VAMOS ESTUDAR O ESPIRITISMO?!
Autor: Ivo Alessandro Zaqueu
Destruição ou transformação?
Considero muito oportuna a famosa frase de Lavoisier para iniciar nossas reflexões sobre a Lei de Destruição.
Das Leis Naturais, talvez a que mais intriga as pessoas é essa lei. Como pode a destruição servir para o adiantamento moral dos indivíduos? Flagelos, crueldade, guerras, duelo e pena de morte; Allan Kardec reuniu em um capítulo tópicos que parecem estranhos aos preceitos cristãos de fraternidade, benevolência e amor, não é mesmo?
Se você também ficou incomodado ou curioso com a associação desses assuntos, dirijo a você minha costumeira pergunta: vamos estudar?
Em vários momentos tive oportunidade de estudar esse capítulo. Pelo que me lembro, em todas as vezes as reflexões giravam em torno da necessidade de destruir para reconstruir. Que os desastres naturais, guerras, mortes coletivas, enfim, todo tipo de evento que levava ao desencarne de muitas pessoas eram tratados como males necessários. É comum ouvirmos considerações de que após os desastres a solidariedade se manifesta mais intensamente, as pessoas ficam sensibilizadas diante da dor do próximo e coisas afins.
Isso até é verdade, mas dessa vez eu quero propor algumas reflexões diferentes.
No meio das perguntas feitas por Kardec, os benfeitores mencionam que a morte é uma consequência natural, tanto que o codificador chega a questionar por que, então, a morte causa tamanho mal-estar ao homem, já que significa a passagem para uma condição de existência mais plena, a espiritual? A explicação é que esse medo da morte é necessário para que possamos nos manter firmes diante das provas, senão seria muito mais comum os casos de suicídio, como alternativa rápida para nos livrar dos sofrimentos. Do ponto de vista científico, a Biologia apresenta a morte como uma das etapas do ciclo da vida, ou seja, um ser vivo fatalmente morrerá. Sendo assim, a morte como tragédia é uma construção dos homens. Parece insensível, mas não é. Pensar a morte como algo normal é a forma mais correta de analisa-la. Isso não significa, em momento algum, que estou convidando as pessoas a morrerem. Ela acontecerá como um evento natural, assim como foi o seu nascimento e o seu crescimento. O que proponho aqui é que vejamos a morte como um evento e não o fim. Quando escrevo isso, eu mesmo me assusto com a dimensão que isso toma. E se uma pessoa querida morresse neste momento, eu ficaria tranquilo e encararia isso com “naturalidade”? É certo que não. A ausência física da pessoa implica no surgimento e crescimento do sentimento de saudade. E, com ele, vem a tristeza e o pesar. Mas, ver a morte como o fim de tudo, com desespero, é simplesmente imaturidade espiritual da nossa parte. Infelizes os ateus neste momento, pois nada esperando após a morte, para eles ela é o fim, realmente. Entretanto, para os espíritas, o vasto campo de possibilidades que se abre para o espírito constitui uma benção, no retorno ao plano espiritual, representado pelo evento da morte do corpo físico. Evidentemente que sua condição será determinada pelo grau de esclarecimento e elevação moral que atingiu até aquele momento, mas nunca deixa de ser uma oportunidade.
Acredito que seja mais lógico pensar a morte dessa forma, não concorda?
E, se estamos de acordo, também é plausível concluir que as catástrofes, desastres e guerras, como eventos provocadores de um número maior de desencarnes, nada mais são do que meios dos quais a Providência Divina se utiliza para operar o retorno ao plano espiritual desses espíritos. Concluídas as necessidades de aprendizado, ou como forma de evitar a contração de débitos maiores, a morte do corpo físico se apresenta a eles como a chave que libera as correntes que os prendem a esse mundo.
Uma analogia bem simples é perguntar a um prisioneiro se ele concorda com sua liberdade, desde que tenha que deixar para trás a roupa surrada que vestia na prisão. Assim é a morte para o espírito.
Mas, então, já que é tão simples pensar a morte dessa maneira, por que muitos espíritos se comunicam relatando sofrimento ao retornarem para o mundo espiritual? Isso se deve às condições necessárias para que a morte represente apenas uma passagem para o espírito, e que já dissemos aqui: esclarecimento e elevação moral. Vamos retomar a analogia do preso. Alguns ficarão constrangidos de deixar a prisão sem suas vestes, ou seja, sem a matéria que cobria seus corpos. Assim acontece com os espíritos. Alguns retornam ao mundo espiritual conservando em suas mentes a necessidade da matéria de que faziam uso. Bens, propriedades, corpo físico, etc., são recursos à disposição do espírito. Uma vez que chegou ao fim seu planejamento reencarnatório, não necessita mais deles. Mas, da não necessidade à aceitação desse fato há um abismo sem fim. E essa falta de entendimento é a principal causa dos sofrimentos no além-túmulo. Geralmente a elevação moral acompanha a compreensão acerca da vida espiritual. Recordemos, por exemplo, os exemplos de Sócrates e Jesus. Uma vez que já possuíam um domínio pleno sobre o que a morte representava, nenhum deles se abala diante desse evento. A morte não os assusta. Antes, é aguardada por eles como algo libertador.
Então cheguei a seguinte conclusão: se a morte surgir para mim é sinal de que chegou ao término a minha necessidade de aprendizado nessa reencarnação, ou eu estou tão desviado do planejamento que é preferível fazer voltar para tentar em outro momento. Sendo assim, não há o que eu deva temer. Todavia, se paira em mim a sensação de que ainda há algo por fazer, então é sinal de que eu preciso me mexer rápido. É nesse momento que faz sentido a frase de Jesus convidando-nos à reconciliação com nosso próximo enquanto estamos com ele no caminho. Do contrário, talvez sejamos “vítimas” de um desastre e chegaremos no plano espiritual com o sentimento de culpa em níveis extremos. É isso o que acontece com grande número de espíritos que desencarna a todo instante. E é por isso que o relato deles é de sofrimento e dor naquele plano, pois eles são o reflexo do seu campo mental e sentimental, ambos perturbados.
Para finalizar, a Lei de Destruição tem um sentido concreto no plano material de existência e um sentido filosófico no plano espiritual. Materialmente é a dissociação das moléculas e átomos, dando origem a novos compostos e organismos, segundo o postulado de Lavoisier. Espiritualmente é a oportunidade de destruir tudo aquilo que representa empecilho ao nosso desenvolvimento moral. É preciso destruir, gradativamente, nosso orgulho e nosso egoísmo. E, se ainda não começou, sugiro que faça isso desde já.
Confiança e perseverança para você!
Lei de conservação
Depois de um longo tempo, eis que retorno para nossos encontros.
Hoje trataremos da Lei de Conservação, que imprime nos seres vivos o instinto e desejo de viver. O que é diferente disso é contrário a essa lei natural. Mas deixaremos o oposto para tratarmos em outra ocasião, dado a extensão e nuances do assunto.
Voltemos ao tema desse texto.
Quando os benfeitores espirituais apresentam a Lei de Conservação, considero importante destacarmos a preocupação em demonstrar que a necessidade de nos mantermos vivos atende, também, a uma questão de compromisso da nossa parte para com a obra do Criador. Concorremos e colaboramos para que os desígnios de Deus sejam cumpridos ao assumirmos nossa responsabilidade diante das situações da vida.
O ser humano, tendo atingido o mais alto grau de desenvolvimento intelectual entre os animais que habitam nosso planeta, passa a ser responsável direto por inúmeras situações que identificamos por meio de sua ação na natureza.
Quando Kardec questiona a espiritualidade acerca dos problemas relacionados com a sobrevivência, enfrentados por muitas pessoas, observamos que a resposta não se encontra em um suposto descontrole ou desequilíbrio entre oferta e consumo de recursos naturais, mas sim ao uso imprevidente ou inconsequente que os homens fazem desses bens.
Já no século 19 observava-se essa desigualdade quanto ao acesso aos bens naturais e, também, aos bens de consumo. Na atualidade isso se torna ainda mais evidente. A questão 707 já tratava disso e, ao ler a resposta dada pelos espíritos e a própria observação de Kardec, notaremos que a explicação pode ser aplicada para explicar o que ocorre hoje, onde o egoísmo é o fator desencadeador desse desequilíbrio.
Por outro lado, quem tem acesso mais fácil aos bens e deles pode gozar, encontra nisso uma forma de tentação estimulante que merece atenção. Não há impedimento em poder gozar de bens ou recursos a nossa disposição. O excesso é que demonstra uma enfermidade moral que requer tratamento urgente. E a reflexão de Kardec segue para a questão do que é necessário e o que é supérfluo.
O homem, dada a sua imaturidade espiritual, tenta de todas as formas justificar seus excessos, ignorando o supérfluo que acumula em nome de uma provável escassez. Observamos isso mais fortemente em relação ao consumismo. É necessário possuir o modelo mais novo de smartphone, mesmo que o meu aparelho atual esteja funcionando e atendendo as minhas necessidades. Não basta assistir aos programas em uma televisão de 40 polegadas. É preciso uma de 55 polegadas, com tela curva e alta definição. Tudo isso para assistir aos capítulos da novela, que são produzidos em qualidade 4 vezes menor do que a TV suporta. E, com isso, não é de se espantar que nossos irmãos da espiritualidade nos observem como verdadeiros escravos que somos de nossos desejos de posse, cegos como na época de Kardec.
Concluo convidando-nos a uma reflexão sobre o que é o verdadeiro sentido de conservação. Não significa ter uma vida de privações, pois isso também é discutido por Kardec e pelos benfeitores, uma vez que todo sacrifício sem um fim útil é mera perda de tempo. O que proponho aqui, pelo entendimento das questões desse capítulo, é que nos dediquemos a valorizar o que realmente importa e saibamos viver com aquilo que é necessário e suficiente para nós. Acredite, se conseguirmos aplicar esses preceitos, viveremos uma vida feliz, ainda que seja vista como simples por muitos.
Lembro-me de uma passagem vivida por um amigo, cujo filho ganhou um brinquedo eletrônico trazido do exterior por uma parente. Caríssimo, repleto de tecnologia. Era um robô dotado de muitos recursos. Em dado momento observaram que a criança havia deixado o robô de lado e estava brincando, toda alegre e satisfeita, com a caixa de papelão.
E a felicidade não está na simplicidade? Viva e seja feliz!
Da Lei de Reprodução
Receba, mais uma vez, meu abraço fraterno. É muito bom encontrar você aqui novamente.
Hoje tratarei da Lei de Reprodução, uma lei natural de grande importância, mas que nem sempre é vista dessa forma. A primeira resposta do capítulo que apresenta essa lei traz justamente a citação que escolhi para esse texto, demonstrando tal importância.
Se não fosse pela reprodução dos seres, o processo reencarnatório seria afetado. A porta de entrada para as experiências carnais estaria fechada. Basta isso para justificar a necessidade dessa lei. Contudo, permita-me compartilhar mais algumas reflexões.
O espiritismo nasceu na segunda metade do século 19, mais precisamente no ano de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos. Essa obra já trazia conceitos que a ciência iria comprovar mais tarde. Cito, como exemplo, as explicações que os benfeitores espirituais trouxeram quanto à evolução dos seres vivos. Muito próximas das que Charles Robert Darwin apresentou em sua obra A Origem das Espécies, publicada em 1859, fruto dos estudos que desenvolvera desde 1838 sobre a seleção natural. Em ambos, percebemos que a natureza é totalmente dependente do processo de reprodução, da transferência genética e, por consequência, da seleção natural. Esse é um fator determinante para explicar como a humanidade chegou ao estágio atual, que, como disse em textos anteriores, não seria lógico admitir que tudo o que ocorreu até hoje seja fruto do acaso e da sorte.
Ao longo do capítulo, podemos notar que Kardec preocupa-se com os métodos contraceptivos como forma de impedir a reprodução. Contudo, o ensinamento mais significativo que podemos tirar desses questionamentos não estão no impedimento em si, mas na intenção daqueles que o fazem. Prevenir a gravidez, apenas para a satisfação dos prazeres proporcionados pela sensualidade, demonstra o quanto o homem ainda é escravo das sensações do seu corpo. Além de ser contrário à Lei de Reprodução, constitui ainda uma imperfeição moral a ser trabalhada.
Também identificamos os questionamentos relativos ao casamento, ao celibato e à poligamia.
Lembremo-nos de que o capítulo está inserido na parte terceira de O Livro dos Espíritos. Por essa razão, Kardec faz questionamentos interessantes a esse respeito, cuja análise deve levar em consideração o aspecto moral.
Entregar-se a aventuras sexuais sob o pretexto de estar atendendo ao imperativo da reprodução não disfarça o vício da sexualidade. Por outro lado, abster-se de atuar como progenitor, motivado pelo egoísmo, constitui outro tipo de vício. Neste último caso, é louvável se o celibato é assumido como missão, facilitando a atuação em prol do próximo. Fora isso, não atende a um fim útil. Lembra-se da reflexão que fizemos do trabalho e sobre ter um fim útil. O mesmo se aplica aqui.
Por fim, pensemos na questão da poligamia. O ser humano, tendo sido dotado de razão, difere dos demais animais por conta disso. Sendo assim, o processo de reprodução, por conter momentos desconfortáveis e dolorosos, poderia ser abandonado se analisado apenas racionalmente. Era preciso que o ciclo reprodutivo apresentasse uma dose de prazer para estimular os indivíduos a adotá-lo como prática. Até aqui estamos nos atendo apenas aos aspectos fisiológicos. Acrescente a esse o componente sentimental, que faz com que entre os indivíduos estabeleçam-se laços de afeto e simpatia, que faz com que as relações sejam mais duradouras para, também, atenderem à necessidade da reprodução.
Feitas essas considerações, talvez seja mais fácil entendermos como a poligamia é contrária à ordem natural imposta aos seres humanos. Quando analisamos os demais animais da natureza, manter relações com vários parceiros é aceitável apenas pelo aspecto da perpetuação da espécie. Contudo, no caso da humanidade, a diversidade de parceiros impede que haja entre eles sinceridade no sentimento que os une, atendendo apenas aos imperativos da sexualidade. Portanto, quando cobramos fidelidade, ela deve nascer em nós mesmos, no quanto somos fiéis aos nossos sentimentos para com a outra pessoa.
Concluindo, devemos entender que podemos desempenhar um papel importante para irmãos que esperam uma oportunidade para retornar ao palco da vida terrena. E se porventura não podemos gerir nós mesmos os filhos biológicos, podemos amparar aqueles que necessitam igualmente de carinho, atenção e zelo, na condição de filhos do coração.
Que Deus lhe abençoe!
Trabalho é lei
Mais uma vez eu lhe abraço fraternalmente nesse novo encontro.
Hoje refletiremos sobre mais uma lei moral presente em “O Livro dos Espíritos: A Lei do Trabalho”.
Trabalho, eis aí um conceito que merece explicação. Principalmente no mundo ocidental, a ideia que se tem acerca do trabalho é muito distorcida daquela que deveria ser sua real finalidade.
Historicamente sofremos uma forte influência da cultura greco-romana, principalmente nos campos da filosofia e da política. Entenda política como sendo a forma como a sociedade se organiza para resolver seus problemas comuns, pois a palavra política deriva de polis, que significa cidade.
Pois bem, para os gregos era importante para o indivíduo identificar qual o seu papel no mundo e direcionar seus esforços no sentido de cumpri-lo com excelência. Também por conta disso, era aceitável para eles a escravidão dos indivíduos, porque o papel deles era executar as tarefas rotineiras para que os mais intelectualizados pudessem dedicar-se às reflexões mais profundas.
