tempo após a morte;

– pelos sonhos podemos inferir que os Espíritos têm mais aguçados os sentidos; há atração, seja entre afetos e desafetos, segundo a prioridade subconsciente daquele que mantém vivas em sua memória, amizades ou inimizades, geralmente de vidas passadas;
– Espíritos superiores, pelo sono, desligam-se da matéria e se relacionam com seus pares a Espiritualidade;

– pesadelos sinalizam encontros com Espíritos maléficos;

***
Nota
Na resposta à questão 402 está registrado que eventualmente o Espírito clarividente chega até a vislumbrar fatos e paisagens de outros mundos.
– as preocupações da vigília, quase sempre, determinam nossos sonhos;
– às vezes, a atividade do Espírito emancipado do corpo físico, pode onerar este, qual balão cativo ao poste que ao oscilar nele produz vibrações.
***

2 – Visitas espíritas entre pessoas vivas – (questões 413 a 418)

– o capítulo trata da emancipação da alma — de encarnados — e neste sub-item o que temos é a auspiciosa informação de que pessoas que estão dormindo podem se encontrar no Plano espiritual e que isso acontece amiúde;

– embora Kardec focalize apenas encontros entre amigos, nada objeta de inferirmos que o mesmo processo se dá entre inimigos…

– várias pessoas que no passado se relacionaram podem, também, encontrarem-se durante o sono e formar assembléia(s).

3 – Transmissão oculta do pensamento – (questões 419 a 421)

– no sono a comunicação entre Espíritos é tão ou mais intensa que na vigília, daí decorrendo que simultaneamente muitos podem ter acesso a determinada informação e divulgarem-na, ao mesmo tempo;

– há casos em que na vigília duas pessoas se encontram e sem pronunciarem palavra, entendem-se perfeitamente;

OBS: Talvez possamos enquadrar tais acontecimentos como reflexos de programação pré-reencarnatória, abrangendo os Espíritos que não necessitam de sinais ostensivos da linguagem para se entenderem; como exemplo, dentre muitos possíveis, nada objeta inferir que é o que acontece no chamado “amor à primeira vista”.

4 – Letargia, catalepsia. Mortes aparentes – (questões 422 a 424)

– em tais estados os pacientes têm o corpo sem condições de ação; não obstante, de retorno à normalidade física, declaram que tudo o que se passava à sua volta foi testemunhado por eles; isso vem demonstrar que além do corpo, no caso inerte, há algo além dele — o Espírito;
OBS: A Medicina não conseguiu ainda explicar o mecanismo de tais estados alterados do organismo; o mesmo poderíamos dizer do coma natural ou induzido, do resfriamento controlado e até mesmo da própria anestesia geral; para nós, espíritas, compreendendo que nessas situações a alma está afastada do corpo, a ele se mantendo ligada pelo cordão fluídico, resta ainda uma vez sermos gratos à Engenharia Divina, que nos contemplou com a possibilidade de baixa extrema do metabolismo, sem provocar a morte.

5 – Sonambulismo – (questões 425 a 438)

– eis aqui uma palavra que ainda não devidamente explicitada perante grande parte dos espíritas;

OBS: De nossa parte formulamos um ligeiro ensaio, propondo que o termo sonambulismo seja empregado apenas no sentido lato dessa palavra e que quando se tratar de atividade mediúnica, seja substituído por transe mediúnico.
No livro “Magnetismo Espiritual”, de Michaelus, 6ª Ed., 1991, FEB, RJ/RJ, Cap XIX, pg. 179 encontramos notícia de que desde o século XVIII foram propostas várias outras palavras para diferenciar o sonambulismo natural (patológico) do sonambulismo magnético (o “magnético” aqui empregado se refere a “mediúnico”…). Nenhuma dessas propostas prosperaram. Nem imaginamos também que a nossa venha a prosperar.
– assim, na vigência do termo sonambulismo, reduzindo os termos, para não nos alongarmos, podemos citar algumas espécies de sonambulismo, aditando pequenos detalhes de cada um:

  1. sonambulismo patológico: é o relatado pela Medicina, sobretudo em crianças e em jovens, que apresentam, de maneira desconexa, movimentos automáticos durante o sono (agem, caminham, falam), dos quais não se recordam ao acordar.
    Para a Doutrina dos Espíritos, o fenômeno sonambúlico está inserido em três focos:
    1. sonambulismo imperfeito: a alma, quando em sonhos;
  2. sonambulismo natural: a alma tem maior liberdade do que no sonho, eis que domina por completo o ambiente em que se encontra e suas faculdades são exercidas em plenitude;
    3. sonambulismo magnético: é o mesmo estado do sonambulismo natural, com a diferença de ter sido provocado;

– à questão 431 Kardec registra:

Mostra a experiência que os sonâmbulos também recebem comunicações de outros Espíritos, que lhes transmitem o que devam dizer e suprem à incapacidade que denotam. Isto se verifica principalmente nas prescrições médicas. O Espírito do sonâmbulo vê o mal, outro lhe indica o remédio.

OBS: Há já trinta anos vem sendo praticado no Espiritismo, por enquanto por poucos grupos mediúnicos, um processo de diagnóstico espiritual, denominado apometria (do grego: apó=fora de, metron=medida), no qual médiuns especializados se prestam a auxiliar pessoas com problemas obsessivos graves. Desejável no grupo a presença de médicos-médiuns. Esse processo ainda não tem a universalidade que caracteriza os ensinos dos Espíritos — manifestação simultânea em vários lugares —, no entanto, é de todo possível que venha a se generalizar, tendo em vista os bons resultados já alcançados pelos que o praticam. (Maiores detalhes sobre a Apometria: “Apometria-Novos Horizontes da Medicina Espiritual”, de Vitor Ronaldo Costa, Ed.Casa Editora Clarim, Matão/SP)

6 – Êxtase – (questões 439 a 446)

– quase podemos dizer de um outro foco para o sonambulismo: o êxtase, que se caracteriza por um estado moral mais depurado, permitindo inclusive que o extático até vislumbre a felicidade de mundos superiores;

– Kardec consignou recomendação de que o extático deva ser compelido a voltar à normalidade, eis que, teimando em permanecer no êxtase da visão dos mundos felizes, isso poderia até provocar sua desencarnação (!);

7 – Dupla vista – (questões 447 a 454)

– dupla vista, objetivamente, representa a visão espiritual, o que alma vê, fato muito comum em mundos mais adiantados moralmente do que a Terra;

– essa faculdade pode emergir em situações extremas, como proximidade de perigo, na moléstia ou numa grande comoção;

– pressentimentos, quase sempre, se justificam pela segunda vista;

– dos mais expressivos fenômenos espirituais tidos à conta da emancipação da alma, no estado de vigília, é aquele no qual quem possui a dupla vista vê, ouve e sente além dos limites dos sentidos humanos. Citamos um belo exemplo:

OBS. Eurípedes Barsanulfo (1880-19l8), que previra com muita antecedência a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), no ano de 1918, estando no interior do Estado de Minas Gerais, lecionando, quando, em meio a uma aula, entrou em transe sonambúlico e viu no Palácio de Versalhes, na célebre Sala dos Espelhos, em França, o Tratado de Paz com a assinatura de líderes políticos — assinaturas que lhe foi dado ler: Clemenceau, Presidente Wilson, e outros. Ao abrir os olhos relatou aos alunos, emocionado, o que vira:

— Graças a Deus, em breve o mundo estará em paz! Aguardemos.

Oito meses depois, em 28 de Junho de 1919, o Tratado de Paz foi assinado – exatamente na Sala dos Espelhos, no Palácio de Versalhes…”.

(Do livro: “Eurípedes Barsanulfo – O Apóstolo da Caridade”, de Jorge Rizzini, 6°Capítulo, pg. 74 e 75, 1ª Ed., 1979, Edições Correio Fraterno, S.B.Campo/SP).