Essa visão também estava presente na cultura romana, onde os escravos trabalhavam, enquanto os patrícios dedicavam-se à vida política. E, chegando até à Idade Média, temos a sociedade dividida em três classes, sendo os bellatores, os oradores e os trabalhadores. Os primeiros eram encarregados das atividades de guerra, daí a palavra possuir o mesmo radical da palavra bélico (relativo à guerra), sendo representados pelos aristocratas. Posteriormente os aristocratas deixaram de desempenhar as atividades de guerra, mas no início eles é quem comandavam os exércitos. Os segundos, cujos representantes era o clero, eram incumbidos de divulgar a palavra (oratória). Por último, aqueles que não pertenciam aos dois primeiros grupos eram os que efetivamente trabalhavam, ou seja, desempenhavam as tarefas árduas e pesadas.
Como podemos notar, não é de se estranhar que o trabalho esteja associado a sofrimento, a algo penoso. O conceito que a sociedade ocidental tem acerca do trabalho está intimamente relacionado com os aspectos econômicos e sociais. Por isso, para a nossa sociedade a ideia é de que somente os inferiores social e economicamente são obrigados a trabalhar. Talvez por isso a punição que Deus impôs a Adão e Eva pela desobediência deles tenha sido trabalhar para garantir seu sustento. Era preciso impor um castigo. Então que seja trabalhar para viver.
Contudo, é muito bonita a metáfora presente no livro do Gênesis. Adão e Eva, como representantes da humanidade, foram criados simples e ignorantes. Enquanto desconhecedores dos segredos contidos no fruto da árvore do Bem e do Mal, eram inocentes e não tinham sequer a necessidade de vestirem-se, pois guardavam a pureza que vemos na infância humana. Quando comeram do fruto da árvore do conhecimento, passaram a sentir-se “culpados”, ou “envergonhados”, tecendo roupas com as folhas para esconderem aquilo que mais expressava o canal de manifestação do erro: a sensualidade. Ora, a partir do momento que o Homem adquire conhecimento, torna-se refém de suas escolhas, ou da forma como aplica seu livre arbítrio. “Muito será cobrado a quem muito foi dado”. Faz sentido essa frase? Pois bem, qualquer decisão que tomemos exigirá de nós a vivência das consequências que ela acarreta. E isso será tanto mais penoso quanto mais distante das leis naturais tenhamos agido. Usando uma expressão comum: “isso dá muito trabalho”. Percebe o quanto o trabalho está incutido em nossa mente como algo ruim?
No século 19, com a publicação de “O Livro dos Espíritos”, o Ocidente tem contato com uma ideia mais sublime e nobre acerca do trabalho. Tanto que, até então, se usássemos a expressão “o trabalho enobrece o homem” ela estaria errada em sua essência, pois o que nobreza menos gostava de fazer é trabalhar. A partir da apresentação do trabalho como lei divina ou natural é que podemos entender o sentido enobrecedor do trabalho. Na resposta da questão 675 os benfeitores deixam claro que “Toda ocupação útil é um trabalho”. Não dá margem para divagações. Para ser trabalho é preciso que a ocupação seja útil, traga benefícios para si próprio ou para o próximo.
Ainda nesse capítulo, Kardec questiona os espíritos quanto a necessidade de trabalhar-se em prol dos que estão impossibilitados de o fazerem, recebendo deles a confirmação dessa necessidade. Observe que neste contexto os aspectos econômicos não são levados em consideração, tão pouco os de ordem social. “O forte deve trabalhar pelo fraco; na falta da família, a sociedade deve tomar-lhe o lugar: é a lei da caridade”. Por isso o trabalho assume um caráter moral. E, por conseguinte, justifica-se como lei divina. Se refletirmos acerca dos objetivos das leis divinas, elas visam conduzir o homem ao aperfeiçoamento moral. E, para concluir o capítulo, Kardec fala de um elemento essencial para atingirmos esse fim: a educação. Mas não fala da educação enquanto formação intelectual, mas sim da formação de caracteres ou do conjunto de hábitos adquiridos. A educação que conduz ao melhoramento moral dos indivíduos é que poderá combater a desordem e a imprevidência, constituindo o principal elemento do bem-estar geral.
Concluindo, dedicar uma parcela do seu tempo para ouvir um irmão em sofrimento; atender a um doente; amparar um idoso ou uma criança; acolher com tolerância e benevolência um companheiro desequilibrado, enfim, ser caridoso é efetivamente trabalhar na melhor seara que existe, a de nosso divino mestre e irmão Jesus. Todo o bem que façamos em prol de nosso semelhante estaremos ligando ao nosso próprio benefício.
Fiquem na paz de Deus e até o próximo encontro.
Lei de adoração
Estou feliz por estarmos novamente trocando energias e reflexões.
Este mês falarei, ou escreverei, sobre a “Lei de Adoração”, tema do capítulo 11 de “O Livro dos Espíritos”.
Geralmente quando ouvimos falar em adoração, a imagem mais recorrente que nos vem à mente é a de alguém ou várias pessoas em posição de oração, contemplação ou prece? Olhares voltados ao alto, cultos e rituais até bonitos de se assistir? Templos lotados, músicas, pessoas emocionadas e em êxtase?
Mas, será que é isso mesmo? E, por que precisamos adorar a Deus? Como onisciente (sabe tudo), Deus não sabe que eu o amo e o admiro? Por que eu preciso manifestar essa adoração?
E aí, vamos estudar o assunto?
Para quem acompanha meus textos, sabe que eu gosto de buscar o significado das coisas. Pois bem, primeiro vamos entender o que significa adorar. Segundo o dicionário de etimologia “Nova Fronteira”, a palavra adorar tem origem no latim adorare, ad (a, para) e orare (rezar), resultando em “render culto à (divindade), venerar, amar extremosamente”, ou, em tradução literal, “rezar para”. Já na questão 649 de “O Livro dos Espíritos”, temos uma resposta que me agrada. Quando Kardec pergunta: “Em que consiste a adoração?”, a espiritualidade responde: “É a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração a alma se aproxima dele”, ou seja, o homem aproxima sua alma de Deus pela adoração (os grifos são meus).
Até aqui, tudo bem, entendemos o que é adoração. Mas, por que o homem precisa fazer isso? Neste ponto é que eu considero interessante a resposta dada a Kardec. O ato de adorar Deus nos coloca em sintonia com Ele. E, quando a adoração é feita com sentimento verdadeiro (falaremos da forma daqui a pouco), somos invadidos por uma sensação de paz espiritual. Neste momento, faz todo o sentido a frase de Agostinho, não acha? Quando buscamos Deus, Ele vem ao nosso encontro. E a Sua presença nos envolve de sentimentos de amor, conforto e acolhimento.
Para quem considera estranho pensar em “Lei de Adoração” como uma lei natural, basta lembrar que a crença em Deus e a sua adoração acompanham a humanidade desde os primórdios. Isso é fato comprovado e sobre o qual já falamos em textos anteriores. Por esse motivo esse ato constitui uma lei natural, identificada em todos os povos, “porque não há, jamais houve, povos ateus. Todos compreendem que há acima deles um ser supremo” (O Livro dos Espíritos, questão 651).
O que difere é a forma como a adoração é feita. Em povos mais antigos, cujo entendimento era limitado, era comum a prática de sacrifícios, tanto de animais quanto de seres humanos. Ainda vemos algumas pessoas que acreditam que deixar de comer determinados alimentos ou ingerir bebidas agrada a Deus. O ato em si não tem tanta importância assim, pois o que é levado em conta é a intenção. Evidentemente que, em caso de bebidas alcoólicas, como é mais recorrente, o benefício que o indivíduo obtém disso está justamente no fato de não ingerir uma substância que traz prejuízos a sua saúde. Não que essa sensação de bem-estar seja resultado da ação de Deus pelo fato de se impor uma carência de algo. De nada adiantará deixar de ingerir qualquer coisa e continuar a destilar em seu íntimo sentimentos de ódio, egoísmo, indiferença e maldade. Será que fica mais fácil entender quando Jesus disse que não é o que entra na boca do homem que é ruim, mas o que sai dela?
Mas, e quanto aos cultos e rituais que são feitos a certas divindades e que utilizam oferendas? Essas entidades não gostam disso ou não se importam?
Aqui cabe uma diferenciação. Não se está adorando a Deus com tais ritos. Como acreditamos na imortalidade da alma, e, consequentemente, na existência do mundo espiritual, existem naquele plano espíritos em diferentes níveis de entendimento. Basta utilizarmos um princípio lógico. Um homem que é apegado a esse tipo de coisa enquanto encarnado, ao desencarnar preserva tais gostos e, dessa forma, se evocado de alguma maneira, agradar-lhe-á receber “pagamentos” materiais. Aqui não há nada de errado no processo em si, apenas se o objetivo era o de adorar a Deus é que talvez não terá o êxito desejado, pois a forma é o que menos importa. Em uma conclusão direta e simples, quem assim age demonstra que permanece na ilusão do que é verdadeiramente a adoração.
A verdadeira adoração está no coração […] Não pergunteis, pois, se há uma forma de adoração mais conveniente, porque isso seria perguntar se é mais agradável a Deus ser adorado em um idioma que em outro. Eu vos digo ainda uma vez: os cânticos não chegam a ele, senão pela porta do coração.
No entanto, a adoração coletiva não é condenada, desde que haja no grupo que a faz uma comunhão de pensamentos e de sentimentos.
Voltando à questão dos sacrifícios, percebe porque não há necessidade de impor-se um sacrifício que não tenha um fim útil? O que verdadeiramente agrada a Deus é aquilo que fazemos para domar as nossas más tendências, diminuindo em nós o orgulho e o egoísmo, não o que tem apenas uma forma e objetivo meramente material. Deixar de consumir algo durante a quaresma, por exemplo, será mais agradável a Deus se esse alimento que podemos armazenar seja distribuído aos que nada possuem para comer. Se o dinheiro que eu gastaria em bebidas fosse destinado ao alívio dos mais pobres e humildes. Esse, sim, é o sacrifício que Deus espera de nós. E que, convenhamos, na maioria das vezes nem constitui sacrifício, pois geralmente deixamos de consumir o que nos sobra, não o que nos faz falta. Conhece a passagem do “óbulo da viúva”, que Jesus usou para explicar isso? Se não conhece, aproveita e faz uma pesquisa na internet que poderá ler a história e verificar como ela exemplifica o que dissemos agora¹.
Há uma outra forma de adoração que pode causar confusão. É quando a pessoa se entrega a uma vida contemplativa, sob a desculpa de que assim não prejudica ninguém e dedica sua vida a pensar em Deus. A espiritualidade é direta nessa questão: Isso não possui mérito aos olhos de Deus. Fomos criados por ele para um fim útil, produtivo, e quando decidimos nos afastar do convívio das pessoas estamos sendo omissos em nossos compromissos e nas nossas missões. Por vezes, um simples ‘bom dia’ que damos a alguém, que passa por nós, pode representar para essa pessoa um momento de conforto em sua vida.
Nada precisamos dar de bens materiais, apenas o nosso sentimento sincero. E, convenhamos, atualmente as pessoas estão mais carentes de afeto e compreensão do que de recursos materiais. Dedicar um pouco de tempo para pensar em Deus e nos outros é louvável. Ficar apenas no pensamento, quando você possui condições de agir em prol do benefício do próximo, é uma forma de egoísmo. Podemos tentar nos desculpar de diferentes formas, mas a realidade é apenas essa.
Por fim, devemos nos lembrar que a adoração é um dos propósitos da prece (adorar, pedir e agradecer). Pedimos muito, agradecemos de vez em quando e quase nunca adoramos. Se você não leu meu texto sobre a prece, recomendo que o faça. Aplique as reflexões que ele contém ao assunto de hoje e você chegará à conclusão, assim espero, de que podemos e precisamos praticar mais a adoração em nossas vidas, pois isso nos aproxima de Deus. Santo Agostinho é o exemplo disso.
Fica com Deus e dedique alguns minutos do seu dia para conversar com Ele. Nosso Pai faz muito gosto quando o visitamos em nosso pensamento e com nosso coração.
Assim seja!
A lei divina ou natural
Todas as leis humanas se alimentam da lei divina.
Heráclito
Que a Paz de Deus nos envolva neste momento.
A partir desse texto tratarei das Leis Morais, terceira parte de “O Livro dos Espíritos”.
Os diferentes grupos sociais que compõem a humanidade possuem, pelo menos, uma característica em comum: a necessidade de imporem e seguirem princípios que regulam as relações entre seus membros. Mesmo nos tempos remotos da era primitiva, quando os homens se aproximavam da animalidade, havia um “código de conduta”, ainda que prevalecesse a “lei do mais forte”. Essa era a lei da época e, para alguns povos, ainda o é até hoje.
Por conta disso, de tempos em tempos os grupos sociais discutem sobre tais valores e buscam aprimorá-los, adaptá-los à nova realidade que se apresenta. Com isso, o que era considerado “normal” ou válido em uma época, deixa de ser em outra, e vice-versa. No entanto, alguns princípios parecem resistir ao tempo, ou pelo menos a noção que se tem daquilo que é considerado correto. A que se deve isso? Por que diferentes grupos possuem valores comuns, mesmo ocupando regiões tão distantes geograficamente e que, em tese, não teriam contato uns com os outros? Como saber se nossos valores são os mais ajustados?
Para tentar responder essas e outras perguntas, convido-lhe: vamos estudar!?
Como podemos notar acima, as leis humanas são mutáveis, ou seja, sofrem alterações ao longo do tempo por diferentes razões. Todavia, há uma lei que não muda, que não precisa ser adaptada. É a Lei Divina ou Natural. Essa é a lei de Deus e indica ao homem o que ele deve ou não deve fazer. Está gravada em nossa consciência. Sempre que agimos em contrário ao que está na Lei Divina, somos preenchidos por um sentimento de tristeza ou decepção. Em seu íntimo, todo ser humano tem a noção clara do que é certo ou errado. E essa noção ficará cada vez mais clara à medida em que adquire mais conhecimento e amplia seu entendimento.
Mas, analisando o comportamento de povos antigos, percebemos que eles consideravam correto, por exemplo, matar outros homens. Eles não sabiam que isso era errado? Por que, somente após alguns séculos, passou-se a considerar isso um crime? A Lei Divina então sofre alterações, igual as leis humanas?
Interessantes questões essas e vale a pena analisarmos cada uma delas. Antes disso, permita-me citar as questões 615 e 616 de “O Livro dos Espíritos”:
615- A lei de Deus é eterna?
R.: Ela é eterna e imutável quanto o próprio Deus.
616- É possível que Deus em certa época haja permitido aos homens o que proibiu em outra época?
R.: Deus não pode se enganar. Os homens é que são obrigados a mudarem suas leis, porque são imperfeitas. As leis de Deus são perfeitas. A harmonia que rege o universo material e o universo moral está fundada sobre as leis que Deus estabeleceu para toda a humanidade.
Vamos interpretar essas respostas e aplicá-las às questões que fizemos. Usando o exemplo dado, em que permitia-se matar outros homens no passado, isso sempre foi visto como um desrespeito à lei de Deus, tanto que em um dos mais antigos tratados de conduta da humanidade, o Decálogo (Dez Mandamentos), havia a orientação expressa “não matarás”. Os Vedas e outros códigos ainda mais antigos também condenam tal prática. E, com certeza, no íntimo os homens tinham uma noção de que aquela não era uma atitude acertada. O que mudou então? Como dissemos, o nível de compreensão e esclarecimento.