8 – Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da dupla vista – (questão 455)

– o Espiritismo tem o sonambulismo como uma luz lançada sobre a Psicologia;

– tais estados e faculdades são atributo exclusivo da alma

– o sonambúlico dispensa linguagem articulada, utilizando a comunicação do seu fluido perispiritual com o fluido de outro Espírito, encarnado ou desencarnado;

– pode ocorrer que Espíritos inferiores se aproveitem da fraqueza do sonâmbulo e por seu intermédio emitir conceitos errôneos, absurdos, até ridículos; é quando, então, mais se justifica aquela que poderíamos exaltar como sendo “lei áurea” da fé raciocinada:

“Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea” (Espírito ERASTO, em “O Livro dos Médiuns”, Cap XX, item 230).


CAPÍTULO IX — Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal – (questões 456 a 557)

Desde que o mundo é mundo o homem questiona se a vida continua após a morte e se de fato existem “outro mundo e outra vida” e como são as coisas por lá…
Século XIX indo a meio encontraremos Kardec fazendo a mesma pergunta aos Espíritos amigos que, respondendo, demonstraram possuir bastante conhecimento, a par de elevação moral.
O título dado pelo Mestre lionês ao presente capítulo registra, por si só, a resposta àquela milenar pergunta, a qual, aliás, subdivide-se em dezenas de “sub-perguntas”, que foram agrupadas em subitens.
As respostas patentearam que existe sim o “tal outro mundo” e que os que lá habitam são os mesmos que aqui habitaram, considerando que “os de lá” influenciam grandemente “os de cá”: nós. E mais: “do lado de lá” está a vida eterna e “do lado de cá”, as existências, embora múltiplas, um dia cessarão…
Em face da extensão do capítulo e o nosso propósito de comentar um a cada mês, precisamos nos socorrer da síntese. Mas, antecipadamente, sugerimos aos leitores interessados uma visita ao original, que é um inestimável tesouro de informações indispensáveis para o dia-a-dia, já que aqui só podemos ofertar pobre amostra.

9.1 – Faculdade, que têm os Espíritos, de penetrar os nossos pensamentos – (questões 456 a 458)

Só o título do subitem já traz à tona a transcendentalidade dos esclarecimentos espirituais. Mas, vamos aos resumos:
– os Espíritos, querendo, vêem o que fazemos e conhecem nossos pensamentos — nada lhes escapa;
– obviamente, os bons Espíritos nos amparam e os levianos, riem de nós;

9.2 – Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos (questões 459 a 472)

Vamos reproduzir a questão 459, que consideramos importantíssima:

459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
R: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.

– quando formulamos pensamentos é comum captarmos outros: provêm de vários Espíritos; o resultado indicará sempre qual a natureza da fonte;
– Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal para que soframos, como eles…
– tanto as boas sugestões, quanto as idéias malévolas que captamos, só serão assimiladas se lhes dermos guarida, em sintonia com nosso pensamento;

9.3 – Possessos – (questões 473 a 480)

– como jamais dois Espíritos poderão coabitar num mesmo corpo físico, a possessão não existe; contudo, em termos espíritas, denominamos “possessão” quando um Espírito submete outro de tal forma que lhe anula a vontade;
– a prece sincera, ao invés de exorcismos, é o mais eficaz amparo a alguém que se encontre dessa forma obsedado por um Espírito infeliz;

9.4 – Convulsionários – (questões 481 a 483)

Antes de anotarmos as respostas obtidas por Kardec, devemos fazer uma pequena ressalva: o termo “convulsionário” se reportava, àquela época, aos fanáticos franceses jansenistas [seguidores do Jansenismo, doutrina de Jansênio (1585-1638), que primava pela austeridade, rigor dos costumes], do começo do século XVIII, aos quais a exaltação religiosa causava convulsões.
– a exaltação fanática: sonambulismo provocado, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, as crises com gritos e gestos — todas essas manifestações — põem a descoberto médiuns destrambelhados, que de forma inconsciente e simultânea, podem produzi-las ou vivenciá-las.