Quanto mais bruto um homem, menor a sua capacidade de reflexão e análise das atitudes. Ou seja, ele não tem “consciência” do que faz. Já ouvimos essa expressão quando, diante de situações em que uma pessoa age “sem pensar”, ou seja, sem que haja uma reflexão do que está fazendo. Com a evolução intelectual e principalmente moral, os homens vão convertendo essa simples noção em convicção e, a partir daí, entendem que não devem praticar aquela ação.
Tanto isso é verdade que a resposta da questão 618 diz que as “leis divinas são apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de adiantamento dos seres que os habitam”.
Na sequência, os benfeitores espirituais explicam que todos os homens podem conhecer a Lei Divina, porém nem todos a compreendem. Os homens de bem são os que melhor a compreendem e buscam a colocar em prática. Porém, todos a compreenderão um dia, pois o progresso abrange todo mundo. O que acontece é que a marcha do progresso não é a mesma para todos, por isso a sensação de que as pessoas estão em diferentes níveis de entendimento e evolução. E isso acaba se refletindo na aplicação e compreensão da Lei Divina.
É até comum ouvirmos comentários de pessoas que têm a sensação de que a humanidade não evoluiu, ou que evolui muito lentamente, dado o elevado número de exemplos de barbárie e agressividade. Há alguns anos tivemos o caso do índio que foi queimado vivo. Mais recentemente um senhor foi agredido por dois jovens até a morte. Tristes casos, evidentemente, mas que não traduzem o sentimento da maioria dos que assistiram essas aberrações.
Há alguns séculos era comum que pessoas duelassem até a morte, sem que isso causasse estranheza nas pessoas que assistiam à cena. Durante a Idade Média, as famílias assistiam a execuções em praça pública. Não precisamos nem ir tão longe no tempo. No Brasil Império os condenados à forca eram executados em verdadeiros eventos sociais.
Atualmente, por mais que esses casos se repitam, a comoção social e o sentimento de repulsa vem crescendo nas pessoas, o que demonstra que tais atos estão incomodando. A crueldade dos praticantes talvez seja a mesma, mas a receptividade das pessoas mudou. Mas, concordo, não extinguimos isso de nossa convivência. Ainda vai um tempo para que a humanidade realmente seja representada, em sua maioria, por homens e mulheres de bem.
Todavia, convido-lhe a acompanhar um raciocínio que me ocorreu recentemente. O Homo sapiens teria surgido por volta de 130 mil anos atrás, segundo estudo de fósseis encontrados na África. O nosso planeta possui alguns milhões de anos de existência. Jesus, o homem mais perfeito que encarnou na Terra, trouxe-nos sua mensagem há 2000 anos, aproximadamente. Sem levar em conta os ensinamentos que já existiam antes de Jesus e considerando que o exemplo mais ajustado com a Lei Divina seja o que ele nos deixou, temos um tempo muitíssimo curto de bons exemplos e código moral para seguir.
Em uma comparação grosseira, é como se um aprendiz estivesse na oficina durante um ano inteiro realizando atividades diversas, sem grandes cobranças e, na última semana do ano seu mestre apresentasse para ele todos os segredos da profissão, por exemplo a marcenaria, e exigisse que ele aprendesse tudo isso em uma semana, para poder ser promovido de nível. É certo de que é preciso um tempo para entender as lições, realmente compreender o que se espera dele, para depois colocar em prática.
Uma história que ilustra isso é a que envolve o pianista Arthur Moreira Lima, “o Pelé do Piano”. Após um lindo concerto do pianista em terras mineiras, se não estou enganado, um jovem disse a ele que daria a vida para tocar daquela forma. Arthur respondeu-lhe: “Eu dei”.
É assim mesmo. Tem coisas em nossa vida que serão compreendidas quando estivermos próximos de retornar à pátria espiritual. Outras, podemos colocar em prática desde já. Quer mais uma informação interessante? Para finalizar transcrevo a nota da questão 625 de “O Livro dos Espíritos”, que pergunta qual é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu aos homens para servir de modelo. A resposta: Jesus.
Notem como Kardec faz questão de dizer que Jesus é o modelo a ser atingido pela humanidade sobre a Terra, ou seja, não diz que chegaremos ao nível de Jesus somente quando estivermos em mundos perfeitos. Podemos fazer isso aqui na Terra, basta deixarmos nascer novos homens em nós. Agora a nota, e fique com meu abraço carinhoso.
Jesus é para o homem o modelo da perfeição moral que a Humanidade pode pretender sobre a Terra. Deus nô-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão da sua lei, porque ele estava animado de espírito divino e foi o ser mais puro que apareceu sobre a Terra.
Escolhas conscientes
Receba minhas vibrações positivas, de paz e saúde.
No texto anterior eu comentei sobre as aflições que vivemos no mundo e do quanto somos responsáveis pela ocorrência dessas experiências em nossas vidas. Pois bem, também falei de passagem sobre as reflexões que surgem de nossas decisões e de como elas nos acompanham no transcorrer dos anos.
Você se arrependeu de alguma decisão que tomou? Ou de algo que deveria ter feito e não fez? Ou de alguma coisa que fez e hoje pensa que não deveria ter feito?
Aposto que você, assim como eu, respondeu sim para alguma dessas perguntas. Talvez para todas. Sabe o que isso significa? Que você e eu somos humanos. E, como tais, não somos perfeitos e não temos condições de acertar em todas as nossas escolhas. Mas, há algumas orientações que podem nos ajudar, em muito, em nossas escolhas daqui para a frente. Por isso o título desse texto é “escolhas conscientes”. Observe que algumas vezes ouvimos o termo “escolhas inteligentes”, como se quem decide sobre algo diferente não seja inteligente. Eu, particularmente, sou muito apegado ao significado das palavras e da forma como são usadas. Se você acompanha meus textos já deve ter notado isso. Então, primeiro vamos analisar o termo “escolhas inteligentes” para verificarmos se ele é o mais adequado.
Como geralmente as pessoas avaliam se as decisões que tomaram foram as certas? Fazemos isso com base em uma comparação do que projetamos como resultado esperado em relação aquilo que efetivamente aconteceu. Se o ocorrido é igual ou próximo daquilo que projetamos, então dizemos que escolhemos a coisa certa. Se é diferente, consideramos aquela uma decisão errada. Sendo diferente, logo classificada como errada, a escolha não é considerada inteligente. Ora, eu não creio que o grau de inteligência tenha influência direta nisso. A inteligência ajudará, com certeza, na análise das opções disponíveis, se forma que a pessoa escolha aquela que julgar mais adequada ou mais ajustada as suas expectativas. Mas, até um animal pode ser condicionado a fazer as escolhas certas, independentemente do grau de inteligência que possui. Por essa razão eu prefiro não adotar o termo escolha inteligente.
Voltando ainda ao critério de avaliação sobre se a escolha foi certa ou não, surgem outras reflexões sobre isso. Quem garante que sabemos mesmo o que é o certo? Quem pode afirmar que aquilo que projetamos como sendo o resultado esperado ou ideal era o que de fato deveria acontecer? Eis aí, no meu ponto de vista, o maior problema para quem se mete a avaliar as escolhas e decisões tomadas ou excluídas.
Gosto também de usar exemplos para ilustrar minhas reflexões. Vamos a alguns: suponha um paciente em coma há muito tempo, que sobrevive apenas com o auxílio de equipamentos. Sua família está diante da decisão de autorizar ou não o desligamento dos aparelhos, visto que o paciente não apresenta resposta positiva a nenhum estímulo externo. Qual é a decisão correta a ser tomada: desligar os aparelhos ou mantê-los ligados por mais tempo, na esperança de que o paciente reaja? Antes que você responda, certa vez contaram-me uma história semelhante a essa. Enquanto a família discutia se desligava ou não os aparelhos, o paciente conseguiu produzir uma lágrima, comprovando que ainda estava vivo e consciente do que estava acontecendo ao seu redor. E se eles tivessem desligado os aparelhos antes da lágrima salvadora? Achou difícil a escolha? Esse é um tipo de decisão a que se deu o nome de “escolha de Sofia” ou “dilema de Sofia”, em alusão à história de Sofia, uma jovem polaca presa na segunda guerra mundial. De todos os horrores que viveu no campo de concentração, o maior foi ter que escolher entre seus filhos qual seria morto pelos soldados. Ela era mãe de uma menina e de um menino. Quando foi perguntada, ela disse que não poderia fazer essa escolha. Então o soldado disse que mataria os dois filhos. Ela tinha a chance de salvar um deles, se fizesse a escolha. Ela preferiu salvar seu filho, por acreditar que ele teria mais chance de sobreviver aos horrores da guerra. Viu sua filha ser morta na sua frente e seu filho levado pelo soldado, para nunca mais o vê-lo. Desde então Sofia passou a conviver com a angústia e os tormentos que sua escolha trouxe. Será que seu filho sobreviveu? Será que foi levado para experiências horríveis? E sua filha, que sentimento vivenciou naqueles momentos em que sua mãe a condenou à morte?
Quando analisamos essa situação, colocando-nos no lugar de Sofia e conhecedores do destino, podemos pensar que ela não deveria ter escolhido nenhum dos dois. E daí, como ela conviveria com o pensamento de que poderia ter salvo um dos seus filhos e não o fez? E se escolhesse sua filha ao invés do filho e a visse ser submetida a todo tipo de atrocidade pelos soldados desumanos? Talvez não fosse melhor tê-la deixado morrer? Você consegue imaginar como há decisões em nossas vidas cujas opções parecem ser todas ruins? Será que devemos nos culpar em demasia pelos resultados produzidos por tais decisões?
Por esse e tantos outros motivos e exemplos, eu dediquei-me há algum tempo a estudar o impacto de nossas escolhas em nossas vidas e, desde então, defendo o conceito de “escolhas conscientes”. Qual a diferença para “escolhas inteligentes”? Apenas uma troca de palavras? Não necessariamente. Utilizo o termo consciente com o sentido de quem age de forma racional, cujas atitudes são resultado de análise, raciocínio e conhecimento. Contudo, nem sempre tomamos decisões conscientes em nossas vidas. Muitas vezes somos afetados pela alteração em nosso estado de consciência devido a sentimentos descontrolados, substâncias entorpecentes, padrões mentais viciados ou doentios, entre tantos outros fatores. Isso afeta nossa capacidade de análise e, por consequência, nossa capacidade de decisão.
Em um estado de consciência considerado normal, uma pessoa é incapaz de selecionar a pior opção diante de uma escolha. Com base no que conhecemos naquele momento, nas nossas experiências, nas informações que dispomos sobre o assunto em questão, nas expectativas que temos ou desejamos e, sobretudo, no que atribuímos valor e importância para nós, escolheremos a opção que nos parece ser a melhor. Posso garantir, ninguém escolhe o pior. Contudo, nem sempre escolhemos o que seria mais ajustado as nossas necessidades, isso é certo. Justamente porque não sabemos ou não conhecemos ainda o que é o ideal para nós. Assim como classificamos as escolhas, se o nosso parâmetro é irregular, nossas escolhas também o serão e o nosso julgamento da escolha feita também será.
Quanto a isso, não há muito o que podemos fazer. Uma vez que vivemos em um mundo de provas e expiações, como nos apresenta “O Livro dos Espíritos”, e como somos espíritos imperfeitos, com um elevado grau de imaturidade sobre os assuntos espirituais, nossas escolhas possuem uma grande chance de serem pautadas por critérios inadequados ou inapropriados. Damos valor excessivo às coisas materiais em relação às espirituais. Ora, como as consequências de nossas escolhas afetam nossas vidas, atual e futura, quanto mais valorizarmos as coisas perecíveis e temporais, maior sofrimento estaremos impondo a nós mesmos. Portanto, ao fazer nossas escolhas, devemos tentar levar em consideração o aspecto espiritual, a imortalidade do espírito e a necessidade de reparação em casos de equívocos. Isso já explica os tormentos vividos e que parecem não possuir causa nessa vida.
Outro aspecto, não menos importante, é como podemos lidar melhor com o resultado de nossas escolhas a partir de agora. É muito comum avaliarmos as decisões do passado comparando com conhecimentos adquiridos na atualidade, ou ainda depois de sabermos o resultado dessas escolhas. Voltemos ao exemplo de Sofia. Ela sabia que o soldado levaria seu filho embora e que ela nunca mais o veria? Não. O soldado não havia dito isso a ela. Portanto, culpar-se pelo que ocorreu com seu filho a partir de então é um erro e um sofrimento que ela não deveria impor-se. Não possuímos essa capacidade de prevermos o futuro ou o que efetivamente ocorrerá. Você nota uma certa ligação com o que falamos no mês passado? Se sim, ótimo. Há realmente uma ligação. Lembra-se quando eu mencionei, citando O Evangelho Segundo o Espiritismo, que somos responsáveis pelos tormentos que vivenciamos. Eles são o resultado das escolhas que fazemos.
Sendo assim, se conseguirmos fazer escolhas mais conscientes, a chance de nos sentirmos culpados pelos resultados ou arrependidos será diminuída. Sim, pois se eu escolhi de maneira consciente aquilo que eu julguei ser a melhor opção, não devo alimentar um sentimento de culpa se as coisas não saíram como eu desejava. Se após algum tempo em chegar à conclusão de que deveria ter feito uma escolha diferente, é importante tentar ajustar as coisas o mais rápido possível. Se não estiver ao meu alcance essa correção, então devo procurar formas de amenizar as consequências negativas o quanto eu puder.
Por fim, compartilho com vocês um método que tem me ajudado bastante nos momentos de escolha de minha vida. Diante da possibilidade de fazer ou não determinada coisa, submeto a três perguntas: Eu quero? Eu posso? Eu devo? Ao responder a essas três questões e justificar suas respostas, você provavelmente se defrontará com reflexões que lhe darão uma segurança maior no momento da decisão. E ajustar nossos desejos a essas três perguntas nem sempre é fácil. Eis aí o nosso desafio. E quem disse que viver é simples? Ainda assim, gosto muito de viver.
Que possamos nos beneficiar das vibrações positivas dos nossos amigos espirituais e, da minha parte, receba um caloroso e fraternal abraço!
As aflições do mundo
Que a paz de Deus esteja presente em sua vida!
No texto anterior falei da prece, o mais poderoso auxílio que temos para enfrentar as dificuldades da vida. Não é por acaso que hoje falarei justamente das aflições do nosso mundo, agora que sabemos como diminuir seus efeitos em nós.
Para facilitar o entendimento, é sempre bom conhecermos o significado das palavras. Segundo o dicionário Michaelis, aflição significa “padecimento físico; tormento, tristeza pungente” e, ainda, “grande sofrimento; afligimento, agonia, angústia, desassossego, indisposição, inquietação”. Eu acredito que essa segunda definição é mais próxima do entendimento geral do que vem a ser aflição. Geralmente associamos esse sentimento a sofrimento.
Contudo, será que nós temos noção exata do que as aflições representam em nossas vidas? Quem nunca sofreu? Você já enfrentou dificuldades que considerava impossíveis de serem vencidas? Ou, você está vivenciando uma situação dessas nesse momento? Quer entender melhor as razões de passarmos por isso?
Se sua resposta foi positiva para qualquer uma dessas perguntas, então eu faço o convite: Vamos estudar!?
Escolhi a citação de Sêneca para esse texto porque ele, assim como você e eu, também sofreu em sua vida. Nasceu no século 4 a.C., foi exilado de Roma, acusado de adultério, padeceu dificuldades e grandes privações materiais. Durante esse período, dedicou-se aos estudos e redigiu seus principais textos filosóficos, dentre eles os que receberam o nome de Consolationes (Consolos), onde apresentou os ideais estoicos de renúncia e desapego aos bens materiais, como forma de alcançar a tranquilidade da alma. Depois retornou a Roma, tornando-se preceptor do imperador Nero e seu principal conselheiro. Durante os primeiros anos de reinado de Nero, conseguiu exercer sobre ele a sua influência, tornando esse período comparável ao governo exercido por Augusto. Depois a índole de Nero falou mais alto e Sêneca não conseguiu mais ter a mesma atuação sobre ele.
De tudo isso, o que realmente nos importa são as ideias estoicas de Sêneca. Há quem afirme que Jesus Cristo tenha sido influenciado por elas. Como não conheço referências confiáveis a respeito disso, tratarei como suposição. O fato é que para compreendermos bem como as dificuldades da vida nos afetam, tornando-se aflições para nós, é imprescindível nos lembrarmos que somos espíritos ligados a um corpo material. Isso é tão importante que Allan Kardec fez questão de atribuir um termo específico para designar essa nossa situação. Chamou de “alma”. Portanto, somos almas, pois sofremos a influência da matéria e exercemos influência sobre ela. Seguramente não nos damos conta do quanto essa relação é fundamental para nós. Arrisco-me a dizer que não fazemos nada sem que a matéria tenha tido alguma interferência. Quanto mais apegada ao mundo material uma pessoa for, mais aflições enfrentará ao longo de sua existência.
Consultando as obras espíritas acerca desse assunto, encontraremos um mesmo ponto de vista em todas. Desculpe-me por lhe dar essa notícia, caso você não saiba ainda, mas nós somos os verdadeiros causadores de nossas aflições.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo” dedica o capítulo V, intitulado “Bem-Aventurados os Aflitos” para tratar desse tema. Explica-nos sobre a justiça das aflições; suas causas, que podem ser atuais ou do nosso passado; o motivo pelo qual não nos lembramos desse passado, que serve para nós como bênção; os motivos pelos quais devemos ter resignação e porque ocorrem os casos de suicídio e loucura e como a coragem moral, a certeza na vida futura e a resignação são os melhores preservativos contra esses males. Nas suas instruções, os Espíritos explicam como podemos bem e mal sofrer; qual o remédio para os males que vivemos na Terra; como devemos encarar a felicidade, em oposição à máxima que afirma que a felicidade não é deste mundo; expõe algumas situações que nos causam aflições diversas e fala das provas ou tormentos voluntários.
Para quem se considera um sofredor nesse mundo, tenha à mão “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e estude com dedicação esse capítulo. Tenho a certeza de que você encontrará nele recursos para melhor suportar as dificuldades da sua vida.
Caso você ainda tenha dúvidas da sua parcela de responsabilidade nas experiências vividas, sugiro a leitura dos últimos três parágrafos da questão 257 de “O Livro dos Espíritos”. Essa não é necessariamente uma pergunta dirigida aos benfeitores espirituais, mas sim um ensaio teórico, como diz seu título.
Na sequência, Kardec trata da “escolha das provas“. Podemos notar pelas perguntas do pedagogo e pelas respostas dos espíritos a ideia de que somos responsáveis por aquilo que nos acontece. Contudo, como não guardamos consciência de nossas escolhas e dos compromissos assumidos perante a espiritualidade, temos a tendência de encarar as dificuldades como obstáculos a serem transpostos em nossa vida. Concordo plenamente com quem disser que não é fácil ver as coisas de outra forma. Também passei por essa situação e tive esse ponto de vista. Atualmente, se me permite compartilhar minha experiência, procuro ver as coisas sob outro ponto de vista. O ensinamento espírita abre um novo campo de entendimento. Há situações que constituem para nós provas. São aquelas em que somos testados. Geralmente tivemos participação direta nos atos que nos levaram até aquele momento. A prova possui um componente de escolha, posso ou não desejar passar por aquilo. Entretanto, há vivências que independem da nossa possibilidade de escolha, as quais teremos que experimentar obrigatoriamente. Essas são as expiações. Penso que as expiações são mais difíceis de serem encaradas, pois geralmente estão associadas à necessidade de reparação de erros cometidos, cuja responsabilidade e consequências recaem sobre nós. Por exemplo, a orfandade não depende das escolhas da criança. No meu ponto de vista, para ela constitui uma expiação. Já a opção de abandonar o filho indefeso é uma escolha que os pais podem fazer. Para eles é uma prova. As consequências advindas da escolha feita podem levar a uma expiação futura, mas, naquele momento, é uma prova na qual podem ou não falhar.
Seguramente nossas escolhas geram reflexões que nos acompanharão por toda a vida. Tratarei desse assunto no próximo texto, cujo título adianto: “escolhas conscientes”. O importante por agora é reconhecermos que podemos fazer essas reflexões transformarem-se em verdadeiros suplícios, aflições. Portanto, voltamos à tese de que somos os causadores de nossos males, direta ou indiretamente, como mencionei no texto sobre a influência espiritual.
Mas, como amenizar isso em nós? Como vencer essa tendência de nos colocarmos como vítimas das circunstâncias, abrindo mão de tomar as rédeas de nossa própria existência?
Para responder essas perguntas e encerrar nosso texto, transcrevo a lição 6 do livro Sempre Melhor, de José Carlos de Lucca:
A posição de vítima que muitos de nós assumimos diante dos problemas que nos acometem é uma das piores tragédias que nos poderiam acontecer, pois nos faz sentir injustiçados perante a vida. E a vítima não age; chora improdutivamente, revolta-se contra tudo e contra todos, e permanece à espera de um salvador que possa resolver suas dores.Seremos consolados quando choramos a partir da compreensão de que não sofremos sem uma justa razão de ser e que nossas lágrimas não representam castigos de Deus, mas apenas o débito que contraímos no passado de hoje ou de ontem, com a possibilidade de refazermos nosso caminho, nosso modo de ser e de agir, eliminando, assim, as causas do nosso sofrimento.Convertamos a dor em aprendizado para a nossa alma. Aceitemos a prova como recurso divino, destinado a retificar nossos passos na Terra, expulsando as nuvens da revolta e do desânimo que ainda pairam sobre o nosso coração e estimulando os nossos potenciais de crescimento perante a vida.
Até breve e um grande abraço!
Faça uma prece
Recebo-lhe com carinho e fraternidade. Estejamos na paz de Deus!
Quem acompanha meus textos mensalmente já notou que eu utilizo citações para inicia-los. Pois bem, a citação do mês passado foi “Deus assiste os que obram, não os que se limitam a pedir“, presente na resposta da questão 479 de “O Livro dos Espíritos”. Parece-lhe estranho que neste mês eu digo o contrário, utilizando o versículo do Evangelho de Lucas? “Pedi, e dar-se-vos-á”. Para facilitar, vamos retirar a mesóclise: “Pedi e obtereis”. É assim que está escrito o título do capítulo 27 do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Parecem coisas diferentes? Deus não ajuda os que se limitam a pedir, mas hoje eu digo que se pedirmos nós obteremos o que desejamos. E então, basta pedir ou isso não adianta?
E eu havia dito que não causaria polêmicas, lembra-se? Mas confesso que não consigo resistir a isso. Gosto de brincar com coisas que parecem contrárias, para reforçar em nós as convicções e os conceitos.
Inicialmente, deixe-me explicar que esse ato de pedir é chamado por muitas pessoas de prece. Isso se deve à origem dessa palavra: do latim prex, que significa pedido, súplica. Contudo, prece não significa apenas pedido. Em minhas pesquisas constatei que todas as religiões que consultei atribuem um significado mais amplo à prece. Em alguns casos se faz uma diferenciação entre prece e oração. Mas, para efeito desse texto e das nossas reflexões, isso não é relevante. Vamos tratar simplesmente como prece. No âmbito mais religioso, é o ato de entrar em comunicação com a divindade, não só para pedir, mas também para agradecer e louvar (adorar). Tanto que esses três motivos da prece são utilizados pelo espiritismo para lhe explicar a finalidade.
Tudo bem, mas devemos reconhecer que a motivação mais comum para as pessoas fazerem preces continua sendo o ato de pedir. E é nesse aspecto que quero trocar algumas ideias com você.
O que parece uma coisa completamente contrária ao texto do mês passado na verdade não o é. Jesus não cometeria um erro ao nos transmitir um ensinamento tão importante. E, considerando que o espiritismo veio confirmar tudo aquilo que o Cristo nos ensinou, então não pode haver divergência.
Então, vamos estudar!
O ato da prece deixou de ser um assunto reservado ao círculo religioso. Há vários estudos científicos que comprovam a eficácia da prece em processos de tratamento médico e como agente que contribui positivamente nos índices de cura de pacientes com doenças graves. Quanto a isso não me preocuparei em estender muitos comentários, pois tais estudos estão disponíveis na internet para quem quiser consulta-los. Importa para nós que a prece é um “remédio” eficaz para o ser humano. Pois bem, quando uma pessoa é acometida por uma doença, é evidente que há reflexos físicos em seu organismo. A isso podemos chamar de sintomas. Alguns são perceptíveis e causam muito incômodo. Outros são silenciosos e ocultos. Todavia, fora os sintomas que sentimos, há um aspecto talvez mais importante associado às doenças que nem sempre nos damos conta: qual o impacto que ela causa em nosso estado psíquico, ou seja, como reagimos ante a notícia.
Eu uso o exemplo de uma doença porque acredito que todos nós já passamos por uma situação assim em nossas vidas, quer seja conosco ou com alguém próximo a nós, como parentes e amigos. Dependendo da experiência vivida, o reflexo emocional que ela causa tem um poder devastador muito maior do que a própria doença em si ou seus sintomas. Em muitos casos, isso prejudica em muito o tratamento proposto, pois há uma disposição íntima da pessoa em entregar-se à doença. Não entrarei no mérito disso por enquanto. Em outra oportunidade falaremos dessa questão das dores em nossas vidas. O fato é que doenças graves, perda de pessoas queridas, adversidades sofridas nos colocam em situações que, muitas vezes, acreditamos não terem solução e isso nos leva ao estado de ânimo de desistência, de entrega.
A medicação visa atenuar os efeitos da doença (sintomas), enquanto nosso organismo inicia um processo de combate ao agente causador do mal, por meio do sistema imunológico. Porém, nenhuma medicação terá efeito definitivo sobre nosso ânimo. Mesmo os antidepressivos servem para equilibrar níveis de transmissão neuroquímica de enzimas. Por isso mesmo, a busca de um estado de espírito mais equilibrado é tarefa própria do indivíduo. De forma semelhante temos os casos em que lidamos com notícias que nos causam infelicidade, como a morte de pessoas próximas. Não estamos passando por um processo patológico (de doença), mas essas situações nos causam mal-estar, um sentimento de tristeza profunda, que pode nos levar a estados de melancolia ou depressão. Aliás, melancolia é o nome que se dava no passado para a depressão. Na falta dessa palavra, dizia-se que as pessoas que demonstravam profunda tristeza estavam melancólicas. Tanto que em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” não encontramos a palavra depressão, mas sim melancolia.
Espinoza, pensador holandês do século XVII, tem uma reflexão interessante sobre tudo aquilo que nos move, que nos faz agir, pensar, desejar, enfim, viver. Ele chama a isso de potência de agir e potência de pensar. Quando estamos em um nível mais elevado de potência de agir, consequentemente também elevamos nosso nível de potência de pensar. O contrário também é verdadeiro, ou seja, diminuindo um, afetamos o outro. Ainda nessa linha de pensamento, Espinoza disse que quando conseguimos passar de um estado de potência de agir inferior para outro superior, podemos chamar a isso de alegria. Alegria é aquele momento em que você se sente bem, preenchido de confiança. Usando uma comparação com a infância, alegria é aquele momento em que você se sente o super-herói da estória da sua vida. Nada é capaz de lhe deter. É aquele instante que você deseja que dure para sempre. Porém, como não vivemos apenas momentos de alegria, existe a tristeza. Tristeza é quando passamos para um nível inferior de potência de agir. Perdemos força, perdemos poder. É quando o vilão está ganhando. Sentimo-nos impotentes, abandonados, órfãos. Tristeza é aquilo que nos derruba, tira o brilho do nosso olhar.
Aproveitando a reflexão de Espinoza, podemos concluir que quando nos deparamos com as situações de dificuldade em nossa vida, como as que citei anteriormente (doença, mortes, etc.), elas podem nos levar a um estado inferior de potência de agir, ou tristeza. São nesses momentos que precisamos lutar para voltarmos a estados mais elevados de potência de agir. Geralmente não conseguimos evitar que as dificuldades cheguem até nós. Entretanto, como iremos reagir a elas é responsabilidade somente nossa.
Nesse aspecto é que a prece passa a assumir um papel fundamental em nossas vidas. Lembra-se que a prece pode ser definida como o meio pelo qual nos comunicamos com Deus? Para quem possui alguma religiosidade, parece lógico questionar o poder de Deus? Ora, se Deus é infinito em todas as virtudes, é óbvio que também é infinito na capacidade de nos consolar, de nos animar, de nos dar forças para enfrentarmos as dificuldades. Note como isso é muito diferente de pedir para que Deus nos afaste do mal. Tanto que na oração do Pai Nosso, ensinada a nós por Jesus, há um pedido para que Deus nos “livre” do mal. Livrar é o mesmo que libertar, que significa tornar livre alguém ou alguma coisa que estava aprisionada. Quem está distante ou afastado de algum mal não precisa ser liberto dele, justamente porque não está envolvido ou aprovisionado por esse mal. Se estou longe de uma cadeia não faz sentido pedir para que eu seja libertado, pois não estou dentro dela. Por isso o Pai Nosso não fala em afastar-nos, pois é impossível para nós ficarmos distantes do mal. Porém, podemos nos tornar livres do mal. De que forma? Quando lutamos contra aquilo que nos aprisiona.
Ora, ora, ora. Chegamos ao ponto em que a citação do mês passado passa a fazer sentido com a desse mês.
Quando dirigimos uma prece a Deus, recebemos, ou somos atendidos, como dizem algumas pessoas. Mas, o que recebemos? Vamos refletir um pouco para responder essa pergunta. Qual é a busca incessante da humanidade? Ser feliz. Ou seja, vivenciar momentos sempre presentes de alegria. O que é a alegria? Para Espinoza, e para mim também, é quando passamos para um estágio superior de potência de agir. Como conseguimos isso? Despertando em nós as potencialidades, buscando recursos para favorecer esse ganho de potência, enfim, elevando nosso estado mental, nossos pensamentos. Pois, quando aumentamos a potência de agir também aumentamos a potência de pensar. Lembra-se? Então, por lógica, se elevo meu pensamento (aumento minha capacidade de pensar), é sinal de que estou aumentando minha potência de agir. Agora eu entendi o que quer dizer aquela frase que muita gente diz quando vai iniciar uma prece “Vamos elevar nosso pensamento”. Confesso que durante muito tempo eu associei que essa frase era uma alusão a pensar em algo celeste, bom, como se o céu ficasse sobre nós, acima. Herança da cultura que dizia que o céu está no alto. Mas, que alto, se não há em cima e embaixo no Universo? Pois bem, prefiro entender essa frase, a partir de agora, como: vamos aumentar a nossa potência de pensar. Consequentemente aumentaremos nossa potência de agir e experimentaremos um estado de alegria. Mas, como fazemos isso mesmo? Quando passamos a acreditar que Deus sempre nos assiste. Que Ele sempre nos ampara e nos anima. Também quando aprendemos a pedir aquilo que, de fato, precisamos. É muito mais produtivo pedir para que eu receba de Deus força e entendimento para superar os desafios do que pedir para eles sejam retirados de minha vida. Se eles aí estão é porque há uma razão para isso. Posso não identificar qual seja, mas ela é útil para o meu crescimento, para minha evolução. Ninguém se mantém indiferente após uma experiência desse tipo. Sempre aprendemos algo, ainda que somente possamos reconhecer isso no futuro.