OBS: Considerando que está no perispírito a sede das sensações físicas, podemos inferir que a insensibilidade física (às torturas, por exemplo, como se vê em espetáculos públicos de suplícios) encontra explicação pelo “desdobramento” (parcial ou total — afastamento da porção etérea perispiritual) de quem a isso se presta.Tal demonstrador tem disposições naturais para tanto: é um médium.

9.5 – Afeição que os Espíritos votam a certas pessoas – (questões 484 a 488)

– tudo é uma questão de sintonia: os bons Espíritos se afeiçoam às pessoas de bom comportamento, ao passo que os Espíritos inferiores, aos homens viciosos;
– há casos em que o Espírito nutre afeição por alguém encarnado, como saldo de ligações afetivas de ambos, em vidas passadas;
– nossas mazelas morais afligem os bons Espíritos muito mais do que nossas dores físicas, estas, episódicas, ao passo que aquelas se demoram em nós…
– nossos parentes, se lembrados por nós, devotam-nos simpatia; se olvidados, olvidam-nos também…

OBS: Pode parecer estranha essa resposta. Mas não é: cabe aqui acrescentar que, pelas vidas sucessivas (reencarnações), o homem acumula inumeráveis existências corpóreas, daí resultando que há de ter pertencido e formado também incontáveis famílias. No estágio moral atual da Humanidade, nada objeta que, por enquanto, poucos ainda serão os Espíritos que têm acendrado amor por todos os familiares aos quais um dia se uniu fisicamente…

Permitam-nos os leitores a aposição de uma reflexão nossa:
– segundo a “Grande Enciclopédia Larousse Cultural”, 1990, Vol. 5, pg. 1675, os arqueólogos encontraram os primeiros homens do nosso tipo (atual) há cerca de 38.000 anos — “o homem de Cro-Magnon”, no Sudoeste da França;
– fazendo cálculos primários, supomos que em média (apenas conjetura) cada existência terrena dura 100 anos e que o Espírito desencarnado, também em média, permanece outros 100 anos no Plano Espiritual;
– temos, assim, que a cada milênio, o homem reencarna cinco vezes;
– conclusão: apenas no período “cro-magnon” cada um de nós já reencarnou 190 vezes (!). E agora: quantos pais, mães, filhos e demais parentes tivemos? Onde está a lembrança deles?…

9.6 – Anjos de guarda. Espíritos protetores, familiares ou simpáticos – (questões 489 a 521)

Desde o nascimento, cada ser humano — selvagem, de inferioridade moral ou mesmo evoluído — tem um Espírito protetor (mais elevado moralmente do que ele) destinado por Deus. Esse bom Espírito acompanha seu protegido durante toda a sua existência terrena e por vezes prossegue amparando-o após a desencarnação. Nos lugares e nas situações mais difíceis da existência, jamais esse amigo se afasta daquele que protege. Isso é bênção inapreciável! Aconselha sempre a melhor conduta e se não é ouvido, jamais abandona o protegido: em respeito ao livre-arbítrio deste afasta-se até que o chame.
Aglomerações de indivíduos (sociedades, cidades, nações) têm também Espíritos que as protegem, desde que caminhem para o bem comum.
Além do Espírito protetor, nada objeta que o homem peça a assistência específica dos bons Espíritos, como por exemplo, no caso das artes em geral, das iniciativas que visem melhoria nessa ou naquela qualidade, etc.