Concluindo, a prece sempre será atendida. Caberá a nós saber fazer a prece, ou seja, saber como pedir. De nada adiantará eu pedir para que não sofra. Posso, aí sim, pedir para que Deus me auxilie a passar rapidamente pelos momentos de sofrimento. Que eu consiga ter lucidez para apreender o mais breve possível as lições necessárias. Que possa trabalhar em mim as atitudes que possam ter contribuído para que a situação chegasse aonde chegou. Enfim, que eu possa entender que nem sempre terei como evitar uma tempestade em minha vida, mas que eu é quem escolherei se após a tempestade ficarei parado, lamentando e reclamando sobre o ocorrido, ou se iniciarei a reconstrução do que foi afetado, com a certeza de que dias ensolarados virão no futuro. Termino com uma união das duas citações: Pedi, trabalha no sentido do bem, e obterás.
Deus está conosco!
Influência espiritual
Bom momento para você!
Inicialmente peço desculpas aos leitores amigos pelo atraso no envio do texto desse mês. Questões pessoais e uma boa dose de desorganização levaram a isso. O bom disso tudo é que identifiquei mais um aspecto da minha personalidade que merece atenção e correção ainda nessa existência.
Desculpas registradas, vamos ao nosso estudo?
No texto de junho de 2016, intitulado “Ser ou não ser médium”, eu fiz uma referência ao fato de que todas as pessoas sofrem a influência dos espíritos, em diferentes graus. Talvez o aspecto mais representativo dessa influência sejam os casos de obsessão, que acabam por conduzir muitas pessoas às casas espíritas em busca de auxílio.
Mas, como isso acontece? É possível para uma pessoa “comum” evitar esse “mal”? Isso é o que algumas pessoas chamam de possessão? Se eu for no Centro Espírita resolverá esse “problema”? “Dizem que eu preciso rezar mais, é verdade”? E, há influências boas?
O Espiritismo é, sem dúvida, a doutrina que melhor explica como acontece o processo de influência espiritual em nossas vidas.
Antes de falarmos do assunto em si, vamos refletir um pouco sobre como o Espiritismo nasceu, ou foi organizado por Allan Kardec.
No século 19, registraram-se, com grande frequência, fenômenos tidos como extraordinários, onde mesas se moviam sem a ajuda de ninguém ou de algum tipo de instrumento. Reuniões eram organizadas para que as pessoas assistissem a esses eventos, onde as mesas respondiam perguntas por meio de batidas. Desenvolveu-se um código para representar as respostas, onde certo número de batidas significava “SIM” e outro tanto significava “NÃO”. Daí, evoluiu-se para significar letras e números. Para a grande maioria das pessoas isso era apenas divertimento, passatempo. Mas, para Allan Kardec havia algo a ser estudado. E esse interesse por conhecer as leis que regiam esses eventos, além das implicações que eles poderiam ter em nossas vidas e na relação com essas inteligências que se manifestavam é que levou à codificação da Doutrina Espírita. Como todo conhecimento representa transformação, é certo afirmarmos que um dos objetivos do espiritismo, senão o principal, é favorecer a nossa transformação moral, embasada nos conhecimentos trazidos pelas comunicações espirituais. Uma vez que passamos a saber como se estabelecem as relações entre os mundos físico e espiritual, podemos contribuir para que elas sejam mais proveitosas para todos, ou que tenham menos aborrecimentos. Pena que, na maioria das vezes, não é bem assim que acontece, ou como dizem alguns, “só que não”.
Pois bem, com o avanço dos estudos, Kardec chegou a uma conclusão que o levou a formular a pergunta 459 de “O Livro dos Espíritos”, que trata da influência dos espíritos em nossos pensamentos e atos. Essa conclusão é a de que os espíritos sempre influem em nossas vidas. Mas, ao contrário do que pensam muitas pessoas, isso não constitui um problema em si. A dificuldade está justamente em nós mesmos, os encarnados.
Na sequência das perguntas, os espíritos superiores demonstram que a natureza da influência depende da qualidade dos pensamentos e conduta do encarnado. Isso se dá pela lei de afinidade, quando atrairemos para junto de nós espíritos que se alinham com nossos pensamentos.
Ora, se cultivamos boas ideias nos alinhamos com bons espíritos, ou aqueles que são afins a essas ideias. O contrário também é verdadeiro, ou seja, pensamentos inferiores são o combustível que move os espíritos infelizes em nossa direção. Portanto, é muito correto o ditado popular que diz “diga-me com quem andas que direi quem és”, ou, parafraseando o ditado: “diga-me o que pensas que direi com quem andas”. Isso se dá até entre nós, encarnados. Uma pessoa de boa índole não suporta se manter ao lado de má gente, enquanto um mau caráter não consegue conviver ao lado de pessoas de bem. A diferença de interesses e gostos automaticamente os afasta, ao passo que a semelhança de desejos aproxima as pessoas. Assim se dá entre espíritos encarnados e desencarnados, sendo que estes últimos estavam encarnados até bem pouco tempo e, portanto, conservam seus interesses e preferências.
Mas, os espíritos superiores disseram que são os espíritos quem nos dirigem. Então, como eu poderei resistir aos pensamentos inferiores? Os benfeitores espirituais nos dão a solução na resposta da questão 469 de “O Livro dos Espíritos”, a qual transcrevo a seguir:
Praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejem ter sobre vós. Guardai-vos de atender às sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia entre vós outros e que vos insuflam as paixões más. Desconfiai especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que esses vos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, vos ensinou a dizer: ‘Senhor! Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal’.
A receita mais eficaz: Praticar o bem e confiar em Deus!
E a prece, ajuda a evitar essa influência negativa?
Sem dúvida! Tanto é assim que a espiritualidade nos traz essa reflexão na questão 479 desse mesmo livro:
A prece é em tudo um poderoso auxílio, mas crede que não basta que alguém murmure algumas palavras, para que obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram, não os que se limitam a pedir. É, pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne necessário para destruir em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos. (grifo nosso)
É curioso como as pessoas têm fé no poder negativo dos espíritos inferiores, mas desmerecem o auxílio da espiritualidade amiga. No entanto, é importante observar as recomendações que os benfeitores nos dirigem, alertando-nos para a necessidade do trabalho no bem como forma de combater essa influência negativa que nos é dirigida. Não basta recitarmos uma infinidade de preces e versos sem que tais palavras não façam vibrar em nós as fibras do coração e do sentimento sincero. Palavras são apenas palavras.
Quando tratamos da influência negativa costumamos utilizar o termo “obsessão” para a designar. Contudo, obsessão é um processo persistente e não se aplica a todos os casos de interferência espiritual em nossas vidas. Mas, vamos aprofundar um pouco o entendimento sobre os processos obsessivos, pois esses são um mal mais frequente do que imaginamos.
Em “O Livro dos Médiuns”, capítulo 23, Kardec aborda a questão da Obsessão. Contudo, o faz com foco nos problemas que ela traz aos médiuns, principalmente, quando evolui para casos de fascinação. De uma forma bem resumida podemos definir a obsessão segundo seus graus, sendo: simples, fascinação e subjugação.
A obsessão simples é aquela que traz mais aborrecimentos de ordem geral, pois se caracteriza por episódios de sugestão mental negativa, interferência na comunicação com bons espíritos e sensações desagradáveis aos que possuem maior sensibilidade. Nem sempre têm por objetivo a vingança de “inimigos” do passado. Muitas vezes nos ligamos a espíritos de ordem inferior devido a falta de vigilância. Quando nos dedicamos à fofoca, aos comentários raivosos, ao ódio, à inveja, entre outros sentimentos e ações negativos, atraímos, como dissemos antes, espíritos que sentem prazer em alimentar tais situações. Eles passam a nos ver como prováveis companheiros de gostos e, a partir daí, estabelece-se uma relação obsessiva. Ao perceberem em nós a disposição para algo ruim, passam a nos direcionar sugestões mentais que contribuem para aumentar essa negatividade. Por exemplo, se vivenciamos alguma contrariedade no ambiente de trabalho que nos deixa aborrecidos, podem nos sugerir que a origem disso seja a atitude de um companheiro de trabalho. Se temos alguma ressalva com ele, compramos esse pensamento sem qualquer tipo de filtro ou análise. Daí passamos a vibrar negativamente sempre que nos encontramos com ele. Em nosso íntimo, podemos até desejar coisas ruins para ele, como se fosse um inimigo. Triste ilusão a nossa, alimentada por um irmão inferior, que provavelmente estará rindo de nossa conduta. Se pudéssemos ver sua reação, com certeza estaria ele nos apontando como verdadeiros bobos, os quais ele ilude com facilidade. Assim acontece em muitas outras situações do nosso dia-a-dia. Eu costumo dizer, nos grupos de estudo, que quando agimos assim estamos criando estorinhas em nossa mente, sem que isso contribua em nada com nossa saúde física e mental.
Avançando no processo de obsessão, temos os casos de fascinação, geralmente ocorridos com médiuns. Estes são envolvidos por espíritos já mais avançados intelectualmente, mas que ainda não evoluíram moralmente. Tais irmãos interferem nas comunicações recebidas pelos médiuns, fazendo-os acreditar que estão recebendo mensagens de espíritos muito elevados, algumas vezes se utilizando de nomes importantes e conhecidos para atestarem tais comunicações. Porém, um estudo mais sério do conteúdo acaba por identificar erros até grosseiros, que apenas o médium fascinado não percebe. Inclusive, uma das artimanhas desses espíritos é fazer com que o médium acredite que esteja sofrendo perseguição daqueles que querem justamente lhes abrir os olhos, revelando-lhes os enganos a que estão sendo submetidos. Por isso, a espiritualidade nos recomendou desconfiar especialmente daqueles que exaltam nosso orgulho. Elogios demais atrapalham. Quer demonstrar admiração por um médium? Elogie o seu trabalho, não a sua pessoa. O médium que prefere os elogios pessoais demonstra que está distante do entendimento do que vem a ser o trabalho mediúnico.
Por fim, o último grau de obsessão é a subjugação. Nesse estado, a pessoa obsidiada está em um nível tão profundo de sugestão mental que é o espírito obsessor quem lhe dirige a vontade e os atos. Esse é o fenômeno que se costumava dar o nome de possessão. Por certo, o espiritismo veio demonstrar que não existe a possessão propriamente dita, entendida como a tomada da posse do corpo por uma entidade exterior. O que há é uma relação tão íntima de pensamento e vontade, que não é possível distinguir quando a pessoa age por vontade própria ou por influência espiritual. Daí parecer que há uma outra pessoa tomando conta de seu corpo, pois atua até no aspecto físico-motor. Inclusive, segundo a literatura espírita, esses casos são de difícil tratamento, pois não se pode afastar bruscamente o espírito obsessor e cessar a relação existente entre ambos, sob pena de causar mais danos ao encarnado. A série de livros de André Luiz, psicografados por Francisco Cândido Xavier, trata desse assunto com detalhes. Vale a pena a leitura, principalmente das obras “Os Mensageiros”, “Nos Domínios da Mediunidade” e “Mecanismos da Mediunidade”.
253. Cumpre, todavia, se não atribuam à ação direta dos Espíritos todas as contrariedades que se possam experimentar, as quais, não raro, decorrem da incúria ou da imprevidência. (O Livro dos Médiuns, capítulo 23).
Encerro nosso estudo com essa reflexão de “O Livro dos Médiuns”. Nem tudo o que nos acontece de ruim é obra dos espíritos. Aliás, arrisco-me a dizer que de uma certa forma, em tudo somos responsáveis, diretos ou indiretos. Nem mesmo o mais brilhante dos homens está isento de cometer erros. Se os comete, via de regra, é em função de algum ato falho ou de julgar-se possuidor de todo o conhecimento necessário para aquilo a que se dedica, constatando, posteriormente, que isso não era verdade.
Assim ocorre com nossa vida e com as influências a que nos permitimos receber. Como visto, nosso estado mental é que determinará a qualidade das relações que estabeleceremos com o mundo espiritual. Portanto, não basta nos colocarmos na posição de vítimas de perseguidores insensíveis quando estamos passando por algum processo obsessivo. Muitas vezes, nós mesmos criamos as condições ideais para que isso acontecesse, se não em todas as vezes. Além disso, certa vez me ocorreu uma reflexão interessante. A maioria esmagadora das pessoas que chegaram à casa espírita devido a problemas mediúnicos ou obsessivos, após um tempo de frequência e de geralmente abraçarem algum tipo de trabalho no bem, manifestaram que passaram a sentir benefícios elevados, uma paz de espírito profunda, além de um melhor entendimento, aceitação e força de reação diante das adversidades da vida. Ora, graças à obsessão elas chegaram até o espiritismo. Diante disso, no final das contas, a obsessão pode ser encarada com um remédio amargo, mas que trouxe benefícios salutares? Fica aí pergunta para refletirmos.
Cultive bons pensamentos e viva feliz!
Referências Bibliográficas
- KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Parte Segunda – Capítulo 9. Editora FEB.
- KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Capítulo 23. Editoria FEB.
Nascer de novo
Olá querido amigo e amiga de estudo e reflexões.
Esse mês encerrarei o assunto dos princípios básicos do espiritismo falando da reencarnação, ou pluralidade das existências.
Aliás, essa palavra, assim como várias outras, foi usada pela primeira vez pelo espiritismo. Antes da doutrina ter sido organizada por Allan Kardec, não se utilizava esse termo para se referir a várias vidas. Portanto, quando pessoas que são contrárias a reencarnação dizem que nas obras antigas, como a Bíblia, os Vedas ou o Corão, entre outros, não existem passagens que falam da reencarnação, eles estão corretos até certo ponto. Realmente não encontraremos essa palavra nos textos sagrados, mas a ideia é antiga. Difundida nas civilizações antigas, mais notadamente entre os egípcios, persas, hindus e gregos, sendo que esses últimos herdaram a crença dos egípcios e dos persas1.
Sendo assim, considero inútil discorrer se existe ou não a reencarnação. Assim como Deus, esse é um tema que diz mais respeito a questões de fé e crença, ainda que haja embasamento lógico e científico para provar sua veracidade. Concentrarei minhas exposições e reflexões em outros aspectos relacionados ao tema.
Pois bem, para quem ainda não está familiarizado com o assunto, é importante apresentar algumas definições:
Primeira: O que é encarnar? Para o Dicionário Michaelis, em teologia encarnar é “humanar-se ou tornar-se humano […]”, ou, ainda, referindo-se ao substantivo encarnação, é o ato ou efeito de tomar forma carnal. Para o espiritismo, ainda segundo esse dicionário, a encarnação corresponde “as diferentes existências do espírito que se materializa”. Então, resumidamente, encarnação é quando o espírito passa a ocupar um corpo físico.
O radical “re”, quando usado em uma palavra, significa outra vez, ou uma recorrência, repetição daquilo. Portanto, (RE)encarnação é encarnar novamente ou outra vez. Por isso dizemos que a reencarnação é a pluralidade das existências, ou seja, muitas existências. Lembrando que a palavra existência está empregada aqui no sentido da vida física, corpórea, pois do ponto de vista espiritual há somente uma única existência para o espírito.
Mas, qual o objetivo da encarnação dos Espíritos2? Pode-se evoluir somente no plano espiritual? “Será a encarnação uma punição e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a ela”3?
Diferentemente do que acredita a grande maioria das pessoas, e até mesmo os antigos pensadores como Platão1, a reencarnação não é um castigo. Geralmente, associa-se essa ideia ao fato de que as dificuldades da vida são encaradas como sofrimento e pesar. Isso é devido à imaturidade espiritual da qual ainda somos portadores.
Para explicar o real objetivo da encarnação, com a palavra os próprios Espíritos:
Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. […] Visa ainda outro fim a encarnação: o de por o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação2.
A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que possam cumprir, por meio de ações materiais, os planos cuja execução Deus lhes confiou3.
Note que, quando a espiritualidade nos apresenta o motivo pelo qual encarnamos, em nenhum momento cita que isso é um castigo ou uma punição. Que devemos encarnar para pagarmos as dívidas contraídas em vidas anteriores. Então, de onde vem essa ideia, já que ela é frequente no meio espírita? Provavelmente você já deve ter ouvido alguém dizer que o sofrimento atual é fruto dos erros e do que você fez ou deixou de fazer nas vidas passadas, não é mesmo!? Eu acredito que essa confusão acontece porque se misturam duas coisas diferentes, mas que geralmente estão relacionadas: a reencarnação e a lei de causa e efeito, ou ação e reação. Observe o que diz Kardec em sua nota para a questão 171, que trata da justiça da reencarnação:
Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua Justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova2.
Quando apresentei os princípios básicos do espiritismo e falei da reencarnação, eu disse que ela é uma solução misericordiosa de Deus para que possamos “corrigir” atitudes equivocadas ou concluir obras inacabadas, já que uma única vida corporal é insuficiente para vivenciarmos todas as experiências possíveis. Baseei-me nesta nota de Kardec quando escrevi tal artigo.
Entendido que a reencanação é uma bênção, vamos aprofundar mais no mecanismo, na forma, como ela ocorre.
Para isso, sugiro a leitura da obra “Missionários da Luz”4, pelo espírito André Luiz, psicografada por Francisco Cândido Xavier. Mais especificamente os capítulos 12 e 13, quando Alexandre e os benfeitores espirituais nos falam sobre o processo reencarnatório e apresentam o caso de Segismundo. Importante notar que o mentor cita que a reencarnação de Segismundo iria se completar somente aos 7 (sete) anos. Apesar de haver certa divergência sobre isso, eu tendo a concordar com esse esclarecimento. Mais ainda quando confrontamos as diferentes fases de desenvolvimento infantil com o tempo apresentado por Alexandre. A doutora Anete Guimarães5 nos traz argumentos interessantes em uma palestra proferida na Sociedade Colatinense de Estudos Espíritas, no ano de 2014, disponível no Youtube.
Com base no que está exposto no livro “Missionários da Luz” e na palestra da doutora Anete, podemos dividir o processo reencarnatório nas seguintes fases:
- Planejamento encarnatório;
- Contato fluídico com os pais;
- Ligação do Espírito à matéria:
- Redução perispiritual;
- Seleção do espermatozoide;
- Fecundação;
- Formação do feto;
- Adaptação à vida.
E, em relação aos tipos de reencarnação e ao grau de participação do espírito reencarnante no planejamento, podemos concluir que são três os tipos de reencarnação, a saber:
- Voluntária (livre): O Espírito, geralmente missionário, participa ativamente do planejamento e escolha das provas e acontecimentos;
- Semi voluntária (proposta): Considera o livre arbítrio relativo de que dispõe o Espírito, que pode discutir certas situações e propor mudanças.
- Compulsória (imposta): Própria de Espíritos cuja perturbação impede análise lúcida da situação ou cujas faltas anulam a liberdade de escolha.
Independentemente da classificação adotada, é necessário observarmos o papel importantíssimo que os pais exercem na primeira infância. É nessa fase que o espírito reencarnante está mais sujeito à influência recebida, aos valores com os quais tenham contato. Devemos trabalhar nas crianças os bons exemplos, a necessidade do bem, do amor ao próximo, pois, ainda que como espírito eterno ele traga tendências negativas de existências anteriores, os valores edificantes constituirão os referenciais de sustentação para o seu processo de reforma íntima, de mudança de atitude, ou, ainda, de apoio para se manterem no caminho reto.
Com certeza não abordei todos os aspectos possíveis relacionados ao tema e, por isso mesmo, a minha intenção é ter despertado em você o interesse pelo assunto. Não fique restrito apenas ao que está exposto aqui. Aprofunde, pesquise, estude.
Até o mês que vem e fique com a Paz do Cristo.
Abraços fraternos!
Referências Bibliográficas
- A Reencarnação na história, em Curso de Introdução ao Espiritismo – Parte 7. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/unidual/curso/curso-71.html. Acessado em 28 de julho de 2016.
- KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Parte Segunda – Capítulos 2, 4, 5 e 7. Editora FEB.
- KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 4: 24 a 26. Editoria FEB.
- XAVIER, Francisco Cândido. “Missionários da Luz”. Pelo Espírito André Luiz. Capítulos 12 e 13. Editora FEB.
- GUIMARÃES, Anete. Como Acontece a Reencarnação. Palestra proferida na Sociedade Colatinense de Estudos Espíritas em 27/04/2014. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=v0HkYJA4_yw. Acessado em julho de 2016.
- GEAL – Grupo de Estudos André Luiz. O Processo da Reencarnação. Disponível em http://geal-ba.blogspot.com.br/2008/04/o-processo-da-reencarnao.html. Acessado em julho de 2016.
A vida fora da Terra
Que Deus nos abençoe e que a espiritualidade amiga nos envolva em vibrações positivas.
Hoje trataremos de um tema que eu considero o menos controverso dos que já tratamos até o momento. É sobre a pluralidade dos mundos habitados, um dos princípios básicos da doutrina espírita.
Assim como eu tento fazer em todos os meus textos, primeiramente vamos simplificar um pouco mais os termos. Pluralidade significa não ser único, existir muitos ou em grande quantidade, diversidade ou multiplicidade. Quando falamos de pluralidade dos mundos habitados nada mais é do que dizer que há vida em muitos mundos, não só no planeta Terra.
E, por que eu considero esse assunto o que gera menos discussões? Justamente pelo fato de que diferentes grupos ideológicos aceitam essa possibilidade. Não é preciso recorrer a preceitos religiosos ou de crença, uma vez que a ciência clássica também se dedica a pesquisar a questão. Mas, já foram encontradas provas científicas da vida em outros planetas? Os E.T. existem? É verdade que os espíritos mais atrasados são enviados de outros planetas para cá?
Parece até que esse tema não tem muito a ver com o espiritismo, não é mesmo!? Todavia, tem sim, e muito mais do que imaginamos. Você tem interesse nisso? Então vamos estudar!?
Vamos começar nossas reflexões pensando primeiro na vida aqui no planeta. A ciência diz que a vida surgiu por volta de 3,8 bilhões de anos atrás. Mas, surgiu talvez não seja a palavra mais apropriada para descrever isso. Surgir pressupõe que nada existia e, de repente, PUF, surgiu uma bactéria ou princípio de vida. E essa bactéria foi se desenvolvendo até chegar ao ser humano, considerado o mais evoluído dos seres vivos. Essa teoria era conhecida como geração espontânea, mas é questionada pela comunidade científica, pois sabe-se que a vida pode derivar apenas de matéria viva1, ou seja, matéria inerte ou sem vida, como a que existia nos primeiros tempos de nosso planeta, não pode criar vida por si só. Mas, até bem pouco tempo atrás, confesso, eu acreditava nisso porque era a única hipótese que eu conhecia. Porém, estudando para elaborar meus textos, deparei-me com outra hipótese, a panspermia.
A panspermia é uma teoria criada pelo físico sueco Arrhenius. Ela diz que a vida teria vindo de fora da Terra, mais provavelmente em poeira cósmica ou meteoritos. O que dá sustentação lógica a essa teoria é justamente o fato de ter-se encontrado matéria orgânica em meteoritos que caíram na Terra, como aminoácidos e formaldeído. Mas, segundo outros cientistas, isso não comprova nada, pois tais elementos podem se formar de maneira natural no meio ambiente, além de que bactérias não sobreviveriam a temperaturas tão diferentes das que foram criadas.1 Quanto a isso eu não disponho de dados que me façam desconsiderar a teoria da panspermia. Parece-me lógica e possível, ainda mais se considerarmos que foi encontrada água em satélites de Júpiter e Saturno.2 E a água, sabemos, é a base da vida aqui na Terra. Fica aí a questão para refletirmos.
Agora, falarei um pouco sobre a Astrobiologia, ou Exobiologia, que “é a ciência que se incumbe de estudar a possibilidade de vida em espaços extraterrestres, levando em consideração desde a origem dessas formas de vida até as condições ambientais para sua existência”.3
A própria Nasa, agência espacial americana possui um instituto de astrobiologia para analisar dados colhidos nas diversas missões espaciais. O resultado dessas análises visa identificar ambientes favoráveis ao surgimento da vida.
Mas, voltando às questões iniciais, ainda não há provas concretas da existência de vida em outros planetas. Isso faz com que essa hipótese seja improvável, porém não impossível. Improvável é algo que não pode ser provado ainda, mas não quer dizer que não possa existir, o que seria impossível. Os mais renomados cientistas, baseando-se em cálculos probabilísticos, asseveram que é certo de que há vida em outros planetas, mas que não dispomos, ainda, de recursos para comprovar isso.
Portanto, havendo vida em outros planetas, esses seres vivos são extraterrestes (extra=fora), ou seja, vivem fora da terra. Então, os E.T. existem. Só não podemos afirmar que sejam dotadas das características que Stevem Spilberg, o cineasta, apresentou em seu clássico filme.
E, considerando que há vida em outros mundos e, como dizem as obras espíritas4,5, em diferentes graus de evolução, intercâmbios entre as diferentes civilizações tornam-se mais prováveis. No livro A Caminho da Luz, o espírito Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier apresenta as origens das diferentes civilizações e das relações existentes com espíritos exilados de outros sistemas solares. Uma vez que tais espíritos não acompanharam o desenvolvimento moral de seus mundos anteriores, foram obrigados a exilarem-se no nosso como forma de desenvolverem o senso moral. Essa é a explicação espírita para povos antigos tão desenvolvidos intelectualmente, como os egípcios, mas ainda muito atrasados no aspecto moral. Alguns expositores espíritas asseveram que todos os antigos exilados já não estão mais encarnados entre nós.
Por fim, o que eu considero mais importante no contexto da pluralidade dos mundos habitados é que ela traz, de maneira lógica, a resposta para a questão da progressão moral dos mundos e dos seus habitantes, além de explicar a destinação daqueles que optaram por manterem-se estacionados. O espírito não regride, mas estaciona. Estando estacionado e a massa evoluindo, ele é convidado a transferir-se para outro mundo, mais apropriado para o seu estado evolutivo. O inverso também é verdadeiro, ou seja, tendo evoluído mais rapidamente do que a maioria dos outros habitantes, o espírito passa para uma espécie de promoção, podendo habitar mundos melhores.
Acreditemos que estamos no mundo mais apropriado ao nosso estágio evolutivo. Fazer dele um mundo melhor é tarefa de todos nós. “O mundo que deixaremos para as gerações futuras depende das pessoas que deixaremos para o mundo”.
Até o mês que vem. Paz e compreensão para todos.
Referências
- CARDOSO, M. Panspermia. Site Info Escola, disponível em http://www.infoescola.com/biologia/panspermia/. Acessado em 01/07/2016.
- TREVISAN, J. O Que é Panspermia? Revista Mundo Estranho, edição 176. Disponível em http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-e-panspermia. Acessado em 01/07/2016.
- CARDOSO, M. Exobiologia. Site Info Escola, disponível em http://www.infoescola.com/cosmologia/exobiologia/. Acessado em 01/07/2016.
- KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 3. Editora FEB.
- KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Questões 55 a 58. Editora FEB.
Ser ou não ser médium
Aqui estou novamente para compartilharmos reflexões.
Dando sequência ao assunto dos princípios básicos do espiritismo, texto do mês de março de 2016, hoje tratarei da comunicabilidade entre os espíritos. Apesar do termo parecer complicado, é mais simples do que imaginamos. Trata-se da capacidade que os espíritos têm de se comunicarem com os encarnados.
Mas, qualquer pessoa pode “falar” com os espíritos? É preciso possuir algum dom especial? Quem consegue ver ou ouvir espíritos é chamado de médium? É verdade que todo mundo é médium? A mediunidade é uma coisa boa ou ruim? Os médiuns são espíritos evoluídos?
Com certeza esse é um dos assuntos que mais despertam a curiosidade das pessoas. E aí, vamos estudar?
Para facilitar o entendimento, precisamos definir o que é médium e mediunidade.
MÉDIUM (do latim medium: meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns).
A mediunidade é a faculdade natural que permite ao homem comunicar-se com os espíritos. É inerente a todo ser humano, ou seja, todos os homens a possui. Isso não foi descoberto com o espiritismo. Ele apenas criou o termo para melhor explicar a relação que sempre existiu entre desencarnados e encarnados, desde as pitonisas e os profetas até chegarmos aos próprios médiuns, outra palavra criada por Kardec. Em “O Livro dos Médiuns”, itens 15 e 16, temos que sendo os espíritos uma das potências da Natureza, estes agem constantemente sobre o mundo material e sobre o mundo moral. Essa ação ocorre por meio da mediunidade.
Apesar disso, a Ciência encontra dificuldade em aceitar tal relação. Mas isso não foi sempre assim. No final do século 19 e até a metade do século 20, muitos pesquisadores dedicaram-se ao tema da mediunidade. Almeida e Lotufo, no artigo “A mediunidade vista por alguns pioneiros da área mental”, publicado na Revista de Psiquiatria Clínica 31 (3); 131-142, 2004, separou os pesquisadores em três grupos, conforme suas conclusões, sendo Pierre Janet e Freud; William James e Carl Jung e Frederic Myers. Destes, apenas Freud não se aprofundou no estudo do tema, mas foi considerado por Almeida e Lotufo devido a sua importância.
Além deles, podemos destacar o Prof. James Hyslop, da Universidade da Columbia (EUA), com quem Jung travou interessante diálogo sobre a mediunidade. Tanto que levou Jung a escrever: “Aqueles que não estão convencidos deveriam ter cautela em assumir ingenuamente que toda a questão dos espíritos foi resolvida e que todas as manifestações deste tipo são fraudes sem sentido. Isto não é tudo”.
Uma hipótese para que os pesquisadores perdessem o interesse no estudo da mediunidade talvez seja a preocupação com suas reputações. Isso porque esse tema, dentro do meio científico, é tratado como um distúrbio de personalidade, uma patologia (doença). Fora que muitas comunicações tidas como de origem mediúnica na verdade não passam de reflexo da mente do médium. Tanto é que Kardec recomenda, em “O Livro dos Médiuns”:
Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. […] Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.