9.7 – Pressentimentos – (questões 522 a 524)

O pressentimento pode ser considerado como um bom conselho dado por um Espírito amigo. Seja quanto ao adiantamento moral, quanto aos assuntos da vida particular, os conselhos solicitados aos Espíritos protetores poderão ser atendidos, desde que isso melhore a vida daquele que os requereu.
Assim, os termos “sorte”, “azar”, “destino”, “coincidência” e “acaso” foram banidos por Kardec do dicionário espírita…

9.8 – Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida – (questões 525 a 535)

Os Espíritos têm ação sobre a matéria e assim, dentro das leis da Natureza, podem influenciar determinados acontecimentos da vida. Três exemplos:
– o primeiro, o de um homem que sobe numa escada e esta estando podre se quebra, causando-lhe a morte;
– o segundo, o de um homem que se refugia da chuva debaixo de uma árvore e morre ali fulminado por um raio;
– o terceiro, o de alguém que tenta alvejar um homem, não o conseguindo.
Explicaram os Espíritos a Kardec que no primeiro e no segundo caso, os desencarnantes foram inspirados/encaminhados para tais atos; já no caso do tiro, ou os Espíritos inspiraram a idéia da vítima se desviar ou então terão ofuscado o atirador, fazendo-o errar o alvo.

OBS: Ao contrário, as chamadas “balas perdidas”, que tantas vítimas têm provocado, podem ser enquadradas no mesmo mecanismo, só que com o sinal trocado…
Há Espíritos zombeteiros que se comprazem em nos causar aborrecimentos.
Lição inesquecível há aqui: do que parece um mal sairá um bem muito maior!

9.9 – Ação dos Espíritos nos fenômenos da Natureza – (questões 536 a 540)

Ainda sob o impacto do terrível terremoto ocorrido no fundo do Oceano Índico, no dia 26.Dezembro.2004, causando a morte de aproximadamente 224.000 pessoas, registramos dois trechos em resposta às questões:

536. São devidos a causas fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial, os grandes fenômenos da Natureza, os que se consideram como perturbação dos elementos?
R: Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus.

537. a) Poderá então haver Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos geológicos?
R: Tais Espíritos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.
Bem: de nossa parte, apenas acrescentamos que temos como inabalável certeza, compreensão e fé de que “Deus não coloca cruz em ombro errado!”

Assim, as incontáveis vítimas de tais acontecimentos estarão submetidas à Lei Divina de Justiça, a se evidenciar por causa e efeito — ação e reação.
Ademais, quem passa por tão grande expiação está se quitando de pesado débito e assim, emerge de tal resgate, liberto, pronto para alçar vôo feliz.

9.10 – Os Espíritos durante os combates – (questões 541 a 548)

Nas guerras há sempre o componente espiritual atuante: Espíritos existem que só se preocupam em provocar discórdia e destruição. Assim, ações bélicas, praticamente todas, têm a assessoria espiritual avalizando-as, o que é uma tristeza. Inclusive a insuflação de inimizades, em níveis coletivos (países).
Muitos mortos em combate, o mais das vezes, prosseguem no Plano espiritual em combate, julgando-se “vivos” ainda. Aos poucos, porém, a realidade lhes surge.

9.11 – Pactos – (questões 549 a 550)

Não há pactos. Há sintonia… Daí que aquele que convocar Espíritos para que executem sua má intenção, atrairá maus Espíritos que irão tentar ajudá-lo. Porém… conseguindo ou não, quem pediu se torna devedor de cobradores, geralmente cruéis, impuros. Esse acoplamento é inexorável.

9.12 – Poder oculto. Talismãs. Feiticeiros – (questões 551 a 556)

Fórmulas, palavras sacramentais, sinais cabalísticos ou talismãs não têm ação sobre os Espíritos. Nesses casos, o que acontece é que o pensamento dos invocadores é que os atraem e não as coisas materiais.
Os chamados “feiticeiros”, agindo para o mal (na contramão do Evangelho), ou para o bem (ajudando pessoas que os procuram), nada mais são do que médiuns desequilibrados aqueles e ignorantes estes, agindo com assessoria competente de Espíritos com os quais se afinizam.

9.13 – Bênçãos e maldições – (questão 557)

Bênçãos: apenas alcançam aquele que as merecem.
Maldições: Deus não permite injustiças, assim nenhum mal intentado contra um justo prosperará.


 

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2 Resultados

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