Sob a alegação de que uma mensagem foi recebida por canal mediúnico não significa que seja verdadeira. Da mesma forma que há pessoas desinformadas ou enganadoras, também o há entre os espíritos, que nada mais são do que aqueles que há pouco tempo estavam encarnados e, por isso mesmo, mantém seus traços de caráter e moralidade. Nesse ponto Kardec foi muito taxativo e essa postura e preocupação é que dão ao espiritismo a credibilidade indispensável para lidar com a mediunidade e os médiuns.
Permita-me compartilhar uma curiosidade que muita gente não sabe: Allan Kardec, em uma das edições da Revista Espírita, afirmou que não era médium. E isso era fundamental para o desenvolvimento do seu trabalho de codificação do espiritismo. Ele não poderia ser médium, senão a confiança no seu trabalho cairia por terra, dada a visão que se tinha da mediunidade, que rotulava os médiuns como perturbados mentais. Que garantia poder-se-ia ter no trabalho de um doente mental, se Kardec fosse assim considerado? Até hoje os médiuns sofrem preconceito por causa dessa falta de informação ou má intenção de alguns.
Pois bem, já que falamos dos médiuns, como podemos identificá-los? No item 159 de O “Livro dos Médiuns” Kardec nos dá a fórmula: “toda pessoa que sente a influência dos espíritos em qualquer grau de intensidade é médium” (o grifo é meu).
Você se lembra quando eu disse que não tinha a intenção de causar polêmicas com meus textos? Então, acho que precisarei quebrar essa regra 😛
É comum, no meio espírita, dizerem que todas as pessoas são médiuns. Afinal, a definição apresentada acima parece bem clara nesse quesito, visto que todas as pessoas sofrem a influência dos espíritos, em maior ou menor grau. Inclusive, a questão 459 de “O Livro dos Espíritos” traz o seguinte:
Portanto, se os espíritos influem a tal ponto que são eles quem nos dirigem, todos nós “sentimos” essa influência e, por conseguinte, somos médiuns, correto? Não necessariamente. Que os espíritos influem isso é verdade. Porém, nem todo mundo “sente” isso. Explico. Na edição original, em francês, de “Le Livre des Médiuns”, o item 159 está escrito assim: “Toute personne qui ressent à un degré quelconque l’influence des Esprits est, par cela même, médium” (o grifo é meu). A palavra ressent pode ser traduzida como perceber, ou seja, captar pelos sentidos. Ora, com certeza a grande maioria das pessoas não percebe essa influência e, sendo assim, não seriam consideradas médiuns. Se prosseguirmos na leitura do item 159, encontraremos: “Usualmente, porém, essa qualificação só de aplica àqueles em quem a faculdade se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva” (os grifos são meus).
Independentemente de consideramos que todas as pessoas são ou não são médiuns, não é isso que torna uma pessoa melhor ou pior, mas sim sua elevação moral e “seus esforços no sentido de domar as más tendências”. Inclusive, a mediunidade, sendo um atributo natural e inerente ao homem, pode manifestar-se em pessoas de moral duvidosa. Por essa razão,
[…] a mediunidade deve ser utilizada apenas com fins nobres: minorar o sofrimento e auxiliar a evolução das pessoas. Por isso, jamais deve ser mercantilizada, não sendo admitida qualquer tipo de cobrança ou benefício material advindos da prática mediúnica (ALMEIDA, 2004).
O mais importante a saber sobre os médiuns é que eles exercem o papel de intérpretes do mundo espiritual. Graças a essa relação é que os espíritos desencarnados podem nos trazer esclarecimentos, consolação e reforçar em nós a fé no futuro. Contudo, se a mediunidade atenderá a esses fins nobres dependerá exclusivamente do uso que o médium fará dela.
Concluindo, a maior contribuição que o espiritismo trouxe sobre o assunto foi justamente o fato de explicar e esclarecer como os fenômenos mediúnicos ocorrem, quais os aspectos físicos e morais estão envolvidos e como o esforço sincero dos médiuns em melhorarem-se está diretamente ligado ao conteúdo das mensagens recebidas e espíritos que com ele se relacionam.
Para quem quiser aprofundar-se no assunto, sugiro a leitura dos seguintes livros:
“O Livro dos Médiuns” – Allan Kardec;
“Mecanismos da Mediunidade” – André Luiz (Chico Xavier);
“Os Mensageiros” – André Luiz (Chico Xavier);
“Nos Domínios da Mediunidade” – André Luiz (Chico Xavier);
“Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos” – Hermínio C. Miranda;
“Diálogo com as Sombras” – Hermínio C. Miranda, entre outros.
Referências
ALMEIDA, A. M. “Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas”. Tese apresentada ao Dep. de Psiquiatria da Faculd. de Medicina da USP para obtenção do título de Doutor em Ciências: São Paulo, 2004
Imortalidade do espírito
A alma é pois, imortal.
Platão
Receba meus abraços fraternos, você que chegou até aqui pela primeira vez ou que retorna para nossos encontros mensais.
Há dois meses apresentei os princípios básicos do espiritismo. E no mês passado aprofundei as reflexões sobre um desses princípios: a existência de Deus.
Nesse mês falarei sobre outro princípio: a imortalidade do espírito. Morremos ou não? Se não morremos para onde vamos? Ficamos dormindo ou tocando arpa durante toda a eternidade? Vou para o céu? Se não morro, viro fantasma? Posso voltar para ver meus entes queridos? E os que já partiram, eu poderei encontrá-los novamente?
Como podemos notar, muitas são as dúvidas acerca desse assunto. Então, para quem já acompanha nossos estudos, lanço nosso costumeiro convite: Vamos estudar?!
Primeiro, deixe-me fazer uma observação sobre o uso do termo alma. Em “O Livro dos Espíritos”, Kardec apresenta a diferenciação que faz entre alma e espírito. Uma distinção muito mais didática do que prática. O termo alma é usado para designar um espírito encarnado, enquanto espírito propriamente dito é quando ele está desprovido de um corpo físico. Na essência todo ser humano é um espírito, encarnado ou não. Ou seja, quando um espírito está no mundo espiritual usamos o termo “espírito” para designá-lo. Quando está ligado a um corpo o chamamos de “alma”.
Dessa forma, conclui-se que quando não está mais encarnado deixa de ser chamado de alma e volta a ser chamado simplesmente de “espírito”. Por isso eu prefiro dizer da imortalidade do “espírito”, ao passo que a literatura geralmente trata do assunto da imortalidade da “alma”. É a mesma coisa.
Feita essa explicação inicial, vamos ao que nos interessa de fato.
A ideia da imortalidade do espírito (alma) não foi apresentada pelo espiritismo. Acompanha a humanidade há muito tempo e está presente na crença de diversos povos e religiões.
Os exemplos mais representativos dessa ideia são encontrados entre os egípcios, os gregos, os hindus, os budistas, os judeus e os cristãos. Cada povo possui sua maneira particular de tratar o assunto, mas o fato é que todos apresentam em comum a crença de que algo sobrevive à morte do corpo físico, mantendo sua individualidade, ligando-se a um todo universal ou reencarnando.
Contudo, há os que não acreditam na imortalidade: são os materialistas; para quem a alma é o princípio da vida material, sendo apenas um efeito e não a causa. Para esses, a alma não sobrevive à morte do corpo porque depende dele. Sem o corpo, não há como a alma se manifestar. Kardec faz até a comparação com um instrumento quebrado, incapaz de produzir som por esse motivo. Ou seja, o instrumento quebrado não possui mais alma.
O efeito mais negativo do materialismo é o que pode levar o indivíduo ao total desprezo pela vida. Não acreditando em nada após a morte física, uma pessoa que leva uma vida sofrida e penosa não vê esperanças no futuro e, por conseguinte, não entende por que deve prolongar ainda mais seu sofrimento. Parece mais lógico para ela antecipar um fim inevitável abreviando sua vida. Daí os índices de suicídio serem maiores entre aqueles que não possuem crença no futuro, apesar de que esse fato social não atinge somente esse grupo.
Todavia, apenas acreditar na imortalidade da alma, ou seja, na vida futura, não traz a certeza de um destino de felicidades eternas. Aliás, muito pelo contrário, se considerarmos a crença ocidental dominante de que somente os justos serão beneficiários da misericórdia divina, restando aos que não cumpriram os preceitos religiosos as penas eternas. Curioso como que uma doutrina que deveria consolar as pessoas pode leva-las ao total desânimo. Para evitar que seus seguidores “desistam” de viver, atribui penas ainda mais duras a quem cometer suicídio, chegando ao ponto de penalizar até os familiares daquele que cometeu tal ato. Um erro tentando corrigir outro, no meu ponto de vista. Teremos oportunidade de tratar do suicídio em outra oportunidade, pois, com certeza, há ainda muitos aspectos envolvidos nisso e que não são alvo de nossas reflexões no momento.
Diante disso tudo, mais uma vez o espiritismo se apresenta como uma alternativa doutrinária e filosófica mais afinada com a lógica. Ao invés de sofrer ou dormir eternamente, o espírito encontra na imortalidade novas oportunidades de ajustamento, revisando e corrigindo condutas. Ganha o status de agente de seu próprio futuro, pois os atos cometidos aqui terão seus reflexos na continuidade de sua existência, mesmo após a morte do corpo físico.
O que o espírito faz de positivo em sua experiência corpórea constitui créditos em sua contabilidade espiritual. Aquilo que é negativo, por outro lado, pode ser corrigido. Há uma consequência direta dos seus atos, a qual não pode negar ou isentar-se, mas isso não representa para ele uma condenação eterna e impossível de ser reparada. Aquilo que consideramos como sofrimento em decorrência de nossos erros é assim entendido em face da nossa própria ignorância e imaturidade espiritual. Quanto mais avançamos em conhecimento e entendimento das relações, menos “sofremos” com o resultado de nossos erros.
Dessa forma, fica muito mais fácil entender a razão pela qual vale a pena nos esforçarmos para sermos pessoas melhores, cultivarmos o amor ao próximo, o bem e as virtudes, pois isso tudo estará ligado diretamente ao nosso benefício. E, notem, não falo de futuro, pois no presente podemos sentir os efeitos positivos desse tipo de conduta. As pessoas que agem assim estão menos sujeitas às decepções da vida, pois encaram com mais naturalidade as coisas transitórias (reveses), pois possuem noção exata de que são temporárias.
Eu gosto muito da prece de São Francisco de Assis, principalmente sua parte final, pois certa vez ocorreram-me reflexões acerca de suas palavras. Quando ele diz: “Ó mestre, fazei com que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar que ser amado” eu entendi da seguinte forma: se eu estou em condições de consolar mais do que preciso ser consolado, é porque estou em paz comigo mesmo ou, pelo menos, vivo mais em paz do que em conflitos. Se eu posso compreender mais do que preciso ser compreendido, é sinal de que eu já consegui interiorizar o conhecimento adquirido e reconhecer o meu irmão em seu estágio atual de evolução, sem julgamentos desnecessários e cobranças exageradas. E, se eu posso amar mais do que preciso ser amado é porque estou no caminho certo para superar minhas carências, meu egoísmo e meu orgulho.
Por fim, é morrendo para a vida material, transitória, que viveremos para a vida eterna, espiritual, nossa verdadeira existência. Que a paz habite nossos corações!
Deus existe
Não posso acreditar num Deus que quer ser louvado o tempo todo.
Friedrich Nietzsche
Hoje escreveremos sobre um assunto que acompanha a humanidade desde seus primórdios: a existência de Deus.
Antes de iniciarmos nossas reflexões, vale um aviso aos ateus: esse texto não possui a pretensão de fazê-los mudar de ideia. Sendo assim, não precisam dispensar energia em combatê-lo, pois ele visa trazer reflexões aos que acreditam em Deus, que como foi dito no texto anterior, é um dos princípios básicos da Doutrina Espírita. Mas, alguém que já teve contato com a obra ou biografia de Nietzsche poderá se surpreender com o fato de eu ter utilizado uma frase desse importante pensador como citação de nosso texto, logo ele que era reconhecidamente ateu.
Se não acredito em Deus, como posso afirmar que Deus existe? E aí, vamos estudar?!
Antes de mais nada, permita-me oferecer uma pequena alteração na frase de Nietzsche: Não posso acreditar em alguém que quer ser homenageado o tempo todo. Pois isso demonstra um orgulho exagerado dessa pessoa, não concorda? E os orgulhosos não costumam ser pessoas confiáveis, pois em nome do seu orgulho são capazes de coisas que condenamos ou não aceitamos.
Pois então, na frase de Nietzsche é clara a natureza humana atribuída a Deus, e esse é o ponto falho do pensamento dele. Aliás, erro cometido por quase toda a humanidade, que personifica Deus. Querer ser louvado é uma característica humana. Ou melhor, é a própria vaidade dando as caras. E, reflitamos, se partimos da ideia de que Deus é todo perfeição, não pode ser vaidoso.
Com isso notamos que a análise da existência ou não de Deus passa na maioria das vezes por questões de ordem humana.
Allan Kardec selecionou como primeira questão de “O Livro dos Espíritos” a seguinte: “Que é Deus?” Devo confessar a vocês que nasceu uma simpatia de minha parte por esse tal de Kardec quando li essa questão. Pelo simples fato de não perguntar QUEM, mas QUE, Kardec já quebra aquela ideia inicial de um Deus como pessoa ou indivíduo. Por mais que nos esforcemos para imaginar a natureza íntima de Deus, falta-nos recursos de linguagem e ideias para conseguirmos encerrar o assunto. E, como devem se lembrar, Deus era apresentado como um ser supremo. Ser, eis o problema. Não podemos definir Deus como ser, pois não sabemos o que ele é em essência. Até mesmo a resposta dada pelos espíritos e selecionada por Kardec não define Deus em termos de pessoa. Diz a resposta: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
Num primeiro momento, quando iniciei os estudos espíritas, tinha uma expectativa enorme pela resposta sobre o que é Deus. Confesso que fiquei um pouco decepcionado com a resposta quando a li pela primeira vez. Entretanto, com o passar dos anos, notei a profundidade dela e o quanto ela é a melhor forma de definirmos Deus. Qualquer qualidade que imaginemos, se atribuída a Deus ela deverá ser infinita, absoluta, plena, em sua máxima expressão. Não me recordo de nenhuma qualidade que a humanidade conheça em sua máxima expressão, pois falta-nos exemplos disso. Até mesmo Jesus Cristo, o espírito mais evoluído que transitou pelo nosso planeta, não possuía todas as qualidades ao máximo, ao infinito. Aos nossos olhos e comparando com nossas qualidades, evidentemente ele constitui o nosso melhor exemplo, porém não era perfeito. E Deus é perfeito em tudo.
Daí nasce uma questão que é levantada com frequência por alguns ateus: se Deus é perfeito por si só, por que precisou criar o Universo, o mundo, etc.? Estaria ele entediado de viver sozinho? Sendo perfeito, não se bastaria?
Curiosa pergunta, que não serve para comprovar que Deus não existe, mas apenas e mais uma vez para tentar atribuir a Deus comportamentos humanos. Penso que questionar os motivos que levaram Deus a criar tudo seria o mesmo que questionar um poeta por que ele escreve poemas? Ou por que um músico compõe música? Ou por que um pintor pinta quadros? Ou por que um filósofo filosofa? Não nos deteremos nesses questionamentos, pois eles não influem em nossa proposta de análise. Não conhecer seus motivos não significa que ele não existe.
Por outro lado, um importante argumento a favor da existência de Deus é apresentado pela lógica: não existe efeito sem causa. Até mesmo se partirmos da teoria evolucionista de Charles Darwin, chegaremos a um momento em que é necessário admitir a existência de Deus, senão a conta não fecha. Darwin assegurou que a natureza não dá saltos, que tudo segue uma sequência de evolução e seleção natural, onde os mais aptos sobrevivem. Considerando também que o acaso não seria capaz de produzir efeitos tão bem sincronizados na natureza, seriam precisos muitos bilhões de anos para que uma forma primitiva de vida pudesse nascer e reproduzir-se aleatoriamente a ponto de criar as plantas e animais, com a diversidade que conhecemos. A teoria mais aceita na ciência afirma que a vida surgiu na Terra há 3,8 bilhões de anos. Desde então os seres vivos foram evoluindo até chegarem entre 125 mil a 250 mil anos atrás, quando surgiu a espécie humana. A natureza não poderia errar em nenhuma etapa da evolução, senão não daria tempo de criar o homem. É incrível pensarmos em algo criado por si só com tal perfeição. Mas, há quem pense assim.
Há uma frase atribuída a Benjamin Franklin que diz o seguinte: “Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia”. Prefiro acreditar que exista um tipógrafo.
No entanto, como tenho a tendência de buscar mais referências, encontrei uma citação de Isaac Newton, pai da Física Clássica. Diz ela: “A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isso fica sendo a minha última e mais elevada descoberta”.
Em resumo, concordo com Nietzsche: não acredito num Deus humano como o que nos foi apresentado ao longo de nossa história. Acredito, outrossim, no Deus da razão, na causa primária de todas as coisas. Dê a Ele o nome que considera mais conveniente para o seu entendimento: pai, ser infinito, energia universal, inteligência suprema, entre outros, pois também todos eles serão pobres para definir sua abrangência e magnitude. O importante é que, para mim, Deus existe! Existe quando vejo um botão de rosa desabrochar. Existe quando tenho a vontade de ajudar alguém pelo simples prazer de ver um sorriso de gratidão em seu rosto. Existe quando uma mãe recebe seu filho nos braços pela primeira vez e reconhece que o ama de toda a sua vida. E para você, Deus existe? Espero que sim, senão você será sempre solitário.
Um grande abraço e até o próximo texto.
Princípios básicos da doutrina espírita
Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes.
Victor Hugo
Espero que esteja gostando de nossos encontros mensais. Obrigado por vir até aqui compartilhar comigo esses momentos.
Como eu comentei no último artigo, hoje falarei sobre os princípios básicos da Doutrina Espírita. Mas, antes, vamos entender um pouco melhor o que são princípios.
Quando usamos essa palavra no singular, ela significa início, começo, origem de algo ou de alguma coisa. Mas, quando ela vem no plural, o seu significado é diferente. Os princípios são as “regras ou código de conduta pelos quais alguém governa a sua vida e as suas ações. Doutrinas fundamentais ou opiniões predominantes” (Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa). Ou seja, os princípios de uma doutrina são os conceitos e conhecimentos que formam a sua base. Estudá-los representa uma obrigação para quem quiser seguir aquela determinada doutrina, pois, do contrário, você estaria seguindo algo em que não acredita ou não concorda, e isso nós sabemos que é um tanto quanto incoerente.
Pois bem, considerando-se que o Espiritismo constitui uma doutrina, é necessário que possua seus princípios. E todo aquele que se diz espírita ou simpatizante precisa conhecê-los. São eles: a existência de Deus, a imortalidade do espírito, a comunicabilidade entre os espíritos, a pluralidade dos mundos habitados e a pluralidade das existências (reencarnação). Hum, você achou algum termo estranho?
Então, vamos estudar?!
Desde os tempos mais remotos, a humanidade cultiva a crença na divindade. No início, Deus era confundido com os fenômenos naturais, dada a ignorância do povo daquela época. Com o passar dos tempos e o acúmulo de conhecimento, a razão substitui o fantástico. Blaise Pascal, filósofo e matemático e físico do século XVII, formulou uma proposta conhecida como a Aposta de Pascal. Nela, usando a teoria da decisão, Pascal demonstra que há mais benefícios em acreditar na existência de Deus do que em negá-la. É certo de que ainda é grande o número de pessoas que não aceitam esse fato, mas o importante é que, para compreendermos a Doutrina Espírita, é imprescindível que acreditemos na existência de Deus, “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (Allan Kardec). Tudo no Universo possui um criador, que é reconhecido na Doutrina Espírita por Deus. Sem admitirmos tal princípio, tudo o mais perde o sentido de ser. Quem criou os espíritos? Quem criou o Universo? O nada? O acaso? A razão nos impede de aceitar que tudo seja obra do acaso, dada a harmonia com que tudo se encadeia. Mas, o que é Deus? Isso será assunto para outro estudo.
O segundo princípio é o da imortalidade do espírito. Ou seja, uma vez criado, o espírito nunca morre, é imortal. Kardec chegou a essa conclusão pelas próprias experiências ocorridas na época da codificação do espiritismo. Se havia fenômenos provocados por inteligências “invisíveis” que não estavam mais encarnadas, logo elas não poderiam estar mortas, visto que respondiam de maneira consciente aos questionamentos propostos por Kardec. Há, inclusive, o relato de um companheiro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas que desencarnou e, na reunião seguinte, apresentou-se para relatar a experiência de transição e regresso para o mundo espiritual.
Dessa forma, por um resultado imediato, Kardec chegou ao terceiro princípio, que é o da comunicabilidade entre os espíritos. Isso significa que os espíritos possuem a capacidade de se comunicarem, estando ou não desencarnados. Quer dizer que encarnado também se comunica como se fosse um espírito? Sim, na verdade ele também é um espírito. Para estabelecer uma diferenciação, Kardec utilizou o termo alma para designar o espírito encarnado, deixando o termo espírito para identificar aquelas individualidades que estão no plano espiritual, desprovidas de corpo material. Aquelas pessoas que desenvolveram a capacidade de receber as mensagens dos espíritos são chamadas médiuns. No futuro também trataremos desse assunto, pois ele é muito amplo para resumi-lo neste momento.
Bom, então Deus existe, criou os espíritos imortais, que por sua vez se comunicam conosco e, em diversas mensagens, relatam experiências e vivências passadas em outros planetas. Ah, quer dizer que os espíritos são E.T.s? Ouvi essa pergunta certa vez na evangelização infantil. Pode ser. A ciência há muito tempo busca provar a existência de vida fora da Terra, pois seria um enorme desperdício Deus ter criado um Universo tão vasto para povoar apenas o terceiro planetinha, de um sistema solar minúsculo, localizado em uma galáxia que possui bilhões de outros sistemas solares e que, por sua vez, é uma galáxia entre outras bilhões de galáxias existentes. Mário Sérgio Cortella tem uma reflexão bem interessante sobre isso, que vale a pena você conhecer. Está disponível no Youtube. Pois bem, considerando que Deus cria sem parar, lembram-se das palavras de Jesus? “Meu Pai trabalha até hoje e eu também”, não haveria espaço na Terra para abrigar todos os espíritos criados, não acha? É lógico acreditarmos que haja vida em outros planetas. O que pode ser diferente é o que entendemos por vida. Talvez nos outros planetas a vida não dependa do elemento químico carbono, como é aqui na Terra, mas não significa que não seja vida.
Por fim, que eu deixei para o final de propósito, temos a pluralidade das existências, ou reencarnação. De todos os princípios, esse é o que eu acredito que esteja mais diretamente ligado a nós. Analisemos como a justiça de Deus é infinitamente sábia. Em uma única existência, por melhor que seja o aproveitamento de uma pessoa, é impossível que ela aprenda tudo, conheça tudo e pratique sempre o bem. Quando partimos da ideia de uma única existência, as coisas perdem o sentido de ser. Não há razão para que eu ame as pessoas, para que eu busque ser uma pessoa justa, se com a minha morte física tudo chegará ao fim. E isso foi muito discutido e apresentado por espíritos que se comunicaram, demonstrando o quanto eles estavam enganados quanto as suas condutas e a sorte que os aguardava no regresso ao mundo espiritual. Por outro lado, quando admitimos as várias existências de um espírito, as coisas ganham uma amplitude nova. Aquilo que iniciei nessa vida e não pude concluir, poderá ser continuada em vidas futuras. Os amores que cultivei nessa existência, serão revividos mais à frente. Tudo ganha novos ares e passa a ter mais sentido. E, os erros cometidos poderão ser corrigidos em novas experiências. Não há penas eternas, assim como não há um paraíso de ociosidade. Daí a importância de vivermos hoje com vistas ao futuro, pois sabemos que ele em breve chegará e a nossa condição será fruto daquilo que houvermos construído agora.
Eis aí a nossa lição de casa. Até a próxima e receba meu abraço fraterno.
A doutrina espírita e os três aspectos
Toda a ciência começa como filosofia e termina em arte
Will Duran
Olá para você que lê esse artigo. Ele é o segundo de uma série que nos propomos a produzir sobre a Doutrina Espírita. Para quem não leu nosso primeiro texto, sugerimos que o leia. Ele trás informações interessantes sobre como desenvolveremos nossos estudos, além de apresentar alguns termos que utilizaremos ao longo desse artigo.
Para quem participa de qualquer atividade em uma casa espírita: passe, palestras, estudos ou reuniões mediúnicas, por exemplo, com certeza já ouviu dizer que a Doutrina Espírita possui um “tríplice aspecto”, ou seja, ela apresenta três pontos de vista. É comum ouvirmos a frase que diz que a Doutrina Espírita é ciência, filosofia e religião.
Mas, o que isso significa? Vamos estudar?!
Michel Blay define ciência como sendo “o conhecimento claro e evidente de algo, fundado quer sobre princípios evidentes e demonstrações, quer sobre raciocínios experimentais, ou ainda sobre a análise das sociedades e dos fatos humanos”.
Quando Allan Kardec se dedicou a estudar os fenômenos extraordinários que ocorriam em sua época, aplicou a metodologia científica em seus trabalhos, com a intenção de classificar e entender como tais manifestações ocorriam e os seus motivos. Como resultado disso, conseguiu elaborar as leis gerais que os dirigem. Tais leis estão bem detalhadas em “O Livro dos Médiuns” e em diversas matérias publicadas na “Revista Espírita”. Eles esclarecem o que são, como se processam e quando ocorrem tais fenômenos, agrupados por tipos. Por essa razão dizemos que a doutrina espírita é uma ciência (primeiro aspecto).
Ao estabelecer contato com o mundo espiritual, Allan Kardec passou a questionar os espíritos sobre diversos assuntos que inquietavam e ainda inquietam a humanidade: de onde viemos? o que somos? para onde vamos? Essas dúvidas são essencialmente filosóficas e motivaram o surgimento de diversas doutrinas ao longo dos tempos. Ao trazer respostas a essas questões, a espiritualidade revela a filosofia presente na doutrina espírita (segundo aspecto), encontrada principalmente nos livros “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”.
Do conhecimento adquirido com o estudo da doutrina espírita aliado ao depoimento dos próprios espíritos desencarnados, que relataram suas experiências no plano espiritual, Allan Kardec estabeleceu uma íntima relação com os ensinamentos cristãos, fazendo do cristianismo a base que deve orientar as relações humanas. Com isso, estabeleceu uma visão religiosa à doutrina (terceiro aspecto). Demonstrou de maneira lógica que a prática do bem, do amor ao próximo e da caridade são meios de se obter melhores condições de existência. São os sentimentos que permitirão ao ser humano uma ligação mais íntima com a divindade, ao considerar seus semelhantes como irmãos em Deus e agir para com os outros da mesma forma que gostaríamos que agissem conosco. Isso lembra os ensinamentos de alguém? Essas reflexões e comentários são detalhados, principalmente, no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, tornando-se um verdadeiro manual de conduta para todos que almejam uma vida mais justa e fraterna.
Finalizando, percebemos que a doutrina espírita pode ser aprofundada em cada um dos seus aspectos. Contudo, acreditamos que o ideal é estudarmos o conjunto. Não é por acaso que a primeira obra do espiritismo, “O Livro dos Espíritos”, aborda todos eles. As obras que citamos hoje, como dissemos em nosso primeiro artigo, são desdobramentos das diferentes partes que compõem o primeiro livro. Por isso mesmo entendemos que é importante saber como os fenômenos naturais e espirituais acontecem (ciência), como interferem em nossas vidas e na nossa compreensão (filosofia) e de onde podemos obter forças ou como devemos fazer ajustes em nossa conduta para lidar melhor com eles e seus efeitos (religião). Um exemplo claro disso, onde a doutrina espírita auxilia demais as pessoas é a “perda” de entes queridos. Por que morrem? Para onde vão? Que consequências essa ausência nos trás? Como e onde buscar amparo, fé, esperança e consolação para suportar essa perda? Estudando o espiritismo encontraremos as respostas para essas questões e entenderemos que não há perdas, apenas momentâneas separações.
No próximo artigo abordaremos os princípios básicos da doutrina espírita.
Um abraço fraterno a você e até breve!
Vamos estudar o espiritismo?!?
O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem sua própria razão de existir
Albert Einstein
Você quer saber mais sobre o espiritismo? Já ouviu falar a respeito mas tem dúvidas? Você assiste palestras, mas não entende direito o que são todos aqueles termos? Disseram que você precisa desenvolver sua mediunidade e você não sabe o que isso significa? Você tem medo de espíritos?
Se você respondeu sim a alguma dessas perguntas então lhe fazemos um convite: Vamos estudar o espiritismo?!
Mas, antes que você se assuste com a palavra estudar, vamos esclarecer que a nossa proposta é tratar dos assuntos principais do espiritismo usando uma linguagem simples, evitando palavras complicadas. Também não pretendemos criar polêmicas ou discussões. A nossa intenção não é convencer você de que o que estamos escrevendo aqui seja uma verdade absoluta e que você deve abandonar suas crenças. Pelo contrário, a ideia é justamente que possamos crescer juntos no entendimento dos diversos assuntos que serão tratados aqui. Por isso escolhemos a frase de Einstein para abrir nossos estudos. Acreditamos que a curiosidade é uma importante ferramenta de motivação para que possamos aprender ou aprofundar nossos conhecimentos sobre um determinado assunto ou coisa. E isso é estudar.
Então vamos começar.
O espiritismo surgiu oficialmente em 1857 com a publicação de O Livro dos Espíritos. Esse livro é o primeiro de um conjunto de 5 (cinco) livros que são chamados de Obras Básicas do Espiritismo. Os outros livros que compõem essa coleção são: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese, nessa ordem de publicação. Interessante notar que essas outras quatro obras são desdobramentos das quatro partes em que se divide O Livro dos Espíritos.
Ah, quem publicou esses livros foi Hippolyte Léon Denizard Rivail, pedagogo, professor, autor e tradutor francês, que assumiu o pseudônimo de Allan Kardec.
Há quem afirme que os ensinamentos do espiritismo são de Allan Kardec. Engano. Ele é quem organizou os ensinos que foram transmitidos por diferentes espíritos. Essa transmissão ocorreu com o auxílio de médiuns, assunto que trataremos em outra ocasião. O importante, por enquanto, é saber que o espiritismo é fruto de um trabalho coletivo e que mantém um aspecto de universalidade, ou seja, é o mesmo em todos os lugares e em todo o tempo. O Livro dos Espíritos foi escrito na forma de perguntas e respostas. Recomendamos a leitura desse livro se você pretende mesmo conhecer o espiritismo. Provavelmente surgirão muitas dúvidas, mas com o tempo pretendemos ajudar-lhe a esclarecê-las.
Por enquanto é isso. Nos encontraremos novamente em breve. Até mais.